quarta-feira, 18 de maio de 2011

Confiança


Palavra poderosa e qualidade apreciada em qualquer contexto. Condição essencial para sobreviver às adversidades que desafiam a nossa resistência e determinante na conquista de poder pessoal. Quem não a tem sabe atribuir-lhe valor e quem a tem, muitas vezes, esbanja-a inutilmente.
Aqueles que a exibem com excessiva vaidade correm o risco de ser confundidos com arrogantes, desprovidos de sensibilidade para interagir. Afinal estão demasiado agarrados ao poder, que a confiança lhes transmite e não conseguem envolver-se e partilhar experiências. Este tipo de confiança é muito comum e até já há um género que ajuda a identificá-la. Adoram pisar ambientes cheios de actividade humana e ser notados, não disfarçando a satisfação que essa atenção lhes provoca. Investem tudo e nem sequer concebem que haja alguém que não se deixe encantar pela sua descontracção saloia. Isolados perdem a força toda e deixam escapar a sua verdadeira identidade.
Adoram multidões, conviver em grupos grandes, ser o centro das atenções, ser os sabichões que opinam sobre todos os temas mesmo aqueles que não dominam, não sabem conceder ao outro a oportunidade de se expor e brilhar, sem o interromper para afirmarem sua genialidade. Sua confiança é arrasada quando se sentem ameaçados, cada vez que a espontaneidade por parte daqueles que não existem para atrair invejas, acumular ódios de estimação ou  intitularem-se como o único original no meio de tanta cópia, se impõe. 
Os verdadeiramente confiantes não se comportam como únicos no mundo mas confiam no seu valor intrínseco, para garantir o seu espaço e a sua presença.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Solidão



A Solidão percebe-se naqueles rostos que exibem um olhar distante, sem expressão, vago, despido de emoções, indiferentes a tudo, somente concentrados na sua dor, com que se castigam todos os dias.  A sua disposição não melhora. Faltam motivos para se animarem. Sobram apenas mágoas para carregar, das quais nunca recuperaram, talvez porque faltou aquele apoio, aquele carinho, aquele ombro amigo, aquele abraço, algum gesto de humanidade que não chegou a manifestar-se. Vivem fechados em si mesmos, agarrados a algo que não conseguem curar nem abandonar, porque têm medo de recomeçar mais uma vez, encetar uma nova tentativa pro felicidade e esta resultar gorada e os atirar, sem regresso, para o lugar sombrio donde saíram. Cansaram-se de alimentar a esperança, acreditar que merecem ser felizes, perderam as forças para lutar por algo que não passa de uma miragem, deixaram de sonhar e a persistência desse estado emocional vegetativo  só recebeu acolhimento na solidão. Já não reconhecem o que em tempos os fez felizes, deixando-se afectar por aquilo que um dia comprometeu essa felicidade e amparados pela incapacidade de se libertarem da dor, isolam-se do mundo. Só eles sabem o que sentem e a intensidade com que o sentem. Nem o Amor que os rodeia, os faz ressuscitar do coma emocional. Tudo é tão profundo, denso e pesado na Vida de quem sofre de solidão, só comparado aos filmes de Hitchcock.
Sentir pena de nós mesmos é um sintoma de solidão, que se cultiva com o reforço dos motivos que justificam a nossa condição de vítimas. Acontece que  para alguns, esse lodo que é a solidão, protege-os daquilo que eles julgam vir a repetir-se caso se entreguem novamente ao destino. O risco é grande. Preferem assim sofrer só uma vez, mas sofrer toda a Vida.   

