Escrita livre que, convida a pensar e sentir. Com a Escrita, empreendo fugas oportunas. Atribuo interesse aquilo que parece não ter interesse nenhum. Entendo que, a genialidade é mesmo essa. A Escrita Gourmet tem o seu próprio paladar mas, nem todos o saberão entender. Provavelmente, só os espíritos mais sensíveis encontrarão afinidades, semelhanças, identificação, emoções, realidades diversas, meio mundo, todo o mundo. Encontrarão aquilo que, a disponibilidade dos seus espíritos permitir.
segunda-feira, 19 de abril de 2021
Duas Buchas de Pão
quinta-feira, 25 de março de 2021
A Fava da Sorte
Adora, ver-me agitada.
Está cansado de saber, que bonecas, são as criaturas mudas, com as quais costumava brincar e que agora decoram a minha cama. Riza e Zafi. As minhas irmãs mais novas, de plástico reciclado.
Meu Nome é Anita Soares Melo! – disse-lhe eu, em tom altivo.
A tentar mostrar que sou muito adulta para a minha idade.
Desculpa, boneca Anita! – repetia ele, em tom trocista.
Naquele instante e, sem querer, borrifei o vestido com os restos das gargalhadas, que não consegui conter.
Só a avó Zinda, o conseguia fazer parar com aquela cantiga repetida.
Jaime, deixa a menina em paz!
Tão adoráveis, aqueles dois
Sempre juntos e em sintonia.
Segui-os, sem que eles se apercebessem.
Olhem que, não é fácil acompanhar o passo da minha avó Zinda.
Bate todos os recordes de velocidade.
Nunca se cansa.
Apesar de não ser tão rápida, tenho o ouvido bem apurado e consegui escutar a avó dizer, em surdina, ao avô Jaime, que íamos ter uma visita.
Eh pá, visitas! – exclamei eu baixinho, em tom entusiasmado.
Será que as visitas gostam de favas? - Pensei eu.
Eu consigo sobreviver às favas, mas continuo sem as adorar.
Muito provavelmente, deve ser alguém que gosta muito de favas. A avó faz sempre o prato favorito das visitas.
Não conheço ninguém da minha idade que goste de favas. Nem o Romeu, o maior glutão da escola, as suporta.
Mas, quem será?
A Bina e o Tião estão para a França. Foram visitar o neto recém-nascido.
Só regressam no final da primavera. A avó Zinda, até se ofereceu para cuidar da horta deles, na sua ausência.
Eu bem digo. Não se cansa.
Pelo menos, já sei que não são os vizinhos dos avós.
Afinal, quem será a visita mistério?
Anita, podes chegar aqui? – pediu a avó.
Meu coração disparou. A avó não sabe reclamar a minha presença. Ela só sabe ordenar. O que me deixou muito intrigada.
Dobrei os corredores estreitos, tropecei no caminho, levantei sem dor e continuei, até chegar, finalmente à cozinha e ver a avó Zinda, para meu espanto, sem avental, cabelo arranjado, vestida de azul céu, saia e casaco a combinar, com os brincos de filigrana deixados pela biza Bernardete e um sorriso de orelha a orelha. A seu lado, o avô Jaime, no fato das ocasiões especiais, de lenço na mão, a enxaguar as lágrimas, que lhe escorriam pela cara sorridente.
Onde vão sem mim? – perguntei eu, em tom curioso.
Hoje nem é dia de missa? – pensei eu.
Vamos! – decidiu o avô Jaime, todo catita.
E a visita? – disse eu, interrogativamente.
Nem fizeram caso da minha curiosidade. A avó Zinda, apressou-se a vestir-me o vestido dos ananases. Arrastou as franjas do meu cabelo para trás, sacudiu o meu vestido para não ganhar rugas e num puxão, tirou-me dali e me levou junto.
Enquanto isso, o avô Jaime tenta acompanhar nosso ritmo.
Lá em baixo, o Sr. Gaspar aguarda, encostado ao seu imaculado táxi, preto e verde.
Eu e a avó ocupamos os lugares de trás, enquanto o avô Jaime, juntou-se ao Sr. Gaspar, numa animada conversa sobre futebol.
As nossas mãos continuavam grudadas e eu ansiosa por saber que mistério é este.
A avó pede ao Sr. Gaspar para abrandar e indica-lhe onde tem de parar.
