terça-feira, 2 de setembro de 2014

Aos Papéis

Reunimos tantos papéis e tão diversos uns dos outros que, por vezes, se torna impossível não colapsar. Somos filhos, somos irmãos, somos pais, somos maridos, mulheres, somos tios, somos padrinhos, somos afilhados, somos sobrinhos, somos netos, somos cunhadas(os), somos noras, genros, etc. Acumulamos muitos papéis e a juntar a esses ainda temos as funções de responsabilidade social e profissional. É muita carga. Quem procura um desempenho exemplar há-de inevitavelmente cair em frustração. Certamente não iremos brilhar em todos esses papéis ou sobressair social e profissionalmente. Não porque sejamos incapazes ou menos dedicados, algo nos desvia e nos empurra a explorar determinadas vertentes da nossa vida em detrimento de outras. Para além disso há papéis mais exigentes que requerem muito de nós e que marcam indelevelmente nossas Vidas e depois há em, certos casos, episódios que precipitam nossas aproximações a certos perfis. Há contextos onde somos mais amados ou, melhor dizendo, onde nos sentimos parte integrante e com influência ilimitada.
Curioso, ocorreu-me agora mesmo, o porquê de existir a combinação de papéis marido e mulher. Se interpretarmos com maior acutilância percebemos que dito assim, então, para ser Mulher tem que obrigatoriamente ter companheiro ou alguém a quem se dedicar. Neste contexto, é a Mulher de alguém e não a pessoa do sexo feminino, livre e independente para optar. Somos a circunstância de alguém.
É nisto que reside a dificuldade de assumir certos papéis. Trazem demasiada carga afetiva que por vezes só atrapalha na resolução de certos conflitos. Não conseguimos travar as palavras, abafar as emoções, disfarçar nosso descontentamento, renunciar os nossos desejos, exigimos demais, sofremos por antecipação, queremos intervir, ser parte ativa, insistimos em emitir opiniões, tememos sempre o pior, queremos que nos ouçam sem interrupções, desejamos que queiram o mesmo que nós, queremos muitas vezes o impossível.
Nossos movimentos têm o mesmo impacto nas nossas vidas que as movimentações das peças de xadrez têm na decisão do jogo. O cronómetro debita tempo e por isso não há lugar para abrandamentos. Tic tic tic sem aliviar.
Tem dias que me sinto um polvo com dezenas de tentáculos cheios de elasticidade e que chegam a todo e qualquer lado. Noutros dias, sinto o seu peso e só os consigo arrastar comigo.
Uma vez imbuído da responsabilidade de cada um desses papéis, deixarás de ser absolutamente livre. Passa a ser uma missão de Vida. Mas será que queremos ser absolutamente livres? Não será que essa pseudo liberdade nos devolve à solidão?

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