terça-feira, 10 de maio de 2011

O bicho rasteiro que infecta a nossa sociedade

Haverá pior dor que aquela sentida por quem não convive bem com as conquistas dos outros? A inveja é como um vírus, espalha-se e invade todos os espaços, contaminando todo o sistema receptor que só sabe reagir com indignação a qualquer pessoa que goze de uma melhor disposição que a sua. O que não é difícil. Afinal, quem sente inveja, sofre de má disposição permanente. As glórias dos outros são facadas no seu ego irado. Não sabe admirar o próximo, reconhecer-lhe valor, conceder-lhe destaque, prestar-lhe apreço, conviver com o sucesso dos outros sem se colocar em causa. A inveja é indisfarçável. Manifesta-se como uma reacção química, carregando o nosso corpo de uma tensão nervosa, pronta a disparar em todas as direcções, sem poupar nada nem ninguém. Ela alimenta-se da gordura saturada que a faz inchar de veneno, desperdiçando o que é nutritivo, saudável e que a faz crescer com vitalidade.
Os doentes de inveja são perseguidos por um único demónio, ou seja, eles mesmos. 
Para eliminar melgas, mosquitos, baratas, moscas, formigas e todos aquelas nefastas visitas caseiras temos uma linha completa de inseticidas que se encarrega de as fulminar. Até para erradicar fantasmas existe o popular esquadrão ghostbusters, que assegura um serviço cem por cento eficaz. Para ser imune à inveja não faltam amuletos com promessas vãs. Haverá pior bicho rasteiro que a inveja? Nem os ratos procriam tão rápido. É uma das maiores senão a maior epidemia do século vinte e um. 
Faço um apelo aos cientistas do mundo inteiro que unam suas preciosas massas encefálicas e juntos criem um concentrado químico que evite a propagação dessa peste humana também considerada um dos sete pecados mortais. O Prémio Nobel da Química era garantido e merecido.
Com o apoio de Futre, charters de chineses não demorariam a copiar a fórmula e comercializá-la a um preço bem competitivo.     

