Circunscritos a 60 metros quadrados, forrados de pastas, inundado em papéis, preenchido por mesas e cadeiras, de uma austeridade artística sem igual, pertença de um passado longínquo e out date, assentes numa carpete sem personalidade e sem cor, abrigo de legiões de àcaros.
O Bom naquele espaço são os janelões rasgados nas paredes, que filtram os raios de sol e embaciam com a chuva. Eles relembram-lhes que há mais mundo para além desse que os torna reféns de segunda a sexta.
Moram nele temporáriamente mas intensamente e, por isso, é lá que tudo acontece, o destempero, a loucura, o estalar do verniz, os desvios de caráter, a cobiça entre outros mimos comportamentais.
Muitos anos de convivência, muitos anos de permanência, tornaram-nos seguidores de um regime institucionalizado, que fizeram questão de perservar e coagir os "piratas mais novos" a incorporar, num exercício de obediência algo repressivo.
Eis que a realidade actual fê-los vítimas do seu excesso de controlo e domínio.
Falo de personagens com comportamentos retorcidos, algo infantis e absolutamente imbecis. Amigas, cúmplices, catedráticas em conversa fiada, visando sempre os outros, impiedosas a rotular e ridiculamente neuróticas.
Sua convivência era serena, até que a conjuntura mudou e já não havia espaço para lugares confortávéis e impôs-se a necessidade de justificarem sua permanência ali.
Todos os dias reina a comédia. Uma age como intocável e portadora de condições especiais e teatraliza o tempo todo. Considera-se uma profissional especial. Construiu um forte de pastas à Volta do seu monitor, vedando o acesso a visitas ou olhares indiscretos, principalmente da parceira next door. Seus gestos, suas expressões denunciam-na. Quando convocada a ajudar amua e finge estar a meio de algo importante. No entretanto, a Amiga fumega e inicia uma sessão de ruído com tudo aquilo que lhe aparece à frente. Bate com o agrafador violentamente na mesa, remói, ausenta-se, regressa, muda de objeto, que vítima do seu destempero, jaz indefeso junto ao seu "colega" agrafador e levanta-se novamente, desta vez, piurça da Vida e, tipo sonda procura o olhar da criatura, para a fulminar. Enquanto ela, provoca um pouco mais e zomba descaradamente, fingindo estar entretida com Tudo menos com o oficío. Vasculha na bolsa o telemóvel, retira todos os papeizinhos que acumulou no porta moedas e rasga-os, um a um, cirurgicamente e pior, demoradamente.
Vive preocupada com o exterior, reclama atenções, incomoda-a o destaque dado aos outros, monitoriza os desvios de atenção ou a desatenção dos colegas face ao trabalho, quer saber o que os retira por instantes do dever e sua curiosidade é intrusiva e perniciosa.
Quando ambas precisam falar-se, controlam-se ao máximo para não levantar suspeitas e perder as máscaras. Amordaçam suas revoltas e tentam agir com naturalidade.
Religiosamente, quer estejam esquinadas ou não, vão juntas gozar o break matinal e regressam as melhores amigas de sempre, sem salpicos ou respingos de animosidade.
Assumem novamente os seus papéis. A dissimulada armada em astuta e a loba disfarçada de cordeiro.
A outra personagem desta novela, discípula e seguidora da Amiga, também, em tempos, navegou na inutilidade e relaxou nas suas obrigações e agora sofre de exploração e convoca a outrora mentora para sua secretária particular. E a sinfonia continua. Vigias ao monitor uma da outra, para medir quem produz mais é uma constante. Vivem numa neurose permanente.
Perderam o controlo e agora lutam para não se afundar num lugar vazio qualquer.
Perderam o controlo e agora lutam para não se afundar num lugar vazio qualquer.
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