terça-feira, 27 de julho de 2021

Demasiado óbvio é chover no molhado


Demasiado Óbvio, estabelece um corte com o imaginário e sua mestria para produzir efeitos surpreendentes.
Não há margem para progredir noutros sentidos.
O sentido é único e a evidência é chapada.
Não há surpresas.
Não há gastos de energia em manifestações de surpresa.
Não há suposições, nem divagações.
É notório mas, está longe de ser notável.
Não precisa de apresentações.
Repete uma evidência.
É dado adquirido.
O desafio está em romper o padrão do óbvio e criar algo inesperado que também faça sentido.
Faz sentido?  
 











quarta-feira, 23 de junho de 2021

Apartidários têm opinião


Apartidários têm opinião e com muita propriedade. Não são obrigados a seguir ideologias padrão, só porque sim. Nem sequer se trata de preferência ou predisposição para o isolamento. 
Desde quando ficar isolado é cómodo ou traz benefícios?
Trata-se de uma postura independente, que não convive com mordaças, nem tem espírito para viver em  cardume.
Nem sempre é do contra.
Umas vezes pró, outras vezes contra.
Sua opinião não é emocionalmente volátil.
Manifesta-se quando entende que se deve manifestar.
Fiéis a si mesmos, não estão colados a nada nem a ninguém.
Livres de pensamento, intolerantes moderados, sem formatações, movidos por uma inteligência inquieta e insaciável, incomodam os demais.
Querem colocá-los à margem, mas eles estão em todo o lado e não se deixam marginalizar.
Sobretudo, corajosos por se afirmarem sozinhos, sem necessidade de aprovação ou colinho.
Num mundo que, dá voz a uma liderança boçal, incapacitada e perniciosa, qualquer dia só nos restam duas opções: lutar ou rastejar.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Summer, I am ready


Gordurinha a mais atrapalha, principalmente, com a aproximação do verão. Como tornar esta condição, não tão desconfortável e exasperante?
Não é recomendável emagrecer compulsivamente. Seria demasiado hostil.
Para quê encetar uma dieta expresso, tão castradora, cujo fracasso é garantido.
As dietas, para serem bem sucedidas, devem ser prolongadas no tempo e quando estão sujeitas a tempos apertados, geram pressão, stress, ansiedade, inimigos de quaisquer bons resultados.
Logo eu, que adoro praia, esplanadas, sunsets na piscina, ar livre, chinelo no dedo, looks de verão e da liberdade para ser quem sou.
No Inverno, para disfarçar, uso cintas adelgaçantes e roupa modeladora para comprimir o que está a mais e não me favorece.
Acontece que, com a chegada do verão tudo complica. A pele está completamente exposta e é inevitável não ficar desconfortável.
Felizmente, hoje em dia, há muito boas soluções no mercado que incorporam essa consciência de que o público feminino não obedece só a alguns padrões de tamanho e espaço.
As soluções de que falo, contemplam peças para formosuras como eu (size plus), com efeito redutor e padrões e modelos atuais. Para minha felicidade e de tantas outras mulheres que merecem se sentir bem no seu próprio corpo e viver o verão plenamente.
Eu cá, já ando na caça a todas essas novidades para o verão 2021, cabíveis no meu corpo generoso.
Quando ele chegar estarei preparada e feliz por o abraçar um ano mais. E este será muito amado. O anterior soube a pouco, resultado dos constrangimentos trazidos pelo papão covid.





 



  

terça-feira, 20 de abril de 2021

Mantra Fortalecedor


 

Há quem tenha um só mantra.

Nada contra.

No meu caso, não me contento com um só.

Há um, que me parece bastante fortalecedor.

Quem quiser pode levar.

É grátis e não desbota. 😊

Sê o Milagre para ti mesmo

Há milagres que acontecem em Ti e que mais ninguém sabe e que só tu sabes interpretar e são esses milagres, dos quais te deves orgulhar. O resto, é caminho a percorrer.

Muito provavelmente, já estiveste em lugares dos quais julgavas nunca vir a sair e olha só onde estás agora.

Que empreitadas empreendeste para estares agora aqui?

Que batalhas travaste?

De que forma comunicaste para ti própria(o) o que querias?

De que forma comunicaste para ti própria(o) o que não querias?

Vingou o quanto te queres bem a ti mesma(o) e esse é quanto a mim o melhor ponto de partida para provocar os tais milagres internos de que falo.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Duas Buchas de Pão