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Amor não correspondido


Almoço de Família às treze horas, sem atrasos. Assim manda a etiqueta. Sara, nada dada a imposições, mais uma vez, falha na pontualidade e deixa todos suspensos aguardando sua chegada. Seus atrasos não são premeditados, seu ritmo é que não sofre nenhum beliscão mesmo sabendo que o tempo não espera. Apressar-se é palavra não grata e faz transpirar, além de acrescentar excesso de responsabilidade e preocupação. Sara não abdica das suas rotinas, só para chegar a tempo a qualquer evento. Todas elas têm que ser cumpridas, nem que para isso chegue atrasada e tenha que se justificar com o injustificável. Sua Família resignou-se a esse seu mau hábito e já encara com humor a sua descarada falta de pontualidade. Meia hora depois, com todos à mesa confraternizando, chega Sara, no seu porte elegante, imperturbável e sorridente, saudando de longe os presentes, desatentos à sua provocação. Sobrou um lugar junto de Abel. Ambos da mesma idade e muito próximos.
Abel nunca deixou de guardar-lhe assento junto a si, garantindo assim um serão bem animado, repleto de novidades. E de facto assim era. Sara nunca o deixava pendurado em vão. Compensava-o com suas histórias que a todos pareciam cansar, menos a Abel, que se deleitava a acompanhar todos os pormenores da devassa. Sara aproveitava-se da rendição do seu primo, pelo seu estilo de vida, para se orgulhar das suas vaidades, sem receio de comprometer a sua privacidade. Adorava expor-se e chocar as elites, tão ocupadas com suas inúmeras reservas em Ser desabridamente. Nem seus pais e irmãos a reconheciam. Eles tão obedientes e rendidos a pressupostos estabelecidos. Apesar de não ser adoptada, sempre destoou do resto da ninhada, que procura a protecção familiar e evita afrontar seus antepassados. Sara é mestre em contrariar, provocar, quebrar regras, destacar-se e desviar atenções, incomodando tudo e todos. Felizmente há quem goste. Abel gosta e muito, nem Sara sabe quanto. Até a sua falta de educação, quando intervala o diálogo para mascar de boca aberta, deixando um cheiro intenso a mentol no ar, não faz esmorecer o seu grande afecto por Sara. Ele conhece-a melhor do que ninguém e sabe que ela é muito mais que aquilo que aparenta. Afinal o Amor é assim mesmo. Vê coisas que mais ninguém vê.
Abel, sem saber, tinha sido atingido por esse torpedo de emoções que só o Amor provoca. Toda a família suspeitava que havia entre eles algo mais que uma grande amizade mas nunca quiseram aprofundar o que se assume contra natura. Abel não sabia identificar seus sentimentos mas reconhecia que na sua presença, sentia-se soberbo. A Tia Custódia, sua mãe, assistia de longe aquela imensa cumplicidade, temendo vir a tornar-se uma desilusão para o seu menino. Sara não era Mulher para Abel. Campeã em provocar desgostos. Certamente, não deixaria de alastrá-lo a Abel que insistia em persegui-la para todo lado. Ela acabaria por se cansar dele e partir sem aviso. Aliás sempre demonstrou não se identificar com o meio onde cresceu, lado a lado com Abel, seu eterno seguidor.
Abel parecia não se importar em sofrer nas mãos de Sara. Ele só não a queria perder de vista, tamanha era a sua obssessão. A intensidade dos seus sentimentos foi aumentando e assustando Sara, que se via encurralada entre a vontade de estar com seu melhor Amigo e o remorso de estar a suscitar algo que não se vai realizar, porque não é do seu desejo. Como se desactiva esta fixação em alguém, sem comprometer a amizade? Sara vive esse dilema. Culpa-se, agora, por ter abusado de Abel só porque lhe aprazia sentir-se amada. Abel reunia aquilo do qual ela mais carecia, compreensão e carinho. A seu lado, conseguia alhear-se do mau ambiente familiar, composto por pais autistas e demasiado agarrados a valores morais que reprimem as diferenças. Sem entender, a rejeição dos seus pais e irmãos, ao seu modo de ser, procura junto de familiares apurar a sua verdadeira origem e poder justificar o porquê de ser alvo de repúdio. Mesmo após saber não existir mistério algum, envolvendo o seu nascimento, que atribua aos seus pais a condição de pais de acolhimento, não se convence e decide demorar-se numa inspecção minuciosa ao espelho, para aferir as suas semelhanças físicas. Até nisso não restavam dúvidas. O nariz sardento, herdou da mãe e as covas, junto aos lábios, foram oferta do seu pai, bem como, a tez morena que a descendência distante Goeza lhe confere. Não há erro. Sara é uma Moreira de Andrade dos pés à cabeça. Moreira por parte da Mãe e Andrade por parte do Pai. Se o espelho não engana, os registos de perfilhação também não, porque é que não existe uma boa base de entendimento entre Sara e seus pais? Uma pergunta à qual Sara não encontra resposta e se cansou de aprofundar. Abel ajudou-a a superar o trauma do patinho feio, que a ninguém pertence nem a lugar nenhum. Como poderia ela viver sem Abel. Seu anjo da guarda, que ela ocupou durante tanto tempo, abusando repetidas vezes da sua dedicação. A pedido de sua Tia Custódia, Sara decidiu que era melhor libertá-lo para que ele pudesse ser Feliz, ainda que ambos venham a sofrer com esse afastamento. Na sua Vida tem sido uma constante, as solicitações para sair de cena e não contaminar o ambiente que se quer feliz e caseiro. Sem ninguém saber, sumiu para parte incerta mas antes deixou uma carta explicando as suas razões embrulhadas em muita mágoa e tristeza. Quem não entendeu esta atitude foi Abel que ainda alimentava a oportunidade de com ela gerar muitos patinhos feios, iguaizinhos a Sara e sua exuberante forma de ser. Bem hajas Sara.
  

