Sinto-me como se estivesse tapada por faltas. Não posso cometer mais deslizes. Já esgotei os créditos todos e, portanto, não me posso esticar. Corro o risco de ser expulsa deste mundo.
Nunca vos aconteceu falar ou agir
e não serem bem acolhidos, por parecer ridículo e despropositado a quem vos
assiste? Se calhar, não! Provavelmente, esta deve ser uma característica muito
minha.
Passo a explicar.
Outro dia entrei numa pastelaria e
fui abordada por uma menina, que bastou se abeirar de mim, para eu lhe lançar
um “Olá, Bom dia!”, entusiasta e num tom que captasse boa receção nos
dispositivos auditivos presentes.
A menina, cujo nome não cheguei a
saber, estranhou meu entusiasmo e simpatia, recuou uns passos, olhou para mim,
como se estivesse a olhar para uma mulher com cinco pernas e, sem emoção na voz
e sem devolver o bom dia, entrou no modo automático de serviço, para me
questionar qual ia ser o meu pedido.
Percebi naquele instante que
estava a agir com demasiada disponibilidade e que nem todos estão preparados
para perceber e receber a minha erupção emotiva. Tenho alguma dificuldade em
perceber em que circunstâncias e de que modo devo fazê-lo sem provocar reações
como esta.
Já sem possibilidade de remediar
a situação remeti-me ao silêncio, interrompido apenas pelo Obrigada, mas
já sem euforia. Foi um Obrigada neutro e uníssono.
Não achei que me viesse a fazer
falta a disciplina de boas práticas e protocolo para o meu dia a dia corriqueiro.
Privilegiei outras matérias que me pareceram mais importantes, mas pelos vistos,
deveria ter assistido a algumas aulas para moderar a minha urgência em criar bem-estar.
Alguém se identifica com esta inócua
“sem nocãozisse”?
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