Quero encetar um programa de perda de peso, através do exercício físico.
Inclusive, comprei uma passadeira de corrida, com todas as funcionalidades. Até já, a estreei. Comecei devagar pois, a resistência não era muita. Mas, acabei por desistir precocemente. Acho que o facto de ser tudo tão devagar, acabou por amolecer a minha vontade de continuar.
Há sensivelmente quatro anos atrás, não perdia a oportunidade de correr no tapete, em modo acelerado e ao longo de quarenta e cinco minutos e só parava, após marcar quinhentas calorias perdidas.
Sentia-me uma quarentona enxuta, como se acabasse de completar trinta anos.
Na época, minha relação com os botões e fechos era pacífica. Nada de puxões, nem esgaçar, para caber melhor. As costuras não marcavam a pele, nem impediam a circulação. Podia esticar-me, espreguiçar, fazer a espargata, contorcer-me, rebolar, debruçar-me e não arriscava sequer, ficar seminua ou descomposta.
A leveza, sentia-a, quando os meus pés em bico suportavam o peso do meu corpo e surpreendia todos com a minha chegada suave.
Hoje, já não posso dizer o mesmo. Minha chegada é retumbante e meus pés estalam de dor quando me tento erguer neles.
Com o passar da idade, o esforço para manter o peso ideal redobra.
A motivação perde-se por entre as pregas que vão definindo nosso corpo.
Ultimamente, ando a desenvolver um ódio de morte pelas cadeiras de braços, que entalam toda a minha dimensão feminina. Obrigam-me a sentar na ponta e desafiar equilíbrios impossíveis.
Minha querida Mãe e Irmã aconselham-me a usar roupa que me favoreça.
Naquele momento, apetece-me deixá-las pouco favorecidas com a boca de lado.
O que eu me contenho. Meu Deus!
Sua sensibilidade é igual a um camião sem travões, desgovernado na auto estrada.
O pior é que elas não sabem parar, nem perceber meu incómodo e ditam aquilo que me vai fazer bem e tirar deste estado estafermo. 
Apetecia-me entalá-las com duas buchas de pão mas prefiro comê-las eu e sossegar minha ansiedade com hidratos. :)
 


 


 

quinta-feira, 25 de março de 2021

A Fava da Sorte

 

