quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Até um dia sermos velhinhos

 "Vamos brincar, ai ai vamos brincar com elas, vamos aproveitar, um dia destes já estamos velhinhos(...)"

Este é o refrão de uma música não solicitada que um automobilista, muito provavelmente, pai, avô, tio, quis partilhar com os restantes automobilistas estacionados nas imediações da escola preparatória do seu concelho.

Não sei se a sua intenção era alegrar-nos, se tem problemas sérios de audição ou, pura e simplesmente, acha que todos gostamos do mesmo.

Agora a minha pergunta é:

- Como irei conviver com isto no meu ouvido?

Cheguei a pensar que com a despedida do Verão as festas e romarias tivessem acabado.

A música sem filtros continua a ser amplificada por altifalantes demoníacos em modo non stop.

Socorro!!!

Nem me adianta arrancar a toda a velocidade. Trata-se de uma perseguição sem fim.

Até parece que já ouço ao longe, a aproximar-se a toda a velocidade o som dos Santa Maria.

Fui!!!! 

 


Aparição Sinistra

 Entretanto, o Gato Sullivan continua sumido.

Além de sete vidas tem sete vezes sete premonições e, claro está que, gato escaldado da água tem medo.

Ricardo rompeu o silêncio e o mundo à volta estremeceu quando ele avançou destemido e disse que se tem encontrado com o pai em secretismo e a relação deles tem progredido e quer dar-lhe continuidade. Os irmãos sabiam disso mas nunca se sentiram motivados a conhecê-lo melhor. Apenas o alertaram para o facto de se magoar ainda mais e desabar diante de uma desilusão gigantesca.

Porventura há algo que os une mais do que os separa, apesar de Ricardo ser um pai muito presente e atento aos seus três filhos. Nesse papel ele é impecável, ao contrário do papel de companheiro da mãe dos seus filhos. Com ela todas as desatenções são permitidas e defende-se com o compromisso estabelecido enquanto pai e diretor geral, numa multinacional de bebidas espirituosas e isso deveria bastar-lhe, para se sentir muito amada.

Tia Greta regressa ao seu plano etéreo, inquieta com a revelação do seu sobrinho Ricardo. Sabe que, as escolhas são de cada um e são as nossas escolhas que nos conduzem a determinados caminhos e o processo de aprendizagem acontece quando questionamos e revemos as escolhas que tomamos ao longo do trajeto e a Vida é mesmo assim e está tudo bem!

Ricardo não está a desrespeitar a sua mãe, nem a sua tia por querer conhecer melhor o seu pai e ter havido um bom entendimento entre os dois. Certamente, ele precisava disso para desbloquear sentimentos reprimidos.

Escolhas são necessárias para nos colocar em movimento! 



   

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Aparição Sinistra

Agora que tenho a Vossa atenção, agradeço que me escutem e se manifestem apenas no final da minha intervenção - ordena a tia Greta, no seu habitual tom cerimonioso.
Eu não morri! Eu apenas deixei de fazer parte das Vossas Vidas, mas continuo aqui, pelo menos, por enquanto.
Não será por muito tempo. Só até cumprir a missão que me trouxe aqui.
Sem que vocês se tivessem apercebido, flutuei, invisível, por diversos ambientes e contextos e aproveitei para tirar notas mentais do que sucede  no vosso mundo, outrora também meu, chamado realidade.
A minha intenção não é assustar-vos ou mostrar os meus novos poderes tansmutacionais, nem tão pouco abandonar a minha condição atual, até porque estou bem melhor assim. - adiantou ela, resoluta.
Abel, Olívia, Pietra e Ricardo, permaneciam imóveis e perscrutantes.
Há um segredo na nossa família que foi enterrado comigo e é a razão de eu ter regressado.

Silêncio absoluto!
Imóveis, os cristais do lustre abafaram o seu vibrato.
Até o gato sumiu para parte incerta. Não podia desperdiçar uma vida com uma história da qual nunca fez parte.

