quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Mundo dos Sonhos


Quem sonha renova-se.
Sonhar ajuda a criar ânimo nas nossas Vidas, desprovidas de cor. Em contrapartida, pode também reflectir um sintoma do nosso descontentamento. Seja qual for a causa, é importante sonhar, fantasiar e, principalmente, aceitar que não é absurdo desejarmos aquilo que parece tão distante de nós. Se há algo do qual nos devemos orgulhar é dessa capacidade de sonhar. Na verdade, quando sonhamos aproximamo-nos da tão cobiçada felicidade e quanto mais prolongarmos esse estado de sonho, sem querer, somos impelidos a movimentar-nos em consonância com aquilo que desejamos.
As pessoas que sonham tornam-se bem mais interessantes do que aquelas que encaram tudo como definitivo e irreversível. Talvez careçam de alguma flexibilidade que as impede de estabelecer uma maior empatia com os outros. Por alguma razão, que custo a entender, sonhar talvez pareça ousado demais e até perigoso para determinadas pessoas, por incitar a cometer algum desvario, que venha a comprometer o seu mundo tão perfeito. No meu caso, o sonho ajuda-me a desviar, por breves instantes, do que me incomoda. Nem sempre é fácil sonhar, quando vivemos intensamente os nossos problemas, sem aliviar a carga que eles emprestam à nossa Vida. O truque é desistirmos de pensar em nós, nos nossos problemas, nas nossas misérias e procurarmos boas inspirações que nos devolvam a vontade de sonhar com dias melhores. Há histórias prodigiosas, exemplos ilustrativos do quão poderoso pode ser um sonho e suas implicações nas nossas Vidas. Se há matéria em que não poupo, são os sonhos. Quando sonho sinto-me livre para ser quem eu quiser. No mundo real, a nossa forma de ser molda-se às circunstâncias em que crescemos, às dificuldades que enfrentamos, à forma como as encaramos e  ao modo como as superamos. No mundo dos sonhos, não há pressões sociais que nos forcem à inclusão. Sinto-me gigante num mundo criado à minha medida e com o meu nome. Não é fantástico podermos, de vez em quando, elevarmos o nosso ego a patamares nunca antes experimentados?
Habituados a disputar um lugar, uma posição, atenções, amor, afectos, elogios, notoriedade, mérito, respeito, consideração e, aguardar a vez, em que seremos abençoados com uma dessas ofertas, que atribuem prestigío social e pessoal às nossas Vidas, é legítimo que nos sintamos suspensos por essa base de troca gerada pelas relações entre seres dotados de sentimento. Nesse interregno de tempo, podemos aproveitar para sonhar livremente e se for caso disso mudar o rumo dos acontecimentos. 