Ao longe, vejo um cartaz onde se lê Apresentação do livro de receitas caseiras da avó Zinda, na livraria Bairro, esta quinta-feira pelas 17h.
No fim, todos aplaudiram e quiseram saber mais detalhes e truques para as receitas resultarem tão perfeitas e saborosas. Não largavam a minha avó, com perguntas e mais perguntas. Se não fosse a Doutora Rute a dar uma ajudinha, não sairíamos dali tão cedo.
Eu e o avô Jaime assistíamos a tudo com muito encanto.
De regresso, estava o Sr. Gaspar para nos dar boleia de volta a casa. Só que em vez de três passageiros, desta vez, eramos quatro. Afinal, a Doutora Rute, é a tal visita especial.
Não me contive e aproveitei a ocasião para perguntar - A Doutora gosta de favas?
Gargalhada geral. E eu, sem nada perceber.
Sim, adoro. É um dos meus feijões favoritos – diz ela, satisfazendo a minha curiosidade.
Chegados a casa, a avó tratou de ir preparar o jantar, o avô regar o jardim, enquanto eu e a Doutora Rute, ganhávamos amizade.
Quis saber tudo. Como é que a avó a conheceu e como isso levou à publicação do livro de receitas.
Fiquei a saber que a culpa é das favas.
Tudo aconteceu, no ano passado, quando o avô Jaime foi operado e, todos os dias, a avó ia dar-lhe o almoço e, já se sabe, a comida do hospital apesar de não ser má, não tem aquele gostinho de casa.
Certo dia, encontrou-o adormecido e já com o almoço comido. Tinha chegado um pouco mais tarde. As obras na rua do Império fizeram-na atrasar-se. Bem insistiu com o Sr. Gaspar para furar a fila de trânsito, mas ele não quis arriscar comprometer a segurança de ambos e prejudicar os outros automobilistas, que aguardavam na fila.
Na cama ao lado, estava o Sr. Pepe e junto a ele, a sua filha Rute, que tal como a avó, não falhava uma visita. Vendo-a esbaforida de saco na mão, a tentar recuperar fôlego, prestou-se a ajudar. A simpatia da jovem mulher conquistou a minha avó que, sem hesitar, lhe estendeu o arroz de favas, ainda quente, para ambos provarem. Rute nem teve hipótese de rejeitar. Quando o ia a fazer, já ela tinha colocado num prato meia dose de arroz. Minha avó é um despacho.
Vai ver que, o meu tempero tem efeitos curativos – gracejou a avó.
Não estava muito longe da verdade. Dois dias depois, o Sr. Pepe e o avô Jaime tiveram alta hospitalar e regressaram a casa.
Certo é que, as favas da minha avó devem ser mágicas.
Aproximaram-nas e ajudaram a mostrar o dom da minha avó.
Agora percebi que, a Rute, afinal é a Doutora Rute, responsável pela publicação do livro de receitas da minha avó Zinda.
Na ocasião, pensou que ia apenas ensinar a receita das favas às amigas da Doutora Rute. Só que, a ideia ganhou outra dimensão.
Enquanto eu estava na escola, Rute foi lá casa, inúmeras vezes, falar com a avó Zinda, para reescrever as receitas que ela apenas sabia de memória, filmar um vídeo, com a nossa cozinha como pano de fundo e a avó como protagonista, mostrar-lhe o passo a passo da edição do livro, entre outras afinações. E, eu, sem nada saber.
A conversa estava tão descontraída e fluida, que até esqueci, de ajudar a pôr a mesa para o jantar. O Avô Jaime, fê-lo por mim.
Para a mesa! – ordena a avó, com a terrina de arroz fumegante nas mãos.
Só eu insistia em tratá-la por Rute, apesar da avó não gostar muito e me lançar uns olhares de reprovação.
Para ela, Rute será sempre a Doutora Rute. Somente, porque tem mais estudos que todos nós.
Mal provei o arroz de favas. Estava tão curiosa em participar da conversa, que nem sentia fome.
Vá, Anita, deixa a Doutora Rute comer à vontade – reagiu a avó, em modo impaciente.
Obedeci e desculpei-me. Afinal, eu estava a desviar as atenções dela. Até parecia que, a Doutora Rute era a homenageada.
