quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Sem Ilusões

Aqui está ele, num tempo que não é o seu. Pelo menos, não o sentia seu.

Não lhe apetecia contrariá-lo. Não se sentia capaz para isso. Quem o via assim dizia que se tinha resignado. Não compreendiam e obrigavam-no a reagir.

Desistiu de querer porque, na verdade, também não sabia muito bem o que queria.

Quando sofres e esperas que passe rápido, porque não estás a aguentar mais, acabas só por esperar que tudo normalize e não há cabeça, nem coração para sair dali em busca de algo melhor. Nem sequer há forças para procurar seja o que for.

Para um sofredor, a normalidade é o melhor que pode acontecer. Ele inclusive acha que não está intitulado a algo melhor. O mais provável é acontecer o pior e isso torna-se num receio avassalador e a ele, num desistente sem causas.

Tentar de novo implica estar preparado e ele tem recusado sucessivamente esse repto. Já não sabe mais o que procurar para si e por si.

Acho que está à espera do inesperado, do fator surpresa, de se deslumbrar e escapar do seu estado catatónico.

Outro dia sentou-se num banco de jardim. Chovia copiosamente e ele ali, sem dar por nada, a esvaziar-se de pensamentos. Em volta, passavam pessoas apressadas, que nem valorizavam a sua perplexidade ao vê-lo ali, exposto àquele cenário alagado.

Nenhuma companhia teria a capacidade de melhorar o seu dia e quem se atrevesse iria sujeitar-se a viver aquele momento alto de vulnerabilidade e a ter de resistir.

Quisera ficar ali, a alimentar-se da mesma seiva das árvores e transpor todas as estações do ano com a mesma resistência das suas amigas de puro sangue verde.

Há sempre um caminho a seguir mesmo que em modo piloto automático e foi o que ele fez.

Seguiu sem ilusões, mas seguiu apesar das contrariações.




quarta-feira, 27 de abril de 2022

Esta miúda, não pode andar bem!


Esta frase ainda ecoa na minha cabeça. De tantas vezes proferida, acabou por ficar ancorada em mim.

Sempre que eu agia em discordância, era me devolvida esta mesma frase.

A certa altura, desenvolvi a crença limitadora que me fazia sentir uma menina diferente e isolar-me no meu quarto a ler em voz alta, ganhou o topo das preferências.

O isolamento trouxe-me benefícios na reserva de mim mesma, mas precipitou algumas fobias.

Vivia escondida, com medo de notarem a minha presença e não conseguir corresponder às atenções postas em mim.

Não sabia como agir, então, agia com agressividade se tentassem forçar a minha aparição ou participação. Carregava a crença da problemática e cada vez mais incompreendida.

Doces e livros eram o alívio de tudo isso. Aos doces ia buscar afeto e brandura e através dos livros, escapava da minha condição de mal-amada. Distraía-me com a riqueza artística das personagens e imaginava-me tão poderosa quanto elas.

Este foi o meu primeiro episódio relacionado com a saúde mental e, desde então, tem sido um tema grato e sensível.

Revisito esse período que ditou o meu crescimento. É inevitável!

Contudo, continuo a travar batalhas interiores que me fazem questionar e procurar recursos internos e externos para não regressar às crenças antigas e refugiar-me uma vez mais na tristeza.

Por vezes é necessário silenciar o que sentimos e lembrar do que merecemos.

Os Amigos Imaginários, a série espanhola Verão Azul, os Livros de Enid Blyton, a Glória Pires e suas personagens, as novelas brasileiras no geral, a música das Divas dos anos 80, ajudaram no período da adolescência a secar minhas lágrimas e fazer-me sorrir de esperança.

Todos os Verões, nas férias escolares, Bea, Desi, Javi, Pancho, Piraña, Quique, Tito, cada um na sua bicicleta, exploravam lugares, sentimentos, desilusões, aventuras, conquistas, gozavam da liberdade de ser em pleno na Costa Sul espanhola.

Hoje, bem mais velhos, muito provavelmente, essa capacidade própria da puberdade perdeu-se e talvez seja mais difícil relativizar o seu estado e viajar para um mundo melhor, ainda que, por breves instantes.

Curiosamente, lembro-me de mascar pastilhas elásticas da marca gorila e insuflá-las numa bolha de ar gigante até rebentar na minha cara, deixando uma frescura a mentol. Eu achava divertido e repetia-o incessantemente.

Cada bolha de ar que rebenta representa aquilo que precisa ser destruído para poder avançar com leveza e alegria. É esse o grau de importância que dedico à saúde mental.

É caso para dizer que, a miúda do passado é a mesma miúda sensível e ansiosa que teve de sair do seu quarto mágico, com as pastilhas elásticas no bolso, as unhas roídas, assustada e receosa.

Perseguida pelo espírito e voz do passado - Esta miúda, não anda bem! – precisei de recorrer a ajuda e ainda bem que o fiz.

