segunda-feira, 18 de março de 2024

AMANHÃ É DIA DO PAI

Amanhã é dia do Pai.
A propósito disso, lembrei-me de todos os pais repetentes, aqueles que têm mais do que um filho e se isso contribuiu para uma maior aprendizagem sobre como ser um bom pai.
Eu sou a filha mais velha, juntamente, com a minha irmã gémea e acredito que para os meus pais, não tenha sido fácil saber, no dia do parto, que afinal em vez de uma, seriam duas meninas. Minha mãe ainda não devia ter recuperado a consciência e meu pai, perdeu-a naquele instante. Nem houve tempo para assimilar a notícia. O choque deve ter sido tsunámico,
A forma como encararam a maternidade e paternidade demonstra-o bem. Para eles era uma obrigação assistencialista.
A partir de agora, estamos obrigados a cuidar da sua saúde, alimentação, educação e dentição.
Como se não bastasse tudo isso, ainda tiveram que bancar botas ortopédicas. Um par para cada uma de nós. Até na doença somos solidárias.
Cada ida nossa ao médico era um sangramento na sua carteira e um ar desesperado nos seus rostos.
O dinheiro era contado e o mínimo desvio implicava apertos sufocantes.    
A realidade não dá margem para amar melhor.
Ambos na casa dos vinte anos, inexperientes, desamparados, carentes de amor, com duas filhas no colo, deveria ter sido aterrador.
E agora?
Os recursos eram escassos, não tinham casa própria, não tinham o apoio dos pais, os direitos dos trabalhadores ainda não tinham sido fundamentados, nem consagrados na lei, o país tinha saído há muito pouco tempo de uma ditadura e o que se segue é um mundo novo e incerto. Na verdade, as circunstâncias não eram as melhores e ambos estavam a tentar sobreviver a tudo isso, competentemente.
Há prioridades que se agigantam e obrigam a endurecer nossas capacidades de resistência, face às dificuldades para criar uma vida familiar digna e, inevitavelmente, retira tempo para tudo o resto, que é tão ou mais importante, como estar, acompanhar, conviver, abraçar, mimar, afetos, cumplicidades, tolerâncias, empatias e colinho bom.
O jovem adulto recém casado e desprovido de recursos emocionais, não teve tempo para ser muito mais do que um pai assistencialista.
Do que há não falta nada! 




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