A Tia Greta atira - O vosso pai não morreu!
É dessa forma que começa a desembaraçar-se do peso carregado à mais de quarenta anos.

- Não passou de uma encenação criada por mim e pela vossa mãe para vos poupar ao sofrimento de um abandono cruel e sem remorsos.
Ele nunca vos procurou porque nós não deixamos. Estabelecemos um acordo e ele aceitou, sem contrariar. 
A decisão de sair de casa e ficar ausente por tempo indeterminado foi dele, sem encarar as consequências emocionais devastadoras que provocariam nos seus filhos e na vossa mãe. Para que vocês não fossem atingidos pela dor da rejeição, eu, em parceria com a vossa mãe, decidimos simular que ele tinha sido atropelado mortalmente.
Curiosamente ou não, o mais difícil não foi acalmar a vossa dor, na verdade, o que mais lhe custou foi responder a todas as vossas perguntas e construir uma história dominante e coerente, que vos convencesse. Apesar de tudo, havia mais curiosidade, do que propriamente, dor ou desespero. Na verdade, a presença de pai era praticamente nula. Não havia proximidade, nem para beijos de chegada, nem de despedida. Ele não a promovia e vocês habituaram-se a depender exclusivamente da vossa mãe para tudo.   
Durante todo o processo, a minha irmã engoliu choro, raiva, revolta, angústia, medo, superou todas as adversidades, acompanhou as fases do vosso crescimento, lutou, cuidou para que nada de essencial vos faltasse e mesmo cansada tinha sempre uma palavra meiga, um mimo, um abraço, um conselho útil, colo, ombro, ouvidos, atenção e sobretudo amor, muito amor.
Se quiserem culpar alguém, culpem-me a mim. Vossa mãe estava perdida e sem saber o que fazer quando o marido a abandonou para perseguir os seus sonhos e fazer a vontade ao seu manifesto egoísmo. Quatros filhos pequenos para cuidar, uma casa para gerir, a culpa de ter ignorado os sinais que indicavam um futuro miserável junto a esse traste com alcunha de navalhas, o medo de não conseguir seguir em frente e defender-se sozinha, formavam um cenário assustador e eu não podia deixar a minha irmã desamparada e foi, nesse momento, que decidi avançar para a erguer e fazê-la acreditar que seria possível sobreviver a tudo isso e construir algo bem melhor. Apesar de tudo, há males que vêm por bem.
A minha descida ao rés do chão  deve-se à ameaça do vosso pai em romper o nosso pacto e desvendar o segredo e ganhar proximidade convosco, ao fim destes anos todos de ausência. - revelou a tia Greta, indignada!
Quis adiantar-me para que não sejam surpreendidos com revelações enganosas da parte do vosso gerador. Não podemos chamá-lo de pai - rematou a tia Greta com a voz embebida em revolta.

Penso que é hora de inaugurar o debate e devolver-vos a palavra porque afinal vocês foram os principais visados desta trama queirosiana.

A Tia Greta estava preparada para reações rápidas e impulsivas, a sangrar sentimentos contraditórios. Em vez disso, recebeu um silêncio sepulcral e a antecipação da morte do título de tia preferida.


TO BE CONTINUED



 
 

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Aparição Sinistra

Reunião familiar é uma proeza, cujo resultado sai sempre desastroso.

Não vale a pena insistir. É o mesmo que bater com os cornos na porta. 

Há sempre alguém que chega atrasado e vem a falar ao telemóvel e quando acaba, desfia as desculpas do costume.

Os contrariados que ficam retidos à espera, exasperam e espumam de raiva. Tanta coisa inútil para fazer e nós aqui.

Entretanto o telefone toca. Todos consultam seus gadgets mas percebem que nenhum deles é o responsável.

O som vem da cozinha. Deve ser o telefone fixo, de disco, estilo retro e cabo espiral, com toque de campainha, herança dos ex proprietários.

Pietra corre para atender. Suprema curiosidade cai estendida no chão, sem amparo. Era engano!

