sábado, 2 de março de 2013

Onde se imagina daqui a cinco anos?


Trata-se da pergunta do momento, que tem surgido tanto em contextos formais como informais e que requer muita introspecção pessoal e que alguns evitam fazer-se a si próprios para não ter que questionar o que está para trás, auscultar-se a si próprios, seus comportamentos, sua posição actual, sua margem de progressão, suas capacidades, suas ambições, suas relações, suas condutas e no que estas se têm traduzido para si mesmos e para os outros. Uma simples pergunta na qual estão ramificadas outras questões, também elas pertinentes e que sem as suas respostas não conseguiremos avançar para uma resposta definitiva e conclusiva.
E a pergunta principal que se impõe é: "Onde se imagina daqui a cinco anos?"
Naturalmente que esta pergunta não deve ser colocada a qualquer pessoa, até porque algumas delas hão-de achar ridícula esta abordagem e responder com uma certeza absoluta e inegável que se Deus quiser estarão por aqui mesmo na Vidinha do costume. Para quem gostar da permanência, até que é óptimo e poupa algum desgaste psicológico, porque afinal não têm que rever a sua posição de Vida. O importante é vivermos satisfeitos com isso e não lamentarmos o que nos caiu em sorte.
Porém, espíritos mais elevados e audazes quererão sentir outro tipo de adrenalina e buscar outras fontes de inspiração, que os transportem para outros lugares, outras experiências, outras conquistas, outras vitórias, saborear a Vida de outras maneiras que estimulem seus sentidos inquietos.
Para eles a Vida tem inúmeras possibilidades e quando decidem enfrentar o desconhecido, não pensam em retornar ao que tinham antes. Encaram a mudança como algo positivo, fecham um ciclo e iniciam outro, confiantes que este será mais próspero que o anterior. Para uns parecerá uma loucura movida por uma impulsividade sem precedentes, enquanto para outros representa a convicção daquilo que não se quer e a esperança em si mesmos e naquilo que poderão construir de melhor.
É tudo uma questão de perspectiva.
A maioria desculpa-se com a idade, os filhos, a segurança, a estabilidade, um emprego efectivo, invocam as circunstâncias, tão convenientes quando não se está preparado para enfrentar outras realidades. Se calhar até estamos preparados, só não estamos convencidos de que tal é possível.
Nestas ocasiões não pode haver arrependimentos, nem turn back, pensando sempre que as inciativas que decidimos tomar são a única forma de angariar o Melhor para as nossas Vidas e é aquilo que faz sentido no momento. Não pode haver dúvidas, nem vacilos, nem tristezas, para não criar um mau ponto de partida nem decretar desistências antecipadas.
Haverá mais situações das quais poderemos igualmente retirar prazer, não precisam ser as mesmas situações, nos mesmos termos. O factor novidade e surpresa também fazem falta às nossas Vidas demasiado esquematizadas. Senão pouco sobra para contar ou revelar.
Na verdade, tudo depende da forma como encaramos a nossa Vida e a colagem que fazemos a determinados cenários estáticos e rígidos, onde sustentamos nossas formas de ser e de estar. Quanto mais flexíveis, mais tolerantes, mais sonhadores, mais independentes de convenções, livres de mágoas, àvidos de conhecimento, pessoas que se adaptam facilmente a qualquer contexto, percursores de objectivos e que se sintam livres para abandonar determinados contextos e encarar outros, convencidos de que há mais que uma formúla de Felicidade, mais convictos somos das nossas decisões.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Relações Disfuncionais


