quinta-feira, 15 de junho de 2023

O Amor está em vias de extinção....

 O que é o Amor senão um sentimento em vias de extinção.

Não exploramos a vida em conjunto. Preferimos estar sós e cultivar os nossos interesses individuais a ter de investir num relacionamento, numa construção familiar, num futuro em família e fazer disso um plano de vida.

 

Para quê, se estou tão bem assim.

 

O conforto, o individualismo, a vontade de prolongar a juventude, a saída tardia da casa dos pais, a conversão ao hedonismo, as desvantagens sociais e económicas da vida em conjunto, a falta de empatia, imagem de marca do séc. XXI, a incapacidade e, em muitos casos, desinteresse de lidar com as emoções, o imediatismo, tudo isto conjugado, conspira para votar o Amor à extinção.

 

Nos últimos anos, temos assistido ao surgimento de grupos herméticos de pessoas obcecadas com seus próprios gostos, hábitos e costumes e alérgicos a tudo o resto. Grupos com princípios alimentares restritivos, grupos ativistas, grupos defensores da causa animal, grupos defensores da causa ambiental, grupos do padel, grupos radicais de direita, grupos de mães aspirantes a mães do ano, grupos de meditação, grupos de haters, grupo defensor das minorias, grupo dos expatriados, grupo fanático do futebol, grupo do signo tal, entre outros, que se fecham à convivência com quem não se reveja no mesmo.

 

Colamo-nos a um estilo e fazemos dele o nosso único modo de vida e quem destoar, está out. Estranhamo-nos uns aos outros e criamos distâncias que impedem a aparição do Amor.

 

Não há lugar ao diálogo e à concertação de ideias, pontos de vista, opiniões, formas de estar, pensar e agir. Para isso é preciso tempo, paciência, compreensão, tolerância, empatia, escuta ativa, leituras interiores e entendimentos exteriores, envolvência, entrega e um ego flexível. Características que são vistas como encargos pessoais cuja exigência não se justifica enquanto aposta numa relação que não se sabe que futuro lhe está reservado.

 

As relações vivem do presente, não do futuro. O que constróis hoje, em conjunto, vai resultar numa interação e cumplicidade cada vez mais forte e resistente a abalos emocionais desafiantes, que ameaçam ruir a tua relação ou estrutura familiar.   

 

Não há abertura, tão pouco, disponibilidade para compreender e aceitar outras formas de estar e, sobretudo, não saboreamos a Vida, tal é a nossa obsessão em buscar um propósito e aceleração para o concretizar.  

  

O Amor não busca aprovação.

 

O Amor é uma epifania que não tem tradução nem explicação e precisa ser estimulado/regado para crescer e florir.

 

O Amor instantâneo não existe e se existe não é Amor.

 

Todos queremos um match, um perfil que assuma o nosso modo de vida e venha a gostar de tudo aquilo que nós gostamos e defendemos acerrimamente, sem amuos e contrariações.

 

O trabalho na nossa construção pessoal baseou-se em gostos, preferências, objetivos, condições de vida, lifestyle, afirmação, sem espaço e lugar para o Amor.

 

O Amor não tem hora para se manifestar mas tem de reunir o mínimo de condições e uma delas é acalmar o ego e suas obsessões.

quinta-feira, 18 de maio de 2023

O Amor nunca se apazigua

No Amor conjugal há as cobranças, as entregas desiguais de afeto, mimo, compreensão, as heranças genéticas de cada um, as crenças de um e de outro, os diferentes modos de estar, a forma como pensamos e comunicamos, os nossos gostos pessoais, as nossas embirrações, as famílias, antes de nós, os filhos de ambos a reclamar, a tesouraria, os gastos, a casa, a arrumação, as avarias, os sonhos adiados, os equilíbrios necessários e os equilíbrios possíveis, o arrefecimento após as discussões, o arrefecimento das nossas loucuras, a vida em curso e nós dentro dela.

É uma empreitada sem fim determinado.

Uns dias apetece fugir, sem olhar para trás e largar tudo. Noutros dias, achamos que pertencemos aqui e ele/ela é o tal/a tal e não há lugar a arrependimentos, só amor.

