segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Também Te Amo

Três Mulheres reúnem-se à mesa. Almoçam descontraídamente e soltam seu veneno, que dispara em todos os sentidos, sem poupar nada nem ninguém. Falam sem pudor e sem arrependimento. Destilam maledicência sobre seus companheiros, suas colegas de trabalho, suas cunhadas, suas irmãs, seus cunhados, suas sogras, suas amigas e adoram  dissecar suas Vidas perante estranhos. Se pudessem, aproveitariam a tarde para hostilizar todos aqueles que com elas convivem directa ou indirectamente. Adoram construir cenários, sem bases sustentáveis que solidifiquem uma opinião construtiva, só para ter do que falar, ou melhor, do que comentar.
Nem sei se estas mulheres amam verdadeiramente alguém ou fingem amar. Impiedosas, condenam todas as atitudes das suas congéneres, repetidamente e num tom que denota muito conhecimento na matéria. De vez em quando, aliviam a tensão com a inclusão do tema filhos na conversa, mas depressa escorregam na vitimização. Carregam o peso de mil e uma tarefas, que se gabam de acumular sem ajudas e insistem, em esfregá-lo na cara dos seus companheiros, que continuam sem saber as razões do seu destempero. Se eles oferecem ajuda, rejeitam e depois condenam a sua passividade. Se fossem mais sinceras, assertivas e incisivas nas suas vontades, não haveria tantas batalhas caseiras. A volubilidade das Mulheres desespera os Homens, que nunca sabem qual sentido elas vão tomar. Essa volubilidade até seria apreciada na intimidade, com a personificação de várias facetas da mulher poderosa.
Eles não vão reconhecer seu esforço, se essas ocupações que as Mulheres decidem assumir, as desviarem do mais importante na relação. Tempo para Amar sem tabus.
Até as sessões de sexo são agendadas e cronometradas, não vão estas estenderem-se e roubar-lhes as horas de sono recomendadas, que as farão sobreviver a toda a agitação do dia seguinte. Prescindem dos preliminares e orientam os seus parceiros na dominação do seu ponto G. Propulsor do máximo prazer.
Muitas vezes, chegam a questionar o seu papel de companheiros para a Vida e a considerá-lo inútil e dispensável. Afinal elas dominam todas as matérias menos uma e, justamente, aquela que eles tanto apreciam numa mulher. Os seus companheiros querem sentir que elas ainda precisam deles e do seu Amor. Em vez disso, estas Mulheres mostram-se insatisfeitas e arrependidas. Implacáveis a repreender todas as atitudes dos seus Homens.
Já deveriam saber que as Mulheres são mestres a acumular tarefas e executar todas elas ao mesmo tempo, enquanto os Homens, não misturam tarefas e dedicam-se a elas exclusivamente e só transitam de uma para a outra, após terminada a tarefa anterior com sucesso. A sua abrangência é circunscrita ao que é mais prioritário, enquanto para nós Mulheres tudo é prioritário e urgente. Se desacelerarmos um pouco, talvez eles nos consigam acompanhar melhor e ser-nos úteis. Acho que alguns já se habituaram a que nós façamos tudo sem a sua colaboração. E de quem é a culpa? Obviamente, a culpa é das Mulheres que querem triunfar em tudo e custam em delegar, temendo não resultar na sua idealização de perfeição.
Amuam constantemente e quando interrogadas sobre a razão desse amuo atiram com um ambíguo NADA que os deixa cada vez mais confusos e sem palavras.
Sempre tão exigentes com o comportamento masculino e, curiosamente, tão facéis de agradar. Sair para jantar satisfaz seus desejos de exibir seu look novo e arrasar, além de acabar com qualquer amuo. É cartada ganha. Não falha.
Tudo para as ver felizes e vulneráveis. É esse o pensamento masculino. 
O Pensamento delas é Ser a Única que o faz feliz.
Complicado????????????????????? Muitoooooooooooooooooooooooooooooooooo :D 