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Jasmim Maria

Jasmim acelerou o passo. Já estava atrasada para mais um encontro programado, que animaria a sua agenda por tempo indeterminado. As expectativas eram algumas mas, com o tempo, os inúmeros encontros e desencontros, assumiram um lugar cada vez menos importante, diminuindo consideravelmente de intensidade. Já não havia ansiedade, nervosismo ou embaraço. Seria mais uma oportunidade para flirtar e sentir-se desejada, da qual se acabaria por cansar, remetendo-a novamente ao isolamento. Trata-se de uma solidão que jamais aliviará, enquanto Jasmim atrair aquilo que ela acredita ser alvo de cobiça. Quem inveja um caso fugaz, um caso clandestino, sem protagonismo, tendo como parceiro de contracena, um Homem bem parecido, galã, com status social, bom poder de compra, confiante, bom partido, que nos compensa as ausências com presentes caros, que Jasmim exibe como estandartes às suas amigas enjeitadas?
Jasmim adora captar a atenção masculina, independentemente de haver contexto ou não para o efeito. Percebe-se bem porque é que Jasmim não ganha amizades consistentes e sólidas no universo feminino. Ela gera competições disputadíssimas com as suas rivais, principalmente com aquelas que aparecem bem acompanhadas e felizes com o seu estado. Diverte-se a testar a sua capacidade de atracção, para após comprovada a sua infalibilidade, consumar o acto e acumular mais um troféu, sem arrependimento do estrago que possa ter causado. Apesar de ser uma Mulher madura, goza da vantagem de aparentar ser bem mais nova  e agradar a várias faixas etárias. Se bem que o seu target são os homens estilo George Clooney, charmosos, independentes, hedonistas, endinheirados, despojados, com um sentido de humor a roçar a provocação, comprometidos e com muita disposição para pecar. Ora disponível, ora indisponível, é assim que os enlouquece, com alguns truques de alcova pelo meio. Satisfaz-se a observá-los desesperados, solicitando a sua presença nos seus momentos vagos de tesão.
Apesar de ter herdado o nome da sua madrinha de baptismo, tão embuído de energia poética e romântica, sua descendência foi desrespeitada com a má fama de Jasmim Maria, autora de comportamentos lamentáveis, aos olhos dos padrões que prezam a dignidade da Mulher que se sabe valorizar.
Seja qual for o cenário em que Jasmim se encontre, todos os seus sentidos estão focados num possível patrocinador dos seus caprichos de Diva. Há sempre um incauto em sossego, isco perfeito para testar a sorte de Jasmim com o sexo oposto. Uma vez na sua mira, larga tudo e entra em acção. Não aguarda ser escolhida. Prefere influenciar a escolha, receando comprometer o seu lugar de destaque, caso ceda à liberdade de decisão masculina. Por isso, investe na insinuação e usa-a para rodear sua presa. A insistência vem a seguir, quando não há grande interesse da outra parte em cair em tentação. Alvo de uma emboscada, acaba por se deitar na rede de sedução de Jasmim, experiente em suprir carências afectivas temporárias.
Ao contrário dos cães, os homens não têm faro apurado. Aliás não têm faro nenhum e, como castigo esbarram com Mulheres como Jasmim, hábeis em criar experiências mais traumáticas que prazeirosas.
Este novo género feminino nascido no seio das sociedades modernas, contexto ideal para promover a solidão nas Mulheres emancipadas, fabricou Jasmins que continuam a insistir em provar a força da sua feminilidade e abafar as vozes conservadoras que as rejeitam, por não fazerem o estereótipo da Mulher família. Apesar destas Jasmins pretenderem convencer-se que há outros modelos de felicidade que não passam exclusivamente pela constituição familiar, não acreditam nessa possibilidade porque também elas foram  formatadas a conceber um único modelo que implica comungar a sua Vida com alguém e deixar descendentes directos que, por sua vez, irão confirmar essa mesma inevitabilidade. Todas as Mulheres têm em comum este registo, por mais estudadas que sejam, por mais descomplexadas, por mais desprendidas, por mais viajadas, por mais independentes, por mais autónomas, procuram o companheiro perfeito para apresentar à família, amigos e, principalmente, aqueles que as rotularam de encalhadas. Enquanto isso não acontece, aturam falta de sensibilidade, perguntas inconvenientes, juízos de valor, olhares reprovadores entre outros transtornos.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Digerir a Dor