O "Para Sempre" é muito tempo, é carga pesada e, por vezes, acontece que a frequência de cada um é diferente e as dissonâncias podem ser muito incómodas.

O Amor é como um músculo fibroso com terminações nervosas muito sensíveis.

O Amor não resiste a tudo, nem permanece igual e há quem se esqueça que ele é a seiva da vida e tente banalizá-lo.

Temos que aceitar que nem sempre estamos aptos para amar, primeiro, precisamos cuidar do que temos cá dentro mas isso demora tempo e nós reclamamos companhia para crescer e o desafio é, mesmo esse, estabelecer equilíbrios funcionais.

Há dias que o Amor parece ter tirado férias e há outros, que escorre das veias e não há forma de estancá-lo. 

O Amor conjugal nunca se apazigua e é preciso muito jogo de cintura para lidar com ele.

Creio que havemos de chegar a um lugar em que ele, o Amor, vai estender suas asas e planar sem tormentas mas, até lá, é preciso viver os desafios que ele nos reserva.


terça-feira, 16 de maio de 2023

Família Imperfeita

A propósito do dia da família que se celebra dia 15 maio (sabe-se lá porquê) e ao qual não consigo ficar indiferente, porque é e continua a ser um tema sensível, alinhado com o meu crescimento emocional, apresento a minha experiência pessoal em contexto familiar.

Adianto já e sem demoras, à queima roupa, que não cresci numa família normal. Somos uma família tradicional portuguesa, nascida no Minho, porém, estamos muito longe de ser a família perfeita. Contudo, posso assegurar que somos uma família real, com problemas reais e onde as emoções se sentam à mesa na hora das refeições principais. Agora, muito mais escassas.
Não estava a resultar e os domingos acabavam remexidos.

Sempre que nos reuníamos à mesa para almoçar ou jantar, parecia que ficávamos mais sensíveis e reativos. Aliás, a comunicação foi sempre um grande calcanhar de aquiles e continua a ser.

Na ânsia individual que cada um manifestava de partilhar um dado novo do seu dia a dia, da sua vida, havia sempre um de nós que interrompia e não sabia aguardar a sua vez ou a sua opinião ou as suas reações ou o seu mau acordar ou o seu espírito de contradição ou a sua impaciência e indiscreta intolerância. Centrados em nós próprios, arrotávamos ego embrulhado em emoção incandescente.

É uma cosa nostra, provavelmente, herdada dos nossos antepassados Corleones.

Apesar de mais desviados (mas não tanto) uns dos outros por questões de segurança, não conseguimos nos desviar por muito tempo e, mesmo à distância, a conexão não se perde ou enfraquece. Quando nos desentendemos é para a vida toda e quando regressamos uns aos outros é para toda a vida. Não há meio termo. Não há temperança. 

A Família está lá com seu temperamento difícil, suas imperfeições mas está lá e há recordações e muitas, muito boas, até mesmo, aquelas que acabavam a vomitar na berma da estrada ou com pai e mãe irados connosco e nossa pressa em chegar, viver tudo de uma vez e amuar por tudo e por nada.

Somos tão reais, tão verdadeiros, tão imperfeitos e talvez, por isso, nos atropelamos a todo tempo e toda a hora. Pode parecer mau mas, até que não é. Percebi que o nosso Amor é grande, doido e muito esponjoso.















 

  

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Essência Protagonista

 Tu que gostas muito de invocar a essência dos outros e debochá-la, diz me lá, qual é a tua essência?

Não estou a falar na parte que dás a conhecer. Estou a falar na parte que ninguém conhece e da qual não te orgulhas.

Diz muito de ti, o facto de achares que podes falar na essência dos outros, sem antes revelares a tua e expores as tuas fragilidades.

Acredito que aqueles que tiveram uma infância e adolescência isolada tiveram oportunidade de criar a consciência de si mesmos e a noção de que precisam melhorar algumas particularidades neles para desenvolverem a capacidade de aturar certas merdas provenientes de pessoas que se acham melhores humanos e mais capazes do que os outros, não porque o tentem ser, mas porque confiam que nasceram numa versão melhorada e não precisam de trabalhar nada em si. Apresentam-se no formato mais apreciado e que conquista mais pessoas, com a pretensão de mascarar uma vontade omissa, nem sempre inocente e que visa sacar benefícios egoístas.