Quantos de nós têm que lidar com relações desta natureza. Não são relações saudáveis, apesar de serem de grande proximidade e que, quase sempre, implicam uma convivência regular. Apesar de crescermos e nos desenvolvermos na presença dessas pessoas, que se supunha serem fundamentais na nossa evolução, suas influências acabam por se transformar num transtorno para as nossas Vidas, de pessoas sensíveis, que esperam ser valorizadas, acarinhadas, respeitadas, compreendidas, consideradas importantes e principalmente amadas.
O mais curioso é que assumimos o papel de vítimas de negligência constante no Amor e mesmo assim insistimos em não abandonar essas pessoas que falham connosco repetidamente e nem se apercebem do mal que nos fazem.
Vê-mo-las constantemente a exibir afectos com pessoas praticamente desconhecidas e sorrir a tudo que elas comentam, encorajá-las, apoiá-las, render-se aos seus encantos e envaidecer-se com os seus convites, como se isso implicasse a entrada exclusiva para um clube restrito de pessoas refinadas e cheias de influência social, tal é a envolvência e magnitude por eles atribuída a este tipo de apêgos sociais. Entregam-se a eles mais do que ao Amor de um filho (a). Preocupam-se exclusivamente com a sua vaidade e é carregados de snobismo que nos ignoram e esquecem-se do que somos ou representamos. Um dia poderemos já não estar por perto ou sequer contribuir para uma visão de Felicidade conjunta, que infelizmente se perdeu. 
De cada vez que investimos tempo de qualidade com as pessoas que aprendemos a amar e descobrimos, que elas não nos dão o devido valor nem estão na mesma sintonia que nós, ficamos cada vez mais angustiados, revoltados, inconformados, confusos e custamos a acreditar que alguém que consideramos e Amamos se tornou egocêntrico, insensível e instável. Por mais tentativas de ressuscitar o passado, ele continua morto e enterrado e parece que só nós acreditamos naquele conceito de Amor puro que nos unia.
A realidade torna-se evidente quando constatamos o quão anormal é, para pessoas como eu e que nos ajudam a interpretar o nosso mau estar constante, não estabelecer uma ligação de confiança com os seus progenitores, pelos quais têm uma grande devoção e amor, que se manifesta de ambas as partes. Para elas, assim como para mim, o que seria normal é conseguir dialogar com as pessoas que amamos sem sermos advertidas, interrompidas, recriminadas, comparadas, rebaixadas, desvalorizadas, negligenciadas, provocadas, ofendidas e que nos levam a acreditar na inutilidade da nossa presença.
Quando queremos chamar a atenção de pessoas que não nos conhecem e negligenciamos aquelas que connosco criaram uma história e nos sabem dar Amor, jamais saberemos dar importância aos verdadeiros afetos e responsabilizarmo-nos por eles.
Aos nossos olhos essas pessoas tornaram-se naquilo que nós rejeitamos nos outros e que nós tanto reprovamos. Pessoas insensíveis, extremamente vaidosas, egoístas, egocêntricas, que destilam simpatia para aqueles que exibem um certo estatuto social e são indiferentes, a todos aqueles que não têm muito para a oferecer a não ser a sua simplicidade de ser e viver. Depois ainda se julgam muito sociáveis e empáticos, quando tudo não passa de uma fantasia montada para alimentar seu ego inchado mas nunca satisfeito.   
 
 
 
  
  

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Me first



As filas prioritárias abrem excepção aos deficientes, gestantes, pais com filhos e em certos casos a pessoas de idade avançada. Até aqui tudo perfeito, o problema está que, há alguns que se acham mais excepção que os outros e então decidam tomar a dianteira e deixar incrédulos aqueles que aguardam na fila pacientemente.
Até nisso se vê o carácter das pessoas que formam essas frentes prioritárias. Detesto colaborar com esse tipo de achincalhamento público. Recorri a uma dessas filas porque já acusava algum cansaço e peso, na minha barriga de futura Mamã e que carecia de algum descanso, pensando eu que resultaria fácil e rápido todo esse processo. Na verdade, o tempo que esperei serviu para constatar que até mesmo nestas situações, não há qualquer tipo de sensibilidade, principalmente da parte de pessoas que partilham do mesmo tipo de condição de fragilidade e parca mobilidade. Nem assim há solidariedade entre iguais.
Acabamos sendo vítimas da competição, por um lugar exclusivo numa zona já de si exclusiva. É desmedida a vontade de protagonismo onde não há motivos para orgulho.
Pensei que imperasse o bom senso, mas afinal surge a necessidade de fundamentar porque razão uns são mais exclusivos que outros, ou melhor, porque é que uns merecem mais que outros e, mesmo assim, não chegamos a um bom entendimento. Haverá sempre abusadores.
Optei por evitar essas filas e recorrer às habituais que, por incrível que pareça, fluem melhor e não se dão atropelos de supremacia na desigualdade.


