Marta Aragão Pedroso de Sousa nasceu pós 25 de Abril, num dia gelado e soalheiro de Fevereiro, na maternidade da região, hoje extinta por razões económicas e sem piedade social. Nasceu no seio de uma família jovem e remediada, descendente de Barões esquecidos e falidos. Nasceu num período de mudança, de esperança, de rutura com Vidas sem opção, de liberdade, fim do isolamento, novo começo, mas sua maior sorte foi ter nascido num ambiente enriquecido de afectos e inconciliado com a abundância e o desperdício. Nada podia ser mal gasto, até porque não havia folgas para tal desgoverno.
Marta, cedo percebeu que seus pedidos tinham de ser conscientes e exigências não eram permitidas, nem bem aceites. Aprendeu também a não reclamar e agradecer sempre. Aprendeu a valorizar pessoas e momentos e descredibilizar as distrações materiais, recurso dos Pais da atualidade, para corrigir e ajustar comportamentos. Não havia condições para tais desvios consumistas e os comportamentos de Marta, não exploravam essa necessidade de Ter para Ser. Nunca se sentiu desfavorecida nem tão pouco descontente.
Marta ganhou uma sensibilidade rara, que alguns ainda estranham e preferem encarar como um desvario qualquer, trabalho para exorcistas certificados e inscritos na Ordem.
Umas vezes ficava incomodada, outras nem por isso.
Já crescida e mulherzinha, abalaram o seu mundinho de afetos, precioso e sagrado. Nascera a Renata Aragão Pedroso de Sousa. Agitada, rabina, com goelas, vítimas de um traumatismo agudo, elevado ao exponente máximo de todos os decibéis e mais um.
Todos achavam-na simpática. A Marta achava-a tonta e suicida para se meter no seu caminho.
Seu quarto, virou galpão das tralhas da pirralha e Marta a segurar-se para não explodir.
Quando ninguém estava a olhar, pendurou-se no berço da Renatinha e no momento em que, se preparava para lhe fazer caretas, a imbecil devolve-lhe um sorrisão, que a fez recuar. Desdentada e simpática, ninguém aguenta
Lá ganhou coragem e desafiou-a com uma careta e não é que, Renata solta sua primeira gargalhada, que rapidamente ecoou em toda a casa e fez seus Pais correr de alegria enlouquecida.
Marta retirou-se nesse instante e pensou fazer as malas e abalar, mas sua Mãe nem deu tempo para aprofundar esse pensamento e espetou Renatinha no seu colo, que babava e babava.
Quando regressava da escola, lá estava Renata à sua espera. Rastejava até si e reclamava colinho e Marta, já rendida, cedia mas não a poupava a meia dúzia de caretas.
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