Para aqueles que confiam estar bem resolvidos, a espiritualidade é o caminho dos confusos, fracos e traumatizados. O medo atroz de serem apanhados por essa energia demolidora e ficar submetidos a uma lavagem cerebral e cair no submundo da espiritualidade, chega a ser cómico.

Não compreendem, nem querem compreender.

Empobrecimento espiritual não existe para quem nem sequer sabe que tem uma alma.

Não nascemos preparados.

Nascemos em branco.  

Cada um escolhe a sua programação e em que versão quer viver. Há muitos modelos e versões com atualizações recentes para crescer e os que alimentam a pretensão de que não há nada a melhorar, não saíram do MS—DOS.

Se és um MS-DOS e só sabes desvalorizar a essência dos outros e estás convencido que a tua é a versão protagonista estás a boicotar-te e impedir viver com brilho no olhar, lágrimas de felicidade, com aconchego, borboletas no estômago, arrepios na pele, coração quentinho, com liberdade, com leveza e serenidade. Com Verdade!

quarta-feira, 3 de maio de 2023

"SEM NOÇÃOZISSE"

Sinto-me como se estivesse tapada por faltas. Não posso cometer mais deslizes. Já esgotei os créditos todos e, portanto, não me posso esticar. Corro o risco de ser expulsa deste mundo.

 A culpada é a minha espontaneidade desenfreada, desprovida de temperança, que me expõe desta maneira e que me arrasta numa corrente de “sem noçãozisse”, contrária aquela para onde todos correm. Pior do que isso é que, quando me apercebo e tento remediá-lo no imediato, só pioro ainda mais a situação e os olhares que me dedicam são desconexos.

Nunca vos aconteceu falar ou agir e não serem bem acolhidos, por parecer ridículo e despropositado a quem vos assiste? Se calhar, não! Provavelmente, esta deve ser uma característica muito minha.

Passo a explicar.

Outro dia entrei numa pastelaria e fui abordada por uma menina, que bastou se abeirar de mim, para eu lhe lançar um “Olá, Bom dia!”, entusiasta e num tom que captasse boa receção nos dispositivos auditivos presentes.

A menina, cujo nome não cheguei a saber, estranhou meu entusiasmo e simpatia, recuou uns passos, olhou para mim, como se estivesse a olhar para uma mulher com cinco pernas e, sem emoção na voz e sem devolver o bom dia, entrou no modo automático de serviço, para me questionar qual ia ser o meu pedido.

Percebi naquele instante que estava a agir com demasiada disponibilidade e que nem todos estão preparados para perceber e receber a minha erupção emotiva. Tenho alguma dificuldade em perceber em que circunstâncias e de que modo devo fazê-lo sem provocar reações como esta.

Já sem possibilidade de remediar a situação remeti-me ao silêncio, interrompido apenas pelo Obrigada, mas já sem euforia. Foi um Obrigada neutro e uníssono.

Não achei que me viesse a fazer falta a disciplina de boas práticas e protocolo para o meu dia a dia corriqueiro. Privilegiei outras matérias que me pareceram mais importantes, mas pelos vistos, deveria ter assistido a algumas aulas para moderar a minha urgência em criar bem-estar.

Alguém se identifica com esta inócua “sem nocãozisse”?

terça-feira, 18 de abril de 2023

O Padrão está em desuso!

O que é que este dia me reserva?


No concreto e imediato, um tratamento de dentes que me vai custar horrores em euros.

É bom que me tenham reservado doses industriais de anestesia. Posso até ficar com dormência bucal prolongada, boca de lado, baba em cascata e sorriso doente, só não quero sentir um calafrio ou arrepio de dor.

Aliás, não sei o que custa mais, se o dinheiro gasto para tirar um dente, restaurá-lo ou desvitalizá-lo, se a boca escancarada em súplica, os maxilares em esforço, a língua para baixo e em pânico ou o excesso de saliva, que o aspirador desespera para conter.

Pensando bem, a libertação de dinheiro para algo que pode ser provisório e não vir a durar é ruinosa.

