terça-feira, 24 de junho de 2014

Cereja no topo do bolo

Carga muita carga, tanta que veio a tornar-se um pesado fardo. Não aliviava e, quanto mais Camila se consumia, maior dimensão ela assumia. É preciso estar preparado. Dizia a voz da experiência. Mesmo assim e depois de muitos km percorridos nessa missão, nunca se está definitivamente preparado. Não basta querer, amar a ideia, amar incondicionalmente, assumir, assimilar, porque todos os dias é uma batalha. Camila sempre quiz, sempre amou a ideia, ama incondicionalmente, assumiu a 100% essa missão, assimilou e continua a assimilar toda a informação útil para a prossecução dessa missão mas parece não chegar para dissipar certas inseguranças que advêm do grau de entrega exigido. Não há instruções, não há ideais, não há tréguas, não há uma forma para agir, há 1001 formas, o que compromete o sucesso da missão, é difícil não falhar ou melhor é difícil acertar sempre, pelo que, mais do que uma missão, Camila encara-a como uma aprendizagem. É preciso estar atenta e focada. Algo que surge assim que nos envolvemos nessa cruzada de Vida.
Alguém disse a Camila que os filhos são a cereja no topo do bolo. Não devem ser o único maior acontecimento da nossa Vida, que afinal já decorria até à sua chegada mas é, sem dúvida um acontecimento importante e marcante. Camila entendeu perfeitamente essa mensagem, até porque, uma das muitas lições que foi obrigada a aprender com a chegada do Dani e que fizeram disparar o seu crescimento pessoal, foi a combinação harmoniosa de certos fatores para exercer o seu papel de Mãe e gerir melhor essa missão. É fundamental que se sinta bem para estimular positivamente e transmitir boas vibrações aos que mais dela precisam e que, por sua vez, funcionam como bombas injetoras de energia que a farão continuar e progredir. 
A responsabilidade é muita e Camila sente que precisa defender o seu petiz das ausências de quem deveria ter um dos papéis fundamentais, das preferências que tornam o seu menino um dos preteridos, das poucas ocasiões criadas para gerar um amor mais sustentável, da falta de dedicação. Camila terá, inevitavelmente, de sofrer porque não há nenhum Grande Amor sem dor. 
Aos poucos vai se convencendo que nem sempre o que é esperado e aguardado acontece. Não aconteceu no passado, certamente, não se irá repetir no presente. Terá que garantir que não se criem vazios e ressentimentos que constranjam a "cereja" no topo do seu bolo.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Pick Me

Reagir ou  não reagir. Influenciar ou deixar fluir. Impôr-se ou manter-se à margem. Mostrar indignação ou conviver com o que existe. Chamar as atenções ou preferir o anonimato. Marcar posição para dominar ou dominar para marcar posição. Querer ser mais e maior ou querer ser mais e melhor. Estas e outras opções criam lutas internas e desafiam nossas características pessoais e nossa forma de Ser e de Estar. Muitas vezes pensamos que este perfil só nos retira oportunidades e ganhos,  somos mais sentimentais que cerebrais, mais preocupados com o outro ou os outros do que connosco próprios, sem ambição de poder, nascidos para amar e ser amados, somos desvalorizados porque não pedimos nada nem exigimos, deixamos que se apercebam de nós pelo tanto que somos e continuamos a ser. No entanto, já percebi que há uma atração inexplicável por aquele género, fachada de uma herdade em ruínas. Eu Sou, Eu faço acontecer, Eu Tenho, Eu conheço ou conheço bem quem conhece, Eu posso, Eu, Eu e Eu e só Eu a garantir o que não está lá nem nunca estará. Um género tão comum que facilmente encontramos em qualquer contexto seja social, profissional, relacional, familiar, etc.
Perante a propagação rápida desse género de espécie ficamos com a sensação de que nós é que somos o animal em vias de extinção, a ave rara que ninguém sabe retirar aproveitamento. Sim, porque, hoje em dia o que representa maior importância é o teu grau de utilidade e o aproveitamento que podem retirar daí e tu, por sua vez, se não quiseres ficar para trás deves repetir esse mesmo comportamento com terceiros e ganhar vidas como no candy crash ou seguidores e gozar das suas vantagens.
Se calhar há egos, tão mas tão gigantescos, que não há espaço para os demais.
Tu, Eu Aliás Todos Nós exibimos um carimbo na testa. Descartáveis ou reutilizáveis. Tão atual que é esta temática da causa ambientalista que procura evitar desperdícios. Será que não estamos a desperdiçar o que temos de melhor e verdadeiro e a reutilizar pimpões a sacudir vaidade, sem educação nem princípios ,  que manipulam os outros a acreditar na sua utilidade só porque sabem como ninguém dar boas palmadinhas nas costas e sabem fazer uma boa triagem das pessoas certas para ajudá-los a trilhar o seu caminho. Sabem encostar-se, criar empatias e convencê-los a apostar neles, mesmo apresentando um histórico nada auspicioso.
O seu ego gigantesco não os faz desviar do que querem possuir sem merecer.
Seu crescimento foi baseado na facilidade e se obstáculos houvesse bastava fazer o truque do cachorrinho de olhar meigo sem dono, desprotegido e faminto.