Farto de tanto esperar, Ricardo levanta-se e dirige-se à porta de forma resoluta e decidida, pronto para sair e abandonar a reunião familiar, que ainda nem tinha começado.

Onde vais? - pergunta Olívia, sob stress.

No exato momento que Ricardo se vira contrariado para lhe responder, despenca o quadro da sala de jantar e por entre as partículas de pó esvoaçantes surge uma criatura serena e familiar.

Todos congelaram!

Não pode ser! - gaguejaram.

É a tia Greta, irmã da mãe e outrora presença assídua lá de casa.

A paralisia durou ainda alguns minutos. Ficou tudo borrado de medo. Nem o gato Sullivan escapou do susto. Barricou-se debaixo do louceiro, inspirado na mobília francesa do séc. XV e por lá se eternizou.

A tia Greta morreu à cinco anos, de morte súbita, na sala das ocasiões solenes, como ela gostava de lhe chamar. Foi um choque para todos, principalmente, para a minha mãe de quem era muito próxima. Nesse trágico dia, estavam todos presentes, não para ver a tia morrer mas para participar na reunião familiar por ela convocada.

Passados cinco anos a história repete-se, desta vez, num ambiente sinistro e bizarro.

Será que a tia Greta quer regressar à reunião entretanto interrompida pela sua morte súbita?

Afinal quem convocou esta reunião familiar?

Intrigas e perguntas não faltam. O que falha são as respostas para todas elas.

Olívia e Ricardo chegaram à conclusão que a convocatória afinal chegou em forma de alerta nos seus telemóveis a indicar dia e hora da reunião. Sem hesitações, Pietra e Abel acusaram o mesmo registo.

Diante deles permanecia aquela figura, muda, etérea, pungente, de traços pronunciados e maxilar definido, olhar sereno e penetrante, testa descoberta, cabelo habilmente apanhado  e mãos em descanso, aguardando a atenção de todos os convocados.

TO BE CONTINUED........


 



   



     

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Inteligência Artificial, Contra ou a Favor?

A questão do momento que divide o mundo.

Para o mundo dos negócios esta é uma invenção revolucionária ao nível da invenção da roda e que vem facilitar a execução de determinadas tarefas, que ocupam muito tempo e recursos.

Porém, trata-se de um recurso. É favor não abusar.

Se quisermos um termo de comparação, digamos que, é uma espécie de bimby, voltada para o universo corporativo e que promete revolucionar a vida de muitas pessoas.

Como qualquer novidade, ainda por explorar, está a ser usada como um brinquedo multifuncional que responde a qualquer pergunta, por mais absurda que seja.

O problema disto tudo é que o excessivo entusiasmo por este tipo de ferramentas, retira-nos algum discernimento, capacidade analítica, interpretativa, espírito crítico, contraste com outras fontes de conhecimento, mas também nos retira trabalho acumulado e pressão.

É preciso equilíbrio e critério no seu uso!

É inevitável! Todos vão recorrer. Uns com mais parcimónia e outros com menos.

Contra ou a favor?

Reticente….

