Tudo ia bem. Até, demasiado bem. Assustadoramente bem, direi.
Porque é que, ainda que o sol predomine e o céu nunca tenha estado tão limpo, preferimos duvidar e inquietarmo-nos com a possibilidade de, a qualquer momento, uma irmandade de nuvens cinzentas arruinar o nosso dia.
Não está bem assim? Então, deixa estar. Não compliques.
A assombração do medo, relativamente a algo que ainda está por acontecer, asfixia a nossa felicidade.
Este estado de ansiedade que não conseguimos dominar e que António Variações imortalizou com sucesso na sua música "Estou Além", desencadeia delírios da realidade.
Quem nunca recebeu avisos, alertas, intimações da Mãe para não esquecer do famigerado agasalho, não vá arrefecer, mesmo que o ar esteja abafado, irrespirável e vivas num país com clima tropical que, desespera por uma brisa e socorre-se dos AC's e de todos os seus BTU's?
Não vá o Diabo tecê-las, ecoa na minha mente até hoje.
Será que o Diabo nunca dorme? Socorro.
Não te metas em sarilhos. É outro dos sermões da mamã que, insinua a nossa inclinação para o mal e agoira o que ainda está por acontecer. Vodu de Mãe é infalível.
Como escapar à inevitabilidade?
Não há escapatória. Assim é a Vida.
Ainda vais cair e depois quero ver?
Esta antecipação dos acontecimentos, fomenta receios, medos que nos atrasam e promovem alertas em todas as situações em que nos envolvemos.
Dou por mim a adotar a mesma "histeria", transversal a todas as Mães que, assumem o papel de cuidadoras e que, sem querer, podem estar a incapacitar os seus filhos para agir com confiança. Afinal o que nós queremos é poupá-los ao sofrimento e evitar testar-nos, diante do sofrimento dos nossos filhos.
Cuidado, olha por onde andas.
Não seria descabido incluir na Bíblia o mandamento "Jamais apregoarás, amaldiçoando o meu caminho".
Só nos dão a conhecer um cenário e logo, o pior.
A intenção das Mães (apesar de boa) nem sempre está alinhada com o melhor e mais eficaz para os seus filhos.
Voltando ao inicio, a duração do que é bom é interrompida por pensamentos dissonantes, nos quais não nos achamos merecedores de viver confortavelmente. Remorsos de alimentar uma extasia delirante e rendermo-nos a algo temporário e esquecer que a realidade não é assim tão prazeirosa.
E, novamente, redundamos na ideia que a realidade tem de ser pesada e provocar dor, muita dor.
Intensidade. Intensidade perniciosa.
Esvaziar para não causar tensão é a palavra de ordem. Não acumular e, principalmente, não acelerar ou precipitar cenários.
Lembram-se da Mónica da história da BD? Pode muito bem ser a nossa referência. Representa o mundo infantil, sua leveza, diversão e otimismo.