terça-feira, 3 de maio de 2011

Luto



Lídia estremeceu com o arrepio que lhe percorreu a espinha, anunciando a chegada de algo nada auspicioso. Apesar da sensação não ter sido agradável, não se mostrou intrigada nem enfatizou o que acabara de sentir. Sacudiu o corpo e libertou-se daquele mau encosto.
Há quem acredite na capacidade de prever acontecimentos desagradáveis. Basta estarmos atentos à nossa percepção sensorial.
Lídia não se intimidava com arrepios nem explorava o seu lado sensorial e, portanto, tratou de encontrar uma lógica para justificar o sucedido e assim abafar o caso. Para ela tudo tinha uma explicação, que retirava ao mais insólito acontecimento toda a sua atipicidade. Quando recebeu a notícia da morte da sua mãe, não associou aquele arrepio desavindo ao prenúncio de algo doloroso na sua Vida. Não conseguiu viver imediatamente a dor, estava mais preocupada com a  preparação da cerimónia fúnebre, reunir a família, participar o falecimento às pessoas mais próximas, marcar presença e receber as condolências por parte dos convocados, chamar a si todo o cumprimento das tarefas inerentes à despedida final e assim adiar conviver com a perda, tão insuportavelmente incómoda.
À distância, Lídia parecia a menos incomodada com a morte da sua mãe, tendo em conta o seu envolvimento prático e energia aplicadas na organização de todo o acto fúnebre. Na verdade, a ausência de sensibilidade nem sempre é sintoma de indiferença ou desinteresse. Pode muito bem ser uma defesa, para não remexer em sentimentos mal resolvidos, que a perda veio revolver. Lídia amava a Mãe, apesar das diferenças que as separavam. Viveram em épocas diferentes e, por isso, a sua proximidade sempre foi comprometida por esta distância de gerações. A predominância do respeito em detrimento da amizade nunca impediu a existência de compreensão, apoio, colo, carinho e muito amor. O que faltou foram as palavras que o orgulho engoliu mas sobraram gestos, afectos, dedicação, atenção, que compensam esse embargo emocional. 
Todos tiveram oportunidade de se despedir da Mãe menos Lídia. A Mãe merecia que ela estivesse presente naquele último momento mas o tempo não foi seu aliado e  é carregada de culpa que cuida dos detalhes com a funerária.
Não podemos recuar nem  recuperar o que ficou para trás. De pouco adiantam arrependimentos ou massacres emocionais. Eles não vão trazer de volta nossos entes queridos.
Mais tarde ou mais cedo, Lídia terá que enfrentar o luto e lidar com essa dor de uma forma menos angustiante. Ela apenas precisa de encontrar o melhor momento para o fazer. Até lá, vai se convencendo que as rotinas a distrairão da dor.
Não conseguimos abafar o amor que sentimos. Nem mesmo aqueles que recusam expor seus sentimentos, com medo de se fragilizarem ou parecerem ridículos, conseguem resistir-lhe. Acontece que, o Amor também faz doer e excesso de amor faz doer ainda mais, principalmente, quando as ligações são fortes e criam dependência. Lídia sentia Amor pela Mãe, tanto, que nunca chegou a expressar-lhe o quanto a amava. Perdera demasiado tempo a medir forças com a Mãe, somente para que ela reconhecesse que não é o único elemento da família preparado para a Vida nem a única a saber aconselhar ou a ajuizar melhor. Lídia queria que a Mãe aceitasse a sua forma de lidar com as situações e a admirasse por isso. O que ela não sabia é que sempre foi admirada, elogiada e eleita como um exemplo a seguir e a sua Mãe só continuou a manifestar-se, com a sua experiência de Vida, por temer perder-lhe o rasto e deixar de lhe ser mais útil.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Mundo dos Sonhos