A avó não estava importada com isso. O que a preocupava era a quantidade de arroz por comer e o arrefecimento da comida.
Palavras, não enchem barriga! - rematou a avó
Na despedida, Rute deixou duas caixas de exemplares para distribuir por familiares e amigos.
A avó reservou alguns, para oferecer às amigas e vizinhas. Os restantes, ficaram para mim.
Não perdi tempo e tratei logo de pedir ao avô Jaime que me ajudasse a levar os exemplares para a escola no dia seguinte.
No intervalo, falei com a Professora Benedita, que me deu autorização para os distribuir pelas turmas todas.
O Romeu implicou com a receita de favas.
Ughh!!!! – manifestou com desagrado.
Felizmente, nem todos estavam de acordo e o livro é composto por cem receitas.
Vai à página noventa e cinco. Encontras receitas de sobremesas com chocolate fixes, que te vão agradar – disse-lhe eu, na tentativa de o desviar da imagem das favas.
O intervalo foi curto, para ouvir todas as reações. Porém, deu para perceber que a maioria delas, senão todas, foram positivas. Excluí a do Romeu. Não se pode dizer que foi uma reação negativa. Nem todos podemos gostar de arroz de favas, nem essa é a única especialidade da minha avó.
A receita de favas foi o mote do livro, isto porque, foi através delas que a Doutora Rute e a minha avó se conheceram. Algo que, não se pode ignorar.
No meu caso, adoro tudo o que a minha avó faz. Tem cheiro e sabor de amor.
Já me quiseram até roubar o lanche.
Uma mordidela bem marcada na mão invasora do Mauro, custou-me dois castigos. Um na escola, outro em casa.
Pelo menos, ficou a saber que da próxima terá de pedir. É feio pegar no que é dos outros à força. Mas disso, nem a minha avó, nem a direção da escola, quiseram saber. Aplicaram-me na mesma o castigo.
O avô Jaime, ainda tentou que eu não fosse castigada, mas de nada adiantou.
Durante um mês, não pude ver, nem tratar da minha Dizzy.
Dizzy é a ovelha bebé, que eu adotei e me acompanha para todo o lado. Nesses dias que estive ausente, ela sentiu muito a minha falta. Cheguei a culpar a minha avó, pelo estado da bichinha. Chorei baba e ranho. Deixei de comer. Isso, afligiu-a. Chegou a fazer a minha sobremesa favorita, com a intenção de me alegrar. Nem assim, me alegrou.
Mal terminou o castigo, voltou a fazer a sobremesa que eu mais adoro e, aí sim, devorei tudo. Até a Dizzy gostou.
Que alívio deve ter sido para a avó, ver-me novamente com apetite.
Para ela, fastio é doença.
Chegou a medir-me a febre. Suspeitou que estivesse a chocar uma gripe.
Era mesmo tristeza, por não cuidar da minha lãzuda Dizzy.
A Professora Benedita estranhou a minha apatia e chegou a perguntar-me se estava doente.
Estranhamente, o Mauro também veio pedir-me desculpas e oferecer-me um rebuçado de morango. Aceitei as desculpas e rejeitei a oferta.
Ele, pareceu entender.
Felizmente, os dias menos bons deram lugar a dias melhores.
A Primavera está a chegar e com ela o meu décimo aniversário. A Rute prometeu fazer-me uma visita.
As minhas amigas andam intrigadas com a Rute. Só falo bem dela.
Terão oportunidade de a conhecer na minha festa de anos.
Anita, já fizeste os deveres? – interrompe a avó.
Seus poderes de adivinhação são mágicos.
Perdi-me a rever os acontecimentos mais recentes e esqueci de fazer a composição sobre o Meio Ambiente.
Se calhar vou falar da minha mé mé e da importância da preservação do ecossistema, para que os animais como a Dizzy, continuem vivos e haja equilíbrio ambiental.
Devo agradecer ao meu tio Rui, este amor pelos animais e pela natureza. De acordo com as suas palavras, ambos resultam numa harmonia que devemos estimar.
O Tio Rui não é visita regular cá em casa, mas quando cá vem, a avó rejubila de felicidade e seu humor melhora muito.
É, sem dúvida, uma presença especial.
Estes dias, disse que ia regressar de vez. Fez-me prometer que não contaria nada à avó. Seria uma surpresa.
