A Solidão percebe-se naqueles rostos que exibem um olhar distante, sem expressão, vago, despido de emoções, indiferentes a tudo, somente concentrados na sua dor, com que se castigam todos os dias. A sua disposição não melhora. Faltam motivos para se animarem. Sobram apenas mágoas para carregar, das quais nunca recuperaram, talvez porque faltou aquele apoio, aquele carinho, aquele ombro amigo, aquele abraço, algum gesto de humanidade que não chegou a manifestar-se. Vivem fechados em si mesmos, agarrados a algo que não conseguem curar nem abandonar, porque têm medo de recomeçar mais uma vez, encetar uma nova tentativa pro felicidade e esta resultar gorada e os atirar, sem regresso, para o lugar sombrio donde saíram. Cansaram-se de alimentar a esperança, acreditar que merecem ser felizes, perderam as forças para lutar por algo que não passa de uma miragem, deixaram de sonhar e a persistência desse estado emocional vegetativo só recebeu acolhimento na solidão. Já não reconhecem o que em tempos os fez felizes, deixando-se afectar por aquilo que um dia comprometeu essa felicidade e amparados pela incapacidade de se libertarem da dor, isolam-se do mundo. Só eles sabem o que sentem e a intensidade com que o sentem. Nem o Amor que os rodeia, os faz ressuscitar do coma emocional. Tudo é tão profundo, denso e pesado na Vida de quem sofre de solidão, só comparado aos filmes de Hitchcock.
Sentir pena de nós mesmos é um sintoma de solidão, que se cultiva com o reforço dos motivos que justificam a nossa condição de vítimas. Acontece que para alguns, esse lodo que é a solidão, protege-os daquilo que eles julgam vir a repetir-se caso se entreguem novamente ao destino. O risco é grande. Preferem assim sofrer só uma vez, mas sofrer toda a Vida.

