quarta-feira, 27 de abril de 2022

Esta miúda, não pode andar bem!


Esta frase ainda ecoa na minha cabeça. De tantas vezes proferida, acabou por ficar ancorada em mim.

Sempre que eu agia em discordância, era me devolvida esta mesma frase.

A certa altura, desenvolvi a crença limitadora que me fazia sentir uma menina diferente e isolar-me no meu quarto a ler em voz alta, ganhou o topo das preferências.

O isolamento trouxe-me benefícios na reserva de mim mesma, mas precipitou algumas fobias.

Vivia escondida, com medo de notarem a minha presença e não conseguir corresponder às atenções postas em mim.

Não sabia como agir, então, agia com agressividade se tentassem forçar a minha aparição ou participação. Carregava a crença da problemática e cada vez mais incompreendida.

Doces e livros eram o alívio de tudo isso. Aos doces ia buscar afeto e brandura e através dos livros, escapava da minha condição de mal-amada. Distraía-me com a riqueza artística das personagens e imaginava-me tão poderosa quanto elas.

Este foi o meu primeiro episódio relacionado com a saúde mental e, desde então, tem sido um tema grato e sensível.

Revisito esse período que ditou o meu crescimento. É inevitável!

Contudo, continuo a travar batalhas interiores que me fazem questionar e procurar recursos internos e externos para não regressar às crenças antigas e refugiar-me uma vez mais na tristeza.

Por vezes é necessário silenciar o que sentimos e lembrar do que merecemos.

Os Amigos Imaginários, a série espanhola Verão Azul, os Livros de Enid Blyton, a Glória Pires e suas personagens, as novelas brasileiras no geral, a música das Divas dos anos 80, ajudaram no período da adolescência a secar minhas lágrimas e fazer-me sorrir de esperança.

Todos os Verões, nas férias escolares, Bea, Desi, Javi, Pancho, Piraña, Quique, Tito, cada um na sua bicicleta, exploravam lugares, sentimentos, desilusões, aventuras, conquistas, gozavam da liberdade de ser em pleno na Costa Sul espanhola.

Hoje, bem mais velhos, muito provavelmente, essa capacidade própria da puberdade perdeu-se e talvez seja mais difícil relativizar o seu estado e viajar para um mundo melhor, ainda que, por breves instantes.

Curiosamente, lembro-me de mascar pastilhas elásticas da marca gorila e insuflá-las numa bolha de ar gigante até rebentar na minha cara, deixando uma frescura a mentol. Eu achava divertido e repetia-o incessantemente.

Cada bolha de ar que rebenta representa aquilo que precisa ser destruído para poder avançar com leveza e alegria. É esse o grau de importância que dedico à saúde mental.

É caso para dizer que, a miúda do passado é a mesma miúda sensível e ansiosa que teve de sair do seu quarto mágico, com as pastilhas elásticas no bolso, as unhas roídas, assustada e receosa.

Perseguida pelo espírito e voz do passado - Esta miúda, não anda bem! – precisei de recorrer a ajuda e ainda bem que o fiz.

E concluí que, esta foi a maior demonstração de amor próprio.

A desarmonia de emoções que a lembrança dessa voz me provocava fez-me viciar em pastilha elástica, em livros de autoajuda e em terapias comportamentais efetivas.

Afinal, não podia ficar no quarto a Vida toda. Se bem que de vez em quando é uma tentação.

Se a ignorância falasse iria rotular esta minha vontade de procrastinação e estigmatizar-me, mas ela nem sabe quem eu sou e porque sou assim.

Assobio à ignorância, mas não assobio à saúde mental!

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Estabelecer Prioridades


 

Caí no erro de comentar no clube onde pratico desporto, que preciso de emagrecer para obter mais agilidade e flexibilidade e não acusar cansaço tão prematuramente.

De repente, nascem duas nutricionistas e um naturopata, licenciados nas suas próprias evidências e crenças.

Gente, eu estava apenas a desabafar alto como quem desabafa quando está frio ou ameaça chover.

Não esperava que dissecassem o tema.

 

Definitivamente, a culpa foi minha por ter partilhado e não estar preparada para o retorno.

Eu própria já agi assim. Devolvi o que resultou em mim numa tentativa de ajudar.

Chegou a minha vez de pagar tamanha ousadia.

 

Chega-se a uma certa idade e temos de fazer abstinências.

Recorrer a inibidores de apetite.

Praticar exercício físico intenso.

Contrariar todos os diagnósticos.

Enganar a fome.

E por aí fora.

 

Opiniões nada nutritivas.

 

Regressei ao carro mais pesada do que nunca.

Muito provavelmente, devo ter ganho no percurso 10kg.

Nem a cabeça conseguia erguer.

 

O que faz mesmo, mesmo falta é Motivação para lidar.

Não são os detox, os jejuns intermitentes, os personal trainers, os nutricionistas, os naturopatas, as ampolas de emagrecimento, as mezinhas, os trails, as dietas líquidas ou as dietas em meia dúzia de passos, as greves de fome, que hão de me levar a cumprir o meu objetivo, se não estiver motivada e com o foco no meu bem-estar pessoal. Poderão vir a ser uma opção, mas não se promovem sem a minha vontade.

O melhor indutor das ações que queremos empreender em nós é a Motivação.

Era tudo o que eu merecia ouvir naquele instante.

Tudo o resto só me fez engordar ainda mais.

Devo satisfazer os meus caprichos alimentares, saciar minha gulodice e ganhar dor/peso na consciência por assistir o corpo sucumbir com o meu consentimento?

 

Devo privar-me daquilo que mais gosto e me faz mal e resistir para vir a ganhar a longo prazo saúde, bem-estar físico e gostar da minha imagem?



?Qual destes cenários pesa mais?

 

A dor de me ver ao espelho em mau estado ou a privação de calorias doces e salgadas e demais alimentos processados?

 

Racionalizar o problema

Tomar uma decisão consciente.

Agir com sentido de compromisso

Motivação e Foco para perseguir o objetivo principal e encolher o problema até ele desaparecer e deixar de causar incómodo.

Usufruir dos benefícios e dar continuidade para promover maior bem-estar.

 

A Motivação resulta daquilo que escolheu priorizar uma vez racionalizado o problema.

 

Estabelecer Prioridades ajuda-o a alinhar-se e a desenvolver motivos pelos quais lutar e manter-se motivado.  

Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...