Onde estás?
Preciso de ti.
Abandonaste-me uma vez mais ao meu mau feitio.
Eu posso mudar.
Diz-me o que te faz falta, eu trato de ir buscá-lo para ti.
Aparece. Estás livre de perigo.
Fazes-me falta.
Com quem vou eu agora desabafar?
Quebra este silêncio, por favor.
Eu imploro-te.
Porque me fazes sofrer?
Dá-me um sinal.
Diz-me apenas que estás bem.
O que é que eu fiz para merecer esta provação?
Eu era feliz a teu lado.
Pensei que sentisses o mesmo.
O que mudou?
Porque não manifestaste teu desagrado?
Como vou explicar a tua ausência?
Quando planeias voltar?
Sê breve.
O que faço com esta dor aguda que me consome?
Porque não me procuraste?
Superaríamos isto juntos.
Não sei se sou suficientemente forte para suportar este vazio.
Meus melhores momentos foram contigo.
Meus piores momentos, também foram contigo.
Todos os momentos passei-os a teu lado.
Não me arrependo do que abdiquei para estar contigo.
Nunca previ este desfecho.
Aliás, previ levitarmos juntos de mão dada para a nossa última morada.
Sonhei o melhor para nós.
Sempre te incluí nos meus sonhos.
O que falhou?
Que erros cometi para merecer isto?
Já nem sinto, com medo da dor que pode provocar.
Tu foste o causador.
Está a ser difícil perdoar-te.
Quebraste nosso pacto.
Prometeste que me contarias tudo até o mais insignificante.
De tantas opções, porque adoptaste a pior de todas.
Perdoa-me  a distracção.
Não percebi que estavas a sofrer.
Estava tão encantada com o nosso romance.
Com a nossa Vida em comum.
Tu eras a minha única família.
Desfaz o engano.
Aparece. Eu finjo não olhar e até participo da brincadeira.
Eu colaboro contigo mas por favor não me deixes nesta agonia.
Dói de mais.
Sabes bem que o preto não me fica bem. Envelhece-me.
Não sei viver na solidão. Habituaste-me a ti.
Se não podes regressar, vem-me buscar.
Não me digas que não sentes falta dos nossos diálogos, do meu toque,do meu carinho, da minha entrega.
Prometo não te desapontar.
Marcamos encontro?
Que dizes encontrarmo-nos no banco de jardim onde nos
abraçamos pela primeira vez e juraste nunca me abandonar.
Estavamos apaixonados.
Eramos seres estranhos, por gozarmos de tanta cumplicidade.
Não te demoro mais.
Conforme combinado,
vai buscar-me ao jardim das camélias. Estarei sentada naquele banco carcomido pelo tempo,
com vista para o chafariz estilo romântico.
Não demores.
Temos muito que conversar.
Não te esqueças que te Amo, apesar do modo inesperado do teu desaparecimento.

Decisão Difícil



Nunca sentiram vontade de mudar, encarar uma nova realidade, um novo contexto, sair da zona de conforto, abandonar o que é garantido, sentir saudade, prescindir de certos hábitos, desacomodar, apostar em algo indefinido mas com características promissoras, enlouquecer, arriscar, desviar do apêgo que as ligações afectivas ajudam a alimentar e que, de algum modo, parecem atrasar o nosso crescimento pessoal, passar a ser visita e desimpedir o nosso lugar cativo, suscitar uma renovada vontade de ser Feliz, fora deste perímetro fechado e demasiado acanhado, para assim conquistar algo mais nas Nossas Vidas? Mas e se esta possibilidade, de acumularmos mais experiências, promovermo-nos, melhorarmos a nossa qualidade de vida, lançarmo-nos profissionalmente, assegurarmos uma boa condição financeira, que permita conceder-nos alguns luxos, nos afastar da Família, dos Melhores Amigos, dos almoços de domingo, nos retirar os muitos momentos de qualidade com o nosso companheiro(a), ausentar-nos dos aniversários, quebrar com a proximidade, acabar com a cumplicidade, impedir-nos de estar presentes quando precisam mais de nós, aguardar notícias à distância e digerir as novidades boas e más, não poder partilhar nosso dia a dia pessoalmente, desligar-nos de tudo aquilo que dá significado à Nossa Vida?
Será possível conciliar estes dois mundos? Por um lado, o acesso ao mundo que nos proporciona estabilidade, segurança, realização profissional, folga financeira e conforto material e, por outro lado, a longevidade das relações que prezamos, o estarmos juntos mais vezes, o apoio familiar, as confidências com os amigos, o peso das ausências quando nossa presença é imprescindível, o acompanhamento à distância sem poder participar, a incapacidade de trocar sentimentos de perto, porque estamos ausentes e sabe-se lá quando regressaremos para retomar o que abandonamos.
Acontece que, esses dois mundos co-existem mas há sempre um que ganha maior destaque. Equilibrá-los, requer muita habilidade mental e emocional.
É tão difícil decidir o que abdicar, quando um e outro mundo são essenciais à Nossa Vida. Afinal, qual deles é mais essencial? Inúmeras razões se ergueriam para justificar a permanência de cada um deles mas, o que acaba por prevalecer é aquele que mais falta faz na escalada final para uma decisão definitiva e irreversível. 

