Os Heróis de banda desenhada no masculino, com seus fatos de lycra justos, cheios de brilho, que representam a sua própria pele e que os carrega de tanto poder fantástico, causa-me alguma curiosidade. Bem sei que, estas criaturas maravilha não são humanas mas inspiraram-se em nós e, portanto, deveriam considerar a faceta do Homem terreno, que preza a sua masculinidade. Não estou a ver o nosso Zé povinho, vestido com um tecido elástico reluzente verde alface, a fazer o manguito e manter o seu ar machão com um traje tão festivaleiro. Seria o fim da picada. Porque é que aceitamos um look tão drag queen nos nossos heróis da BD e não duvidamos da sua força e grandeza de criaturas viris? Será porque não os encaramos como realidade mas sim uma fantasia que nos entretém e nos afasta das nossas amarras morais?
Imagina agora se uma amiga tua te confessasse que marcou um blind date e o seu encontro resultou desastroso, porque seu parceiro decidiu vestir-se com uns leggings pretos justos, um blazer vermelho debruado a dourado, a tapar o peito nú e sem pilosidades, na orelha uma argola em ouro, cabelo húmido a cobrir o pescoço, arrumado por uma bandelete dourada, sobrancelhas arranjadas e pele macia? Nem no perfume ela conseguiu superá-lo. Aliás ela nem conseguiu sobressair. Quem sobressaiu foi ele em tudo aquilo que habitualmente é apreciado numa mulher. Ele pontuou com nota máxima na postura, beleza, elegância, feminilidade, bom gosto e até na falta de pontualidade. Aquele encontro destruiu a sua auto-estima feminina. Até ele chegar ela era o centro das atenções. Mal ele apareceu, cabeças rodaram, silêncios se impuseram, a curiosidade aumentou e o interesse subiu. Ela ficou na sombra aguardando o fim do seu momento de fama. Nem sei como ninguém se lembrou de lhe solicitar um autógrafo.
Se ele fosse um herói de banda desenhada, aquele traje até que seria perfeito e adequado. Quanto mais exagerado melhor. A sua qualidade de carne e osso ajuda a quebrar o feitiço e desdenhar do seu look new age.
Talvez seja altura de mudar o nosso paradigma e encarar o homem moderno e actual como alguém sensível, charmoso, que gosta de se cuidar, que gosta de exibir seu bom gosto, que partilha de alguns gostos femininos, que se comove facilmente, que é bom gestor caseiro, que é bom confidente, que é bom cuidador, que é prestável nas tarefas domésticas, asseado, delicado, saudável e um mestre em compreensão feminina.