Para mim, os dentes doentes refletem o estado da nossa vida.

O pior disto tudo é que a perda de dentes não traz outros de volta para repor as falhas. É um traumatismo exposto que te deixa vulnerável e, no pior dos cenários, desfigurada e distante da imagem perfeita e ideal.

Nascemos para ser bonitos e perfeitos. Este é o padrão.

Os dentes têm que ocupar todo os espaços, ser brancos como a cal, estar alinhados, limpos e imaculados.

A ser verdade que os dentes são o espelho da nossa vida, então, falhei cabalmente.

Poucos são aqueles que não têm chumbo.

Meus dentes nunca colaboraram para esse padrão e foram se fixando, conquistando o seu próprio espaço, porém distantes entre si. Algo que ajudou a identificar-me e a ganhar o rótulo popular e comum de mentirosa.

Com o patrocínio dos meus pais, coloquei uma mordaça metálica nos dentes para os forçar a não guardar distâncias e alinhar com os modelos de beleza universal e assim recuperar a vaidade em mim.

Na época, confesso, ter sido preponderante para a elevação da minha auto estima.

Hoje em dia, para meu descarado perplexo, as modelos com diastema são capa das revistas de moda com maior relevo internacional. Essa particularidade estética é vista como carismática, sedutora, charmosa e assume-se na rebeldia da diferença. Uma imagem de marca poderosa, que dantes era vista como imperfeita e inestética. 

Apesar de ter vindo com alguns anos de atraso, para tristeza da jovem que um dia fui, veio abalar os estereótipos de beleza escarnados.

A imperfeição passou a ser apreciada e aproveitada pelas marcas através de anúncios que exaltam sentimentos de empatia para com todos aqueles e aquelas que não cumprem os padrões de beleza "normais" e são vítimas de olhares, comentários e segregação.

Diastemas, heterocromia, vitiligo, estrias, entre outras imperfeições, outrora, vistas como anormalidades, nos dias de hoje, são realçadas e evidenciam a natureza feminina na sua plenitude e autenticidade, alegre e triunfante, que não esconde a invulgaridade e exotismo da sua beleza.




sexta-feira, 24 de março de 2023

Felizes e Convertidos

Temos de confiar nas pessoas. Não podemos continuar a querer controlar algo que não depende de nós.

CHEGA! 

Precisamos deixar de nos sentirmos perseguidos pela possibilidade de virmos a ser enganados e sofrer com isso.

  O nosso problema é:
- E depois, o que é que eu faço com o que me aconteceu?

Como se a prevenção nos impedisse ou protegesse da própria Vida.

Deixemos acontecer, caso venha a acontecer, nada é garantido, não queiramos antecipar cenários, diabolizá-los e, com isso, perder a riqueza, a aprendizagem, a grandeza das relações, com tudo aquilo que elas têm de bom e de mau. Usufruir para construir depois é o lema.

Precisamos relaxar!

Entregar-nos absolutamente e sem reservas.

Rir, chorar, abraçar, corar, soltar as emoções, beijar, arrepiar, amar livremente, assumir aquilo que temos de melhor e exibi-lo, demorarmo-nos no tempo e espaço que nos provoca as melhores sensações, cultivar a alegria que existe em nós. Gozar da nossa intensidade, do seu carácter único e intransmissível.

Não estamos a ser abusados, estamos a permitir-nos SER FELIZES.

Assim quando os dias tristes se manifestarem, não cairás no erro de acreditar que a Vida é só isso.

A Vida é muito mais que arreliações, desilusões, mágoas, tristezas, dor.

A Vida é Amor!



quarta-feira, 15 de março de 2023

PERSONAL INTIMIDATER

Estou numa luta interior para me obrigar a praticar exercício físico e combater o sedentarismo mas não está a resultar fácil, a aceitação desta convocatória mental, apesar dos seus inúmeros benefícios pessoais.
Não está fácil, porque eu insisto em associá-lo a obrigação.

Amanhã vou!
Juro! Amanhã vou dar tudo naquele tapete. Até vai fumegar de tanto uso que lhe vou dar.
Só que não. O pacote de bolachas saiu vencedor e o rabo entalado também.
 