  

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Desilusão FDP

É enorme a desilusão, quando descobrimos que a pessoa que amamos por tanto tempo, reproduz todos aqueles comportamentos que mais receamos e que preferimos encarar como uma possibilidade muito remota. Sentimos que algo não está bem e continuamos a duvidar, mas nem por isso deixamos de sofrer com as sensações que vão chegando e  que funcionam como alertas de que algo realmente desagradável está prestes a acontecer. E eis que esse dia chega e tudo desaba. Aquilo que fazia sentido deixou de fazer. Nada mais te importa. Queres acabar com todo esse sofrimento. Mas porquê?
Anos e anos de cumplicidade, companheirismo, proximidade, boas risadas, abraços apertados, dedicação, afectos, etapas ultrapassadas, convivência, apêgo, são reduzidos a nada. Questionas-te se o que viveste não passou de um sonho teu. Uma fantasia tua, alimentada por uma pródiga imaginação.
A realidade é tão atroz e clarividente, relativamente aquilo que nos espera no futuro. Nada será igual. Qualquer que seja a nossa opção, será muito difícil esquecer tamanho abalo na nossa Vida. Na verdade, só tu pareces ver a dimensão do estrago, enquanto a outra parte tenta desviar a atenção do assunto e desdramatizar para não se sentir tão culpado e, em certos casos, manipula-te fazendo-te pensar que também tu contribuiste para aquele desfecho.
Como é possível perdoar quem não soube atribuir significado aquilo que connosco construiu?
Quando se comportou erradamente não pesou o que poderia estar a perder ou então, achou que a pessoa que sempre o acompanhou iria compreender e relevar ou então, pensou que não poderia ir contra os seus desejos, por estes fazerem parte da sua pessoa e achar que quem o conhece tem mais é que aceitar e compreender sem questionar as razões porque o fez ou então, é uma pessoa que não dá o minímo valor ao que tem e prefere fazer tudo aquilo que lhe apetece sem dar satisfações.
Este tipo de pessoas existe e tem tendência a proliferar e contaminar a nossa estabilidade. Afecta-me que pessoas tão próximas de nós estejam a sofrer abalos como este e não os consigam superar, porque cedem sempe em favor de quem não as merece nem nunca as mereceu. Continuam à espera que mudem, que reconheçam, que alterem seus comportamentos e saibam lhes dar valor. Tal não vai acontecer se os continuarmos a poupar.
No meu entender deveriam ser abandonados, largados ao seu próprio egoísmo e orgulho e suportar o peso de uma tristeza profunda e angustiante. 