Por pouco deitei tudo a perder. Consegui abafar a tempo o guincho de felicidade e impedir que a avó desconfiasse.
Ela não vai caber de contente.
Tenho esperança, que ele esteja presente na minha festa de anos. A família é pequena e a ausência de um de nós faz a diferença.
Meus papás só estão comigo aos finais de semana. Quer dizer, falamo-nos todos os dias via zoom, mas é no final de semana que convivemos juntos. O trabalho, aqui na aldeia, não abunda e um dia, eu também vou ter que abalar. Não sei se conseguirei me afastar da Dizzy.
Nem quero pensar nisso. Entristece-me.
O meu aniversário está a chegar.
As férias de Verão estão a caminho.
A tão aguardada semana no campo de férias com os amigos da escola, vai acontecer.
Os passeios e piqueniques com a família junta, fazem parte do programa das férias.
Este ano, sou finalista.
A Professora Benedita comentou na sala de aula que, estão a preparar uma festa para os finalistas, com muitas surpresas.
Ainda nem me despedi dos amigos e da escola e já sinto, uma ligeira saudade do que vivemos aqui.
Vai ser um dia de muitas emoções.
No próximo ano, a minha escola será outra.
Será bem maior e com mais alunos.
Espero não precisar de mapa, para me orientar dentro da escola.
É muita ansiedade, pensar em tudo aquilo que está para acontecer, em breve.
A campainha soou e o nosso cão Nixa acordou em sobressalto. Era o carteiro. Olhei pela janela do quarto e vi a avó com uma encomenda na mão. Desci as escadas a correr, curiosa. Até o Nixa teve que se desviar, num instinto.
- Vó, para quem é essa encomenda? – quis saber, sem disfarçar toda a minha curiosidade.
Abre, é para ti! – responde a avó, com satisfação.
Para mim? Hoje, nem sequer é o meu aniversário - disse eu, enquanto tentava abrir a caixa de cartão.
A avó parecia impaciente.
Finalmente, consegui abrir e vislumbrei uma gola gigantesca. Logo ali, percebi que o dia da comunhão ia acontecer, mesmo sem fazer tanta questão assim.
A avó nem me deixou ver o vestido com pormenor. Enfiou-mo na cabeça e estendeu-o até aos meus pés e ainda, afinou a minha cintura com o cinto de cetim, a apertar-me a barriga. Mal conseguia respirar.
A seguir, ia ser a prova dos sapatos. A maldição para os meus pés.
E por fim, as tranças no cabelo.
O seu entusiasmo, por me ver assim e, principalmente, por saber que ia dar continuidade aos princípios cristãos da nossa família, serenaram a minha insatisfação.
O Amor, por ela e pelo avô, valem todos os sacrifícios.
O Padre Alécio já está velhinho e, por vezes, adormece nas leituras do evangelho. Numa das missas, chegou a ressonar. A gargalhada geral fê-lo acordar.
O avô Jaime foge, sempre que pode, à missa de domingo. A avó até já deixou de insistir.
A mim, já me basta a catequese aos sábados de manhã e agora, a preparação para a comunhão solene.
Desembaracei-me do vestido e dos sapatos e fui apanhar sol para o alpendre, enquanto a avó preparava o almoço. Já lá estava o avô, a descascar as favas. Ofereci-me para ajudar. Minhas mãos sempre são mais ágeis.
Entretanto, fomos almoçar. A Avó chamou para a mesa. Até o Nixa e a Dizzy se queriam juntar, mas foi-lhes barrada a passagem.
O almoço foi rápido.
A mãe da Rita estava à minha espera, para nos levar à escola.
A Professora Benedita pediu ajuda, para os preparativos da festa de finalistas. Nem pensei se contaria para a nota final. Só queria ajudar.
Quando chegamos, encontrámo-la junto a uma pilha de livros novos e de caneta na mão.
Assim que me avistou, chamou-me à parte e pediu que me sentasse na secretária em frente e aguardasse um pouco.
Ainda tentei desviar o olhar e fingir não estar interessada, mas parecia um desafio impossível.
Treinei a minha paciência, fazendo contas de cabeça e foi, nesse instante, que ela se abeirou de mim e me estendeu um livro dourado com letras pretas e lombada quadrada.
Afinal, tinha vindo para ajudar ou para treinar a leitura?
É para ti, Anita – disse ela, gentilmente.