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sniper


Um quarto vazio, apenas um telefone ligado à ficha, acompanhado por uma lista telefónica, uma janela de postigo gradeada, um cheiro fétido a humidade entranhada, um relógio de parede a marcar o peso do silêncio, um homem curvado, esconde a cara entre os joelhos e luta com pensamentos ruins. Tudo à volta é triste e desolador. Parece que a esperança morreu ali.
O telefone toca e quebra o silêncio profundo, despertando a mudez do homem, que sem esforço, num único movimento, alcança o auscultador e num tom de voz impessoal, responde ao seu interlocutor, que lhe confia uma ordem de comando. Obediente e decidido, abandona o buraco húmido e sebento, para cumprir mais uma missão que o graduará na especialidade do Mal, que contamina o Mundo.
Convenceram-no de que era má pessoa, só porque tropeçara nalguns erros de percurso e, por isso, fora programado a cometer atrocidades, para gáudio dos seus educadores. Alfabetizaram-no para o mal, deram-lhe um rumo, traçaram-lhe um destino, atribuíram-lhe uma Vida, integraram-no e ele só tem que ser grato e obedecer sem questionar. Ensinaram-no a crescer na escuridão e a defender-se às cegas. O medo, com o qual conviveu so many times in so many ways, preparou-o para agir com frieza e muito método, aperfeiçoando a sua técnica de assassino profissional. A sua experiência leva-o a inspirar-se no medo e atingir os seus objectivos com muita determinação, sem se desviar do seu compromisso para com os seus orientadores. Nas suas missões, não há lugar a empolgações, nem excessos de vedetismo, que comprometam a perfeição do acto em si e venham a abrir fendas, por onde se esgueiram as vontades próprias, de quem não se soube controlar e arriscando catastrofizar o momento.
Não há desvios, não há hesitações, não há recuos, não há remorso, não há adiamentos, não há precipitações, não há desperdícios, não há erro.
Este homem verga-se à perfeição e trabalha-a compulsivamente. Dentro da sua desconstrução mental, a busca da perfeição é o único traço de normalidade que nele podemos vislumbrar. Tudo o resto são distúrbios.
Age isoladamente. A companhia só o faz distrair-se das suas prioridades. A sua maior defesa é não manifestar-se em absoluto sobre coisa alguma e assim passar despercebido. A sua capacidade de parecer invisível arrecadou-lhe bons serviços e a confiança da sua clientela fiél.
Apesar de ainda não ter perdido a habilidade e perícia de sniper, teme ser vítima da perda de defesas, consequência do avanço da idade. Não se encara num lar para idosos, a limpar a sua carabina, que tantas baixas provocou. Nem se encara a socializar com os velhinhos incontinentes de pantufas e roupão.
Se calhar quando essa fase chegar, regressa ao buraco húmido e ordena ele próprio a sua morte.  