sábado, 10 de novembro de 2012

Goste.Amei.Sofri.Doeu....Superei




Tem dias que, achamos  a Vida muito interessante e com tanto para nos oferecer, basta somente querermos. Noutros dias, o peso da Vida é tão grande e tudo aquilo que nos pareceu interessante e realizável, deixa de o ser. O que é que impediu o prolongamento do nosso encantamento? Porque é que desaproveitamos a magia que reconhecemos na Vida e nas suas oportunidades de Crescimento Pessoal? Será que falta coragem para tornar os nossos sonhos em realidade e empreender novos desafios, novas metas, acrescentar vitórias pessoais e personalizar o nosso curriculum?
Creio que o Maior Obstáculo à progressão de uma Vida aliciante e movida por tantos interesses é, precisamente, o Medo de arriscar e lutar por algo que nos faça sair da concha. A Penalização para aqueles que não ousam arriscar e enfrentar seus medos é convertida numa Vida sem paixão, sem emoção, estagnada e sem margem de progressão.
Certamente, aqueles que deixaram de ter esses lampejos de optimismo nas suas Vidas, caíram em depressão e tentam agora resgatar essa visão encantatória entretanto perdida e reerguer-se. Por isso, não há desculpas que justifiquem a nossa inércia pessoal. Nem nos apercebemos, o quão importante é a preservação dessa nossa crença na Vida, ainda que esta apenas se revele em certas ocasiões.
Nossas acções têm interesse, Nossas opções têm interesse, Nossas percepções têm interesse, Nossas iniciativas têm interesse, Nossas recações têm interesse, Nossas interacções têm interesse, Nossas participações têm interesse, Nossas missões têm interesse, Nossa palavra tem interesse, Nós temos interesse, Nossas Vidas têm interesse. Fundamental mesmo, é atribuírmo-nos importância, para tornar tudo aquilo onde decidimos aplicar nossas energias, em algo com sentido e com preponderância. Para aquilo que é suposto fazer não faltam candidatos. Por vezes, é necessário contrariar o sono e acordar da dormência que nos arrasta de um lado para o outro, sem sequer sabermos porque o fazemos continuadamente sem questionar. Nada acontece. Tudo parece igual. Tudo se mantém na mesma. Até as nossas queixas são as mesmas.
Todos temos um período nas nossas Vidas de saturação, de descrença, de inconformação, de negação, de discordância, de revolta, que não deve ser encarado como o peso que nos coube carregar, mas como um sinal de mudança, um novo fôlego, uma nova viragem, o despontar de novas emoções que nos devolvam a paixão pela Vida, o prazer de viver.
As falhas estão na nossa cabeça, as inseguranção são geradas por nós, os medos são alimentados pelas nossas inseguranças, não há obstáculos intransponíveis, há sempre uma saída gloriosa, tentar de novo é falhar melhor, comandar a nossa a Vida sem titubear, afirmando sempre a nossa vontade de seguir em frente e construir uma Vida Melhor renova-nos.
O importante é não olharmos para as dificuldades como monstros gigantes de difícil aniquilação, nem travestirmos os nossos medos sob a forma de incertezas irresolúveis. Quando eramos bébés algo nos fez evoluir do gatinhar para o caminhar. A persistência, a vontade, a transposição do medo, estímulos externos, vontade própria, iniciativa, impulsionaram os nossos movimentos.
Viver implica descobrir-nos a nós mesmos e colocarmo-nos à prova.



   


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Gente Tóxica


Pessoas Tóxicas pululam por aí. Elas manifestam-se nos meios mais comuns, emprego, família, no círculo de amigos, na igreja, nos transportes públicos, em toda a parte. Acham-se donas daquele lugar ou daquele círculo fechado e intitulam-se pessoas de bom trato. Quando, na verdade, o que acontece é que a sua presença resulta nefasta. São espaçosas, intrometidas, inconvenientes, sem educação, salientes, indiscretas, sem formação cívica, invejosas, cheias de queixumes, desdenham de tudo, vigiam os passos dos outros, comentam a Vida de qualquer um, falam do que não sabem, estão sempre atentas aos deslizes dos outros, querem usufruir do mesmo que tu só para se sentirem tanto ou mais que tu, são dissimuladas, quando confrontadas fazem-se de inocentes e instigam sempre à comparação. A descrição seria interminável e demasiado biográfica. São pessoas castigadoras e capazes de nos levar à ruína mental. Fazem vénias áqueles de quem precisam. Mostram-se muito dignas perante eles e agem de forma a não transparecer sua essência podre e vir a ser desmascarados.
Este é só um dos géneros de pessoas carregadas de toxicidade. Outros há com "especial encanto" destrutivo.
Conselhos para lidar com essas pessoas, não há muitos, eles são escassos perante a crescente propagação destas figuras terrenas, que adoram exilar-se no nosso meio.
Ignorá-las é a solução mais adequada para estes casos sem possibilidade de emenda. Como se isso fosse algo fácil de executar. Mas na verdade o seu maior castigo é fazer delas zeros à esquerda, seres invisíveis, seres menores, criaturas que apenas ocupam espaços vagos e sem grande interesse. Deixar que elas ocupem seu tempo com miudezas e insignificâncias, enquanto tu te ocupas da tua felicidade e da tua realização pessoal dá-te imunidade. Este tipo de pessoas não tem horizontes nem vontade de mudar. Acreditam ser o Melhor que há no Mercado e não entendem porque é que há quem não acredite no seu valor e prefira rejeitar a compra. Todos aqueles que recusam interagir com elas são pessoas estranhas e maus feitios. Elas sim têm bom feitio. Aliás já não existe molde igual. Autênticas raridades. Provavelmente, soará estranho mas as pessoas de quem falo não querem mal a ninguém mas também não querem bem.
Invocam Deus a todo o momento, quando não conseguem esgrimir bons argumentos para contra argumentar. "Deus é testemunha (...)", "Oh Meu Deus (...)", "Louvado seja Deus (...)", "Deus é Pai (...)" e se continuar, vão te convencer que são mais puros que crianças inocentes e indefesas.
De carrascos passam a vítimas, gerando uma corrente de consoladores, comovidos pelo seu falso desempenho de pessoas frágeis e cheias de inocência.
Cheguei a querer saber rezar para rogar por elas e defendê-las do mal. Até eu cheguei a ser atingida pela cegueira e encarei que fossem capazes de actos bons e nobres.
São também hábeis a fantasiar a realidade, para se enaltecer a si e à sua trupe. Adoram causar impacto e tudo serve para ser exibido como badalo, até mesmo as mais variadas banalidades do Mundo dos Vivos.
Quem se cruzar no seu caminho é atingido pelo seu veneno tóxico, que pode ser destilado quer, através de um olhar reprovador, de um comentário infeliz, de demonstrações falsas e dissimuladas, de cochichos venenosos, quer através da carga negativa que emanam.
Se deixares, elas orientam a tua Vida, aconselham, sugerem e mesmo depois de acatares toda a sua falsa boa vontade e corresponderes a todas as suas instruções, hão-de criticar negativamente teus actos. O problema dessas pessoas és tu. Tu és de um jeito que as faz sentir vulgares, mesmo que não seja essa a tua intenção. Quanto mais inatingível te mostras e menos atenção lhes dás, mais cresce a sua vontade em te abater.
Pode parecer um Vodu encomendado para ti, quando te vês rodeado por personagens como estas mas, na verdade, elas são apenas produto de um crescimento torpe. 