Boneca! É assim que o meu avô me costuma chamar.
Adora, ver-me agitada.
Está cansado de saber, que bonecas, são as criaturas mudas, com as quais costumava brincar e que agora decoram a minha cama. Riza e Zafi. As minhas irmãs mais novas, de plástico reciclado.  
Meu Nome é Anita Soares Melo! – disse-lhe eu, em tom altivo.
A tentar mostrar que sou muito adulta para a minha idade.
Desculpa, boneca Anita! – repetia ele, em tom trocista.
Naquele instante e, sem querer, borrifei o vestido com os restos das gargalhadas, que não consegui conter.
Só a avó Zinda, o conseguia fazer parar com aquela cantiga repetida.
Jaime, deixa a menina em paz!
Aproveita e, vem ajudar-me, a tirar as casacas das favas. – ordenou a avó, que em passo acelerado, nem aguardou pela resposta. Já sabia que seus pedidos, eram sempre atendidos.
Tão adoráveis, aqueles dois
Sempre juntos e em sintonia.
Segui-os, sem que eles se apercebessem.
Olhem que, não é fácil acompanhar o passo da minha avó Zinda.
Bate todos os recordes de velocidade.
Nunca se cansa.
Apesar de não ser tão rápida, tenho o ouvido bem apurado e consegui escutar a avó dizer, em surdina, ao avô Jaime, que íamos ter uma visita.
Eh pá, visitas! – exclamei eu baixinho, em tom entusiasmado.
Será que as visitas gostam de favas? - Pensei eu.
Eu consigo sobreviver às favas, mas continuo sem as adorar.
Muito provavelmente, deve ser alguém que gosta muito de favas. A avó faz sempre o prato favorito das visitas.
Não conheço ninguém da minha idade que goste de favas. Nem o Romeu, o maior glutão da escola, as suporta.
Mas, quem será?
A Bina e o Tião estão para a França. Foram visitar o neto recém-nascido.
Só regressam no final da primavera. A avó Zinda, até se ofereceu para cuidar da horta deles, na sua ausência.
Eu bem digo. Não se cansa.
Pelo menos, já sei que não são os vizinhos dos avós.
Afinal, quem será a visita mistério?
Anita, podes chegar aqui? – pediu a avó.
Meu coração disparou. A avó não sabe reclamar a minha presença. Ela só sabe ordenar. O que me deixou muito intrigada.
Dobrei os corredores estreitos, tropecei no caminho, levantei sem dor e continuei, até chegar, finalmente à cozinha e ver a avó Zinda, para meu espanto, sem avental, cabelo arranjado, vestida de azul céu, saia e casaco a combinar, com os brincos de filigrana deixados pela biza Bernardete e um sorriso de orelha a orelha. A seu lado, o avô Jaime, no fato das ocasiões especiais, de lenço na mão, a enxaguar as lágrimas, que lhe escorriam pela cara sorridente.
Onde vão sem mim? – perguntei eu, em tom curioso.
Hoje nem é dia de missa? – pensei eu.
Vamos! – decidiu o avô Jaime, todo catita.
E a visita? – disse eu, interrogativamente.
Nem fizeram caso da minha curiosidade. A avó Zinda, apressou-se a vestir-me o vestido dos ananases. Arrastou as franjas do meu cabelo para trás, sacudiu o meu vestido para não ganhar rugas e num puxão, tirou-me dali e me levou junto.
Enquanto isso, o avô Jaime tenta acompanhar nosso ritmo.
Lá em baixo, o Sr. Gaspar aguarda, encostado ao seu imaculado táxi, preto e verde.
Eu e a avó ocupamos os lugares de trás, enquanto o avô Jaime, juntou-se ao Sr. Gaspar, numa animada conversa sobre futebol.
As nossas mãos continuavam grudadas e eu ansiosa por saber que mistério é este.
A avó pede ao Sr. Gaspar para abrandar e indica-lhe onde tem de parar.
Ao longe, vejo um cartaz onde se lê Apresentação do livro de receitas caseiras da avó Zinda, na livraria Bairro, esta quinta-feira pelas 17h.
Olhei para a avó, ela olhou para mim e um abraço foi o tanto que conseguimos dizer uma à outra. Fiquei tão, mas tão feliz, que precisei do lenço do avô para secar a emoção no rosto.
No fim, todos aplaudiram e quiseram saber mais detalhes e truques para as receitas resultarem tão perfeitas e saborosas. Não largavam a minha avó, com perguntas e mais perguntas. Se não fosse a Doutora Rute a dar uma ajudinha, não sairíamos dali tão cedo. 
Eu e o avô Jaime assistíamos a tudo com muito encanto.
De regresso, estava o Sr. Gaspar para nos dar boleia de volta a casa. Só que em vez de três passageiros, desta vez, eramos quatro. Afinal, a Doutora Rute, é a tal visita especial.
Não me contive e aproveitei a ocasião para perguntar - A Doutora gosta de favas?
Gargalhada geral. E eu, sem nada perceber.
Sim, adoro. É um dos meus feijões favoritos – diz ela, satisfazendo a minha curiosidade.
Chegados a casa, a avó tratou de ir preparar o jantar, o avô regar o jardim, enquanto eu e a Doutora Rute, ganhávamos amizade.
Quis saber tudo. Como é que a avó a conheceu e como isso levou à publicação do livro de receitas.
Fiquei a saber que a culpa é das favas.
Tudo aconteceu, no ano passado, quando o avô Jaime foi operado e, todos os dias, a avó ia dar-lhe o almoço e, já se sabe, a comida do hospital apesar de não ser má, não tem aquele gostinho de casa.
Certo dia, encontrou-o adormecido e já com o almoço comido. Tinha chegado um pouco mais tarde. As obras na rua do Império fizeram-na atrasar-se. Bem insistiu com o Sr. Gaspar para furar a fila de trânsito, mas ele não quis arriscar comprometer a segurança de ambos e prejudicar os outros automobilistas, que aguardavam na fila.
Na cama ao lado, estava o Sr. Pepe e junto a ele, a sua filha Rute, que tal como a avó, não falhava uma visita. Vendo-a esbaforida de saco na mão, a tentar recuperar fôlego, prestou-se a ajudar. A simpatia da jovem mulher conquistou a minha avó que, sem hesitar, lhe estendeu o arroz de favas, ainda quente, para ambos provarem. Rute nem teve hipótese de rejeitar. Quando o ia a fazer, já ela tinha colocado num prato meia dose de arroz. Minha avó é um despacho.