sábado, 20 de agosto de 2011

Viva o Verão



Meio dia, um sol abrasador, guarda-sóis hasteados, filtram os raios intensos, esplanadas sem fim, vaivém de bandejas pesadas, cobertas de bebidas frescas, leques nervosos tentam combater a agonia de mulheres maduras e acaloradas, repuchos de àgua fresca salpicam os incautos, que se deixam refrescar com agrado, belezas desfilando semi-nuas, despertam interesse, euforia na fila dos gelados de muitos sabores, muita sedução e noites longas. É assim o Verão de curta duração mas sempre inesquecível, que o diga David e sua trupe de amigos festivaleiros. Brutal é a palavra de ordem, que eles adoram abusar em todos os Verões que passam juntos. Clima brutal, música brutal, ambiente brutal, férias brutais, animação brutal, noites brutais. Tudo bons motivos para gozar de pura diversão. Aliás, parecia tudo estar garantido para mais um Verão, alto em boas sensações. Na verdade, as premissas estavam lá todas. Só não estava David. O maestro da boa disposição.
Estranhamente, David desapareceu sem deixar rasto. Nem um bilhete de despedida. Absolutamente nada, que pudesse conter uma pista do seu paradeiro. Quem com ele conviveu diz ser um sonhador cheio de vontades e com um lado optimista tão apurado, que não conhece barreiras.
Agora, desconfiam se não seria uma máscara para esconder o seu Eu verdadeiro. Muito se especulou à volta do seu desaparecimento.
O seu lado aventureiro podia tê-lo impelido a programar uma viagem pelo Mundo com várias paragens, cenários a perder de vista, múltiplas experiências, amigos de ocasião que deixam saudades, algumas tentações, lições de vida, outros costumes e outras fomas de vida.
Será que David empreendeu uma ida sem regresso mas agora que quer regressar, esgotaram-se suas economias? Algo que também chegou a ser ponderado. No entanto, seria demasiado improvável dada a esperteza de David, astuto a libertar-se de enrascadas bem mais complicadas. Nenhum sinal seu. Todas as possibilidades foram exploradas sem sucesso.
Sua família recusava conformar-se com o seu sumiço. Sua implicância era evidente quando David expulsava a sua espontaneidade. A quem ele saíria tão louco? Interrogavam-se. Pois bem, a sua loucura é saudável e tem um nome. Chama-se Juventude. Custaram a entender a intensidade dessa passagem obrigatória e agora, querem-no de volta no seu registo próprio.
A chegada do período estival empolou a sua memória. Sua convivência ganhava maior expressão no Verão. Esta será a primeira vez que seus amigos ficarão impedidos da sua presença. Em todo o caso não podiam acabar com a magia da melhor estação do ano e desonrá-lo. Afinal ele era a grande figura do Verão.
Reunidos numa esfera de good vibe, relembravam os melhores momentos de David no Verão passado e sem se aperceberem, alguém se aproximou e desfez o cenário, resgatando-lhes total atenção. Era o nadador salvador, alertando-os para a mensagem que rasgava os céus da praia de Melides e que talvez, os pudesse interessar. Dizia: Viva o Verão. David Likes 