Havia de existir um serviço idêntico ao serviço despertar porém mais eficaz, que nos intimava a praticar desporto e sem lugar a recusas, nem mesmo, em caso de coma irreversível. Bastava uma chamadinha estrondosa de um body builder/ personal intimidater pela manhã, que num tom audível, agressivo e bastante intimidatório, me fizesse cagar de medo e mesmo de pijama, correr para o ginásio e abraçar todas as aulas dentro e fora do meu plano de treino e nunca mostrar cara de sofrência. Morde o lábio, aperta as nádegas, range os dentes, revira os olhos, sorri de dor, faz o que for preciso, resiste até ao fim, depois sim, podes morrer à vontade.
   
OH MY GOD, como eu preciso desse bOOst de energia!

Nem o débito em conta me demove desta inércia paralisante.
Tem dias que me preparo para ir, até seleciono o meu outfit, privilegio a combinação e coerência de cores, reservo na app a hora de treino, faço alongamentos e agachamentos para aquecer os músculos, esboço um sorriso de iniciação e à medida que se aproxima a hora de honrar o meu compromisso, boicoto-me e logo a seguir arrependo-me, porém nada muda.
Pode ser que depois desta penitência algo mude e eu consiga criar o meu próprio bOOster de energia e vontade de contrariar este lugar comum.
Aguardem as cenas dos próximos capítulos ;)




 

 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

#Pensamento do Dia

Hoje está um dia gelado, porém soalheiro.
Promete bons acontecimentos.
Assim espero!

Pausa Reflexiva!

Sou obrigada a reverter este pensamento, pouco ou nada fortalecedor, para um outro.
Não esperes, vive!

Na verdade, nas nossas vidas existe uma alternância súbita e quase impercetível entre o bom e o mau. Faz-me lembrar aquele nevoeiro que surge sem avisar e se adensa muito rapidamente e ativa nossos alertas.
Nada é permanente. Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe. Já diz o ditado popular e com muita propriedade.
É ou não verdade que, estamos mais programados e preparados para receber o mau em detrimento do bom e, de cada vez, que temos oportunidade de viver bons acontecimentos, insistimos em espreitar por cima do ombro. Este gesto indica premeditação para o pior.
Chega a ser insana esta vigilância e suspeição permanente.
Não precisamos estar de costas para o mau acontecer, mas basta rodarmos ligeiramente noutra direção, para o bom se esvanecer e acabar por desaparecer, sem nunca termos gozado da oportunidade de vivê-lo.
Masoquismo é um eufemismo para definir esta renúncia à felicidade imediata.
Ah, espera aí felicidade, que estou a vigiar a porta, não vá o diabo tecê-las.
Este comportamento é a caricatura fiel do que acontece connosco e nós nem nos apercebemos.

#pensamentododia #gratis



   



quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Sem Ilusões

Aqui está ele, num tempo que não é o seu. Pelo menos, não o sentia seu.

Não lhe apetecia contrariá-lo. Não se sentia capaz para isso. Quem o via assim dizia que se tinha resignado. Não compreendiam e obrigavam-no a reagir.

Desistiu de querer porque, na verdade, também não sabia muito bem o que queria.

Quando sofres e esperas que passe rápido, porque não estás a aguentar mais, acabas só por esperar que tudo normalize e não há cabeça, nem coração para sair dali em busca de algo melhor. Nem sequer há forças para procurar seja o que for.

Para um sofredor, a normalidade é o melhor que pode acontecer. Ele inclusive acha que não está intitulado a algo melhor. O mais provável é acontecer o pior e isso torna-se num receio avassalador e a ele, num desistente sem causas.

Tentar de novo implica estar preparado e ele tem recusado sucessivamente esse repto. Já não sabe mais o que procurar para si e por si.

Acho que está à espera do inesperado, do fator surpresa, de se deslumbrar e escapar do seu estado catatónico.

Outro dia sentou-se num banco de jardim. Chovia copiosamente e ele ali, sem dar por nada, a esvaziar-se de pensamentos. Em volta, passavam pessoas apressadas, que nem valorizavam a sua perplexidade ao vê-lo ali, exposto àquele cenário alagado.