Corei de felicidade.
A minha curiosidade fez quebrar todas as regras da boa educação e num impulso, peguei no livro. Na capa lia-se a Princesa Descalça.
Dentro, tinha uma dedicatória.
Dizia, "Queria Anita, escolhi este livro, propositadamente, para ti. Fala de uma menina princesa, muito parecida contigo. Princesa, na bondade, na amabilidade, nos bons modos, na beleza. Descalça, em representação do teu movimento e pensamento livre. Tão característicos da tua personalidade.
Tenho a certeza, que serás um orgulho para a tua Família e para mim, que tive a felicidade de te conhecer.
Sempre que quiseres podes vir visitar-me.
Tens os meus contatos, para irmos conversando.
Tens em ti todos os sonhos do Mundo".
Levei a mão ao bolso das calças, à procura do lenço. Quis impedir que as lágrimas caíssem em cima do livro novo. Em vez disso, senti algo redondo e espalmado e, para minha surpresa, descobri ser a fava que esquecera, no bolso das calças. Decidi guardá-la porque me pareceu tão diferente das outras. Encantei-me por ela e agora, vou adotá-la como a minha fava da sorte. Seus efeitos são especiais.
quinta-feira, 4 de março de 2021
8 de Março
As Mulheres nasceram preparadas e dão-se ao luxo de escolher as suas implicâncias / Interesses.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2021
Foster Buddy
Fosterrrrrr, gritei desesperadamente. Nem um som. Aproximei-me, vagarosamente, com receio do choque da confirmação da perda. Afaguei o seu pêlo farto e senti seu batimento e não me pareceu um batimento de despedida. Queres ver que o sacana do bicho está a teatralizar sua morte? Continua imóvel e de olhos fechados, determinado a prolongar sua farsa shakespeariana e fazer-me enlouquecer de dor.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021
Bolo de Chocolate
Queres estar aqui, por mais algum tempo?
Porque é que nos negamos a ser felizes? Agimos como se não fossemos merecedores dessa felicidade. Acredito até que, esta é uma característica bem portuguesa. Humildemente renunciamos. É má educação aceitar uma oferta, ainda que seja genuína e desinteressada. Apesar de, tão somente, se tratar de um ato de gentileza e acolhimento. Fomos formatados desta forma e transferimo-la para outros quadrantes da nossa Vida, como se fosse de mau tom ou egoísmo aceitarmos viver alguns momentos de felicidade, despreocupadamente.
Ser feliz pode ofender os outros, portanto, é bom que escondas esse teu estado, para que os outros não se sintam fragilizados e insistam na tónica que, a Vida é injusta e desigual. Do género, não és merecedor dessa fatia de bolo, acabadinho de fazer, ainda por cima de chocolate, que tu tanto gostas e que, tão generosamente te querem oferecer, só porque, pode soar a um aproveitamento da tua parte, quando nem sequer pediste, nem deste a entender os teus desejos mais gulosos. Para merecer tens de sofrer. Porquê? Que regra absurda e ancestral é essa.
A felicidade representa esse bolo de chocolate que, te faz salivar, mas para o qual não te achas merecedor, por achares que é demasiado para ti. Quando, certamente, a tua agradável presença justifica a oferta dessa fatia de bolo. Há ações nossas que, não sendo visíveis, são grandiosas e que atraem boas energias e o resultado disso é a felicidade que, tu queres rejeitar porque não encontras nada em ti que justifique essa atração repentina.
Preferes invocar a culpa, a usufruir de algo, do qual não te achas digno por receio de estares a quebrar algum padrão. Não quebraste nenhum padrão, nem a felicidade está a saldo. Apenas estás no caminho certo.
A felicidade não é uma coincidência. A felicidade não vem por engano. A felicidade conquista-se e, apesar de não encontrares algo visível e tangível para justificar essa conquista, não quer dizer que esse algo não exista. Movimentaste-te no sentido certo.
Essa fatia de bolo de chocolate quente e fofo é tua. Aceita-a como sinal de agradecimento e merecimento.
A felicidade é simples assim. Se te apercebeste dessa simplicidade e a soubeste apreciar, então, já lhe atribuíste todo o significado.
