Em pleno verão, sinto saudades do inverno, do frio, do agasalho de conforto, do ar gélido no rosto, dos lanches caseiros e demorados, no final de semana, do cinema, da chuva, que nos escusa de compromissos, não obrigatórios e que exigem posturas adequadas, sem revelações inesperadas, moderadas e abafadas. Nessas ocasiões, demito-me, mesmo antes de qualquer convocatória.
Quem me conhece bem sabe que não vou comparecer nesses contextos comuns e repetitivos. O avançar da idade tornou-me intolerante e intransigente com programas, nada nutritivos, demorados, mentalmente indigestos, demasiado comuns e nada atrativos.
Quem me conhece bem sabe que não vou comparecer nesses contextos comuns e repetitivos. O avançar da idade tornou-me intolerante e intransigente com programas, nada nutritivos, demorados, mentalmente indigestos, demasiado comuns e nada atrativos.
No verão, não há escapatórias, retiradas airosas. Não há recusas, imprevistos de última hora ou desculpas criativas. Os convites à queima-roupa, apanham-nos desprevenidos e intimam-nos a aceitar, sem reservas. Por mais elásticas que sejam as nossas férias, em ambientes controlados e reservados, longe de aglomerados e programas organizados, elas não são vitalícias.
Apesar da nossa discrição, chegada silenciosa, não anunciada, não há como escapar a equipas treinadas, no terreno, undercover, aparentemente inofensivas e distraídas. No dia seguinte, soam os alarmes e, lá estás tu, no epicentro de um quotidiano pulsante e delirante. O verão retira-te o sono, ativa a tua impaciência, condiciona as tuas escolhas, expõe as tuas imperfeições, desmoraliza-te diante do espelho, rodeia-te de incómodos e artifícios atordoantes.
Até parece que tenho repulsa ao verão, mas não. Adoro dias longos, banhos de mar, pele bronzeada, ombros nus, refeições leves, pés descalços, noites longas e ligeiramente animadas.
Só não gosto da pressão entusiasta do verão e dos seus aduladores.
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