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Pessoas Partidas

Gosto de pessoas partidas. Daquelas que não receiam expor as suas vulnerabilidades e não abafam aquilo que sentem, de bom e de menos bom. 
Gosto de pessoas imperfeitas e que têm consciência disso.
Seu olhar é diferente das demais. É um olhar que humedece com facilidade e nunca seca. Não confundamos com fraqueza. 
A vida não é fácil e deixa marcas indeléveis. Em resultado disso, uns endurecem e outros amolecem, sem que tenha havido um marcador temporal definido para registar esses efeitos. Simplesmente, foi acontecendo e usamo-los como revestimentos da nossa personalidade.
Vou soar obscurantista, mas acredito que a dor nos enriquece de uma forma mais pedagógica que a sensação de felicidade. A dor entranhada faz-nos dar valor aos momentos de felicidade com que somos premiados. Não se trata de achar que não merecemos ser felizes, é muito mais uma questão de gratidão, apreciação e valorização.
A volatilidade das emoções, dos próprios dias, a passagem do tempo, com ritmos diferentes, ora lentos, ora acelerados, a consciência disso, a consciência de nós mesmos, a medição das nossas tolerâncias e intolerâncias, o não sabermos quando vai acabar, a vividez das memórias antigas, a escassez de memórias recentes impressionáveis, o medo de partir a meio da festa e de copo na mão, a penumbra dos dias, o choro e o riso numa convivência atrapalhada e desordenada, o peso da dor tatuado em nós, geram uma sensibilidade apurada, que nos faz reagir ao clarão dos bons momentos e suas partículas de luz.
Pessoas partidas despertam o meu interesse.
Através do seu olhar e reações, retiro matéria para ocupar minha mente e divagar sem travões, porque sei que não estou a ser inoportuna, nem inconveniente. Elas seguem o seu caminho e eu sigo o meu, com elas no pensamento, sem que elas saibam ou desconfiem.

   

terça-feira, 18 de julho de 2023

Prontíssimas

As espanholas são prontíssimas!

Estão prontas para tudo, seja o que for. Apresentam-se no seu melhor, desde a ponta do dedo do pé, até à ponta do fio de cabelo. Transpiram salero e perfume abundantemente. Se não deixarem rasto de perfume no ar, então, é porque não são espanholas originais. As originais não dispensam perfume, nem eyeliner, nem batom, nem blush, nem rímel, nem vaidade em si mesmas e seus atributos.

É para bailar? Olé!!

É para beber una copa? Olé!!

É para cenar? Olé!!

É para hacer la siesta? Olé!!

Es la novena de la  Señora Del Rocio? Olé!!

É para ser, que seja com tudo o que tenemos de mejor en nosotras. Olé!!

Seu feitio cambia muito rapidamente. Tão depressa soltam uma gargalhada pesada e estridente como, de repente, cospem fogo pelos olhos e pela boca com injustiças. A maioria delas, nem são suas.

Parecem sempre animadas ainda que a vida não esteja de acordo.

Hablan rápido e sem pausas, entiendas ou no entendias :)

Tens de te ajustar. Vale?

Vistosas, parece que estão sempre a reclamar de algo ou de alguém, mas afinal é só o seu estado normal, ativo, conversador, vivaço, de quem domina a vontade de viver e usufruir da vida, antes que o salero se acabe e o perfume não se renove.   

quinta-feira, 15 de junho de 2023

O Amor está em vias de extinção....

 O que é o Amor senão um sentimento em vias de extinção.

Não exploramos a vida em conjunto. Preferimos estar sós e cultivar os nossos interesses individuais a ter de investir num relacionamento, numa construção familiar, num futuro em família e fazer disso um plano de vida.

 

Para quê, se estou tão bem assim.

 

O conforto, o individualismo, a vontade de prolongar a juventude, a saída tardia da casa dos pais, a conversão ao hedonismo, as desvantagens sociais e económicas da vida em conjunto, a falta de empatia, imagem de marca do séc. XXI, a incapacidade e, em muitos casos, desinteresse de lidar com as emoções, o imediatismo, tudo isto conjugado, conspira para votar o Amor à extinção.

 

Nos últimos anos, temos assistido ao surgimento de grupos herméticos de pessoas obcecadas com seus próprios gostos, hábitos e costumes e alérgicos a tudo o resto. Grupos com princípios alimentares restritivos, grupos ativistas, grupos defensores da causa animal, grupos defensores da causa ambiental, grupos do padel, grupos radicais de direita, grupos de mães aspirantes a mães do ano, grupos de meditação, grupos de haters, grupo defensor das minorias, grupo dos expatriados, grupo fanático do futebol, grupo do signo tal, entre outros, que se fecham à convivência com quem não se reveja no mesmo.

 

Colamo-nos a um estilo e fazemos dele o nosso único modo de vida e quem destoar, está out. Estranhamo-nos uns aos outros e criamos distâncias que impedem a aparição do Amor.

