Reunião familiar é uma proeza, cujo resultado sai sempre desastroso.
Não vale a pena insistir. É o mesmo que bater com os cornos na porta.
Há sempre alguém que chega atrasado e vem a falar ao telemóvel e quando acaba, desfia as desculpas do costume.
Os contrariados que ficam retidos à espera, exasperam e espumam de raiva. Tanta coisa inútil para fazer e nós aqui.
Entretanto o telefone toca. Todos consultam seus gadgets mas percebem que nenhum deles é o responsável.
O som vem da cozinha. Deve ser o telefone fixo, de disco, estilo retro e cabo espiral, com toque de campainha, herança dos ex proprietários.
Pietra corre para atender. Suprema curiosidade cai estendida no chão, sem amparo. Era engano!
Farto de tanto esperar, Ricardo levanta-se e dirige-se à porta de forma resoluta e decidida, pronto para sair e abandonar a reunião familiar, que ainda nem tinha começado.
Onde vais? - pergunta Olívia, sob stress.
No exato momento que Ricardo se vira contrariado para lhe responder, despenca o quadro da sala de jantar e por entre as partículas de pó esvoaçantes surge uma criatura serena e familiar.
Todos congelaram!
Não pode ser! - gaguejaram.
É a tia Greta, irmã da mãe e outrora presença assídua lá de casa.
A paralisia durou ainda alguns minutos. Ficou tudo borrado de medo. Nem o gato Sullivan escapou do susto. Barricou-se debaixo do louceiro, inspirado na mobília francesa do séc. XV e por lá se eternizou.
A tia Greta morreu à cinco anos, de morte súbita, na sala das ocasiões solenes, como ela gostava de lhe chamar. Foi um choque para todos, principalmente, para a minha mãe de quem era muito próxima. Nesse trágico dia, estavam todos presentes, não para ver a tia morrer mas para participar na reunião familiar por ela convocada.
Passados cinco anos a história repete-se, desta vez, num ambiente sinistro e bizarro.
Será que a tia Greta quer regressar à reunião entretanto interrompida pela sua morte súbita?
Afinal quem convocou esta reunião familiar?
Intrigas e perguntas não faltam. O que falha são as respostas para todas elas.
Olívia e Ricardo chegaram à conclusão que a convocatória afinal chegou em forma de alerta nos seus telemóveis a indicar dia e hora da reunião. Sem hesitações, Pietra e Abel acusaram o mesmo registo.
Diante deles permanecia aquela figura, muda, etérea, pungente, de traços pronunciados e maxilar definido, olhar sereno e penetrante, testa descoberta, cabelo habilmente apanhado e mãos em descanso, aguardando a atenção de todos os convocados.
TO BE CONTINUED........