terça-feira, 26 de julho de 2011

Personagens Menores


Esta história pode ser apresentada de duas perspectivas. Sob uma perspectiva cómica ou sob uma perspectiva trágica.
Três personagens, três vidas, três criaturas sem noção, num só espaço, desdenham de tudo aquilo que não compreendem e que se apresenta melhor que elas.
Chamemos à nossa primeira personagem Fedora. Ela é a rainha do Fedor. Tudo lhe enoja mesmo antes de sentir ou de provar. Mulher intrometida, inconveniente e sem educação. Julga que tudo lhe diz respeito e sobre tudo tem que opinar. Impiedosa a criticar os outros, que destoam da sua maneira de ser. Raramente coloca em causa as suas acções, que quanto a si são sempre as melhores e as mais adequadas. Procura, constantemente, um alvo a perseguir como forma de entretenimento e para coleccionar matéria que quebre com a sua imensa falta de espiritualidade. É incapaz de ficar em silêncio, perscrutando seu próprio interior. O bem estar dos outros afecta-a de tal maneira que não consegue evitar detonar a felicidade alheia, com seus desabafos infelizes e carregados de inveja. Não reconhece mérito nos outros e, sem contexto algum, reclama atenção colocando em evidência ela própria e os da mesma criação que a sua. Não oferece qualquer surpresa nem deslumbre, só pena. Sua altivez desconcerta-nos porque só testemunha a sua própria mediocridade interior.
A segunda personagem consegue ser mais moderada em algumas manifestações próprias de um Ser Menor. Chamemos-lhe Bexiga. Apresenta-se tal qual uma víscera oca que se julga muito imprescindível e de extrema fiabilidade. Chega a ser irritante sua sapiência saloia cada vez que tenta auto-promover-se, a toda a hora, sustentando-se em nada concreto, nem tão pouco relevante. Sempre que pode, rouba o momento do outro para tentar surpreender a plateia, tentando convencê-los de que sabe o que diz. Na verdade, ela expulsa aquilo que os outros já mastigaram. Seu raciocínio é básico e pobre em conteúdo. Adora imitar e chamar a si o que não é da sua autoria. Defende-se antes mesmo de ser atacada, com medo que a desmascarem. Parece aquele miúdo incontinente que tresanda a urina e mesmo assim tenta esconder o óbvio até às últimas consequências, para não parecer mal e reprovável. 
Seu cérebro não consegue filtrar aquilo que não carece de verbalização. Comunicar sem pensar é um hábito recorrente da Bexiga. 
A terceira e última personagem é uma combinação destas duas mas numa versão agravada. Chamemos-lhe Obtuso. Este nome assenta-lhe bem mas outros há, que também o descreveriam na perfeição. 
O género é tão insuportável que até receio ao invocá-lo empestar meu pc com uma torrente de vírus nocivos e altamente destrutivos. Sem graça exterior, nem interior que compense. Amargo como rabo de gato. Seco e árido, afasta todas as espécies incluindo as rastejantes. Insensível, preconceituoso, maldoso, impiedoso, intolerante, são as características que melhor o identificam. Pode parecer implacável e cruel a minha apreciação mas só quem convive de perto pode comprovar e até desaconselhar sua presença nefasta.
Atormentado por um sentimento de inferioridade profundo tenta abafá-lo com sua arrogância inconsistente. Suas exibições demonstram ressentimentos inultrapassados. Não sabe perdoar nem reconhecer que errou. 
Em vez de se esforçar por melhorar-se enquanto pessoa, prefere vingar-se do mundo como se o mundo não o merecesse. Assustador é saber que se auto intitula um cativador de almas perdidas e em perigo. O seu poder tem tudo menos de curativo. Ele próprio é um ser incurável que não sabe amar o outro.
Fedora, Bexiga e Obtuso são uma irmandade de profetas da pobreza interior, que não chegam a fazer história.
Lamento mas o que quer que fosse que surtisse da combinação destes três resultaria desagradável. Ninguém merece. 
Qualquer semelhança com estes perfis é pura coincidência. 

1 comentário:

  1. Adorei;)) alias lamentavemente conheço algumas Fedoras e algumas Bexigas, confesso Obtuso ainda não me passou no raio x;))). Continua cada vez gosto mais de ler a tua escrita. Fâ;)

    ResponderEliminar

Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...