Quem sonha renova-se.
Sonhar ajuda a criar ânimo nas nossas Vidas, desprovidas de cor. Em contrapartida, pode também reflectir um sintoma do nosso descontentamento. Seja qual for a causa, é importante sonhar, fantasiar e, principalmente, aceitar que não é absurdo desejarmos aquilo que parece tão distante de nós. Se há algo do qual nos devemos orgulhar é dessa capacidade de sonhar. Na verdade, quando sonhamos aproximamo-nos da tão cobiçada felicidade e quanto mais prolongarmos esse estado de sonho, sem querer, somos impelidos a movimentar-nos em consonância com aquilo que desejamos.
As pessoas que sonham tornam-se bem mais interessantes do que aquelas que encaram tudo como definitivo e irreversível. Talvez careçam de alguma flexibilidade que as impede de estabelecer uma maior empatia com os outros. Por alguma razão, que custo a entender, sonhar talvez pareça ousado demais e até perigoso para determinadas pessoas, por incitar a cometer algum desvario, que venha a comprometer o seu mundo tão perfeito. No meu caso, o sonho ajuda-me a desviar, por breves instantes, do que me incomoda. Nem sempre é fácil sonhar, quando vivemos intensamente os nossos problemas, sem aliviar a carga que eles emprestam à nossa Vida. O truque é desistirmos de pensar em nós, nos nossos problemas, nas nossas misérias e procurarmos boas inspirações que nos devolvam a vontade de sonhar com dias melhores. Há histórias prodigiosas, exemplos ilustrativos do quão poderoso pode ser um sonho e suas implicações nas nossas Vidas. Se há matéria em que não poupo, são os sonhos. Quando sonho sinto-me livre para ser quem eu quiser. No mundo real, a nossa forma de ser molda-se às circunstâncias em que crescemos, às dificuldades que enfrentamos, à forma como as encaramos e  ao modo como as superamos. No mundo dos sonhos, não há pressões sociais que nos forcem à inclusão. Sinto-me gigante num mundo criado à minha medida e com o meu nome. Não é fantástico podermos, de vez em quando, elevarmos o nosso ego a patamares nunca antes experimentados?
Habituados a disputar um lugar, uma posição, atenções, amor, afectos, elogios, notoriedade, mérito, respeito, consideração e, aguardar a vez, em que seremos abençoados com uma dessas ofertas, que atribuem prestigío social e pessoal às nossas Vidas, é legítimo que nos sintamos suspensos por essa base de troca gerada pelas relações entre seres dotados de sentimento. Nesse interregno de tempo, podemos aproveitar para sonhar livremente e se for caso disso mudar o rumo dos acontecimentos. 

