terça-feira, 6 de março de 2012

3000 Visitas



Atingi as 3000 visitas. Para uns pode ser insignificante. Para mim é saboroso saber que há alguém que me acompanha nesta minha incursão amadora pela escrita. Espero ter conseguido abalar Vosso mundo interior de uma forma positiva. Agradeço a todos os que dedicaram seu tempo a espreitar meu Blog.
Prometo manter-me por cá até que me queiram.
Um beijo muito especial Ana Teresa e André. São eles que me encorajam a dar continuidade a este meu prazer antigo.

domingo, 4 de março de 2012

Jovem mas não tanto

Por vezes despertamos tarde para certas experiências que só agora fazem sentido nas nossas vidas. Deparamo-nos com obstáculos intransponíveis, que nos fazem recuar e sentir o embaraço do peso da idade.
Estás disponível, sentes-te perfeitamente capaz, estás entusiasmado, empenhado em acumular conquistas, porque afinal ainda te sentes jovem, apesar de maduro e mais experiente mas, constatas amargamente, que aquilo que queres alcançar já não te está destinado. Passaste a ser banido, só porque passaste do prazo de validade.
Tal como os tecidos, há alguns que não obedecem a qualquer restrição de lavagem. Outros há que, dada a sua delicadeza, requerem outros cuidados e fazem-se acompanhar de algumas recomendações úteis. A certa altura da nossa Vida, também nós nos sentimos um tecido frágil que não se pode misturar com outros tecidos, bem mais resistentes e com maior garantia de longevidade. Não podemos partilhar do mesmo tipo de lavagem. Pertencemos a um outro segmento e por isso temos um tratamento diferente. Essa diferença nem sempre cai bem quando queremos abraçar todas as oportunidades e sentir as grandes emoções, adstritas apenas a perfis bem mais jovens. Quando nosso rótulo não combina como o nosso espírito, torna-se bem mais difícil superar certas atenuantes ou condicionantes, expressas de forma tão categórica e inflexível que redundam exclusivamente no critério idade, como fator de rejeição imediata.  Mas porquê? Justamente agora que realmente sabemos o que queremos para nós. Quando, finalmente temos algumas certezas, esbarramos com muros altos que impedem nosso caminho e pior, constatamos que essas oportunidades perfeitas para nós continuam por preencher porque só nós vemos interesse nelas. Isto só me faz acreditar que só damos importância à idade quando ela começa a ser um fator retrator. Enquanto somos jovens imberbes, o tempo não tem limite e não há necessidade de apressar nossas escolhas futuras. Mais tarde somos castigados por essas decisões que evitamos tomar no tempo certo. Incrível não? Todas as grandes lições de Vida chegam tardiamente e de pouco valem quando efetivamente reconhecemos a sua importância. A sua permanência só vem desdenhar do nosso fraco sentido de oportunidade.   

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Tudo ou Nada



Gosto, não gosto, quero, não quero, aceito, não aceito, posso, não posso, sei, não sei, tenho, não tenho...... Não há meio termo que suavize este antagonismo carregado de objetividade? O Tudo ou Nada, saliente nestas manifestações concretas, impermeáveis a dúvidas, retira a oportunidade a quem nos queira fazer mudar de opinião ou fazer balançar a nossa racionalidade num talvez, que não partilha de extremismos absolutistas radicados no Não absoluto ou no Sim absoluto.
Não me deixes demasiado contente ou sequer confiante com tua decisão afirmativa mas, também não sejas imbecil ao ponto de me destratares com um Não arrasador. Não te decidas. Defende-te com um talvez e deixa-me gozar por instantes dessa sensação de esperança e otimismo. Será que és capaz disso?
Nem sequer te peço para me mentires. Só não quero que me digas já a verdade. Aguarda mais um tempo. Já devias saber que eu sou como o sonâmbulo que deambula pela casa, não posso ser acordado em sobressalto. Sê gentil. Sê paciente e colabora comigo, mesmo que não te apeteça fazê-lo. Se calhar até te podes vir a arrepender de uma decisão tão radical. Não me faças sentir tudo de uma só vez e não me tentes dominar com o poder da última palavra dada. Usa esse poder conscienciosamente. Independentemente das reações que possas vir a provocar, quer sejam de caráter positivo ou negativo, não há necessidade de provocar uma combustão de emoções. Primeiro conquista a minha confiança, para que seja mais fácil para ambos encarar os momentos de silêncio seguintes e articular respostas adequadas, seja  perante a continuidade de um sim ou o adeus anunciado de um categórico e rotundo não.
Não apresses as situações que não possas controlar.
Assusta-me quando afirmam, sem condescendências, suas decisões e ostentam com orgulho a forma como o fazem, retirando-lhes toda a carga de problemas futuros. Esta rigidez dos Sim e Não absolutos grita por independência e vontade de não decidir e deixar que as coisas aconteçam sem controle. Às vezes, sabe bem ouvir um talvez, que contorne a verdade e nos faça vogar livremente e sem rumo  