 

Não há lugar ao diálogo e à concertação de ideias, pontos de vista, opiniões, formas de estar, pensar e agir. Para isso é preciso tempo, paciência, compreensão, tolerância, empatia, escuta ativa, leituras interiores e entendimentos exteriores, envolvência, entrega e um ego flexível. Características que são vistas como encargos pessoais cuja exigência não se justifica enquanto aposta numa relação que não se sabe que futuro lhe está reservado.

 

As relações vivem do presente, não do futuro. O que constróis hoje, em conjunto, vai resultar numa interação e cumplicidade cada vez mais forte e resistente a abalos emocionais desafiantes, que ameaçam ruir a tua relação ou estrutura familiar.   

 

Não há abertura, tão pouco, disponibilidade para compreender e aceitar outras formas de estar e, sobretudo, não saboreamos a Vida, tal é a nossa obsessão em buscar um propósito e aceleração para o concretizar.  

  

O Amor não busca aprovação.

 

O Amor é uma epifania que não tem tradução nem explicação e precisa ser estimulado/regado para crescer e florir.

 

O Amor instantâneo não existe e se existe não é Amor.

 

Todos queremos um match, um perfil que assuma o nosso modo de vida e venha a gostar de tudo aquilo que nós gostamos e defendemos acerrimamente, sem amuos e contrariações.

 

O trabalho na nossa construção pessoal baseou-se em gostos, preferências, objetivos, condições de vida, lifestyle, afirmação, sem espaço e lugar para o Amor.

 

O Amor não tem hora para se manifestar mas tem de reunir o mínimo de condições e uma delas é acalmar o ego e suas obsessões.

quinta-feira, 18 de maio de 2023

O Amor nunca se apazigua

No Amor conjugal há as cobranças, as entregas desiguais de afeto, mimo, compreensão, as heranças genéticas de cada um, as crenças de um e de outro, os diferentes modos de estar, a forma como pensamos e comunicamos, os nossos gostos pessoais, as nossas embirrações, as famílias, antes de nós, os filhos de ambos a reclamar, a tesouraria, os gastos, a casa, a arrumação, as avarias, os sonhos adiados, os equilíbrios necessários e os equilíbrios possíveis, o arrefecimento após as discussões, o arrefecimento das nossas loucuras, a vida em curso e nós dentro dela.

É uma empreitada sem fim determinado.

Uns dias apetece fugir, sem olhar para trás e largar tudo. Noutros dias, achamos que pertencemos aqui e ele/ela é o tal/a tal e não há lugar a arrependimentos, só amor.

O "Para Sempre" é muito tempo, é carga pesada e, por vezes, acontece que a frequência de cada um é diferente e as dissonâncias podem ser muito incómodas.

O Amor é como um músculo fibroso com terminações nervosas muito sensíveis.

O Amor não resiste a tudo, nem permanece igual e há quem se esqueça que ele é a seiva da vida e tente banalizá-lo.

Temos que aceitar que nem sempre estamos aptos para amar, primeiro, precisamos cuidar do que temos cá dentro mas isso demora tempo e nós reclamamos companhia para crescer e o desafio é, mesmo esse, estabelecer equilíbrios funcionais.

Há dias que o Amor parece ter tirado férias e há outros, que escorre das veias e não há forma de estancá-lo. 

O Amor conjugal nunca se apazigua e é preciso muito jogo de cintura para lidar com ele.

Creio que havemos de chegar a um lugar em que ele, o Amor, vai estender suas asas e planar sem tormentas mas, até lá, é preciso viver os desafios que ele nos reserva.


terça-feira, 16 de maio de 2023

Família Imperfeita

A propósito do dia da família que se celebra dia 15 maio (sabe-se lá porquê) e ao qual não consigo ficar indiferente, porque é e continua a ser um tema sensível, alinhado com o meu crescimento emocional, apresento a minha experiência pessoal em contexto familiar.