Vai ver que, o meu tempero tem efeitos curativos – gracejou a avó.
Não estava muito longe da verdade. Dois dias depois, o Sr. Pepe e o avô Jaime tiveram alta hospitalar e regressaram a casa.
Certo é que, as favas da minha avó devem ser mágicas.
Aproximaram-nas e ajudaram a mostrar o dom da minha avó.
Agora percebi que, a Rute, afinal é a Doutora Rute, responsável pela publicação do livro de receitas da minha avó Zinda.
Na ocasião, pensou que ia apenas ensinar a receita das favas às amigas da Doutora Rute. Só que, a ideia ganhou outra dimensão.
Enquanto eu estava na escola, Rute foi lá casa, inúmeras vezes, falar com a avó Zinda, para reescrever as receitas que ela apenas sabia de memória, filmar um vídeo, com a nossa cozinha como pano de fundo e a avó como protagonista, mostrar-lhe o passo a passo da edição do livro, entre outras afinações. E, eu, sem nada saber.
A conversa estava tão descontraída e fluida, que até esqueci, de ajudar a pôr a mesa para o jantar. O Avô Jaime, fê-lo por mim.
Para a mesa! – ordena a avó, com a terrina de arroz fumegante nas mãos.
Só eu insistia em tratá-la por Rute, apesar da avó não gostar muito e me lançar uns olhares de reprovação.
Para ela, Rute será sempre a Doutora Rute. Somente, porque tem mais estudos que todos nós.
Mal provei o arroz de favas. Estava tão curiosa em participar da conversa, que nem sentia fome.
Vá, Anita, deixa a Doutora Rute comer à vontade – reagiu a avó, em modo impaciente.
Obedeci e desculpei-me. Afinal, eu estava a desviar as atenções dela. Até parecia que, a Doutora Rute era a homenageada.
A avó não estava importada com isso. O que a preocupava era a quantidade de arroz por comer e o arrefecimento da comida.
Palavras, não enchem barriga! - rematou a avó
Na despedida, Rute deixou duas caixas de exemplares para distribuir por familiares e amigos.
A avó reservou alguns, para oferecer às amigas e vizinhas. Os restantes, ficaram para mim.
Não perdi tempo e tratei logo de pedir ao avô Jaime que me ajudasse a levar os exemplares para a escola no dia seguinte.
No intervalo, falei com a Professora Benedita, que me deu autorização para os distribuir pelas turmas todas.
O Romeu implicou com a receita de favas.
Ughh!!!! – manifestou com desagrado.
Felizmente, nem todos estavam de acordo e o livro é composto por cem receitas.
Vai à página noventa e cinco. Encontras receitas de sobremesas com chocolate fixes, que te vão agradar – disse-lhe eu, na tentativa de o desviar da imagem das favas.
O intervalo foi curto, para ouvir todas as reações. Porém, deu para perceber que a maioria delas, senão todas, foram positivas. Excluí a do Romeu. Não se pode dizer que foi uma reação negativa. Nem todos podemos gostar de arroz de favas, nem essa é a única especialidade da minha avó.
A receita de favas foi o mote do livro, isto porque, foi através delas que a Doutora Rute e a minha avó se conheceram. Algo que, não se pode ignorar.
No meu caso, adoro tudo o que a minha avó faz. Tem cheiro e sabor de amor.
Já me quiseram até roubar o lanche.
Uma mordidela bem marcada na mão invasora do Mauro, custou-me dois castigos. Um na escola, outro em casa.  
Pelo menos, ficou a saber que da próxima terá de pedir. É feio pegar no que é dos outros à força. Mas disso, nem a minha avó, nem a direção da escola, quiseram saber. Aplicaram-me na mesma o castigo.
O avô Jaime, ainda tentou que eu não fosse castigada, mas de nada adiantou.
Durante um mês, não pude ver, nem tratar da minha Dizzy.
Dizzy é a ovelha bebé, que eu adotei e me acompanha para todo o lado. Nesses dias que estive ausente, ela sentiu muito a minha falta. Cheguei a culpar a minha avó, pelo estado da bichinha. Chorei baba e ranho. Deixei de comer. Isso, afligiu-a. Chegou a fazer a minha sobremesa favorita, com a intenção de me alegrar. Nem assim, me alegrou.
A Avó Zinda, às vezes, consegue ser brava, mas não deixa de ser a Melhor avó do Mundo.
Mal terminou o castigo, voltou a fazer a sobremesa que eu mais adoro e, aí sim, devorei tudo. Até a Dizzy gostou.
Que alívio deve ter sido para a avó, ver-me novamente com apetite.
Para ela, fastio é doença.
Chegou a medir-me a febre. Suspeitou que estivesse a chocar uma gripe.
Era mesmo tristeza, por não cuidar da minha lãzuda Dizzy.
A Professora Benedita estranhou a minha apatia e chegou a perguntar-me se estava doente.
Estranhamente, o Mauro também veio pedir-me desculpas e oferecer-me um rebuçado de morango. Aceitei as desculpas e rejeitei a oferta.
Ele, pareceu entender.
Felizmente, os dias menos bons deram lugar a dias melhores.
A Primavera está a chegar e com ela o meu décimo aniversário. A Rute prometeu fazer-me uma visita.
As minhas amigas andam intrigadas com a Rute. Só falo bem dela.
Terão oportunidade de a conhecer na minha festa de anos.
Anita, já fizeste os deveres? – interrompe a avó.
Seus poderes de adivinhação são mágicos.
Perdi-me a rever os acontecimentos mais recentes e esqueci de fazer a composição sobre o Meio Ambiente.
Se calhar vou falar da minha mé mé e da importância da preservação do ecossistema, para que os animais como a Dizzy, continuem vivos e haja equilíbrio ambiental.