Não há esquemas. Não há truques. Não há fantasias. Não descende da família dos bonificados. Não tem conta aberta nas redes sociais. Não se expõe facilmente, nem aleatoriamente. É mestre em provocar boas sensações e deixar um rasto de saudade. É titular dos melhores momentos. É a música que acompanhou e deu ritmo aquele ou aqueles momentos especiais. É o toque suave de uma brisa que nos beija e afaga. É o que adoça e deixa presença nas nossas papilas gustativas e nos dá vontade de querer mais. É a risada em cadeia que prolonga a boa disposição e intriga quem passa. É tudo isso e muito mais que não devemos rejeitar.
Ela adora surpreender os desprevenidos e confirmar seus efeitos. Sem apavorar, altera nossos batimentos cardíacos, numa frequência musical que convida a dançar, cantar, assobiar e amar.
Facilita a sua chegada. Mostra que estás disponível para a receber e ela regressará.
Habituados a esperar o pior, banalizamos o melhor e deixamo-la escapar, cumprindo uma dinâmica, muitas vezes, masoquista de achar que é bom demais para ser verdade.
O que por vezes também acontece é, não perceber a sua chegada, nem o seu toque de midas. O seu caráter invisível mas eficaz, não está ao alcance de todas as sensibilidades.
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de Amor”
terça-feira, 27 de outubro de 2020
Sem filtros
Afinal, quem somos Nós?
Somos os despojos de uma sociedade, mergulhada na abundância que, se dá ao luxo de rejeitar aquilo que ainda tem bom aproveitamento. Para uns é considerado um desperdício, para outros, uma intervenção necessária para conquistar públicos diferenciados.
segunda-feira, 7 de setembro de 2020
A turma da Mónica
terça-feira, 9 de junho de 2020
Brigada dos Bimbos 2020
A entrada da ovelha dolly na emissão de abertura do programa, causou histeria e um desarranjo intestinal no animal que, ninguém foi capaz de limpar, nem mesmo depois das sucessivas advertências do mestre de cerimónias Cláudio Ramos.
Os figurões abraçam-se entusiasticamente, já antecipando uma união maçónica, ao estilo do "La Família". Os restantes foram criando empatias, entusiasmados com o fim do desconfinamento e a abertura a uma nova experiência.
Como seria de prever, depressa se formaram grupos e um consequente afastamento entre uns e outros e é com base nisso que, apoiam os seus fundamentos para nomear. No início, contidos e cautelosos e de repente, desabridos. Os impulsivos e mais reativos, afirmam seu temperamento. Os aviões não tardam em aparecer, enviados para soltar, ora mensagens de apoio, ora mensagens de descontentamento. É dessa maneira que, os residentes da casa vão tendo o feedback daqueles que os acompanham.
Ana Catarina, brasileira, militante do veganismo, da espiritualidade, meditação, e outras fontes de energia new age, estranha os comportamentos dos seus companheiros de casa e estes, por sua vez, estranham-na. Uma Mulher de causas que usa como estandartes e radicaliza seus fundamentos. Papo esse que irrita a todos, inclusive a mim que, encontro sempre incoerências nesses discursos radicais. É totalmente contra o consumo de carnes mas fuma, comprometendo a sua saúde e a dos outros. Nonsense.
Angélica, venezuelana, depressa tratou de marcar sua posição e fazer campanha negativa contra a doce e ingénua Soraia que, sem saber como, perdeu a amizade de Jessica. O que deve ter incomodado Angélica foi a ambiguidade amorosa de Soraia. Ora rendida a Hélder, ora rendida a Daniel Guerreiro.
Este último, aproveita-se da aproximação grudenta de Soraia para manter-se na casa e enrola-a com uma conversa lânguida, dando a entender que gosta dela mas com a ressalva de que veio com outro objetivo e enquanto permanecer na casa, vai desviar-se da seta do cupido. Parece-me que, quer ser reconhecido ao nível de Anthonny Robbins, palestrante motivacional que ajuda a mudar Vidas. Quer ser uma inspiração a nível mundial.
Seu xará, Daniel Monteiro, adota um perfil totalmente diferente. O que o outro tem no nome, este tem na maneira de estar. Pelo menos, é o que quer transmitir (guerreiro). Diz saber o que é viver num ambiente de guerra e ter espírito de missão e são essas, as suas maiores armas para convencer os demais que é um exemplo a seguir e um verdadeiro líder. Nunca se engana. Falhar é desumano e quem falha com ele leva logo castigo.
