Quando podíamos ser o que quisessemos não sabíamos o que queríamos e agora que sabemos o que queremos não podemos ser quem queremos. Poder até podemos mas agora torna-se mais difícil acordar para essa possibilidade. Por mais liberdade que tenhamos, nunca seremos totalmente livres. Há em nós uma consciência que nos demove de agir de determinadas formas e ser livres, para cometer egoísmos. Afinal ser feliz não é também privilegiar nossos desejos pessoais, satisfazê-los, prolongar esse estado de felicidade, escancará-lo sem temer ferir susceptibilidades, gozar dessa boa energia sem culpa, sabendo nós que nem todos estão no mesmo registo que o nosso, nem saberão acompanhar essa nossa boa disposição sem estranhar ou invejar. É humano sentirmo-nos perturbados com o contentamento dos outros, sinónimo também de sucesso pessoal, que nem todos conseguem atingir e muito menos prolongar. Essa luminosidade interior que irradia e assusta os queixosos, convictos de que tudo à sua volta é azar e desgraça, cultiva-se com a serenidade de quem aceita o que vem na rede. Nem todos têm sensibilidade para entender essa nobreza de espírito, que encaram como uma espécie de insanidade mental, por não haver razões concretas, mensuráveis, visíveis para viver bem. O mal é geral. Caímos todos no erro de desperdiçar o presente, massacrando-nos com o passado e afligindo-nos com o futuro.
Se eu soubesse o que sei hoje faria diferente. É tão recorrente invocarmos esta frase para justificarmos o que não foi feito e adiarmos, mais uma vez, o que ainda está por fazer. Esta resignação de quem depois se vem lamentar do que atraiu é paradoxal. Por um lado, resigna-se com aquilo que conquistou mas, por outro, lamenta-se com o rumo dos acontecimentos.
Sentir saudades é bom quando reconhecemos e aceitamos que não podemos ressuscitar o passado e retêmo-lo como uma boa lembrança, à qual podemos recorrer sempre que quisermos . Sentir saudades é mau quando queremos fazer uma colagem do passado ao presente, numa repetição de comodidades que nos permite prever o futuro. O presente é a ocasião. O presente é a oportunidade. O presente é garantido.
Nunca lamentes o que ficou para trás, nem te acomodes a pensar no que o futuro te reserva. Até parece que, estou a incitar que cometamos loucuras só para garantirmos o presente e o aproveitemos ao máximo. Nada disso. A Vida é preciosa demais para nos entregarmos a devaneios inconsequentes mas é também suficientemente espaçosa para cometermos uma ou outra loucura que nos faça acelerar os batimentos cardíacos, para depois nos voltarmos a reposicionar nos nossos propósitos.
Eu continuo a ser uma aprendiz na arte de Viver bem e só deixarei de o ser quando o além me chamar.