Nenhuma companhia teria a capacidade de melhorar o seu dia e quem se atrevesse iria sujeitar-se a viver aquele momento alto de vulnerabilidade e a ter de resistir.

Quisera ficar ali, a alimentar-se da mesma seiva das árvores e transpor todas as estações do ano com a mesma resistência das suas amigas de puro sangue verde.

Há sempre um caminho a seguir mesmo que em modo piloto automático e foi o que ele fez.

Seguiu sem ilusões, mas seguiu apesar das contrariações.




quarta-feira, 27 de abril de 2022

Esta miúda, não pode andar bem!


Esta frase ainda ecoa na minha cabeça. De tantas vezes proferida, acabou por ficar ancorada em mim.

Sempre que eu agia em discordância, era me devolvida esta mesma frase.

A certa altura, desenvolvi a crença limitadora que me fazia sentir uma menina diferente e isolar-me no meu quarto a ler em voz alta, ganhou o topo das preferências.

O isolamento trouxe-me benefícios na reserva de mim mesma, mas precipitou algumas fobias.

Vivia escondida, com medo de notarem a minha presença e não conseguir corresponder às atenções postas em mim.

Não sabia como agir, então, agia com agressividade se tentassem forçar a minha aparição ou participação. Carregava a crença da problemática e cada vez mais incompreendida.

Doces e livros eram o alívio de tudo isso. Aos doces ia buscar afeto e brandura e através dos livros, escapava da minha condição de mal-amada. Distraía-me com a riqueza artística das personagens e imaginava-me tão poderosa quanto elas.

Este foi o meu primeiro episódio relacionado com a saúde mental e, desde então, tem sido um tema grato e sensível.

Revisito esse período que ditou o meu crescimento. É inevitável!

Contudo, continuo a travar batalhas interiores que me fazem questionar e procurar recursos internos e externos para não regressar às crenças antigas e refugiar-me uma vez mais na tristeza.

Por vezes é necessário silenciar o que sentimos e lembrar do que merecemos.

Os Amigos Imaginários, a série espanhola Verão Azul, os Livros de Enid Blyton, a Glória Pires e suas personagens, as novelas brasileiras no geral, a música das Divas dos anos 80, ajudaram no período da adolescência a secar minhas lágrimas e fazer-me sorrir de esperança.

Todos os Verões, nas férias escolares, Bea, Desi, Javi, Pancho, Piraña, Quique, Tito, cada um na sua bicicleta, exploravam lugares, sentimentos, desilusões, aventuras, conquistas, gozavam da liberdade de ser em pleno na Costa Sul espanhola.

Hoje, bem mais velhos, muito provavelmente, essa capacidade própria da puberdade perdeu-se e talvez seja mais difícil relativizar o seu estado e viajar para um mundo melhor, ainda que, por breves instantes.

Curiosamente, lembro-me de mascar pastilhas elásticas da marca gorila e insuflá-las numa bolha de ar gigante até rebentar na minha cara, deixando uma frescura a mentol. Eu achava divertido e repetia-o incessantemente.

Cada bolha de ar que rebenta representa aquilo que precisa ser destruído para poder avançar com leveza e alegria. É esse o grau de importância que dedico à saúde mental.

É caso para dizer que, a miúda do passado é a mesma miúda sensível e ansiosa que teve de sair do seu quarto mágico, com as pastilhas elásticas no bolso, as unhas roídas, assustada e receosa.

Perseguida pelo espírito e voz do passado - Esta miúda, não anda bem! – precisei de recorrer a ajuda e ainda bem que o fiz.

E concluí que, esta foi a maior demonstração de amor próprio.

A desarmonia de emoções que a lembrança dessa voz me provocava fez-me viciar em pastilha elástica, em livros de autoajuda e em terapias comportamentais efetivas.

Afinal, não podia ficar no quarto a Vida toda. Se bem que de vez em quando é uma tentação.

Se a ignorância falasse iria rotular esta minha vontade de procrastinação e estigmatizar-me, mas ela nem sabe quem eu sou e porque sou assim.

Assobio à ignorância, mas não assobio à saúde mental!

Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...