segunda-feira, 30 de março de 2020

Orgulhosos de Ti

Não páras de crescer. És demasiado Especial.
Quando nasceste, não consegui assimilar o valor que terias para mim. Estava ocupada com mudas de fraldas, biberões, suas dosagens e temperaturas, banhos temperados, desinfeção das chuchas e tetinas, vigiar teus sonos, aliviar as tuas cólicas, adormecer-te, cuidar dos teus soluços, percentis, molas, molinhas e colchetes, para apertar e tapar nos sítios certos, plano de vacinação, visitas regulares ao pediatra, minhas hormonas num frenesim, não deprimir e, principalmente, não desistir.
Não foi a melhor fase da minha vida. Todos os meus receios se materializaram. Não foram momentos fáceis. Eu tinha o dever de te poupar a todos eles mas, infelizmente, não soube lidar e creio ter-te afetado e, por esse motivo, culpo-me por não ter gerido melhor minhas emoções.
Hoje, o cenário é bem diferente. Estou mais disponível mental e emocionalmente. Já não me sinto frágil.
Contagem decrescente para os teus anos. Este ano será diferente mas não, necessariamente pior. A disseminação crescente do vírus mortal covid19, obrigou ao recolhimento obrigatório sem termo e,  portanto, este ano será cá por casa. Melhor dizendo, na casa dos avós paternos, que nos acolheram, numa fase de transição que, inesperadamente, veio a resultar
numa preciosa ajuda. Avô adoeceu dos olhos e nós somos seu principal apoio.
Apesar destas mudanças forçadas, teu comportamento revelou-se surpreendente. Estás sempre pronto a ajudar, sem contrariações. És a boa energia que retira dimensão a este pesadelo. És um menino de ouro. Orgulhosos de Ti.
Por pouco, nascias no dia das mentiras, para meu descontentamento. Seria numa segunda-feira, pós Domingo de Páscoa. Apesar de, ter suportado as contrações dolorosas por mais umas horas, foi bem melhor assim. Não gostaria que o teu dia de nascimento fosse partilhado com o dia das mentiras e, todos os anos, ter que conviver com algum engraçadinho(a), brincar com o acontecimento de forma repetitiva e cansativa.
Espero que, no próximo ano, possamos festejar o teu aniversário sem este perigo latente e no nosso novo lar. Estão Todos convidados. Velhos Amigos, Novos Amigos, Teus Amigos, Nossos Amigos, Vizinhos, Família. Juntaremos Vidas às nossas Vidas e deixaremos que a Magia da felicidade nos invada e, tal como o, insidioso covid19 se alastre pelas nossas células e nos infecte de Amor e Bem Estar.

sexta-feira, 20 de março de 2020

Enormes



Do sorriso ao choro dista muito pouco e a quantidade de vezes que isto se repete confirma a alteração do nosso estado mental e o quão sensível ele é ao processamento daquilo que nos rodeia.
Ora nos fortalece ora nos transtorna. Mudanças de estados emocionais estáveis para estados emocionais instáveis e vice versa, exigem reações rápidas e adequadas e um forte e firme acondicionamento mental. Essa resistência não aparece quando necessária, adquire-se com o tempo e as vicissitudes da Vida. As adaptações e ajustes são um desafio gigantesco. Direi, uma façanha. Não nascemos preparados para aceitar certos acontecimentos, principalmente, os maus.
Assim como, quando experimentamos um novo sabor, temos tendência a rejeitá-lo, por não o conseguirmos identificar na nossa memória gustativa, os factos novos recebem igual tratamento. Primeiro estranham-se, depois aceitam-se.
Trata-se numa, primeira fase, de uma resistência primária e negativa que, em princípio, resultará numa resistência positiva, apoiada pela aprendizagem que ajudará a superar a dor que esses novos acontecimentos possam vir a causar.
Crescemos todos durante o processo, sobretudo, os mais novos que aprendem a colaborar e não incomodar porque, o momento assim o obriga. Estão sempre dispostos sem queixumes. As transições não os atemorizam. O quarto escuro sim.
Têm tanta Vida pela frente e não gastam seu tempo a medir perdas e ganhos. Limitam-se a Viver.
Dão leveza ao pesadelo. São Enormes sem o saberem.

domingo, 15 de março de 2020

#Estamosjuntos

E de repente, quando menos se esperava, veio algo para redefinir o que é verdadeiramente importante.
Estávamos tão protegidos do mal e ocupados connosco próprios e eis que chega o COVID19 para estragar tudo e desorientar nossas Vidas.
Num mundo de cegos poucos conseguem ver a gravidade da situação. Não falo apenas do contágio fácil e rápido que compromete a nossa saúde, falo também da nossa postura relaxada relativamente a esta problemática. Aliás, antes mesmo de sermos atingidos por esta pandemia, o nosso cuidado para connosco e para com os outros era irrisório. Quantos de nós se dão ao trabalho, após o uso do wc ou mesmo antes das refeições, lavar devidamente as mãos e poupar-nos a contaminações, que em pessoas de risco pode muito bem originar a morte e o COVID19 pode até nem ser o responsável. Afinal, é uma estirpe entre tantas outras que pululam por aí.
Neste momento, decretou-se o período de quarentena, implicando perdas económicas e sociais mas, seguramente, ganhos em saúde e bem estar. Assim esperamos.
Todos somos responsáveis. Nessa qualidade, temos de ganhar uma nova consciência social que, quanto a mim, se encontrava amortecida pela correria do dia a dia e pela pressão de ter mais e melhor, para manter ou até subir de categoria.
Ainda que pareça impossível, ainda vamos chegar ao ponto de sentir saudades do nosso dia a dia. De sair para os lugares comuns, de lidar com pessoas comuns e de falar sobre temas comuns. Viver na instabilidade não é bom. Viver na incerteza muito menos.
Estamos todos sujeitos. Uns mais que outros mas, na verdade, estamos todos sujeitos.
Os dias seguintes vão determinar a nossa capacidade de resistência.
Viagens canceladas, visitas suspensas em hospitais e lares, espaços de desporto e lazer fechados, idas aos hipermercados e centros comerciais condicionadas, hospitais em rutura, negócios comprometidos, instituições de ensino encerradas, trabalho remoto para quem pode dispor dessa funcionalidade, evitar espaços públicos e contato físico, parques de diversão interditos, acessos dificultados, a Vida ativa interrompida.
Este estado vai  expor nosso caráter, nosso sentido do outro, nossa capacidade de destacarmo-nos do que é supérfluo e de menor importância, inspirar-nos a ser melhores pessoas e resistentes às tentações que comprometem bem estar do todo.
Depois disto, seremos pessoas com outras preocupações e movidas por um novo sentido de Vida.



Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...