 

domingo, 7 de outubro de 2012

Cultivar o Amor


Homens e Mulheres andam desencontrados. Ambos não sabem mais o que procuram um no outro. Desconhecem qual o Modelo que os pode fazer felizes. Essa indefinição provoca desencontros e grandes vazios. Sabem que querem ter alguém do lado, de carne e osso, para abraçar, beijar, sentir, no entanto, aspiram encontrar alguém que reúna um conjunto de características improváveis em seres tão imperfeitos quanto nós. Não existem ideais. O que me parece é que a dificuldade em encontrar alguém para relacionamento sério, resulta da visão egoísta de felicidade que carregamos. Nós não somos os únicos a querer ser felizes. Os moldes por nós concebidos para sermos felizes não podem ser rígidos e inflexíveis ou geradores de barreiras intransponíveis e inultrapassáveis. Por alguma razão que eu desconheço, as pessoas deixaram de ser persistentes, empenhadas em construir algo consistente e duradouro, preferem encará-lo como perda de tempo e, na sua opinião, dedicação é sinónimo de desperdício, sabendo que existe um mundo de possibilidades por desbravar capaz de os entreter. O pensamento que mais se impõe no registo actual das relações é que nenhuma das partes quer abdicar em função de alguém, aliás, o mais grave de tudo isto é sentirem que a sua escolha em se entregar a alguém implica abdicação, sacrifícios, sarilhos, contrariações e por isso não vale a pena insistir em algo que vá exigir muito de nós e quebrar com as nossas rotinas. 
O encanto de uma relação está na cumplicidade que se vai construindo, na aceitação, na vontade que existe em estar junto, na capacidade desenvolvida para ultrapassar divergências, na criação de momentos únicos e especiais que sustentam a intimidade de um casal, não disputar razões, não disputar direitos nem deveres, não sobrepôrmo-nos um ao outro, reconhecer valor um no outro e admirarmo-nos mutúamente, amarmos quem somos e como somos, partilharmos a alegria e a dor, sermos verdadeiros um com o outro, respeitarmos opiniões contrárias e vontades próprias, não tentar mudar o outro para nosso próprio proveito, gozar da presença um do outro, dedicar atenção, não medir forças, saber pedir desculpa, reconhecer que estamos errados, confiar, criar oportunidades, não exagerar, não guardar mágoas, superar as adversidades, surpreender, mimar e deixar que esse amor cresça forte e vigoroso.
Todos temos expectativas relativamente a novos relacionamentos e não há nada de mal nisso, desde que tentemos perceber quais são as expectativas da outra parte e só um diálogo aberto permite aprofundar melhor e estabelecer uma boa base de entendimento entre ambos. Não temos que estar sempre de acordo um com o outro, gostar do mesmo, pensar da mesma forma em todas as situações, agir da mesma forma ou querer o mesmo, o importante é que saibamos o que sentimos um pelo outro e o significado que esse sentimento representa nas nossas Vidas e até que nível queremos estender esse sentimento.
Muitas vezes, as desilusões que acumulamos nas relações com o sexo oposto são alimentadas por nós mesmos e pela nossa ânsia de querer romances perfeitos ou baseados em fantasias de criança.
O factor descoberta, os jogos de palavras, os olhares demorados, os silêncios na despedida com a promessa de um próximo encontro, o arrepio na pele após o toque de mão na mão, os longos diálogos ao telefone que terminam na frase cliché "Sonha Comigo", faz-nos sentir especiais.
Afinal o que todos queremos é ser essa pessoa especial na Vida de alguém.   
  

