Nasci num período de tempo, marcadamente patriarcal e intimidatório, que obrigava os filhos a obedecer cegamente aos pais, sem reclamar e sem fitas. A nossa opinião, a nossa versão da história, as nossas vontades, os nossos gostos, eram abafados diante da dupla de gigantes de peso, chamado PAIS.
Cala e Aceita.
A mim custou-me horrores, calar e aceitar, principalmente, quando me retiravam a palavra, me ignoravam, desvalorizavam a minha participação e não compreendiam as minhas dores, o meu descontentamento e frustração.
Hoje, sou mãe e tento contrariar essa obediência cega, da qual fui vítima e procuro dar oportunidade ao meu filho, de se expressar, de expor os seus motivos, desabafar, convencer-me a mudar de opinião e, sobretudo, entendê-lo melhor. Uma missão nem sempre fácil e serena.
Para além de existir um gap geracional entre nós e um histórico de vida, que me permite antecipar cenários, consequência de comportamentos repetidos, há uma vontade própria que se quer impor, ingénua, contrariadora e que rejeita ser disciplinada.
Sempre que o convoco a cumprir as suas tarefas e tomar consciência do excesso de tempo entregue aos gadgets e a necessidade de se desviar desse mau vício e experimentar ler, escrever, desenhar, tocar um instrumento musical, praticar desporto, desenvolver as suas capacidades de outra forma e, sobretudo, não desperdiçá-las, contraria-me e reage como se atacasse a sua personalidade.
Por vezes, a temperatura das nossas conversas sobe e dou por mim, a imitar os meus pais e fazê-lo sentir-se culpado pelas suas escolhas e atos.
É neste preciso momento, que o perco para o quarto.
No silêncio, me culpabilizo por não saber agir com maior maturidade emocional e evitar fragilizá-lo.
Os gatilhos do passado foram ativados, bem como, os receios de o perder para uma vida triste e insignificante.
O stress domina-me com a lembrança dos perigos atuais e a vulnerabilidade dos jovens, mais suscetíveis de ceder à atração para esses abismos. Não quero que ele perca as oportunidades, que hão-de defendê-lo neste mundo.
Se calhar há aspetos em mim ainda por resolver. Claro que há! No entanto, sinto que não posso deixar de o orientar e desviá-lo de certos comportamentos perniciosos.
Só espero que estes "desequilíbrios" ocasionais, não comprometam a sua felicidade e sirvam para trabalhar nossa comunicação e entendimento.