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pensos rápidos



Ouvi hoje uma expressão que me fez pensar e assimilar a profundidade do desabafo. "Já não tenho idade para tapar as minhas feridas com pensos rápidos". Na verdade, chegamos a uma fase das nossas Vidas, onde acusamos dificuldade em curarmos as feridas. Elas custam a cicatrizar. Não são lambidelas nem pensos rápidos que as farão desaparecer. Não esqueçemos tão facilmente e a dor impede-nos "to move on". Reerguermo-nos requer um esforço gigantesco que só a maturidade, a experiência de Vida, exemplos do passado e um espírito lutador combinados, resultarão numa saída sem mazelas. Estas descarrilagens fazem parte da imperfeição das Vidas que escolhemos. Por vezes, surgem para abalar com a nossa apatia latente. O que torna impossível a transposição dos obstáculos é a catastrofização do que nos aconteceu, como se fosse algo irremediável e profundamente mau. A melhor saída para os nossos problemas consiste em encará-los como algo passageiro, que só se alimenta do que nós lhes dermos. Se lhe dermos fermento tóxico, os problemas irão inchar e invadir as nossas Vidas. Se lhes tirarmos a acidez com doses moderadas de açúcar ou doce brandura, os problemas serão facilmente digeridos.
Não devemos fingir que eles não existem ou contorná-los, evitando um face to face. Eles não se evaporam pelo facto de os ignorarmos. Eles hão-de estar sempre lá para nos atormentar, até que decidamos assumi-los e lidar com o assunto. As artes mágicas não funcionam nestes casos.
A idade faz-nos dar mais importância à Vida e cada passo que damos é pensado e está carregado de uma intenção, conscientes do que é melhor para nós e menos arriscado. Afinal a Vida assume um novo peso e valor. Comprometê-la com passos mal medidos faz-nos desmerecê-la. Nossas decisões são mais criteriosas e mobilizadoras da estabilidade e segurança pretendidas.
Pensos rápidos na nossa idade não estancam a profundidade dos golpes sofridos. O impacto que os problemas exercem na nossa Vida é maior, porque o tempo começa a escassear e cada vez que os percalços acontecem, perdemos a oportunidade de usufruirmos da Vida. Preveni-los defende-nos melhor da parte amarga da Vida e liberta tempo para prosseguirmos sem interrupções.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

"We just want to be good"