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Jasmim Maria

Jasmim acelerou o passo. Já estava atrasada para mais um encontro programado, que animaria a sua agenda por tempo indeterminado. As expectativas eram algumas mas, com o tempo, os inúmeros encontros e desencontros, assumiram um lugar cada vez menos importante, diminuindo consideravelmente de intensidade. Já não havia ansiedade, nervosismo ou embaraço. Seria mais uma oportunidade para flirtar e sentir-se desejada, da qual se acabaria por cansar, remetendo-a novamente ao isolamento. Trata-se de uma solidão que jamais aliviará, enquanto Jasmim atrair aquilo que ela acredita ser alvo de cobiça. Quem inveja um caso fugaz, um caso clandestino, sem protagonismo, tendo como parceiro de contracena, um Homem bem parecido, galã, com status social, bom poder de compra, confiante, bom partido, que nos compensa as ausências com presentes caros, que Jasmim exibe como estandartes às suas amigas enjeitadas?
Jasmim adora captar a atenção masculina, independentemente de haver contexto ou não para o efeito. Percebe-se bem porque é que Jasmim não ganha amizades consistentes e sólidas no universo feminino. Ela gera competições disputadíssimas com as suas rivais, principalmente com aquelas que aparecem bem acompanhadas e felizes com o seu estado. Diverte-se a testar a sua capacidade de atracção, para após comprovada a sua infalibilidade, consumar o acto e acumular mais um troféu, sem arrependimento do estrago que possa ter causado. Apesar de ser uma Mulher madura, goza da vantagem de aparentar ser bem mais nova  e agradar a várias faixas etárias. Se bem que o seu target são os homens estilo George Clooney, charmosos, independentes, hedonistas, endinheirados, despojados, com um sentido de humor a roçar a provocação, comprometidos e com muita disposição para pecar. Ora disponível, ora indisponível, é assim que os enlouquece, com alguns truques de alcova pelo meio. Satisfaz-se a observá-los desesperados, solicitando a sua presença nos seus momentos vagos de tesão.
Apesar de ter herdado o nome da sua madrinha de baptismo, tão embuído de energia poética e romântica, sua descendência foi desrespeitada com a má fama de Jasmim Maria, autora de comportamentos lamentáveis, aos olhos dos padrões que prezam a dignidade da Mulher que se sabe valorizar.
Seja qual for o cenário em que Jasmim se encontre, todos os seus sentidos estão focados num possível patrocinador dos seus caprichos de Diva. Há sempre um incauto em sossego, isco perfeito para testar a sorte de Jasmim com o sexo oposto. Uma vez na sua mira, larga tudo e entra em acção. Não aguarda ser escolhida. Prefere influenciar a escolha, receando comprometer o seu lugar de destaque, caso ceda à liberdade de decisão masculina. Por isso, investe na insinuação e usa-a para rodear sua presa. A insistência vem a seguir, quando não há grande interesse da outra parte em cair em tentação. Alvo de uma emboscada, acaba por se deitar na rede de sedução de Jasmim, experiente em suprir carências afectivas temporárias.
Ao contrário dos cães, os homens não têm faro apurado. Aliás não têm faro nenhum e, como castigo esbarram com Mulheres como Jasmim, hábeis em criar experiências mais traumáticas que prazeirosas.
Este novo género feminino nascido no seio das sociedades modernas, contexto ideal para promover a solidão nas Mulheres emancipadas, fabricou Jasmins que continuam a insistir em provar a força da sua feminilidade e abafar as vozes conservadoras que as rejeitam, por não fazerem o estereótipo da Mulher família. Apesar destas Jasmins pretenderem convencer-se que há outros modelos de felicidade que não passam exclusivamente pela constituição familiar, não acreditam nessa possibilidade porque também elas foram  formatadas a conceber um único modelo que implica comungar a sua Vida com alguém e deixar descendentes directos que, por sua vez, irão confirmar essa mesma inevitabilidade. Todas as Mulheres têm em comum este registo, por mais estudadas que sejam, por mais descomplexadas, por mais desprendidas, por mais viajadas, por mais independentes, por mais autónomas, procuram o companheiro perfeito para apresentar à família, amigos e, principalmente, aqueles que as rotularam de encalhadas. Enquanto isso não acontece, aturam falta de sensibilidade, perguntas inconvenientes, juízos de valor, olhares reprovadores entre outros transtornos.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Digerir a Dor

Onde estás?
Preciso de ti.
Abandonaste-me uma vez mais ao meu mau feitio.
Eu posso mudar.
Diz-me o que te faz falta, eu trato de ir buscá-lo para ti.
Aparece. Estás livre de perigo.
Fazes-me falta.
Com quem vou eu agora desabafar?
Quebra este silêncio, por favor.
Eu imploro-te.
Porque me fazes sofrer?
Dá-me um sinal.
Diz-me apenas que estás bem.
O que é que eu fiz para merecer esta provação?
Eu era feliz a teu lado.
Pensei que sentisses o mesmo.
O que mudou?
Porque não manifestaste teu desagrado?
Como vou explicar a tua ausência?
Quando planeias voltar?
Sê breve.
O que faço com esta dor aguda que me consome?
Porque não me procuraste?
Superaríamos isto juntos.
Não sei se sou suficientemente forte para suportar este vazio.
Meus melhores momentos foram contigo.
Meus piores momentos, também foram contigo.
Todos os momentos passei-os a teu lado.
Não me arrependo do que abdiquei para estar contigo.
Nunca previ este desfecho.
Aliás, previ levitarmos juntos de mão dada para a nossa última morada.
Sonhei o melhor para nós.
Sempre te incluí nos meus sonhos.
O que falhou?
Que erros cometi para merecer isto?
Já nem sinto, com medo da dor que pode provocar.
Tu foste o causador.
Está a ser difícil perdoar-te.
Quebraste nosso pacto.
Prometeste que me contarias tudo até o mais insignificante.
De tantas opções, porque adoptaste a pior de todas.
Perdoa-me  a distracção.
Não percebi que estavas a sofrer.
Estava tão encantada com o nosso romance.
Com a nossa Vida em comum.
Tu eras a minha única família.
Desfaz o engano.
Aparece. Eu finjo não olhar e até participo da brincadeira.
Eu colaboro contigo mas por favor não me deixes nesta agonia.
Dói de mais.
Sabes bem que o preto não me fica bem. Envelhece-me.
Não sei viver na solidão. Habituaste-me a ti.
Se não podes regressar, vem-me buscar.
Não me digas que não sentes falta dos nossos diálogos, do meu toque,do meu carinho, da minha entrega.
Prometo não te desapontar.
Marcamos encontro?
Que dizes encontrarmo-nos no banco de jardim onde nos
abraçamos pela primeira vez e juraste nunca me abandonar.
Estavamos apaixonados.
Eramos seres estranhos, por gozarmos de tanta cumplicidade.
Não te demoro mais.
Conforme combinado,
vai buscar-me ao jardim das camélias. Estarei sentada naquele banco carcomido pelo tempo,
com vista para o chafariz estilo romântico.
Não demores.
Temos muito que conversar.
Não te esqueças que te Amo, apesar do modo inesperado do teu desaparecimento.

