Aqui está ele, num tempo que não é o seu. Pelo menos, não o sentia seu.
Não lhe apetecia contrariá-lo. Não se sentia capaz para isso. Quem o via
assim dizia que se tinha resignado. Não compreendiam e obrigavam-no a reagir.
Desistiu de querer porque, na verdade, também não sabia muito bem o que
queria.
Quando sofres e esperas que passe rápido, porque não estás a aguentar mais,
acabas só por esperar que tudo normalize e não há cabeça, nem coração para sair
dali em busca de algo melhor. Nem sequer há forças para procurar seja o que
for.
Para um sofredor, a normalidade é o melhor que pode acontecer. Ele inclusive
acha que não está intitulado a algo melhor. O mais provável é acontecer o pior
e isso torna-se num receio avassalador e a ele, num desistente sem causas.
Tentar de novo implica estar preparado e ele tem recusado
sucessivamente esse repto. Já não sabe mais o que procurar para si e por si.
Acho que está à espera do inesperado, do fator surpresa, de se deslumbrar
e escapar do seu estado catatónico.
Outro dia sentou-se num banco de jardim. Chovia copiosamente e ele ali,
sem dar por nada, a esvaziar-se de pensamentos. Em volta, passavam pessoas apressadas,
que nem valorizavam a sua perplexidade ao vê-lo ali, exposto àquele cenário alagado.
Nenhuma companhia teria a capacidade de melhorar o seu dia e quem se atrevesse
iria sujeitar-se a viver aquele momento alto de vulnerabilidade e a ter de resistir.
Quisera ficar ali, a alimentar-se da mesma seiva das árvores e transpor
todas as estações do ano com a mesma resistência das suas amigas de puro sangue
verde.
Há sempre um caminho a seguir mesmo que em modo piloto automático e foi
o que ele fez.
Seguiu sem ilusões, mas seguiu apesar das contrariações.