Adianto já e sem demoras, à queima roupa, que não cresci numa família normal. Somos uma família tradicional portuguesa, nascida no Minho, porém, estamos muito longe de ser a família perfeita. Contudo, posso assegurar que somos uma família real, com problemas reais e onde as emoções se sentam à mesa na hora das refeições principais. Agora, muito mais escassas.
Não estava a resultar e os domingos acabavam remexidos.

Sempre que nos reuníamos à mesa para almoçar ou jantar, parecia que ficávamos mais sensíveis e reativos. Aliás, a comunicação foi sempre um grande calcanhar de aquiles e continua a ser.

Na ânsia individual que cada um manifestava de partilhar um dado novo do seu dia a dia, da sua vida, havia sempre um de nós que interrompia e não sabia aguardar a sua vez ou a sua opinião ou as suas reações ou o seu mau acordar ou o seu espírito de contradição ou a sua impaciência e indiscreta intolerância. Centrados em nós próprios, arrotávamos ego embrulhado em emoção incandescente.

É uma cosa nostra, provavelmente, herdada dos nossos antepassados Corleones.

Apesar de mais desviados (mas não tanto) uns dos outros por questões de segurança, não conseguimos nos desviar por muito tempo e, mesmo à distância, a conexão não se perde ou enfraquece. Quando nos desentendemos é para a vida toda e quando regressamos uns aos outros é para toda a vida. Não há meio termo. Não há temperança. 

A Família está lá com seu temperamento difícil, suas imperfeições mas está lá e há recordações e muitas, muito boas, até mesmo, aquelas que acabavam a vomitar na berma da estrada ou com pai e mãe irados connosco e nossa pressa em chegar, viver tudo de uma vez e amuar por tudo e por nada.

Somos tão reais, tão verdadeiros, tão imperfeitos e talvez, por isso, nos atropelamos a todo tempo e toda a hora. Pode parecer mau mas, até que não é. Percebi que o nosso Amor é grande, doido e muito esponjoso.















 

  

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Essência Protagonista

 Tu que gostas muito de invocar a essência dos outros e debochá-la, diz me lá, qual é a tua essência?

Não estou a falar na parte que dás a conhecer. Estou a falar na parte que ninguém conhece e da qual não te orgulhas.

Diz muito de ti, o facto de achares que podes falar na essência dos outros, sem antes revelares a tua e expores as tuas fragilidades.

Acredito que aqueles que tiveram uma infância e adolescência isolada tiveram oportunidade de criar a consciência de si mesmos e a noção de que precisam melhorar algumas particularidades neles para desenvolverem a capacidade de aturar certas merdas provenientes de pessoas que se acham melhores humanos e mais capazes do que os outros, não porque o tentem ser, mas porque confiam que nasceram numa versão melhorada e não precisam de trabalhar nada em si. Apresentam-se no formato mais apreciado e que conquista mais pessoas, com a pretensão de mascarar uma vontade omissa, nem sempre inocente e que visa sacar benefícios egoístas.

Para aqueles que confiam estar bem resolvidos, a espiritualidade é o caminho dos confusos, fracos e traumatizados. O medo atroz de serem apanhados por essa energia demolidora e ficar submetidos a uma lavagem cerebral e cair no submundo da espiritualidade, chega a ser cómico.

Não compreendem, nem querem compreender.

Empobrecimento espiritual não existe para quem nem sequer sabe que tem uma alma.

Não nascemos preparados.

Nascemos em branco.  

Cada um escolhe a sua programação e em que versão quer viver. Há muitos modelos e versões com atualizações recentes para crescer e os que alimentam a pretensão de que não há nada a melhorar, não saíram do MS—DOS.

Se és um MS-DOS e só sabes desvalorizar a essência dos outros e estás convencido que a tua é a versão protagonista estás a boicotar-te e impedir viver com brilho no olhar, lágrimas de felicidade, com aconchego, borboletas no estômago, arrepios na pele, coração quentinho, com liberdade, com leveza e serenidade. Com Verdade!

Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...