A Filosofia do Melhor é manifesta em múltiplos contextos e alimentada por tantas personagens que se torna inevitável não ser contagiado por essa manifestação descontrolada. Parece que temos de ganhar vantagem em tudo e sobressair em todas as ocasiões. Se a tua postura não for essa e não demonstrares o teu melhor, então serás alvo de comiseração pelos teus pares. Tens que pelo menos tentar chegar lá ou aproximares-te do ranking de excelência, senão serás banido. Encaramo-nos como obstáculos a ser transpostos, para subir mais um nível e conquistar o tão almejado pódio. É assim que funciona, mesmo até em situações em que não há ganho nenhum, a não ser um ego insuflado pelo vazio de conquistas inúteis e que revelam a sua  falta de criatividade pessoal, provavelmente, bloqueada pela sua obssessão em estabelecer comparações rídiculas.
O universo feminino explora muito bem esta filosofia da inutilidade da comparação para se afirmarem melhores e mais mulheres. Exaltam o que há de menos bom nas suas congéneres, para seu próprio gáudio. Inclusive sobra-lhes tempo para criar notas mentais, tal é persistência do olhar que dedicam umas às outras, escarnecendo por dentro cada vez que constatam estar perante uma Goddess, sua rival.
O universo masculino não perde tempo com estas miudezas, mas não deixa de explorar a filosofia "do eu sou melhor do que tu" no seu quotidiano. Neste caso, o paradigma é diferente.
Os homens adoram ser conhecidos. Fomentar amizades. Quantas mais melhor e ser reconhecidos por todas elas, como o tipo que vive bem e é bem relacionado. Muitas vezes acontece que, essa sua vaidade, que lhe confere tamanha notoriedade, poderá vir mais tarde a decretar o seu fim hegemónico. Sua exposição constituirá uma ameaça, anunciada por aqueles que gostariam de estar no seu lugar e não toleram ser achincalhados com tanta propaganda.
Adoram servir de exemplo e modelo de cópia. Eles próprios ostentam-no e instigam outros a acompanhá-los e a aprender a ser bons como eles, contudo, mantêm a confiança férrea de que jamais os conseguirão igualar.
As rivalidades das mulheres são secretas enquanto que as dos homens são conhecidas.
As mulheres convivem umas com as outras, mesmo não se suportando. Conseguem dissimular muito bem suas emoções, para não serem desmascaradas. Creio até que, a nossa intuição não é algo inato, mas algo que se foi apurando com as sensações que fomos aprofundando acerca umas das outras e que raramente nos enganam. Sabemos bem quem são nossas rivais, apesar do secretismo instituído.
Porque é que acham que nos casos, cujo desfecho é a violência física, as mulheres atacam os cabelos?
Uma mulher com peladas ou careca não será mais objeto de cobiça e o cabelo simboliza o poderio feminino.
Estas poderão soar a caricaturas extremadas de cada um destes universos, mas certamente encontrarão algumas particularidades homólogas.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Três Desejos para saciar minha loucura



Livres para pensar mas presos nos movimentos, que teimam em se manifestar e assumir uma posição que há muita precisa ser afirmada. Afinal não somos verdadeiramente livres. A passagem dos pensamentos aos atos está bloqueada e, por conseguinte, não conseguimos afirmar a nossa liberdade. O sangue ferve cá dentro e a vontade é tanta mas, um desvio dessa liberdade condicionada, pode comprometer a nossa imagem e acabar com a nossa razão. É tão difícil ser tolerante para com determinadas naturezas humanas, com falhas de caráter profundas e irreversíveis. Até o objeto, que eu tantas vezes aqueci em minhas mãos para lhes arremessar, é mais valioso e digno de ser poupado. Só sobram as palavras implacáveis, para exercer o meu poder liberatório, de as ver encolher na sua pequenez. No entanto, tratam-se de criaturas desprovidas de alcance mental e, portanto, jamais conseguiriam entender o significado dos termos aplicados. Inclinariam a cabeça como o Yorkshire do meu vizinho, quando me vê chegar a casa, e arreguilariam os olhos em sinal de confusão mental.
Suas almas jamais levitarão até ao céu. O peso da maldade fará com que fiquem soterradas e virem alimento principal dos parasitas, imunes a más digestões.
Quem lhes acha graça é tão engraçado quanto elas, o que quer dizer que acabará também em desgraça. 
Enquanto espero pela justiça divina vou-me contentando com a construção de imagens mentais do tipo vê-las sem o dentinho da frente, ou exibindo uma longa cauda de lagarto a descer do fundo das costas até ao chão, ou afetadas por uma língua que enrola quando tentam falar e desenrola quando querem estar em silêncio. Seria genial. Se os desejos para 2012 fossem mais de 12, estas seriam as minhas últimas opções. Os outros 12 já têm destino e não as incluem obviamente.
Devo estar a chocar uma espécie de insanidade mental sem precedentes e com tendência para permanecer. Se não é isso então deve ser sinusite. :D
Preferia que fosse insanidade. Sempre é mais divertido e não faz dor de cabeça.
  