Devo agradecer ao meu tio Rui, este amor pelos animais e pela natureza. De acordo com as suas palavras, ambos resultam numa harmonia que devemos estimar.
O Tio Rui não é visita regular cá em casa, mas quando cá vem, a avó rejubila de felicidade e seu humor melhora muito.
É, sem dúvida, uma presença especial.
Estes dias, disse que ia regressar de vez. Fez-me prometer que não contaria nada à avó. Seria uma surpresa.
Por pouco deitei tudo a perder. Consegui abafar a tempo o guincho de felicidade e impedir que a avó desconfiasse.
Ela não vai caber de contente.
Tenho esperança, que ele esteja presente na minha festa de anos. A família é pequena e a ausência de um de nós faz a diferença.
Meus papás só estão comigo aos finais de semana. Quer dizer, falamo-nos todos os dias via zoom, mas é no final de semana que convivemos juntos. O trabalho, aqui na aldeia, não abunda e um dia, eu também vou ter que abalar. Não sei se conseguirei me afastar da Dizzy.
Nem quero pensar nisso. Entristece-me.
O meu aniversário está a chegar.
As férias de Verão estão a caminho.
A tão aguardada semana no campo de férias com os amigos da escola, vai acontecer.
Os passeios e piqueniques com a família junta, fazem parte do programa das férias.
Este ano, sou finalista.
A Professora Benedita comentou na sala de aula que, estão a preparar uma festa para os finalistas, com muitas surpresas.
Ainda nem me despedi dos amigos e da escola e já sinto, uma ligeira saudade do que vivemos aqui.
Vai ser um dia de muitas emoções.
No próximo ano, a minha escola será outra.
Será bem maior e com mais alunos.
Espero não precisar de mapa, para me orientar dentro da escola.
É muita ansiedade, pensar em tudo aquilo que está para acontecer, em breve.
A campainha soou e o nosso cão Nixa acordou em sobressalto. Era o carteiro. Olhei pela janela do quarto e vi a avó com uma encomenda na mão. Desci as escadas a correr, curiosa. Até o Nixa teve que se desviar, num instinto.
- Vó, para quem é essa encomenda? – quis saber, sem disfarçar toda a minha curiosidade.
Abre, é para ti! – responde a avó, com satisfação.
Para mim? Hoje, nem sequer é o meu aniversário - disse eu, enquanto tentava abrir a caixa de cartão.
A avó parecia impaciente.
Finalmente, consegui abrir e vislumbrei uma gola gigantesca. Logo ali, percebi que o dia da comunhão ia acontecer, mesmo sem fazer tanta questão assim.
A avó nem me deixou ver o vestido com pormenor. Enfiou-mo na cabeça e estendeu-o até aos meus pés e ainda, afinou a minha cintura com o cinto de cetim, a apertar-me a barriga. Mal conseguia respirar.
A seguir, ia ser a prova dos sapatos. A maldição para os meus pés.
E por fim, as tranças no cabelo.
O horror!
O seu entusiasmo, por me ver assim e, principalmente, por saber que ia dar continuidade aos princípios cristãos da nossa família, serenaram a minha insatisfação.
O Amor, por ela e pelo avô, valem todos os sacrifícios.
O Padre Alécio já está velhinho e, por vezes, adormece nas leituras do evangelho. Numa das missas, chegou a ressonar. A gargalhada geral fê-lo acordar.
O avô Jaime foge, sempre que pode, à missa de domingo. A avó até já deixou de insistir.
A mim, já me basta a catequese aos sábados de manhã e agora, a preparação para a comunhão solene.
Desembaracei-me do vestido e dos sapatos e fui apanhar sol para o alpendre, enquanto a avó preparava o almoço. Já lá estava o avô, a descascar as favas. Ofereci-me para ajudar. Minhas mãos sempre são mais ágeis.
Entretanto, fomos almoçar. A Avó chamou para a mesa. Até o Nixa e a Dizzy se queriam juntar, mas foi-lhes barrada a passagem.
O almoço foi rápido.
A mãe da Rita estava à minha espera, para nos levar à escola.
A Professora Benedita pediu ajuda, para os preparativos da festa de finalistas. Nem pensei se contaria para a nota final. Só queria ajudar.
Quando chegamos, encontrámo-la junto a uma pilha de livros novos e de caneta na mão.
Assim que me avistou, chamou-me à parte e pediu que me sentasse na secretária em frente e aguardasse um pouco.
Ainda tentei desviar o olhar e fingir não estar interessada, mas parecia um desafio impossível.
Treinei a minha paciência, fazendo contas de cabeça e foi, nesse instante, que ela se abeirou de mim e me estendeu um livro dourado com letras pretas e lombada quadrada.
Afinal, tinha vindo para ajudar ou para treinar a leitura?
É para ti, Anita – disse ela, gentilmente.
Corei de felicidade.
A minha curiosidade fez quebrar todas as regras da boa educação e num impulso, peguei no livro. Na capa lia-se a Princesa Descalça.
Dentro, tinha uma dedicatória.
Dizia, "Queria Anita, escolhi este livro, propositadamente, para ti. Fala de uma menina princesa, muito parecida contigo. Princesa, na bondade, na amabilidade, nos bons modos, na beleza. Descalça, em representação do teu movimento e pensamento livre. Tão característicos da tua personalidade.
Tenho a certeza, que serás um orgulho para a tua Família e para mim, que tive a felicidade de te conhecer.
Sempre que quiseres podes vir visitar-me.
Tens os meus contatos, para irmos conversando.
Tens em ti todos os sonhos do Mundo".
Levei a mão ao bolso das calças, à procura do lenço. Quis impedir que as lágrimas caíssem em cima do livro novo. Em vez disso, senti algo redondo e espalmado e, para minha surpresa, descobri ser a fava que esquecera, no bolso das calças. Decidi guardá-la porque me pareceu tão diferente das outras. Encantei-me por ela e agora, vou adotá-la como a minha fava da sorte. Seus efeitos são especiais.
 

