Baldwin apresenta-se ao grupo de profissionais em saúde mental do Instituto Lonliness, isolado na periferia de Londres e longe do epicentro cosmopolita londrino.
Sorridente mas, sem se deslumbrar com a recepção que o aguardava, impaciente por aplicar a sua implacabilidade clínica, suspira baixinho e enfrenta o veredicto do júri. Antes disso, dedicou-lhes umas breves palavras em sua defesa, tentando atenuar a sentença. Sua habilidade para comunicar e convencer, confirmavam a sua inteligência persuasiva. Impressionante é a forma como ele cria emoções que desconhece, de uma forma tão real e verosímil. Baldwin Spencer escapou do internamento prolongado e do isolamento, naquele espaço frio e decrépito, com cheiro a morte lenta.
Agradeceu a confiança na sua regeneração e despediu-se das criaturas ingénuas que o absolveram da sua loucura. Cada vez mais confiante no seu poder de camuflar evidências, retira-se vitorioso e mentalmente enfermo. Despistara todos os exames psicológicos e a perícia técnica.
O Tribunal determinou à cinco anos atrás a sua inimputabilidade e, por sugestão de um advogado de defesa astuto e bem pago, decretou o internamento de Baldwin na casa mental do condado de Yorkshire. Juntamente com seu defensor, encenaram o seu distúrbio mental e enfatizaram o seu registo criminal limpo e sem mácula, como prova de um desvario sem premeditações.
Isolado numa cela exígua, desprovida de alma, parca em conforto, funesta, acolhimento do silêncio absoluto, programada para acalmar os distúrbios da demência, não se deixa abater. Nos cinco anos de clausura, não só não aprendeu a mudar o seu comportamento como, não reconheceu o erro, nem mostrou arrependimento. Apenas fingiu.
A má decisão judicial podia ter resultado em amarga tragédia. Desta vez, Baldwin quiz ir mais longe na sua empreitada de malvadez. Estavamos perante um racista sexual. A raça feminina constituia uma raça a exterminar, num sopro só. Conhecia bem seu modus operandi. Primeiro seduzem com seu olhar, que se esquiva, cada vez que se cruza com o do seu alvo, demonstrando interesse para depois os descartarem quando suas emoções estão em brasa. São todas iguais.
Todas elas foram concebidas para maltratar. Queria acabar com o poderio feminino. Por onde recomeçar?
A vizinha Rose fora sua primeira vítima. Pagara as consequências da sua intromissão, que incomodou Baldwin. Não gostou das suas tentativas de aproximação e seus ensejos para o agradar. Desconfiou da sua bondade feminina, quando ela desviou o olhar e percebeu seu desconforto. Atraiu-a para dentro da sua casa com o pretexto de lhe agradecer a amabilidade com que o recebeu no condomínio. Após visita guiada ao seu cómodo apartamento, encaminhou-a para a varanda, com a promessa de uma vista da cidade digna de um postal.
Impressionada com a paisagem detém-se junto ao gradeamento de protecção e a pedido de Baldwin, confirma a chegada da chuva, estendendo a mão para o infinito. Desprotegida, balança e cai desamparada na calçada. Morte imediata. Baldwin finge preocupação e corre em seu socorro. Gritou por ajuda que não tardou em chegar e confirmar o óbito.
Essa foi a primeira experiência activa com a morte.
Sentiu prazer em desembaraçar-se da curiosidade daquela mulher desocupada e cansada da sua viuvez precoce.
A sua libertação permitia-lhe repetir a proeza, fazendo outras vítimas. Não faltariam nomeadas. Elas proliferam por toda a parte.
Apesar de ter sido absolvido, havia populares que não acreditavam na sua inocência e a permanência naquele lugar, onde tudo aconteceu, o colocaria sob suspeita. Partiu sem remorso para outras paragens, virgens em acontecimentos criminais relevantes.
A pequena cidade gaulesa de Sens foi a escolhida. Simpática e pitoresca, só podia ser albergue de Mulheres cheias de disposição em receber um turista rendido à novidade.
A estalagem Bonne Nuit acolheu-o num quarto single, com vista para a praça, ponto de atracção turística de Sens. Era perfeita para se perder na obscuridão da sua mente perturbada, que contrasta com a prezada calma daquele lugar, que privilegia o espiríto de comunidade e interacção social.
Baldwin nunca se quiz integrar em grupos, que sufocassem a sua liberdade e estranha individualidade. Orgulhava-se do seu estado de outsider porque o libertava da envolvência social e comunitária, dos afectos, das retribuições, da igualdade, das desilusões, da fraqueza humana. Dela aproveitava-se para cometer as suas atrocidades e defender a sua raça superior. Seus alvos eram as Mulheres carentes, marcadas pela rejeição, inseguras e emocionalmente instáveis. Aproximava-se com grande tacto para lhes apalpar o pulso e ganhar a sua confiança, garantia do seu domínio total e do prazer de as ver sucumbir a seus pés, implorando por clemência. Excitava-o vê-las a rastejar por misericórdia.
O esquema de conquista tornou-se num padrão e imagem de marca do seu modelo de actuação.
Valerie foi o próximo alvo de Baldwin. Mulher sociável, sobretudo com o sexo oposto, com o qual se deixava encantar facilmente e se, no caso, fossem forasteiros então maior era o seu deleite. Pobre Valerie. Caiu nas malhas apertadas de Baldwin que, não se permitia falhar.
Após ter sacrificado o seu corpo para dar prazer a Valerie, era a sua vez de ser compensado. Aguardou pacientemente que Valerie se entregasse ao sono, para imprimir sua força bruta com a ajuda da almofada, que a despertaria para a Morte.
Quando se preparava para agir foi surpreendido com a entrada brusca de dois agentes da Scotland Yard, que o impediram de satisfazer sua vontade mórbida. Valerie acordou sobressaltada e assustada com a intrusão. Mais surpreso ficou Baldwin com a visita inesperada e em sua defesa, tentou argumentar com a sua habilidade habitual para convencer, mas foi em vão. Os agentes conheciam bem as suas manhas, suas obssessões, seus ímpetos de malvadez. Sem saber, Baldwin tinha sido vigiado desde que abandonou Londres e um passado no minímo intrigante.
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