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Desire


Era tudo tão novo para ela. Tudo parecia diferente e distante do seu mundo. Caíra naquele ambiente por acaso e ali deixara-se ficar. Apesar de ser terreno desconhecido e movediço, sentia-se bem em desbravá-lo. Sem querer, foi criando um magnetismo inexplicável por aquele lugar, que nem parece estranhar. Sabe que não lhe pertence mas, a sensação de nele penetrar excitava-a. Uma vez naquele ambiente, sua postura molda-se e é curiosa, a transformação que se sucede. Sua capacidade de reencarnar várias personagens, com várias nuances, revela uma falha de personalidade, que custa a encontrar sua identidade própria. Usa-as conforme a sua conveniência e principalmente para esconder algo que deixou marcas no passado. Adora desafiar o risco, por isso, quanto mais desconhecido melhor. Avança antes mesmo de saber o que lhe espera. A sua inteligência camaleónica inventa sempre estratégias de oportunidade para escapar das vicissitudes decorrentes das suas ousadias. Julgava ela. Desta vez a sua inteligência acusa inadaptação e deixa cair as máscaras. Apesar de lutar para manter a sua verdadeira identidade oculta, descuida-se no instante, que reconhece o fantasma do seu passado, diante dos seus olhos, com seu olhar gelado e petrificante. Ela fingiu não ver mas, já era tarde. Ele já tinha cruzado seu olhar com o dela e a prendido na sua malha apertada de sedução. Todo o seu esquema de defesa desabou, sua força foi desanimando, sua postura encolheu perante aquela gigantesca ameaça, embebida em perfume. Não conseguiu resistir mais e deixou que ele nomeasse as suas zonas erógenas com seu beijo prolongado. Seus olhos fecharam-se para melhor absorver as sensações de arrepio na pele. Que saudades ela tinha do seu toque. Só ele sabia arrepiar os seus sentidos e fazê-la suspirar por mais. Seus reencontros eram sempre mágicos e curtos também. Se calhar, é por isso que se desejam tanto e tão intensamente. Uma envolvência especial que só ganha continuidade com a incerteza de um novo reencontro. Ambos sabem que a combinação dos seus corpos provoca uma química sem tradução. A raridade dos seus encontros torna-os ainda mais especiais e desejáveis. Numa dança corpo a corpo, encaixam suas vontades de amor ardente.  

domingo, 11 de dezembro de 2011

Bom Natal


O correio foi generoso e trouxe-me postais de Natal, com mensagens bonitas e calorosas. Assim que, as acolhi nas minhas mãos, ansiosas por novidades,  pude sentir os aromas do Natal e fiquei desejosa por mais.
O cheiro a lenha a arder, o cheiro do pinheiro de Natal , o cheiro a serrim e musgo, o cheiro a antiguidade do presépio, o cheiro a filhozes, rabanadas e demais perdições cheias de sabor, o cheiro a vinho quente, o cheiro a gente que vai preenchendo espaços, remeteram-me para um estado de felicidade familiar.
Que bom é sentir que, neste dia, tudo se transforma em bondade, afecto, carinho, generosidade, solidariedade e sentido de comunidade. Pena não podermos congelar esses momentos e fazê-los ressuscitar quando quisermos, noutros contextos que dele careçam.
Nossos espíritos alegram-se com a chegada desta época e engordam com tanto conforto e amor. Esquecemo-nos das amarguras e cedemos à magia do Natal, com toda a sua envolvência de paz e comunhão. Esta é a época ideal para nos manifestarmos e desentalarmos nossos melhores sentimentos e  verbalizá-los junto dos seus principais causadores. Reforçar laços é consolidar o amor e se for através de palavras, actos e confissões melhor ainda. As pessoas que amamos merecem saber e nós precisamos desabafar. Esta reciprocidade desinteressada que contagia o ambiente com sorrisos e gestos de muita cumplicidade, comovem-me e deixam muitas saudades, principalmente, quando tudo acaba e nossas Vidas, até ali suspensas, voltam a lutar na adversidade e a acumular amarguras.
O que entristece é que a continuidade deste espírito é comprometida com a pressão da realidade, que alimenta nossos individualismos exacerbados. A fantasia do Natal retira-lhe essa carga e torna-a mais leve e digerível.
Tudo é tão doce, aconchegante, encantador e irreal. Não precisamos representar. Somos nós mesmos, perante aqueles que sabem prezar-nos.
O Natal é aquela bolha de amor que nasce para rebentar quando o feitiço acaba.
O Natal é como o Amor, eterno enquanto dure.


