segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Plateia faminta

Não entraste sozinha mas também não entraste acompanhada. Contigo, iam os teus pensamentos, inseguranças e tiques, reguladores das tuas emoções em cascata.
Escolheste sentar-te no meio da sala. No epicentro de todos os olhares indiscretos e invasores.
Os espíritos julgadores observavam-te insistentemente, enquanto, criavam conteúdo inútil.
Eu admirei, de longe, a tua coragem e autodomínio.
O vizinho da mesa ao lado quis cruzar olhares, em busca de validação feminina e confirmar que a sua masculinidade continuava ativa e saltitante.
Julgou-te disponível, desesperada, carente e desejosa de ter uma presença masculina do seu lado. 
Um julgamento pobre em argumentos, a combinar com a sua fisicalidade em apuros.
Concentrada no livro ou a tentar não divagar, numa alternância desordenada e conflituosa, só interrompida pela chegada fumegante do prato de lasanha de pacote, obrigaram-te a erguer os olhos e encarar a plateia faminta.
Um circo de distrações que teimaste em rejeitar, até à tão aguardada saída.

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