segunda-feira, 21 de abril de 2014

Pepita e sua Maldição


Pepita Cardo riscou aquele soalho flutuante, tantas e tantas vezes, num corrupio incessante. Em silêncio se confessava e em silêncio se retirava novamente, para mais tarde voltar. Aqueles exíguos metros quadrados de espaço guardavam segredos, abafados por paredes duplas de gesso, cobertas de memórias, pensamentos, histórias de vida, retratos, recordações, vestígios de uma passagem prolongada. Aquele espaço era bem mais que uma cela era o seu refúgio sagrado com entrada restrita. Nele criava os seus disfarces, ensaiava o seu papel para aquela noite e preparava os diálogos com os quais pretendia enrolar suas vítimas, nunca agia da mesma forma para não perder eficácia. O mais importante era nunca perder o contole da situação e dominar para conquistar. O que mais a excitava era a sensação de poder que lhe dava mais do que convertê-los aos seus caprichos. O medo nos olhos das suas vítimas, levavam-na ao rubro e a uivar de satisfação. Os melhores eram aqueles que imploravam para que os poupasse da sua diversão com requintes de malvadez.
Estudava ao pormenor os seus peões, seus percursos de vida, seus princípios, suas personalidades, suas maneiras de estar, seus passos, seus vícios, seus pontos fracos e principalmente suas falhas de carácter. Quanto mais imperfeitos fossem maior seria a probabilidade de caírem na sua rede de perigosa sedução. Certamente, poucos iriam chorar suas ausências ou guardar boas memórias suas. Esses eram o seu alvo preferido.
Inicialmente, fingia ser ela a corsa perdida na floresta que aceita ser resgatada pelo macho experiente cheio de boas intenções. Raramente falhava. Eles, por sua vez, sentiam-se esperançosos, vulneráveis, ansiosos e confiantes de que estavam em vantagem, inconscientes do perigo em que poderiam incorrer.
Poucos a surpreendiam. Na verdade, era mais ela a surpreendê-los. Aliás esse era o grande objectivo.
Todas as noites repetia o mesmo ritual que a poderia levar a ser candidata de um óscar, caso se tratasse da cena de um filme, onde ela participasse como protagonista, tal era a dimensão da sua capacidade de iludir e convencê-los das suas personagens. A sua escola foi a Vida amarga que levou e da qual nunca recuperou. Alguém tem de pagar. Pagam aqueles que reproduzem a imagem dos fantasmas do seu passado e que para ela valem muito pouco enquanto pessoas.
Com o tempo, o seu distúrbio foi-se intensificando em vez de enfraquecer. As suas iniciativas não contribuem para a sua recuperação. Pelo contrário, fazem crescer ainda mais a raiva e a vontade de castigar aqueles que descendem em carácter e atitudes do causador da sua bipolaridade.
Desse já não reza a história. Tropeçou tantas vezes no seu caminho que acabou por morrer nesse mesmo trajecto. Desta vez tropeçou mas não se levantou mais. Morte ocasional. Assim se rematou o caso sem levantar suspeitas.
Desde esse dia Pepita Cardo insiste em querer matar a imagem do seu agressor vezes e vezes sem conta, que apesar de morto, continua bem vivo e amaldiçoando sua vida.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Felicidade Presumida

Colocam-nos no mundo, dão-nos uma Vida, apresentam-nos a realidade e lá vamos nós patinando até ,por fim, encontrarmos um equilíbrio que nos faz aproximar de certas pessoas, fixar-nos num determinado lugar, conquistarmos coisas, memórias, afectos, ligações e, tudo isso, vai ganhando raízes e assumindo um prolongamento de nós e que inevitavelmente hão-de condicionar a nossa felicidade. Eles são a nossa seiva, o que nos move e o que nos faz reencontrar com a realidade todos os dias com a mesma esperança. Sabemos que o pior permanece à espreita mas nunca esperamos ser alvo da sua expiação. Nós que somos gratos por quem temos e pelo que temos. Seria injusto demais sermos castigados de uma forma tão madrasta.
Uma Vida representa muito pouco tempo para alcançarmos a felicidade plena e, ironicamente, bastam alguns minutos ou até segundos para cairmos em desgraça e devastarem a nossa vida, até ali presumidamente feliz. 
Porquê? Mas Porquê?
Nunca saberemos verdadeiramente porque fomos os escolhidos para carregar tamanha dor. Uma dor excruciante e que custa a passar. Ela ajuda a não esquecer e a manter viva a presença dos que partiram e que tanta saudade deixaram. Nada nem ninguém nos pode consolar.
Ficou tanto por dizer. Aliás ficou o principal por dizer. Podia ter dado mais de mim, ter sido mais atenta, mais presente, mais paciente, mais compreensiva, mais companheira(o), mais, muito mais. Pensamentos como este agudizam mais a dor.
Nunca saberemos por quanto tempo durará a nossa felicidade e que mudanças nas nossas vidas teremos que empreender para repormos um novo equilíbrio. Garantidamente, perdemos muito tempo com o risível, com a insignificância e quando damos conta já não há mais possibilidade de repô-lo e ocupá-lo de uma forma mais profícua, a distribuir e receber felicidade.
Estar vivo é uma dádiva que não pode, ou melhor, não deve ser desperdiçada inutilmente. Cuidemos melhor dos nossos dias, das pessoas que amamos, de nós, do nosso espírito, da nossa vida.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Epidemia do Amor