sábado, 3 de dezembro de 2011

Socorro


Sentia-se sufocada, apertada, esmagada, desesperada, perdida, num cenário pródigo em acontecimentos diversos e imprevisíveis, que escapavam ao seu excessivo controlo. Todas as saídas estavam bloqueadas, a tensão aumentava e o ar era cada vez mais escasso. Só precisava de um sopro fresco e uma retirada estratégica. Paralisada numa redoma de proximidade, com sobrecarga de atenção, patina na solidão e isola-se no seu interior, escudo protector da sua inadaptação. Sem querer, desviou ainda mais atenção na sua direcção. O fosso era grande e profundo. Desejou sofridamente uma quebra momentânea de luz, um alerta de incêndio, uma chamada inesperada que a ausentasse daquele lugar, fértil em silêncios esmagadores, traduzidos em olhares, sorrisos e expressões impossíveis de decifrar. Fugir seria cobardia. Ficar seria um tormento. A cadeira onde resistia sentada ganhava raízes. Só não ganhava asas para sair dali.
Um clarão de luz emergiu e deu-se o milagre da transformação, que a resgatou das amarras do desconforto. Seus pensamentos converteram-se em pensamentos positivos e capazes de produzir sensações de bem estar e prazer. Recuperou o ar, desacelerou o ritmo cardíaco, eliminou a tensão acumulada, soltou os movimentos, arrastou o peso da cadeira, ergueu-se de confiança e saiu sem se importar com as reacções suscitadas.
Sempre se sentiu diferente e distante da normalidade consagrada. Seus comportamentos denunciavam essa forma única e inimitável de ser. Diferente, não tem de ser sinónimo de pior ou melhor, apenas sinónimo de individualidade. 
Sermos nós mesmos implica ser diferente e dessa evidência não podemos descolar-nos. A self aceitação é condição necessária para viver bem e sem pressões.
Gostar de nós mesmos não é egocentrismo mas sim pura sobrevivência.