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Piano Mágico


Soaram as vinte horas no relógio vertical que marca o estilo clássico da sala de jantar, com seu frondoso lustre de cristal, mobília de estilo, carpete em relevo, trabalhada manualmente com fios de seda, o luzidio piano de cauda Shumann e sua banqueta em veludo encarnado, candelabros em prata, que saltitam de móvel em móvel, emprestando-lhes a sua graciosidade altiva. Aos poucos os presentes foram chegando e instalando-se em seus lugares habituais, cumprindo mais um ritual familiar, que instiga uma convivência programada e nem sempre desejada. Naquele instante, todos saem das suas tocas, interrompem seus caprichos pessoais e, ordeiramente, descem para jantar. Com ou sem fome, garantem sua presença, cabendo a eles decidir se vale a pena quebrar o silêncio com suas participações activas na animação daquele momento, que se repete todos os dias, sem excepções. Mil calorias depois, dispersam-se e voltam a fugir para a segurança das suas tocas. Alguém se ocupará do resto. A sala volta a ficar vazia e impecavelmente arrumada para o próximo encontro.
O gato persa invade com cautela a living room, temendo ser engolido pelos antepassados, congelados nos retratos que forram as paredes, bem isoladas da passagem da modernidade.
Ouve-se apenas o tilintar cerimonial das grinaldas de cristal que iluminam todas as raridades daquele espaço de convívio.
A juventude ocupou o andar de cima, transformando-o numa resistência à permanência da antiguidade.
Gustavo, prevenindo invasões, colou na porta do seu santuário um Not Disturb com neóns luminosos, oferta de Miss Dangerous, sempre atenta à sua frequência assídua na Strip House. Além de ter sido agraciado com um presente de extrema utilidade, para um jovem cheio de secretismos, como ele, também recebeu especial destaque no mural da Strip House, com um nome mui a preceito. Pure Touch. Se bem que, o que Gustavo procura, para além de um touch particular que comunique com vários estímulos, é a sensação de ser um Homem completo.
No quarto, ao lado do seu, habita a ingenuidade de Belinha, que farta-se de sonhar com o princípe encantado e seus rasgados elogios à sua jovem beleza. O Tal que a faça sentir uma princesa, dona do seu coração. Infelizmente, até aqui só tem encontrado sapos, sem tacto para a sua delicada veia romântica.
No outro aposento vive Joel e suas obssessões ambientais. É nesse espaço que aproveita para dirigir a sua campanha de sensibilização ecológica. Não há um único objecto no seu ecossistema, que não seja reciclado. Até as descargas sanitárias lá de casa são controladas por si, bem como, o consumo do papel higiénico. Todos foram intimados a reciclar. Até mesmo o gato fósforo, não escapa a essa intimação.
Os banhos são vigiados e todos os gestos que comprometam o ambiente.
Sua namorada não aguentou a pressão e abandonou-o com justa causa. Toda a Mulher sucumbe a alguns luxos. Para Joel, luxo é sinónimo de desperdício e desgoverno.
Cátia alcançou o seu limite, quando ele começou a implicar com o seu gasto em guardanapos de papel, nas suas raras saídas para comer pizza.
Os pais, isolaram-se no andar de baixo, onde se cultiva a rigidez familiar e o respeito pela tradição geracional.
O gato fósforo é o único a conviver com ambos os mundos e a lamber as feridas de uns e de outros.
Quando a Mãe Ester quer convocar os três para colaborar nos compromissos domésticos, recorre ao seu assistente fósforo e sua hábil capacidade de captar atenções. Ao bichano ninguém nega atenção.
Até o Pai Agostinho se afeiçoou a ele e não prescinde da sua presença, quando se barrica na garagem, para matar o seu vício do bricolage.
Antecipando as badaladas histriónicas do relógio quartzo, Ester experimenta romper o silêncio, recuperando o seu talento musical através da domesticação do piano, que durante anos não passou de um objecto decorativo. Em sobressalto, Gustavo, Belinha e Joel, são atropelados por algo inesperado e que os remete para o prazer que sentiam quando a Mãe tocava para os adormecer. Já se tinham esquecido de quão importante foi o seu crescimento ao som de Shumann. Apesar do seu som ser um excelente calmante, também trazia animação à comemoração dos seus aniversários. Tudo dependia da melodia nele reproduzida.
Hoje acumulam vários interesses que os desviam do contacto familiar desinteressado. 
Mesmo assim sentem que, ainda faz sentido estarem juntos, apesar de todas as distracções a que estão sujeitos.
O relógio deixou de atacar os seus silêncios individuais. A suavidade das notas que o piano evapora, passaram a reclamar suas presenças sem incomodar seus sentidos. Aos poucos encaram a interrupção dos seus egoísmos pessoais, como um bem necessário a cultivar, para que não se perca o espírito de coesão familiar.

Desilusão


Dizem que o tempo cura tudo mas será que, limpa as mágoas que se foram acumulando com os sucessivos abalos dos quais fomos sendo vítimas? Conviver com esses espinhos faz-nos desenvolver defesas, que irão impedir interacções entusiasmadas e que contemplem uma entrega total de nós mesmos. O medo de sermos novamente magoados, retira-nos liberdade para agir sem rede e sermos movidos pela inconsciência.
Quando remexem nas nossas emoções, tudo muda. Nossa perspectiva muda. Nossa predisposição muda e tudo passa a ser avaliado e processado com outro pormenor. Não haverá mais distracções, confianças desmedidadas, disponibilidade total, concessões, compaixão ou perdão. Esgotadas todas as possibilidades de conciliação, fechamos um ciclo e começamos outro, com mais cautelas e menos descuidos. Nem se trata de ter razão ou querer ter razão mas, decretar um fim para aquilo que não tem futuro e se aprofundado irá alimentar mais discórdias, mais dor, mais batalhas perdidas e uma barreira de aço que confirmará o nosso total desentendimento. Sabermo-nos retirar de cena e isolarmos num recanto escondido da memória, as ofensas, os ataques sem sentido, a falta de reconhecimento, a falta de respeito, o desaproveitamento da nossa dedicação, a desconsideração das nossas manifestações de afecto, a expiação dos nossos comportamentos e sua permanente conotação negativa, quase sempre, assente em más interpretações, torna inevitável, o nosso afastamento e evita prolongar mais o sofrimento. Chegamos a colocar em causa a nossa própria essência e achar que há algo em nós que suscita todo este mau estar e que, devemos incrementar mais tentativas de aproximação, que reponham a nossa boa união. Essa insistência precipitará mais cobranças, mais chantagens, mais réplicas do descontentamento instalado.
Ao permitirmos que destratem a nossa essência, a nossa maneira de ser, a nossa identidade, rebaixamo-nos aos caprichos de quem se sente incomodado com nosso jeito. Tentar entender os porquês de já não haver mais encanto em nós, que promova a continuidade de uma boa empatia, implica diabolizarmo-nos. Não merecemos ser massacrados por sermos como somos, nem devemos agir contra a nossa própria autenticidade. Quem abusa de nós dessa forma só merece indiferença pelo que não soube aproveitar. Talvez o tempo dissipe as marcas da desilusão ou talvez não. Difícil será repor a cumplicidade, que se veio a perder com o descontrolo emocional de quem não soube conquistar o seu lugar sem impôr um trono.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Imperfeição