Diogo, o delicado. Aquele ar sereno e relaxado parece-me enganador. Observa mais do que fala. Isola-se. É um Ser Inquietante.
Que dizer da Iury. Ora Bem, Iury a mim não me convence. Parece daquelas bonecas de porcelana, delicadas e doces na frente mas, muito creepy nas costas. Boneca demoníaca.
Jéssica é a miúda que se serve das redes sociais para esconder o seu passado traumático. Carece de uma presença masculina e dita suas preferências sem rodeios e ai de quem, pisar seu território e pegar seu bode. Dá a entender que Mulher sem homem atrelado é menos Mulher.
O kamikase Heldér, é quase homem. É um palhaço que não sabe respeitar as diferenças, nem o espaço do outro. É inconveniente e convencido que é engraçado. Péssimo a seduzir. Para ele, a Mulher é igual a uma peça de carne desmaiada no gancho.
Noélia não tem um espírito jovem e descontraído, próprio das pessoas da sua idade. Acredito até que, não saiba o que fazer com tanto tempo livre, dentro da casa mais vigiada do país. Descansar e relaxar é para os desocupados. Não se permite viver o melhor da vida.
Pedro é o homem da fanfarra. Adora festas, amigos, bebida, os delegados e a sua Jesse.
Será que o clima de romance irá perdurar? Não me parece que Jessica se enquadre no estilo de Vida simples e acomodado do Pedro. Ela quer mais, muito mais.
Pedro tem uma visão muito estreita da Vida e, por isso, não compreende nem aceita pessoas como o Diogo, Ana Catarina, Slávia.
Sandrina, a benjamim da casa e quiçá a vencedora do BB2020, alegra a casa e afasta as suas inseguranças e ganha proximidade com todos. Principalmente com Iury que, a trata como sua irmã mais nova e a defende em todas as ocasiões.
Slávia não é uma presença forte na casa. Acho que nem ela sabe que lugar ocupa dentro da casa. Amiga para ali, ai Amiga, para acolá, assim se dirige a todas sem criar qualquer anticorpo com ninguém. Não se manifesta. Lida com todos da mesma forma. Sem interesse para o jogo. Para mim, seria uma candidata a sair.
Soraia, não existe. Parece uma dessas personagens das histórias de encantar, onde há fadas madrinhas, príncipes encantados e muito amor. Por vezes, chego a pensar que é uma tremenda sonsa, por se dar bem com todos, ouvir seus desabafos e concordar com todos eles, sem questionar. Até a sua forma de vestir provocadora indica imaturidade, desvalorização, necessidade de atenção e uma natureza indefesa. É facilmente engolida por espíritos fortes e mal intencionados.
Teresa, a última a chegar, veio agitar as águas. Provavelmente, a sogra que ninguém quer ter. Falta-lhe doçura. A doçura de uma Mãe, cuidadora, compreensiva e boa ouvinte. Não se apega a ninguém porque também, receia revelar muito de si própria e do que já viveu. Solta o que pensa, doa a quem doer apenas porque, acredita na sua verdade e não há mais nenhuma comparável à sua. É uma Mulher com muitos medos e a prová-lo está a forma como reagiu ao afastamento dos seus companheiros de casa. O facto de não ser uma pessoa dada a proximidades resultou prejudicial para a sua integração no grupo.
Este é o naipe de players do BB2020. Nem tudo é mau mas, também nem tudo é bom. Quanto maior esta dicotomia, mais interessante se torna o jogo.
quinta-feira, 28 de maio de 2020
Ateimância
Já não tocam os sinos. Já não há rosmaninho, nem alecrim pelo chão. Já não passa a procissão.As orações em conjunto acabaram. Ninguém comunga. Os choros e os risos são abafados. Não há lugar a confissões. As aldeias isolam-se por trás dos montes, ameaçados pela chegada do calor de Verão e pelo desnorte de quem já não tem nada a perder.
Jihada Radical das Sogras
Acordei o mundo
Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...
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Qualquer artista teme perder um dia a sua criatividade e jamais conseguir criar arte. O Pânico é real e atormenta a classe artística que, po...
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Egos tantos Egos a gritar, tantos a querer manifestar-se e, nossos sentidos ofendidos consomem-se, a tentar compreender o que querem dizer,...