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Sem Arrependimentos



Vanda conheceu um anjo que não é alado. Não tem nome de anjo nem cara de anjo mas é um anjo. Não caiu do céu mas aterrou na terra junto a si e pousou na sua Vida. Ele surgiu para atender a um apelo seu e até hoje não falhou sua missão. Ela agradeceu.
Seu sorriso acolheu-a instantâneamente e Vanda rendeu-se, sem questionar suas intenções. Sentia-se carente, frágil, desanimada, desprotegida e sedenta de alguém que a compreendesse, a aceitasse, a mimasse e a elegesse para sua melhor companhia. Quando estava prestes a desistir de encontrar a sua salvação, eis que surge no seu caminho Gustavo. Não vinha num cavalo branco mas comandava um porshe carrera branco, oferta do seu papá, que não se inibe de esbanjar-lhe afectos caros. Afinal o anjo não veio do céu, nem em silêncio. Veio por terra e não poupou na buzina, quando viu Vanda desfilar no passeio de acesso ao cais de Gaia. Ela nem se incomodou com o som da buzina, tão concentrada que estava nos seus pensamentos cheios de amargura. Gustavo não se deu por vencido e voltou a insistir, até resgatar a sua atenção. Só quando a vizinhança mostrou desagrado com sua insistência, foi então que Vanda se moveu na sua direcção e incrédula, mostrou-se inibida com tamanho aparato. Assim que ela cruzou seus olhos com os dele, Gustavo arrancou satisfeito, sem nada dizer. Atordoada com aquele episódio caricato, refugia-se na esplanada e distrai-se com um livro de bolso, cujo tema nada tinha de animador " Vidas sem sentido". O esforço para se concentrar resultava inútil, logo após ter sido alvo daquela cena mediática, digna de uma novela em horário prime time, daquelas cujo o enredo nunca mais acaba e arrasta legiões de seguidores. Quem seria aquele sujeito? O que ele teria visto em si para suscitar uma exibição tão histriónica? Teria ele a confundido com alguém? Teria ele algum distúrbio comportamental?
Uma infinidade de perguntas, sem miragem de resposta.
Em boa verdade se diz que há muito mais que nos desanime do que aquilo que nos anima, principalmente quando nossa moral está tão em baixo. Vanda sentiu-se a chacota da rua e sem jeito, retirou-se sorrateiramente para o canto mais fundo da esplanada, longe daquele tumulto.
Estava ela em sossego, revirando as páginas do seu melhor recurso à solidão, quando se apercebeu da vontade resoluta de aproximação, de um indivíduo, de sorriso castiço, elegantemente vestido, transbordando sexappeal e assustadoramente confiante e que convicto, caminhava na sua direcção. Vanda estremeceu, quando ele tomou o lugar junto ao dela, sem sequer ser convidado. Que ousadia pensou ela.
Antes que Vanda se manifestasse, Gustavo adiantou-se e expôs sem hesitações o motivo da sua invasão.
Não conhecia Vanda mas tinha muita vontade em conhecê-la. Seus gestos, sua postura, seu ar cabisbaixo intrigaram-no. Uma Mulher tão bonita quanto ela entregue à solidão é sacrilégio.
Sua tristeza tocou-o e fê-lo agir daquela maneira tão insana e despropositada. Algo o intimou a agir. Reconheceu seu erro em expô-la daquela maneira mas assim que a viu, algo o magnetizou. Apenas a procurou para expressar o conjunto de sentimentos inusitados que ela acabara de lhe provocar e manifestar o seu desejo em manter com ela uma relação de proximidade. Era um sinal inequívoco de que ambos estavam predistinados.
Vanda ouviu-o atentamente e interiorizou suas palavras tocantes.
Pensou em arrumar com o assunto, negando-se a qualquer tipo de contacto e seguir com a sua Vida sem aromas. Porém, a tentação de testar o futuro de uma combinação entre ambos ressoava na sua cabeça.
Racionalizar ou Enlouquecer? Evitar ou Arriscar?
Apesar das suas palavras não combinarem com suas atitudes desvairadas e assumirem uma estrutura mais lógica e racional, não chegavam para ganhar total coerência e convencer Vanda. Se o deixasse partir, jamais saberia no que poderia resultar entre os dois. Se o acolhesse e aceitasse investir em algo inconsistente, podia resultar emocionalmente desastroso.
Um dilema destes precisava de mais tempo para ser resolvido.
Confusa e sem tempo, resvala para o desconhecido e escorrega numa relação sem sentido. Com a convivência percebeu que afinal o que parecia ser insano e imprudente pode desencadear em algo marcante e duradouro, tudo depende da nossa predisposição e contribuição para um rumo certo, sem desviar do que é realmente importante.
Bem se vê que os Finais Felizes mudaram de paradigma e de padrão. Nem sempre o que começa incerto acaba mal e nem sempre o que começa certo acaba bem. Não há certezas apenas boas e más intuições. A consistência trabalha-se.



   