quinta-feira, 4 de março de 2021

8 de Março

 



A Energia Feminina expande-se.
As Mulheres nasceram preparadas e dão-se ao luxo de escolher as suas implicâncias / Interesses.
Na verdade, elas estão em todo o lado.
Estão implicadas em todas as situações.
Graças a Deus!
Sua Graça é glitter.
Nasceram enriquecidas e nutridas de Amor.
Capricham em tudo.
Emotivas e envolventes nunca passam despercebidas.
São Energia que nunca esgota recursos e se expande.

#diainternacionaldamulher 
#8demarco
#igualdadedegenero
#nofeminino

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Foster Buddy

Patas peludas e aderentes aproximam-se, atravessam minhas pernas e suas inimigas varizes e tombam no chão, de forma retumbante e sonora. Logo ali, temi o pior. Temi a perda do meu lavrador, de pêlo longo e tom nude, presença cativa cá de casa.
Fosterrrrrr, gritei desesperadamente. Nem um som. Aproximei-me, vagarosamente, com receio do choque da confirmação da perda. Afaguei o seu pêlo farto e senti seu batimento e não me pareceu um batimento de despedida. Queres ver que o sacana do bicho está a teatralizar sua morte? Continua imóvel e de olhos fechados, determinado a prolongar sua farsa shakespeariana e fazer-me enlouquecer de dor.
Ainda por cima, escolheu o timing perfeito. Estou, precisamente, a meio de um artigo importantíssimo, com um deadline apertado que, me suga as energias todas e do qual dependo, para garantir a sua e a minha ração no próximo mês. Não quero perdê-lo mas que dirá o meu chefe de redação se lhe disser que estou de luto do meu Foster e, por esse motivo, não me sinto capaz de terminar o Artigo sobre Canaviais. É favor, não gozarem todos ao mesmo tempo. A escrita tem destas liberdades inquietantes. Ela não é seletiva. Ela até se manifesta na divagação sobre a consistência do cocó de um recém nascido, intolerante à abóbora na sopa, num qualquer blogue destinado a Mães aflitas e histéricas.
Grayson, como qualquer Chefe de Redação, vive sob pressão e não alivia e, se bem conheço o seu estilo jihadista vai invocar o sentido de missão de um jornalista para com a sua entidade contributiva. Para mim, sua sensibilidade é comparável à esquina da cama e sua falta de empatia para com as canelas imprudentes. Jamais, iria compreender uma perda, muito menos a perda de um amigo de quatro patas chamado Foster.
Não tenho alternativa senão averiguar se Foster morreu ou, não passa de um dissimulado peludo, com aspirações artísticas.
Já pensei em várias formas de provocar reações no ator, de apetite voraz, faro apurado, uma forte estrutura maxilar e que se vende por um prato de biscoitos. Conheço-o, desde que, ele urinou à minha porta e me fez perder o juízo. Era um sem abrigo, incontinente, faminto, enviado para testar minha sensibilidade e questionar minha missão na terra e sobretudo desafiar o meu temperamento frágil. Até hoje me questiono, onde estava eu com a cabeça, quando o acolhi tão gentilmente, mesmo após ter manchado o meu tapete de entrada, feito em macramé nas tardes depressivas de domingo, patrocinadas pelo meu desalmado ex. Posso dizer que, foi o macramé que me salvou do desastre emocional em que me encontrava e vá, meia dúzia de sessões com a Dra. Michelle. A Dr. Phill cá do bairro que, mais do que psicóloga, é uma mulher experiente em problemas amorosos emaranhados.
Atualmente, Cooper é aquele ser irritante, com transtorno obsessivo compulsivo, muito repetitivo, com frio nos pés em pleno Verão, devoto da sua malévola mãezinha, prende os espirros, hipocondríaco, tudo estranha, cheira a comida antes de a comer, mastiga-a num ritmo que causa sonolência e é fanhoso de nascença, entre outras curiosidades. Desta forma, o repulso. Assim, convivo melhor com o seu mágico desaparecimento, na véspera do nosso oitavo aniversário de casamento, que eu julgava para a vida toda. Vanish Cooper Action, mais eficaz do que qualquer tira nódoas. Nunca mais regressou ao Bairro onde nos conhecemos e onde contraímos a dívida de um T2, que apesar de ser pago na íntegra por mim continua propriedade dos dois. Um assunto que tenho adiado resolver para não avariar.
Entretanto, Foster permanece tombado no chão. Insiste na farsa. É resiliente.
Os nervos provocam-me fome e, sem hesitar, abro o kit de bolachas salva vidas e, subitamente, ouço movimentos que se tornam cada vez mais percetíveis e que resultam numa aparição peluda e salivante, a fitar-me demoradamente.
Caso encerrado. Artigo entregue. Dog Óscar para o meu Foster Buddy. Alívio. Ração melhorada para mim e para ele.:)


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Bolo de Chocolate

Queres estar aqui, por mais algum tempo?