E concluí que, esta foi a maior demonstração de amor próprio.

A desarmonia de emoções que a lembrança dessa voz me provocava fez-me viciar em pastilha elástica, em livros de autoajuda e em terapias comportamentais efetivas.

Afinal, não podia ficar no quarto a Vida toda. Se bem que de vez em quando é uma tentação.

Se a ignorância falasse iria rotular esta minha vontade de procrastinação e estigmatizar-me, mas ela nem sabe quem eu sou e porque sou assim.

Assobio à ignorância, mas não assobio à saúde mental!

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Estabelecer Prioridades


 

Caí no erro de comentar no clube onde pratico desporto, que preciso de emagrecer para obter mais agilidade e flexibilidade e não acusar cansaço tão prematuramente.

De repente, nascem duas nutricionistas e um naturopata, licenciados nas suas próprias evidências e crenças.

Gente, eu estava apenas a desabafar alto como quem desabafa quando está frio ou ameaça chover.

Não esperava que dissecassem o tema.

 

Definitivamente, a culpa foi minha por ter partilhado e não estar preparada para o retorno.

Eu própria já agi assim. Devolvi o que resultou em mim numa tentativa de ajudar.

Chegou a minha vez de pagar tamanha ousadia.

 

Chega-se a uma certa idade e temos de fazer abstinências.

Recorrer a inibidores de apetite.

Praticar exercício físico intenso.

Contrariar todos os diagnósticos.

Enganar a fome.

E por aí fora.

 

Opiniões nada nutritivas.

 

Regressei ao carro mais pesada do que nunca.

Muito provavelmente, devo ter ganho no percurso 10kg.

Nem a cabeça conseguia erguer.

 

O que faz mesmo, mesmo falta é Motivação para lidar.

Não são os detox, os jejuns intermitentes, os personal trainers, os nutricionistas, os naturopatas, as ampolas de emagrecimento, as mezinhas, os trails, as dietas líquidas ou as dietas em meia dúzia de passos, as greves de fome, que hão de me levar a cumprir o meu objetivo, se não estiver motivada e com o foco no meu bem-estar pessoal. Poderão vir a ser uma opção, mas não se promovem sem a minha vontade.

O melhor indutor das ações que queremos empreender em nós é a Motivação.

Era tudo o que eu merecia ouvir naquele instante.

Tudo o resto só me fez engordar ainda mais.

Devo satisfazer os meus caprichos alimentares, saciar minha gulodice e ganhar dor/peso na consciência por assistir o corpo sucumbir com o meu consentimento?

 

Devo privar-me daquilo que mais gosto e me faz mal e resistir para vir a ganhar a longo prazo saúde, bem-estar físico e gostar da minha imagem?



?Qual destes cenários pesa mais?

 

A dor de me ver ao espelho em mau estado ou a privação de calorias doces e salgadas e demais alimentos processados?

 

Racionalizar o problema

Tomar uma decisão consciente.

Agir com sentido de compromisso

Motivação e Foco para perseguir o objetivo principal e encolher o problema até ele desaparecer e deixar de causar incómodo.

Usufruir dos benefícios e dar continuidade para promover maior bem-estar.

 

A Motivação resulta daquilo que escolheu priorizar uma vez racionalizado o problema.

 

Estabelecer Prioridades ajuda-o a alinhar-se e a desenvolver motivos pelos quais lutar e manter-se motivado.  

quarta-feira, 16 de março de 2022

DECEIVE DEATH


Quando a Morte nos afaga como uma carícia

Se apodera de uma realidade que não escolhemos,

Nem sequer tivemos opção de recusar,

Fazendo-nos acreditar que é a melhor

E única solução para nós.

A Guerra não devolve

A Guerra retira tudo 

A Guerra castiga os inocentes e premeia os culpados

A Guerra impõe

A Guerra explora o pior dos Homens

A Guerra destrói

A Guerra deixa marcas dolorosas e eternas

A Guerra é o vício dos cobardes

A Guerra aproveita-se das mentes frágeis

A Guerra propaga a dor entre os que odeiam e os odiados

A Guerra separa

A Guerra mata o futuro  

 

quinta-feira, 3 de março de 2022

A Vida é mesmo assim


Tristeza Vem

Tristeza Vai

O Tempo não contrai

Avança sempre

Só tens que acompanhar

E esperar que a Tristeza vá e não volte

A Vida é mesmo assim

Sofrimento e Alegria convivem alternadamente

Ambas contribuem para o nosso Crescimento Pessoal

Porém com pesos diferentes

Queixar é morrer lentamente

Estás a renunciar viver apaixonadamente

Estás a virar as costas às duras batalhas

As tais que proporcionam as melhores superações

E nos dirigem ao jardim dourado das boas sensações

As marcas do desgosto são dominantes nos rostos insatisfeitos

Não te excluas

Algo de Muito Bom te está reservado

Avança sempre 

Não lamentes

Segue firme e confiante

Não caias no descontentamento.






Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...