sábado, 6 de outubro de 2012

Massa Grudenta


Quem inventou a pastilha elástica devia ser banido da face da terra. Não há goma açucarada e elástica mais inconveniente que essa. É grudenta, estala nos ouvidos e, na boca de alguns incautos "ruminantes", vira suplício. O seu aroma intenso provoca, nos mais sensíveis, dores de cabeça e muito mau estar. O cenário mais adorável  de todos acontece, quando num recinto silencioso e que apela à concentração, se ouve aquele som irritante e suicida da pastilha elástica embrulhada em saliva, que se enrosca nos dentes e coça as gengivas numa dança frenética que termina com a explosão de um balão de ar quente, que se repete até à exaustão. Não entendo porque proíbem o uso do telemóvel, máquinas fotográficas e demais gadgets, com o objectivo de não criar distrações e desviar atenções e , incompreensívelmente, não proíbem o uso da maldita pastilha elástica e seus inúmeros sabores. Menta, morango, melancia, limão, framboesa, tutti-frutti, melão, laranja, maçã, you name it. Todas elas prometem um duradouro hálito fresco mas esquecem-se de prevenir sobre as contra-indicações do seu uso recorrente. Vício que distrai a fome, controla a ansiedade, baixa a tensão mas não poupa aqueles que são obrigados a conviver com isso mesmo sem o desejarem. Ressonar e mascar pastilha elástica pertencem à mesma categoria de actos indesejáveis e desconcertantes. Há pessoas que ainda não entenderam que nem tudo vale a pena partilhar. Essas duas acções dispensam platéia.
Depois há os chamados malabaristas da pastilha elástica que ensaiam rebentamentos atrás de rebentamentos até serem surpreendidos com uma gigantesca explosão de lava elástica em suas caras de pessoas sem noção. Mas mesmo assim insistem em continuar. Nem essa pequena humilhação pública os faz demover. Os mais ousados esticam a pastilha elástica o mais que conseguem e enrolam-na no dedo indicador numa espiral que resvala num género de insanidade mental sem precedentes. Aposto que estas pessoas também mastigam de boca aberta, se engasgam sozinhas, enfiam o dedo na boca para desatarrachar a carne entranhada no dente e no final,  para concluírem apoteóticamente, chupam o dedo húmido demoradamente, esquecendo-se que existem outros recursos que priveligiam a discrição e sobretudo a boa educação. Seus actos são desmedidos e sempre irreflectidos.
Depois de cansados de massacrar os dentes e os maxilares com tanta mascação, jogam sem piedade a pastilha elástica na calçada deixando marca da sua má criação.
Quem nunca foi brindado com um carimbo de pastilha elástica no sapato? Pior que cócó de cachorro. Não desgruda. 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

"Faixa de Gaja"