Aliás, por muito tempo?
Basta, banir o passado ruim. Varrê-lo do teu terreno cerebral sagrado e cultivar uma nova forma de vida, um rumo novo, desenvolver uma personalidade entusiasmada, por um novo mundo de oportunidades e crente, absolutamente crente, de que tudo vai correr bem e quando algo te desviar dessa corrente motivacional, te consigas fortalecer, encontrar saída e regressar ao domínio da tua Vida, ao domínio de ti mesmo.
Ter a capacidade de admirar o outro e admirares-te ao mesmo tempo. Nunca perderes a capacidade de Amar e desejar o Bem.
Expressares o que sentes. Expressares o que pensas. Teres uma voz ativa. Teres uma escuta ativa. Marcares presença sem invadir espaços. Seres uma boa influência. Orgulhares-te do teu percurso.
Rodeares-te de Amor.
Desviares-te de argumentos derrotistas, queixumes repetitivos, sentimentos de culpa, desculpas convenientes, lugares comuns, distrações alheias, mesquinhices, sacudir o que é secundário e vicioso, evitar remoer o passado, procurar não reviver revoltas antigas, deixar de dar importância a pessoas ou comentários tóxicos.
Chega radical, para tudo aquilo que te faça paralisar e perder a gigantesca oportunidade de Te Amares a Ti mesmo e deixares a tua pegada.
Paremos para refletir un petit peu.
Porque é que nos negamos a ser felizes? Agimos como se não fossemos merecedores dessa felicidade. Acredito até que, esta é uma característica bem portuguesa. Humildemente renunciamos. É má educação aceitar uma oferta, ainda que seja genuína e desinteressada. Apesar de, tão somente, se tratar de um ato de gentileza e acolhimento. Fomos formatados desta forma e transferimo-la para outros quadrantes da nossa Vida, como se fosse de mau tom ou egoísmo aceitarmos viver alguns momentos de felicidade, despreocupadamente.
Ser feliz pode ofender os outros, portanto, é bom que escondas esse teu estado, para que os outros não se sintam fragilizados e insistam na tónica que, a Vida é injusta e desigual. Do género, não és merecedor dessa fatia de bolo, acabadinho de fazer, ainda por cima de chocolate, que tu tanto gostas e que, tão generosamente te querem oferecer, só porque, pode soar a um aproveitamento da tua parte, quando nem sequer pediste, nem deste a entender os teus desejos mais gulosos. Para merecer tens de sofrer. Porquê? Que regra absurda e ancestral é essa.
A felicidade representa esse bolo de chocolate que, te faz salivar, mas para o qual não te achas merecedor, por achares que é demasiado para ti. Quando, certamente, a tua agradável presença justifica a oferta dessa fatia de bolo. Há ações nossas que, não sendo visíveis, são grandiosas e que atraem boas energias e o resultado disso é a felicidade que, tu queres rejeitar porque não encontras nada em ti que justifique essa atração repentina.
Preferes invocar a culpa, a usufruir de algo, do qual não te achas digno por receio de estares a quebrar algum padrão. Não quebraste nenhum padrão, nem a felicidade está a saldo. Apenas estás no caminho certo.
A felicidade não é uma coincidência. A felicidade não vem por engano. A felicidade conquista-se e, apesar de não encontrares algo visível e tangível para justificar essa conquista, não quer dizer que esse algo não exista. Movimentaste-te no sentido certo.
Essa fatia de bolo de chocolate quente e fofo é tua. Aceita-a como sinal de agradecimento e merecimento.
A felicidade é simples assim. Se te apercebeste dessa simplicidade e a soubeste apreciar, então, já lhe atribuíste todo o significado.
Não há esquemas. Não há truques. Não há fantasias. Não descende da família dos bonificados. Não tem conta aberta nas redes sociais. Não se expõe facilmente, nem aleatoriamente. É mestre em provocar boas sensações e deixar um rasto de saudade. É titular dos melhores momentos. É a música que acompanhou e deu ritmo aquele ou aqueles momentos especiais. É o toque suave de uma brisa que nos beija e afaga. É o que adoça e deixa presença nas nossas papilas gustativas e nos dá vontade de querer mais. É a risada em cadeia que prolonga a boa disposição e intriga quem passa. É tudo isso e muito mais que não devemos rejeitar.
Ela adora surpreender os desprevenidos e confirmar seus efeitos. Sem apavorar, altera nossos batimentos cardíacos, numa frequência musical que convida a dançar, cantar, assobiar e amar.
Facilita a sua chegada. Mostra que estás disponível para a receber e ela regressará.
Habituados a esperar o pior, banalizamos o melhor e deixamo-la escapar, cumprindo uma dinâmica, muitas vezes, masoquista de achar que é bom demais para ser verdade.
O que por vezes também acontece é, não perceber a sua chegada, nem o seu toque de midas. O seu caráter invisível mas eficaz, não está ao alcance de todas as sensibilidades.
 
