Eu e a Vida. Por vezes juntos, por vezes separados. Nem sempre estamos ao mesmo ritmo. Eu quero abrandar, mas a Vida faz-me correr. Para onde, não sei. Ela é quem mais ordena. Eu apenas obedeço-lhe. Tem dias em que ela me inclui nos seus planos, noutros nem sequer sei qual o rumo que ela preparou para mim. Não sou mais dona de mim mesma. Sou apenas uma peça que se movimenta consoante os seus designíos. Quando decido lutar e mostrar-lhe que sou eu quem decide para onde quero ir, ela faz-me deixar pensar que afinal sou mais forte que ela mas logo depois, retira-me todo o poder e num puxão obriga-me a acompanhá-la. Despreparada, lá vou enfrentando as duras realidades que ela insiste em me dar a conhecer. Se isso me fortalece? Talvez, mas também me deixa cada vez mais receosa dos momentos seguintes, da sua implacabilidade, da sua vontade avassaladora, do não ser capaz de a acompanhar, dos seus ultimatos, das suas rasteiras, do seu enorme poder. Nem sempre me apetece ser forte e superar todos os obstáculos. É cansativo e nem sempre nos ensina algo. Por vezes, só traz lembranças más e nada mais do que isso.
Ouço muitas vezes dizer a "Vida é assim, tem destas coisas". Mas porquê? Porque é que ela tem sempre a última palavra. Porque é que é ela quem decide o nosso destino. Porque é que estamos suspensos pela sua vontade? De que vale o meu Eu, se é ela quem me arrasta e me mostra o que eu não quero ver e o que eu não quero sentir. Porque é que eu lhe devo Tudo e ela não me deve Nada? Queria eu saber.
Ela insiste em querer-me ensinar, em dar-me lições que eu não quero aprender, em aplicar-me castigos, a desviar-me de mim, do que eu quero. Só há algo para o qual ela não tem poder. Não consegue mudar quem eu sou. Só depende de mim mudar-me. Tudo o resto ela pode controlar.
Ás vezes questiono-me porque é que não nos deram a possibilidade de ter duas Vidas. Uma seria um rascunho e a outra seria a original, o aperfeiçoamento do rascunho, a definitiva, a versão melhorada.
Se calhar já estariam a pensar nas reacções dos ativistas ecológicos e sua reprovação pelo gasto massivo e excessivo de papel. Se calhar foi uma questão de custo ou de poupança. Se calhar foi porque a Vida expressa num papel imaculado sem borrões não tem graça nenhuma e não existem versões melhoradas, porque a Vida não é nem nunca será perfeita. Será apenas a nossa Vida. O nosso destino. O nosso borrão. A nossa marca.

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