Se eu não fosse Mulher, seria certamente um Homem perdido na sua identidade sexual. Nasci para Ser Mulher e ajo como tal e às vezes devo confessar que me aterroriza um pouco, esses meus ímpetos femininos, que não disfarçam quem sou. Há característcas nas Mulheres que não gosto mas que eu própria reencarno e isso deixa-me mais assustada ainda. Vaidade é uma delas. Sim gosto de sobressair através dos meus trapos, que batalham por um espaço digno no meu depósito de fantasias de Mulher saliente. Bem sei que não são eles que me dão a consistência de que preciso, mas ajudam a elevar a minha auto-estima feminina. Adoro uma perna alongada por um salto alto, que termina num queixo içado de confiança e num sorriso rejubilante. Para mim cara lavada significa blush, eye-liner, sombra nos olhos e um batôn que aumente o volume dos meus lábios. Sem esses pós e brilhos sinto-me um pão sem sal. Decotes profundos já não são do meu agrado nem "faixas de gaja" (mini-saias ou vestidos reduzidos). Já os experimentei mas o incómodo é grande e, aliás,  nunca achei que me assentassem. Minhas medidas são, digamos, demasiado pronunciadas e anti tecidos demasiado aderentes.
Desabafar tudo aquilo que inunda a minha alma é provavelmente a característica que melhor evidencia a minha génese feminina. Não somos boas a medir as consequências dos nossos desabafos. Eles são mais repentinos e tão oportunos quanto arrotos sonoros.
Outra característica que não seduz e que eu partilho com tantas outras Mulheres é ter a capacidade de mudar o ambiente de bom para mau em instantes. Nosso humor é mais frágil que uma pétala de rosa. Absorve tudo o que o rodeia e atribui-lhe enorme significado. Nada nos é indiferente.
Não sei simplificar nem relativizar.
Mais estranho ainda é darmos importância a pressentimentos que aparecem sem fundamento. Quando eles surgem, activamos nossos alertas e desconfiamos do que é garantido.
Imprevisíveis sempre. 
Incrível é quando convencemos os outros da nossa insegurança na tomada de decisões, que nós já idealizamos na nossa cabeça e tudo iremos fazer para as concretizar, apesar de divertirmo-nos a ouvir terceiras opiniões.
O universo masculino desespera por nos entender e é esse enigma que adoramos criar e que nos torna ainda mais irresistíveis.
   

domingo, 12 de agosto de 2012

Um "Abre Olhos"



Querida Amiga Verdadeira. Amiga de longos Invernos e Verões apressados, que deixam saudades. A Ti, dedico estas minhas palavras, que creio ajudarem a quebrar a distância física que impede de estarmos juntas tantas vezes quantas aquelas que achamos que merecemos. Tenho tanto para te contar, mas não sei por onde começar. Se adotar o critério da prioridade, então minha tarefa fica difícil de ser superada, pois todos esses acontecimentos exercem influência na minha Vida e cada um assume uma importância particular. Desde que me abandonaste para cuidar da tua Felicidade, algo que eu entendi perfeitamente apesar de me entregares à solidão, acabou por se tornar num factor sorte. Se bem que a tua presença alegraria ainda mais os meus dias e fomentaria ainda mais a minha Felicidade. Não sei se estás preparada para assimilar tudo aquilo que tenho para te revelar, por isso recomendo que reserves a leitura desta minha carta para uma altura de maior disponibilidade, pois vais precisar de dispôr de todos os teus sentidos. Lembras-te da promessa que eu tinha feito quando me despedi de ti à três anos atrás, lavada em lágrimas de despedida? Lembras pois. Ainda outro dia mencionaste-o e eu, propositadamente, desviei o assunto apesar de, naquele momento, ter algo para desenvolver sobre isso. Só que preferi arrastar por mais algum tempo as novidades. Até me admirou não insistires. Se calhar se tivesses insistido eu teria desbobinado tudo e arrematado o assunto. Não sou Mulher de curtas metragens. Sempre gostei de prolongar um pouco mais. Os resumos tiram toda a criatividade e graça aos episódios. Marca bem este dia na tua agenda pois será um dia memorável para ambas. Finalmente vou desabafar o que tenho entalado e tu vais usufruir dessa revelação e partilhar dos mesmos sentimentos. Dá-me só tempo de servir-me de um copo de martini rosso, para aguentar toda a intensidade do momento. És servida? Não gosto de pecar sozinha. Serve-te à vontade.
Foi tudo muito repentino, mágico e revelador. Uma Nova Realidade se impôs. Aliás, não se tratou de uma nova realidade mas da mesma Realidade, só que vista de outro ângulo.  Descobri que era Feliz e não sabia. Finalmente saí do coma paralisante que me retirou a lucidez e descobri que tinha conquistado a Felicidade. Só precisava dar-lhe maior apreço. Algo me tinha impedido de ver a Realidade diante de mim. Quando fiz a promessa de ser feliz desconhecia que já o era. Pelos vistos, também tu querida Amiga já o sabias só eu é que vivia na ignorância. Estupidamente insistia em ver a Minha Vida através das lentes daqueles que só sabem desdenhar e apontar. Um beliscão me fez acordar e colar todos os retalhos da minha Vida num grandioso smile que eu decidi partilhar contigo Minha Grande e Eterna Amiga, que nunca desistiu da Nossa Amizade.
Eu que pensava ter pouco do que me orgulhar, por não ter uma Vida exuberante em sucessos que me distinguissem dos demais. O que nos deve verdadeiramente distinguir são as nossas atitudes, o nosso coração, a nossa bondade, a nossa sensibilidade, os nossos valores, as pessoas que conquistamos, aquilo que transmitimos e tudo aquilo que geramos. É Disso que nos devemos orgulhar. O resto são meros acessórios que só nos sabem distrair do mais importante.


