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domingo, 11 de setembro de 2011

Mãe por Acaso

Vivian entrou no bar Clash, para cumprir mais um turno, a aturar bêbados, chatos, agressivos, deprimidos, exibidos, engatatões, mulherengos e um sem número de intoxicados, fãs daquele lugar decadente e com bebidas a saldo. Aos Sábados à noite não havia folgas para ninguém. Casa cheia e garantia de dinheiro em caixa, não davam margem para prescindir do pessoal de apoio aos bares.
Decote pronunciado, lycra colada ao corpo, sapato de salto alto, cabelo solto, bronzeado artificial, muito sexappeal e desembaraço para atender todos os pedidos que não param de chegar, é assim que Vivian assegura a crescente adesão ao seu balcão de atendimento.
Porém, nessa noite, Vivian estava desconcentrada, distante e não conseguia destacar-se pelo seu alto desempenho. Não atinava com os pedidos, derrubava os copos, tropeçava em tudo, remoía baixinho seu nervosismo, atrapalhava seus colegas com sua desconcentração. Nada parecia funcionar. Anos de experiência a aturar os caprichos dos clientes, não a impediram de prestar um mau desempenho naquela noite de festa. O motivo não era forte mas era bastante íntimo e pessoal. Suspeitava estar grávida e debatia-se com essa incerteza. Só poderia confirmá-lo na segunda feira, até lá tentava sobreviver à agonia. Depois disso teria que reavivar a sua memória sexual e atribuir um autor para aquele deslize, que lhe iria complicar o esquema de Vida.
Barwoman e grávida não combinavam. O momento não era o ideal. Sem parceiro fixo, família emigrada, instabilidade financeira, dependente da sua beleza para se manter, instável emocionalmente, tudo conjugado fazia campanha negativa contra a sua gravidez. Assustada com a evidência dos sintomas, não consegue sossegar e alhear-se dessa possibilidade.
Afunda-se nos seus pensamentos, descuida os seus compromissos e quase compromete a animação alcoólica dos  seus dependentes.
Vivian tenta apressar aquela noite, desperdiçando todos os convites dos seus admiradores, que todos os sábados imploram a sua atenção, sem aliviar. Só queria descansar e adormecer sobre o assunto, que só deveria preocupá-la no dia seguinte.
No domingo de folga, escapou-se para o centro comercial com duas amigas, adeptas do consumo desenfreado de futilidades. Nos corredores de acesso às lojas, que percorreram com diversas paragens pelo meio, era raro não esbarrar com um carrinho de bébé e conviver com uma linguagem própria, que denunciasse grande comprometimento com a nova condição familiar daqueles pais. Um cenário do qual ela se queria libertar mas, não estava a ser fácil desviar-se da epidemia familiar, endémica aos domingos com chuva.
Sem se enternecer, despede-se daquele ambiente e refugia-se na sala de cinema, tentando melhorar o seu humor com a comédia em cartaz. Azar dos azares, a comédia aligeirou o tema filhos, educação das crianças, casais, família. Como se não bastasse o anúncio que interrompeu o filme para intervalo fazia propaganda a fraldas infantis. Um pesadelo para Vivian que se vê pressionada a lidar com esta realidade que começa a acusar demasiada proximidade. Algo que ela ainda não determinou encarar como a sua própria realidade. As circunstâncias que precipitaram a sua presumida gravidez não estão envoltas em romantismo mas, numa inconsciente urgência de satisfazer uma necessidade física. Nunca houve um prolongamento dos seus encontros, que suscitasse a estimulação do seu instinto maternal. Não teve irmãos mais novos, nem sobrinhos para cuidar e, como consequência disso, não teve oportunidade de treinar sua habilidade para criar afectos com crianças. Tinha medo de desiludir e fracassar como mãe. Sem orientação, busca a confirmação das suas suspeições. Os exames despacharam a sua decisão. Ia ter um filho. De quem? Quem quer que fosse não iria querer assumi-lo. Afinal, nem no dia seguinte lhe ligou a marcar novo encontro, demonstrando total desinteresse. Foi tudo tão rápido, no intervalo do seu expediente, comprimidos no apertado espaço da cabine do wc, sustendo gemidos, para no final do acto, sem chamar a atenção, abandonarem o local separadamente. Ele regressou à multidão que ocupava a pista de dança e ela voltou a ocupar o seu lugar de bartender. Romântico? Nem por isso.
Vivian sobreviveu ao trauma da notícia e enfrentou a decisão de ser mãe a tempo inteiro, com grande dedicação e muito amor. Abandonou o Clash e todos os Clash's com quem partilhou a cabine do wc, palco de muitos momentos fugazes e ardentes de prazer. Comprometeu-se totalmente no seu papel de mãe e nunca deixou ninguém sem resposta nem mesmo os mais preconceituosos e moralistas. Felizmente, a cria saiu à mãe. Do pai nem sinal. Pelo menos para já. No entanto, quando a criança crescer e formar a sua personalidade poderão surgir alguns estilhaços do passado, com os quais Vivian terá que conviver. Esperemos que Vivian tenha uma resposta adequada a todas as curiosidades do seu filho.     

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