quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Pessoas com feitios especiais são amadas por pessoas especiais com feitio.


Não raras vezes, surgem comentários sobre casais e suas relações. Perdigotadas soltas, que em tom afirmativo e venenoso, elevam a generosidade afetiva de um dos seus elementos, ele ou ela (não importa), por achar que ama mais quem ama alguém com um feitio bué complicado.
Ele ou ela é tão especial, ao ponto de aceitar uma pessoa com características tão particulares e difíceis.
Inicialmente pensei, como é que podemos achar que há pessoas mais especiais que outras e, porque é que suas características são abençoadas e altruístas pelo facto de lidarem com uma pessoa aparentemente tão retorcida e desafiante.
Aparências e generalizações convivem lado a lado e são os pregos no caixão da humanidade. 
Depois pensei, como é que ele ou ela, sendo uma pessoa difícil de agradar, entrega-se a uma pessoa de quem toda a gente parece gostar sem reservas. Não me parece que uma pessoa com critérios tão apertados se queira envolver com alguém tão consensual. Normalmente, as pessoas difíceis não lidam bem com a normalidade, aliás, não a compreendem, se não a compreendem não a aceitam e muito menos a acolhem de braços abertos e, para além do mais, o que é isso de ser difícil e retorcido. Aqui as opiniões podem divergir e é bom que divirjam.
Resolvi desconstruir esta generalização porque me parece injusta para ambas as partes.
De acordo com os autoproclamados gurus das relações monogâmicas, uma das partes do casal agrada a qualquer pessoa, quer todos e todos o querem. Seja quem for que lhe caia na rifa, cabe nos seus critérios indefinidos e elásticos. Topa qualquer parada. Nunca faz cara de contrariado, nem amua. Basicamente foi feito para não sentir, aceitar só e conviver com isso. Até parece que, estou a falar de uma passa mirrada e desidratada.
É capaz de amar incondicionalmente pelos dois porque é portador(a) das melhores características pessoais, que todos parecem reconhecer, menos a feliz ou o feliz contemplado. 
Mais uma generalização com base numa imagem avulsa e uma imaginação deprimente.

O outro elemento é a última bolacha do pacote, aquela que ninguém quer, já partida e mole.
Não sorri, nem ri, sem ter vontade, não adula, não entra em concordância, mesmo que isso favoreça a sua sociabilização, não é popular, mas também não é bizarra, apesar de ser este o rótulo que lhe é atribuído, só porque não promove conversas fúteis e desnecessárias para conquistar as massas, no entanto, sabe ser acolhedora e compreensiva, mas só o revela se sentir confiança e verdadeira amizade. Entretanto é vista, de uma forma resumida, pelos generalistas do amor, como uma pessoa fria, misteriosa e distante.
Nós somos feitos de vários matizes e assumimos vários perfis, consoante as situações a que somos sujeitos e mais ainda dentro de uma relação de casal, tantas vezes, esquizofrénica e turbulenta.
Há os maus e depois há os que tiram partido.


   

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