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Não é a Minha Vez


Duas pessoas largadas numa sala impessoal, sem cor, fria e metálica. Uma secretária ocupada por um ser sem alma e sem ambição, treinado a obedecer sem questionar. Um telefone que estremecia sem parar e uma voz fanhosa a conduzir um diálogo programado com perguntas e respostas. Numa mesa de verga jaziam revistas da devassa alheia, com toda a variedade de escândalos da actualidade. A demora fez-me preferir o meu livro de bolso do momento "O que me trouxe aqui?". Uma questão que ecoava na minha cabeça sem cessar e tão pertinente naquele momento. Afinal o que estava eu ali a fazer. Assim que entrei naquela sala comecei a hiperventilar e a minha ansiedade dominou-me por completo. Nas mãos agarrava a minha sorte ou falta dela. Aquele tempo de espera podia estar a ser desperdiçado, caso não esteja em maré de sorte. Diante do carrasco vivo de cabelo loiro platinado que não poupava na pastilha elástica, barricados naquele buraco sem janelas e pejado de fendas, tantas quantas as vidas que por ali passaram e não vingaram, aguardavamos estóicamente a nossa vez.
Finalmente, a vasta grinalda dourada se lembrou de mim e me acompanhou até ele, o porta-voz das boas e más notícias. Diante de mim um Homem corpulento, impassível, frio, distante, de voz abafada pelo excesso de maus vícios, que descobri ter família, filhos e netos, pela coleção de retratos que formavam uma pequena exposição de parede. Então pensei que talvez aquele homem pudesse ter sentimentos e não ser tão bruto assim. Quando o panorama não se apresenta auspicioso, tendemos a agarrar-nos a ínfimos pormenores que nos devolvam esperança.
Eu e a minha boa educação, que parece não desarmar a todos, entramos em campo, prontas para tudo. Preferi ficar de pé apesar da insistência para que me sentasse. Afinal a resposta a todas as minhas dúvidas demoraria segundos e eu não podia perder mais tempo. Vestido de bata branca e armado em Mestre do Suspense, Venceslau Bogas, de seu nome, desferiu suas palavras à queima roupa e nem se preocupou em saber se tinha trazido meu colete à prova de duros golpes. Atordoada digeri tudo no momento, suspirei de alívio, agradeci e fugi dali para nunca mais voltar. Aquele nao era o meu habitat. Precisava desembaraçar-me daquele cheiro bafiento e voltar a cultivar a minha vontade de viver, até ali sustenida por exames e mais exames de despistagem, como se eu fosse uma cobaia em missão.
Resisti e sinto-me mais forte que nunca pela oportunidade que me foi dada e por saber que não chegou a Minha Vez. Não era suposto. Quando chegar a minha vez prefiro que ma anunciem ao som das quatro estações de Vivaldi na máxima potência e eu esteja confortavelmente deitada num cadeirão de pele, voltada para uma barreira de vidro que reflecte bonitas paisagens com cheiro de mar.  

Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...