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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Ser Iluminado



Ema vivia na escuridão desde muito cedo. Só podia contar com os outros quatro sentidos, que ela soube tão bem apurar ao longo do tempo, de tal forma que, houve momentos que suspeitamos não ser invisual. A sua sensibilidade era tão grande que facilmente se apercebia do nosso estado de espírito só de nos ouvir respirar. Por mais que tentassemos abafar, Ema desmascarava-nos na hora.
Quando nos conhecemos receava perguntar-lhe se se incomodava com o facto de não ter visão. Para mim, Ema era uma coitada a quem privaram de disfrutar da Vida e com um castigo tão pesado para carregar.
Julgo até que ela sentiu essa minha compaixão por ela, por atitudes tomadas posteriormente. O seu sorriso, a sua postura confiante, os seus gestos descontraídos, a sua doçura na voz, a sua tranquilidade, a sua vaidade, a sua sensibilidade, o seu optimismo, a sua infinita capacidade de sonhar fizeram-me acordar e pensar que afinal a coitada era eu e não ela. Eu é que me achava mais completa por poder gozar de todos os meus sentidos e, sem saber estava a desperdiça-los só porque achava que os tinha como garantidos.
Ema ensinou-me que, por mais limitações que tenhamos, ninguém pode tirar-nos o prazer de sonhar e é possível sonhar mesmo na escuridão.
Ema vivia feliz, desdramatizando o facto de ter perdido a capacidade de ver. Enquanto eu, apesar de ter todas as capacidades intactas, não me contentava com nada e tudo era tão pesado e difícil de suportar. Algo me incomodava e parecia vir de dentro de mim.
À  medida que fui aprofundando Nossa amizade, constatei que a sua presença fazia-me bem, fazia-me sentir serena, tolerante, menos exigente, mais segura de mim mesma, sem pressões, sem cobranças. A sua força interior era tão animadora, revigorante e contagiante, que eu chegava a sentir deter o mesmo poder para controlar minha vida soberanamente. Suguei, de tal maneira, todos aqueles momentos que com ela partilhei, que hoje não me reconheço mais nesse passado longínquo de fragilidades, inseguranças, medos, mau estar.  Ema carregou meu espírito com a luz que eu afinal não tinha. Ironicamente, vim a descobrir que eu é que vivia na escuridão e Ema vivia na luz.

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Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...