Esta frase ainda ecoa na minha cabeça. De tantas vezes proferida,
acabou por ficar ancorada em mim.
Sempre que eu agia em discordância, era me devolvida esta mesma frase.
A certa altura, desenvolvi a crença limitadora que me fazia sentir uma
menina diferente e isolar-me no meu quarto a ler em voz alta, ganhou o topo das
preferências.
O isolamento trouxe-me benefícios na reserva de mim mesma, mas
precipitou algumas fobias.
Vivia escondida, com medo de notarem a minha presença e não conseguir
corresponder às atenções postas em mim.
Não sabia como agir, então, agia com agressividade se tentassem forçar
a minha aparição ou participação. Carregava a crença da problemática e cada vez
mais incompreendida.
Doces e livros eram o alívio de tudo isso. Aos doces ia buscar afeto e
brandura e através dos livros, escapava da minha condição de mal-amada.
Distraía-me com a riqueza artística das personagens e imaginava-me tão poderosa
quanto elas.
Este foi o meu primeiro episódio relacionado com a saúde mental e,
desde então, tem sido um tema grato e sensível.
Revisito esse período que ditou o meu crescimento. É inevitável!
Contudo, continuo a travar batalhas interiores que me fazem questionar e
procurar recursos internos e externos para não regressar às crenças antigas e
refugiar-me uma vez mais na tristeza.
Por vezes é necessário silenciar o que sentimos e lembrar do que
merecemos.
Os Amigos Imaginários, a série espanhola Verão Azul, os Livros de Enid
Blyton, a Glória Pires e suas personagens, as novelas brasileiras no geral, a
música das Divas dos anos 80, ajudaram no período da adolescência a secar
minhas lágrimas e fazer-me sorrir de esperança.
Todos os Verões, nas férias escolares, Bea, Desi, Javi, Pancho, Piraña,
Quique, Tito, cada um na sua bicicleta, exploravam lugares, sentimentos, desilusões,
aventuras, conquistas, gozavam da liberdade de ser em pleno na Costa Sul
espanhola.
Hoje, bem mais velhos, muito provavelmente, essa capacidade própria da
puberdade perdeu-se e talvez seja mais difícil relativizar o seu estado e viajar
para um mundo melhor, ainda que, por breves instantes.
Curiosamente, lembro-me de mascar pastilhas elásticas da marca gorila e
insuflá-las numa bolha de ar gigante até rebentar na minha cara, deixando uma
frescura a mentol. Eu achava divertido e repetia-o incessantemente.
Cada bolha de ar que rebenta representa aquilo que precisa ser
destruído para poder avançar com leveza e alegria. É esse o grau de importância
que dedico à saúde mental.
É caso para dizer que, a miúda do passado é a mesma miúda sensível e
ansiosa que teve de sair do seu quarto mágico, com as pastilhas elásticas no
bolso, as unhas roídas, assustada e receosa.
Perseguida pelo espírito e voz do passado - Esta miúda, não anda
bem! – precisei de recorrer a ajuda e ainda bem que o fiz.
E concluí que, esta foi a maior demonstração de amor próprio.
A desarmonia de emoções que a lembrança dessa voz me provocava fez-me
viciar em pastilha elástica, em livros de autoajuda e em terapias
comportamentais efetivas.
Afinal, não podia ficar no quarto a Vida toda. Se bem que de vez em
quando é uma tentação.
Se a ignorância falasse iria rotular esta minha vontade de
procrastinação e estigmatizar-me, mas ela nem sabe quem eu sou e porque sou
assim.
Assobio à ignorância, mas não assobio à saúde mental!