in Diário da tua Ausência
Margarida Rebelo Pinto
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Não estavamos preparados mas sabíamos que ia
acontecer. Mesmo assim arriscamos. Assumimos sem pensar naquilo em que nossas
Vidas se iriam transformar. Muitas emoções se atropelaram, tantas que algumas
ainda estão por descodificar e por pouco não arrasaram connosco. Volto a dizer,
não estávamos preparados para abdicar de nós, das nossas vontades, dos nossos
ócios e de alguns prazeres também. Apesar de continuarmos a dizer que trouxe
felicidade, certo é que também abalou com alguns alicerces pouco sólidos e que ameaçaram
ruir caso não tomássemos uma atitude.
Se calhar nós é que não havíamos dado conta
que estávamos distantes, na forma de estar, de pensar, de reagir, de exprimir,
de encarar a realidade. Muito provavelmente, andávamos distraídos no
computador, no trabalho, na leitura, na selecção dos programas de tv, nas
saídas a dois no meio da multidão, nos nossos hobbies e de repente temos que
colaborar em equipa e criar consensos. Afinal, viemos a descobrir que também há
algo que nos desune e em que nos revelamos antagónicos.
Cada um quis impôr suas razões e nenhum
estava disposto a aceitar a razão contrária porque afinal estavamos ambos a
colaborar para o mesmo e a dar o nosso melhor e nada mais ofensivo do que nosso
parceiro para a Vida nos venha apontar erros ou más condutas, quando apesar de
todas as contrariedades continuamos ali, presentes, activos, resistentes e a
dar tudo de nós.
Quando damos por nós estavamos a discutir
miudezas e a esgotar as energias remanescentes, que deveriam ser empregues em
algo que ajudasse à regeneração física e psicológica.
Já nem havia tempo para lamber as feridas. Só
havia tempo para repetir tarefas e descansar nos intervalos. Qualquer incómodo
era encarado com a nossa máxima intolerância, a qual se encarregava de azedar o
ambiente e contribuir para silêncios profundos, mágoas, distanciamento
emocional, desilusão e uma sensação de perda iminente.
Estavamos demasiado cansados para procurar
outras formas de reacção com efeitos apaziguadores. Limitavamo-nos a aliviar o
nosso desespero com troca de palavras, mais letais que disparos de bala.
Apesar de alguns saldos negativos, ainda
ficamos com algum fundo de maneio para tentar mais uma vez recuperar a felicidade
que existia quando estávamos juntos.
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