terça-feira, 12 de abril de 2011

Sapatos de Verniz



Benedita ressuscitou  seus sapatos de verniz, esquecidos no baú dos tesouros do passado, que teima em guardar em lugar seguro. O seu estilo vintage adequava-se perfeitamente ao look coquette pretendido e até o seu estado de conservação não deixava adivinhar a sua durabilidade. Tão na moda, os sapatos de verniz afirmam a feminilidade de Mulher que não descura os pormenores nem enjeita a sua imagem impecável. Betty Boop sem os seus sapatos de verniz perdia toda a graciosidade e não fazia sobressair o seu encantamento tão natural. Há um poder qualquer naquele objecto de moda que resistiu ao longo do tempo e virou um clássico da elegância feminina. Benedita presta-lhe homenagem sempre que a ocasião o impõe e, por vezes, mesmo que não o imponha, recorre a eles para se erguer de confiança e brilhar. Apesar das novas tendências de moda terem arrasado com os clássicos, a sua resistência em aceitar a invasão da modernidade isolou-a do rebanho de consumidores facilmente influenciáveis. Benedita adora coleccionar raridades, acreditando estar a congelar vários passados que merecem ser acarinhados pelas boas recordações que ainda trazem à sua Vida. Seus sapatos de verniz são fundamentais na sua Vida de Mulher estruturada, para não desapontar. Não há acasos na Vida de Benedita. Tudo é  tão programado, enfadonhamente ordenado e livre de cobiça. Os seus sapatos de verniz são o único devaneio que ela se permite e do qual não abdica. Essa é a sua maior ousadia de estilo que marcou uma época propensa à afirmação da Mulher que sabe o que quer.  

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Operação Presente



Quando podíamos ser o que quisessemos não sabíamos o que queríamos e agora que sabemos o que queremos não podemos ser quem queremos. Poder até podemos mas agora torna-se mais difícil acordar para essa possibilidade. Por mais liberdade que tenhamos, nunca seremos totalmente livres. Há em nós uma consciência que nos demove de agir de determinadas formas e ser livres, para cometer egoísmos. Afinal ser feliz não é também privilegiar nossos desejos pessoais, satisfazê-los, prolongar esse estado de felicidade, escancará-lo sem temer ferir susceptibilidades, gozar dessa boa energia sem culpa, sabendo nós que nem todos estão no mesmo registo que o nosso, nem saberão acompanhar essa nossa boa disposição sem estranhar ou invejar. É humano sentirmo-nos perturbados com o contentamento dos outros, sinónimo também de sucesso pessoal, que nem todos conseguem atingir e muito menos prolongar. Essa luminosidade interior que irradia e assusta os queixosos, convictos de que tudo à sua volta é azar e desgraça, cultiva-se com a serenidade de quem aceita o que vem na rede. Nem todos têm sensibilidade para entender essa nobreza de espírito, que encaram como uma espécie de insanidade mental, por não haver razões concretas, mensuráveis, visíveis para viver bem. O mal é geral. Caímos todos no erro de desperdiçar o presente, massacrando-nos com o passado e afligindo-nos com o futuro.
Se eu soubesse o que sei hoje faria diferente. É tão recorrente invocarmos esta frase para justificarmos o que não foi feito e adiarmos, mais uma vez, o que ainda está por fazer. Esta resignação de quem depois se vem lamentar do que atraiu é paradoxal. Por um lado, resigna-se com aquilo que conquistou mas, por outro, lamenta-se com o rumo dos acontecimentos.   
Sentir saudades é bom quando reconhecemos e aceitamos que não podemos ressuscitar o passado e retêmo-lo como uma boa lembrança, à qual podemos recorrer sempre que quisermos . Sentir saudades é mau quando queremos fazer uma colagem do passado ao presente, numa repetição de comodidades que nos permite prever o futuro. O presente é a ocasião. O presente é a oportunidade. O presente é garantido. 
Nunca lamentes o que ficou para trás, nem te acomodes a pensar no que o futuro te reserva. Até parece que, estou a incitar que cometamos loucuras só para garantirmos o presente e o aproveitemos ao máximo. Nada disso. A Vida é preciosa demais para nos entregarmos a devaneios inconsequentes mas é também suficientemente espaçosa para cometermos uma ou outra loucura que nos faça acelerar os batimentos cardíacos, para depois nos voltarmos a reposicionar nos nossos propósitos.
Eu continuo a ser uma aprendiz na arte de Viver bem e só deixarei de o ser quando o além me chamar.



Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...