O lobo mau, o bicho papão, o homem polícia, a bruxa má, são personagens que, certamente, reconhecemos do nosso passado infantil. Nossos pais recorriam a eles para nos educar através do Medo. A sua inaptidão para orientar nossos comportamentos, impelia-os a nomear os responsáveis pela aplicação dos nossos castigos, cada vez que ameaçassemos desobedecer suas ordens. Sem sabermos que criaturas hostis eram essas, fomos acumulando medos irracionais e criando formas de comportamento regulamentares, que ainda hoje carregamos sem questionar.
Desde pequenos vivemos prisioneiros de pensamentos; obssessões; associações de ideias, lógicas; crenças; penalizações, que fomos cimentando ao londo do nosso percurso existencial. Nossos medos estão acomodados a esses fundamentos rigídos, que nos afastam do desafio e de viver novas e estimulantes realidades. Tudo aquilo que transcende o nosso conhecimento nuclear pode tornar-se perturbador e expôr nossas fraquezas. A ansiedade dispara perante a novidade, tão estranha ao nosso léxico de conceitos induzidos. Por um lado queremos gozar de mais liberdade mas, por outro, sentimos medo de avançar e correr riscos. Isto porque fomos educados sem liberdade, sem incentivos e desmotivados a cometer riscos, por conta das consequências/castigos decorrentes da nossa ousadia.
Mas pior que o lobo mau, o bicho papão, o homem polícia ou a bruxa má são as chantagens emocionais, amigas e aliadas dos progenitores sem carteira educacional avalizada. Não há pior castigo que este. Sentirmo-nos culpados pelo que provocamos e achar que somos uma má influência por não obedecermos e contrariarmos os mandamentos paternos. "Somos teus pais e porque te amamos sabemos o que é melhor para ti e, portanto, se nos desapontares estás a matar o nosso amor por ti". Este tipo de tortura mental e emocional prolongada, atrapalha o crescimento da criança e complica as relações futuras, reféns desse amor controlador.
Confusos com tantas emoções à mistura, crescemos revoltados com essa liberdade condicionada, através dos caprichos e vontades dos nossos pais. Essa revolta interior ganha uma maior expressão quando não conseguimos criar um distanciamento, que impeça a conectação a esse comando poderoso e perigoso, que testa a nossa sensibilidade e capacidade de amar. Assistir de longe, apoiar sem amparar, cuidar sem sufocar, aceitar sem julgar, prestar atenção, compartilhar, são formas saudáveis de amar e ser amado, sem perigo de debilitar relações.