“A Felicidade é como uma gota de orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de Amor”
 
Felicidade (Tom Jobim)

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Sem filtros

Não somos velhos mas também, não somos novos.
Afinal, quem somos Nós?
Somos os despojos de uma sociedade, mergulhada na abundância que, se dá ao luxo de rejeitar aquilo que ainda tem bom aproveitamento. Para uns é considerado um desperdício, para outros, uma intervenção necessária para conquistar públicos diferenciados.
É sem remorsos que, apagam e dispensam dos seus registos, entregas de 20, 30 e mais anos, só porque, as tendências reclamam empresas com miudagem do digital, para quem a empatia é gerada através de um algoritmo que, manipula as nossas preferências, as nossas simpatias, as nossas vontades, os nossos gostos, os cliques, os eventos futuros, edita a realidade e customiza-a em proveito próprio.   
Somos da década do telefone fixo, atualmente em desuso. Pior ainda, Somos Mulheres e na idade da menopausa. Apesar das provas dadas e superadas, nosso valor de mercado baixou e, portanto, somos atiradas para o arquivo morto.
Ao que parece esgotamos uma imagem que não vende mais.
Competimos com os nossos filhos e sobrinhos e a idade é a maior desvantagem, pelo que, nem chega a ser uma competição e sim, uma declarada preferência pelo que é novo e dominante.
Sem querer, somos convocadas a entrar numa decadência precoce, para dar lugar à juventude viciada no artificial e em posições confortáveis que, lhes alimentem os caprichos vegan, eletrónicos e digitais, worldwide trips, sem data para voltar, sushi tables, parties, garrafas de gin, fancy cars, mestrados, luxury resorts, and so on.
Na verdade, nós também nos cansamos do registo nine to five job e sonhamos ter mais tempo, para nos dedicarmos ao que realmente gostamos. O que dantes parecia pouco, agora chega e sobra em sorrisos de orelha a orelha.
A partir de agora só precisamos de memórias boas porque, o tempo, esse, escasseia e para onde quer que a gente vá algo bom temos de levar.
Os triunfos agora são outros. Invisíveis  e imensuráveis porém, grandiosos e duradouros.
Pertencemos à geração X, não confundir com geração X-box. Essa é outra. É aquela que está agarrada às máquinas. Se bem que nós é que precisamos desses recursos para continuar a pertencer aqui, neste mundinho globalizado mas, com muitos muros de Berlim por derrubar.
É certo que, não se comparam histórias mas que, histórias são estas que nos querem dar a conhecer e nas quais querem que acreditemos? Não passam de histórias fabricadas e endeusadas para criar um efeito de realidade dormente. Nesta fase de insónias que, me apanhou desprevenida, será difícil me convencer dessa realidade. A única dormência que me assiste é a do formigueiro nas articulações :)
 




 






segunda-feira, 7 de setembro de 2020

A turma da Mónica

Tudo ia bem. Até, demasiado bem. Assustadoramente bem, direi.
Porque é que, ainda que o sol predomine e o céu nunca tenha estado tão limpo, preferimos duvidar e inquietarmo-nos com a possibilidade de, a qualquer momento, uma irmandade de nuvens cinzentas arruinar o nosso dia.
Não está bem assim? Então, deixa estar. Não compliques.
A assombração do medo, relativamente a algo que ainda está por acontecer, asfixia a nossa felicidade.
Este estado de ansiedade que não conseguimos dominar e que António Variações imortalizou com sucesso na sua música "Estou Além", desencadeia delírios da realidade.
Quem nunca recebeu avisos, alertas, intimações da Mãe para não esquecer do famigerado agasalho, não vá arrefecer, mesmo que o ar esteja abafado, irrespirável e vivas num país com clima tropical que, desespera por uma brisa e socorre-se dos AC's e de todos os seus BTU's?
Não vá o Diabo tecê-las, ecoa na minha mente até hoje.
Será que o Diabo nunca dorme? Socorro.
Não te metas em sarilhos. É outro dos sermões da mamã que, insinua a nossa inclinação para o mal e agoira o que ainda está por acontecer. Vodu de Mãe é infalível.
Como escapar à inevitabilidade?
Não há escapatória. Assim é a Vida.
Ainda vais cair e depois quero ver?
Esta antecipação dos acontecimentos, fomenta receios, medos que nos atrasam e promovem alertas em todas as situações em que nos envolvemos.
Dou por mim a adotar a mesma "histeria", transversal a todas as Mães que, assumem o papel de cuidadoras e que, sem querer, podem estar a incapacitar os seus filhos para agir com confiança. Afinal o que nós queremos é poupá-los ao sofrimento e evitar testar-nos, diante do sofrimento dos nossos filhos.
Cuidado, olha por onde andas.
Não seria descabido incluir na Bíblia o mandamento "Jamais apregoarás, amaldiçoando o meu caminho".
Só nos dão a conhecer um cenário e logo, o pior.
A intenção das Mães (apesar de boa) nem sempre está alinhada com o melhor e mais eficaz para os seus filhos.
Voltando ao inicio, a duração do que é bom é interrompida por pensamentos dissonantes, nos quais não nos achamos merecedores de viver confortavelmente. Remorsos de alimentar uma extasia delirante e rendermo-nos a algo temporário e esquecer que a realidade não é assim tão prazeirosa.
E, novamente, redundamos na ideia que a realidade tem de ser pesada e provocar dor, muita dor.
Intensidade. Intensidade perniciosa.
Esvaziar para não causar tensão é a palavra de ordem. Não acumular e, principalmente, não acelerar ou precipitar cenários.
Lembram-se da Mónica da história da BD? Pode muito bem ser a nossa referência. Representa o mundo infantil, sua leveza, diversão e otimismo.






   

Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...