Decisão Difícil



Nunca sentiram vontade de mudar, encarar uma nova realidade, um novo contexto, sair da zona de conforto, abandonar o que é garantido, sentir saudade, prescindir de certos hábitos, desacomodar, apostar em algo indefinido mas com características promissoras, enlouquecer, arriscar, desviar do apêgo que as ligações afectivas ajudam a alimentar e que, de algum modo, parecem atrasar o nosso crescimento pessoal, passar a ser visita e desimpedir o nosso lugar cativo, suscitar uma renovada vontade de ser Feliz, fora deste perímetro fechado e demasiado acanhado, para assim conquistar algo mais nas Nossas Vidas? Mas e se esta possibilidade, de acumularmos mais experiências, promovermo-nos, melhorarmos a nossa qualidade de vida, lançarmo-nos profissionalmente, assegurarmos uma boa condição financeira, que permita conceder-nos alguns luxos, nos afastar da Família, dos Melhores Amigos, dos almoços de domingo, nos retirar os muitos momentos de qualidade com o nosso companheiro(a), ausentar-nos dos aniversários, quebrar com a proximidade, acabar com a cumplicidade, impedir-nos de estar presentes quando precisam mais de nós, aguardar notícias à distância e digerir as novidades boas e más, não poder partilhar nosso dia a dia pessoalmente, desligar-nos de tudo aquilo que dá significado à Nossa Vida?
Será possível conciliar estes dois mundos? Por um lado, o acesso ao mundo que nos proporciona estabilidade, segurança, realização profissional, folga financeira e conforto material e, por outro lado, a longevidade das relações que prezamos, o estarmos juntos mais vezes, o apoio familiar, as confidências com os amigos, o peso das ausências quando nossa presença é imprescindível, o acompanhamento à distância sem poder participar, a incapacidade de trocar sentimentos de perto, porque estamos ausentes e sabe-se lá quando regressaremos para retomar o que abandonamos.
Acontece que, esses dois mundos co-existem mas há sempre um que ganha maior destaque. Equilibrá-los, requer muita habilidade mental e emocional.
É tão difícil decidir o que abdicar, quando um e outro mundo são essenciais à Nossa Vida. Afinal, qual deles é mais essencial? Inúmeras razões se ergueriam para justificar a permanência de cada um deles mas, o que acaba por prevalecer é aquele que mais falta faz na escalada final para uma decisão definitiva e irreversível. 