domingo, 20 de novembro de 2011

APELO Á INCLUSÃO

Tudo começou com um olhar, na minha direção. Um olhar ameaçador e insistente, que atrasou o meu destino e me atirou para o abismo do Mal. Não reagi, com medo de descarregar sobre mim o ódio do inimigo impiedoso. Sofri calado, todas as ofensas, insultos, agressões, humilhações, castigos e desonras. Morri por dentro para anestesiar a dor e esqueci o meu nome, para não guardar memória de mim, naquele cenário de horror que continua a atormentar os meus dias.
Pouparam-me a vida, só porque estava na iminência de me entregar nas mãos dos párias da morte. Quando supliquei, não cederam. Quando caí indefeso no vazio, abandonaram-me sem remorso.
Não medi forças, nem cruzei meu olhar com o deles, para não ofender suas sensibilidades xenófobas. Só não consegui esconder quem sou, e foi precisamente isso, que os ofendeu. Minha imperfeição quase me matou e fez-me rastejar por ajuda, que não bastou para me consolar, nem tão pouco para me explicar porque é que o mundo é assim tão cruel e porque, arrasou com a minha felicidade.
Ainda continuo a ouvir as vozes da exclusão a ecoarem bem alto na minha cabeça, alertando-me de todos os perigos que ensombram o meu caminho. Vivo com medo de despertar, novamente, os demónios da incompreensão e cair nas malhas apertadas da intolerância.
Cansei de estender a mão em busca da salvação ou do amor pela inclusão, temendo cair mais uma vez na desilusão.
Sou uma minoria asfixiada pelo preconceito, que prolifera com a miséria humana.
Mostra-me que não pertences ao grupo dos que negam hospitalidade à diferença e destoas, de tudo aquilo que empobrece o ser humano, incapaz de acolher através do amor.
Devolve-me a esperança perdida e conduz-me para um mundo melhor, livre destes grilhões sociais que atrofiam as relações humanas.
Aprendi a Crescer na divisão do, Nós e Eles. Eles, são os que nos desprezam, nos querem mal, nos atiram para as profundezas da sociedade, não sabem respeitar-nos, nos rejeitam e condicionam nossa inserção, só porque entenderam que constituímos a ameaça da diferença e Nós, somos a sua erva daninha.
Eu e os que comigo sofrem, aprendemos a encará-lo como algo inevitável e alastramo-lo às gerações vindouras para que cresçam a defender-se da hegemonia social.
Às vezes penso, que histórias do meu passado, posso eu contar aos meus filhos, sem lhes provocar pesadelos? Na verdade, não sobram nenhumas ou muito poucas.
Tentarei mudar o cenário mas sei que eles irão ser confrontados com ele, mais cedo ou mais tarde e eu, nada poderei fazer para lhes poupar o incómodo. O que mais me magoa é saber que eles não merecem, nem é justo expô-los a esta luta de desigualdades.
Não posso desviá-los desses olhares irados que cimentam as discórdias e espreitam em qualquer esquina, como aquela que me retirou a dignidade e arrasou com todos os meus sonhos mas, posso tentar mudar a tua consciência, apelando a que promovas atitudes de inclusão no seio da tua comunidade e as alastres a outras comunidades, a outros contextos e assim possamos construir a imunidade à intolerância.
Não evites alguém só porque ele não faz o teu estereótipo ou perfil. Contraria essa tendência. Aproxima-te, dedica-lhe atenção, esboça-lhe um sorriso, melhora o seu dia e, principalmente, mostra que ele é como tu, digno de Amor. Ganhas tu, ganha ele e ganhamos nós os que seguirmos o teu exemplo.
O retorno é muito maior para quem dá, do que para quem recebe.
As tuas hesitações podem magoar o outro, fazendo-o acreditar que ele é persona non grata e indigno da tua companhia. Não faças as tuas escolhas em função de caprichos egoístas, altamente marginalizadores.
Eu próprio aprendi que, também eu, apesar de ter sido vítima do racismo social, convivia mal com outras minorias e, desdenhava dos seus modos de Vida, julgando-me melhor que eles. Afinal, eu assumia dois papéis. O de vítima e o de opressor.
Eu próprio tive que mudar de paradigma.
Sem nos apercebermos, nossos gestos ou ausência deles podem ofender terceiros e é essa falta de sensibilidade que precisamos trabalhar, para fomentar uma maior proximidade e coesão social. Não contornes o que está diante de ti. Presta atenção. Presta atenção de Novo. Olha melhor. Verás que podes fazer algo por mim, além de te comoveres com a minha história e, no dia seguinte, continuares a contornar-me a mim e a todos aqueles que precisam de um gesto teu, que os relembre que são importantes.
Quem sabe um dia não nos cruzamos numa esquina qualquer e tu consciente deste meu apelo, me reconheças e me abras o teu melhor sorriso e ilumines o meu dia e eu terei todo o prazer em iluminar o teu.
É nesta onda de luz que nossos corações se tocam e a Vida se torna mais leve e manifestamente mais apetecível.
Não previ o que me ia acontecer, nem consegui fugir a tempo e fui apanhado desprevenido, por um grupo de revoltados, que quiseram crucificar-me pelas suas desgraças. Paguei injustamente e, de mil uma maneiras vis. Perdi todos os sentidos e mais um. Perdi todo o sentido da Vida.
Foi um duro golpe, que incapacitou meus movimentos e me retirou a alegria de viver sem obstáculos, a condicionar o meu caminho.
Se és livre para pensar e agir então não te conformes e mostra-me que não estou só nesta empreitada pela inclusão social.

Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...