O que é o Amor senão um sentimento em vias de extinção.
Não exploramos a vida em conjunto. Preferimos estar sós e cultivar os
nossos interesses individuais a ter de investir num relacionamento, numa
construção familiar, num futuro em família e fazer disso um plano de vida.
Para quê, se estou tão bem assim.
O conforto, o individualismo, a vontade de prolongar a juventude, a
saída tardia da casa dos pais, a conversão ao hedonismo, as desvantagens
sociais e económicas da vida em conjunto, a falta de empatia, imagem de marca do
séc. XXI, a incapacidade e, em muitos casos, desinteresse de lidar com as emoções,
o imediatismo, tudo isto conjugado, conspira para votar o Amor à extinção.
Nos últimos anos, temos assistido ao surgimento de grupos herméticos de
pessoas obcecadas com seus próprios gostos, hábitos e costumes e alérgicos a
tudo o resto. Grupos com princípios alimentares restritivos, grupos ativistas,
grupos defensores da causa animal, grupos defensores da causa ambiental, grupos
do padel, grupos radicais de direita, grupos de mães aspirantes a mães do ano, grupos
de meditação, grupos de haters, grupo defensor das minorias, grupo dos expatriados,
grupo fanático do futebol, grupo do signo tal, entre outros, que se fecham à convivência
com quem não se reveja no mesmo.
Colamo-nos a um estilo e fazemos dele o nosso único modo de vida e quem
destoar, está out. Estranhamo-nos uns aos outros e criamos distâncias que impedem
a aparição do Amor.
Não há lugar ao diálogo e à concertação de ideias, pontos de vista,
opiniões, formas de estar, pensar e agir. Para isso é preciso tempo, paciência,
compreensão, tolerância, empatia, escuta ativa, leituras interiores e entendimentos
exteriores, envolvência, entrega e um ego flexível. Características que são
vistas como encargos pessoais cuja exigência não se justifica enquanto aposta
numa relação que não se sabe que futuro lhe está reservado.
As relações vivem do presente, não do futuro. O que constróis hoje, em
conjunto, vai resultar numa interação e cumplicidade cada vez mais forte e
resistente a abalos emocionais desafiantes, que ameaçam ruir a tua relação ou
estrutura familiar.
Não há abertura, tão pouco, disponibilidade para compreender e aceitar outras
formas de estar e, sobretudo, não saboreamos a Vida, tal é a
nossa obsessão em buscar um propósito e aceleração para o concretizar.
O Amor não busca aprovação.
O Amor é uma epifania que não tem tradução nem explicação e precisa ser
estimulado/regado para crescer e florir.
O Amor instantâneo não existe e se existe não é Amor.
Todos queremos um match, um perfil que assuma o nosso modo de vida e
venha a gostar de tudo aquilo que nós gostamos e defendemos acerrimamente, sem amuos e contrariações.
O trabalho na nossa construção pessoal baseou-se em gostos,
preferências, objetivos, condições de vida, lifestyle, afirmação, sem espaço e lugar para
o Amor.
O Amor não tem hora para se manifestar mas tem de reunir o mínimo de condições
e uma delas é acalmar o ego e suas obsessões.
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