Vai soar estranho, mas eu sempre quiz ter a capacidade de descolar-me do meu corpo e poder estar do lado de quem me vê e me julga, para saber ao certo qual a imagem que eu transmito. Sei que não sou condescendente comigo mesma, nem me poupo com a minha própria intransigência e forço-me a ser do jeito que toda a gente gosta. Fui educada a não desagradar os presentes mas o que eu sei fazer melhor é chocar e provocar diversas e diferenciadas reacções.  Acredito até que, os mais amados são aqueles que pouco se importam com o julgamento dos outros e vivem sem aprofundar as manifestações que giram à sua volta. Retiram-lhes toda a sua intensidade e encaram-nas como automatismos de defesa que escapam às suas vontades e estão cimentados numa repetição daquilo que lhes foi transmitido. Na verdade, até faz sentido mas, na realidade, todos nós caímos nas malhas dos outros e na necessidade de aprovação. Nós só nos garantimos tendo a chancela do próximo. Eu só serei feliz se alguém me compreender e me incluir num núcleo que me saiba compreender, senão serei uma outsider grudada no espelho à espera de respostas que eu não consigo obter. Isto de depender dos outros para nos sentirmos bem é sádico, mas é assim que funciona na maioria das vezes, até porque fomos programados nos mandamentos cristãos, que colocam o outro como o fundamento para aferir a nossa boa criação. "Ama o próximo como a ti mesmo". Bem, este mandamento fomenta um espírito altruísta inigulável. O próximo pode ser o maior imbecil à face da terra mas, mesmo assim, continua a ser nosso dever amá-lo e respeitá-lo. Esta qualidade de bom samaritano colide com o meu sentido apurado de justiça social.  Não tenho nem nunca terei essa capacidade de amar toda a gente, nem quero amar toda a gente, pois nem toda a gente é digna do meu amor. Se já me custa respeitar alguns géneros de ser não me obriguem a amá-los também. Como também não posso crucificar aqueles que não conseguem gostar de mim. Apenas tenho que aceitar que não sou um ser consensual. Uns gostam, outros nem por isso. Não sei se vale a pena mover esforços para que gostem de nós quando quem nós somos deveria bastar para criar empatias. Apenas devo ao outro a minha autenticidade, com tudo o que de bom e de mau ela tem, mas pelo menos garanto aquilo que sou. Esse sim, deveria ser um mandamento divino. "Sê autêntico como só tu sabes ser".
Certamente quem criou o mandamento "Ama o próximo como a ti mesmo", estava a pensar em seres alados, sem alma. A carne que reveste o osso e o sangue que aquece o nosso corpo não nos dá margem para fantasias, nem para disfarçar nossa fraqueza humana. Ela existe. Não a podemos negar.
Nasci na imperfeição e vou morrer na imperfeição e não há nada a fazer senão contrariá-la, pois jamais deixarei de cometer erros, ofender alguém, desiludir alguém, desagradar alguém e tropeçar na minha própria condição de Ser com falhas. A paga para estas minhas fraquezas é aturar o mesmo dos outros, que como eu também não são perfeitos.   


Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...