terça-feira, 12 de abril de 2011

Sapatos de Verniz



Benedita ressuscitou  seus sapatos de verniz, esquecidos no baú dos tesouros do passado, que teima em guardar em lugar seguro. O seu estilo vintage adequava-se perfeitamente ao look coquette pretendido e até o seu estado de conservação não deixava adivinhar a sua durabilidade. Tão na moda, os sapatos de verniz afirmam a feminilidade de Mulher que não descura os pormenores nem enjeita a sua imagem impecável. Betty Boop sem os seus sapatos de verniz perdia toda a graciosidade e não fazia sobressair o seu encantamento tão natural. Há um poder qualquer naquele objecto de moda que resistiu ao longo do tempo e virou um clássico da elegância feminina. Benedita presta-lhe homenagem sempre que a ocasião o impõe e, por vezes, mesmo que não o imponha, recorre a eles para se erguer de confiança e brilhar. Apesar das novas tendências de moda terem arrasado com os clássicos, a sua resistência em aceitar a invasão da modernidade isolou-a do rebanho de consumidores facilmente influenciáveis. Benedita adora coleccionar raridades, acreditando estar a congelar vários passados que merecem ser acarinhados pelas boas recordações que ainda trazem à sua Vida. Seus sapatos de verniz são fundamentais na sua Vida de Mulher estruturada, para não desapontar. Não há acasos na Vida de Benedita. Tudo é  tão programado, enfadonhamente ordenado e livre de cobiça. Os seus sapatos de verniz são o único devaneio que ela se permite e do qual não abdica. Essa é a sua maior ousadia de estilo que marcou uma época propensa à afirmação da Mulher que sabe o que quer.  

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Operação Presente



Quando podíamos ser o que quisessemos não sabíamos o que queríamos e agora que sabemos o que queremos não podemos ser quem queremos. Poder até podemos mas agora torna-se mais difícil acordar para essa possibilidade. Por mais liberdade que tenhamos, nunca seremos totalmente livres. Há em nós uma consciência que nos demove de agir de determinadas formas e ser livres, para cometer egoísmos. Afinal ser feliz não é também privilegiar nossos desejos pessoais, satisfazê-los, prolongar esse estado de felicidade, escancará-lo sem temer ferir susceptibilidades, gozar dessa boa energia sem culpa, sabendo nós que nem todos estão no mesmo registo que o nosso, nem saberão acompanhar essa nossa boa disposição sem estranhar ou invejar. É humano sentirmo-nos perturbados com o contentamento dos outros, sinónimo também de sucesso pessoal, que nem todos conseguem atingir e muito menos prolongar. Essa luminosidade interior que irradia e assusta os queixosos, convictos de que tudo à sua volta é azar e desgraça, cultiva-se com a serenidade de quem aceita o que vem na rede. Nem todos têm sensibilidade para entender essa nobreza de espírito, que encaram como uma espécie de insanidade mental, por não haver razões concretas, mensuráveis, visíveis para viver bem. O mal é geral. Caímos todos no erro de desperdiçar o presente, massacrando-nos com o passado e afligindo-nos com o futuro.
Se eu soubesse o que sei hoje faria diferente. É tão recorrente invocarmos esta frase para justificarmos o que não foi feito e adiarmos, mais uma vez, o que ainda está por fazer. Esta resignação de quem depois se vem lamentar do que atraiu é paradoxal. Por um lado, resigna-se com aquilo que conquistou mas, por outro, lamenta-se com o rumo dos acontecimentos.   
Sentir saudades é bom quando reconhecemos e aceitamos que não podemos ressuscitar o passado e retêmo-lo como uma boa lembrança, à qual podemos recorrer sempre que quisermos . Sentir saudades é mau quando queremos fazer uma colagem do passado ao presente, numa repetição de comodidades que nos permite prever o futuro. O presente é a ocasião. O presente é a oportunidade. O presente é garantido. 
Nunca lamentes o que ficou para trás, nem te acomodes a pensar no que o futuro te reserva. Até parece que, estou a incitar que cometamos loucuras só para garantirmos o presente e o aproveitemos ao máximo. Nada disso. A Vida é preciosa demais para nos entregarmos a devaneios inconsequentes mas é também suficientemente espaçosa para cometermos uma ou outra loucura que nos faça acelerar os batimentos cardíacos, para depois nos voltarmos a reposicionar nos nossos propósitos.
Eu continuo a ser uma aprendiz na arte de Viver bem e só deixarei de o ser quando o além me chamar.



Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...