Não sou profeta do bem nem discípulo do mal mas sei a quem quero bem e de quem apenas quero distância. Principalmente sei a quem quero bem e desses não perco memória porque a eles sempre retorno mesmo quando andamos às avessas. Há um magnetismo qualquer chamado de Amor que nos empurra para junto deles. Apesar de saber que não são perfeitos, aliás são irremediavelmente imperfeitos, nossa Vida é bem melhor quando os temos por perto. Se bem que seria ainda melhor se nos comunicássemos melhor e, por conseguinte, nos viéssemos a compreender melhor ainda uns aos outros.
Fomos respingados pelo seu Amor e enfeitiçados até à medula e arriscamo-nos a imitá-los um dia.
É pior que perfume impregnado na roupa e envolvido com o nosso próprio cheiro, gerando uma combinação única. Eles também definem a nossa identidade. Só a eles pedimos o mundo e exigimos o mundo.
Há o ADN e há o NDA (Nada Domina o Amor). Um é o nosso registo genético e o outro uma evidência.
Tantas vezes me apeteceu correr na direcção contrária e fugir de certas evidências, porque não me revejo ou não me quero rever mas há algo em nós que resiste e é castigante quando tu queres destoar.
Quero quem me quer bem porque gostar é isso mesmo, troca, partilha, reciprocidade, reconhecimento, realização. O Amor confere-nos uma certa imunidade relativamente ao que corrompe o bem e protege-nos do mal. Quanto mais nos conservarmos no Amor, maiores são as nossas defesas.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Pinchers sarnentos

Algo mudou, ou melhor, tudo mudou. Não sei se é bom ou mau. O que eu sei é que não tem sido fácil e só me apetece gritar, espernear, descarregar a pressão toda, desaparecer e voltar quando meu espírito acalmar. Certamente irei estar fora por um longo período.
Intolerante é assim que eu me sinto com tudo e com todos. Já não sei, nem quero lidar com a mediocridade, aturar manipuladores e egoístas, falsidades, invejas, manias de quem se julga importante, vaidade de gente oca, conversa fiada que vai matando o vazio, falta de personalidade e firmeza de caráter, curiosos devassos, inconvenientes, convencidos e exibicionistas. Onde páram os seres magnânimes, de espírito elevado, grande capacidade e sabedoria, seguros de si e que nunca entram em disputas inúteis e sabem valorizar-se e valorizar? Onde os posso encontrar? Quero aprender com eles e crescer até atingir a sua dimensão e qualidade de seres superiores e inatingíveis. 
Estou saturada de pinchers armados em rottweilers. 
Um rasteiro jamais deixará de ser rasteiro mesmo que se queira impôr como tal. Falta-lhe o principal, pedigree. Ou se tem ou não se tem.
A minha vontade era dar-lhes um chuto e amolgar-lhes o focinho mas então é que ia ter que aturar seus ganidos todo santo dia. Melhor não.
Preciso de silêncio mas do bom silêncio, daquele que não denuncia tensão nem expiação Como eu gostava de poder mergulhar nesse dito silêncio bom e boiar livremente e perder o contato com certas realidades desanimadoras e só vir à tona quando me bem apetecesse.
Porque é que não gozamos da mesma função do rádio, poder sintonizar-nos na estação e frequência que mais nos apraz? Tem dias que sinto estar em modo AM, agonia maldita e demoro a atingir modulação FM, Felicidade Mais.
Dias difíceis, dizem que representam a melhor aprendizagem para a Vida. Mas porque é que a aprendizagem através da facilidade não é tão eficaz? Porque é que tem de ser "hard way" e não "easy way"? Cá para mim a dificuldade pode trazer recalcamentos e nada ensinar.
Só sei que quero aprender com os melhores mas só me aparecem pinchers sarnentos.



segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Inquilinos Intrusos

Eles estão a chegar aí muito rapidamente e eu não tenho outro remédio senão aceitar a sua chegada com resignação. Os inquilinos anteriores agiram da mesma forma. Instalaram-se sem sequer aguardarem as minhas boas vindas e passado um ano, deram lugar a outros. Eu nem me sentia preparada para os receber, assim tão de repente e aceitar que algo mudou ou que algo estaria prestes a mudar. Na verdade, já tinha vindo a notar que os cremes de rosto têm perdido eficácia e a fotogenia havia-me abandonado quando mais precisava dela, mas mesmo assim podiam ter sido mais discretos na abordagem.  Ainda para mais não dá para aplicar o truque das velas, invertendo posições. Se o fizesse teria que retirar a placa dos dentes para bufar as velas. Não me deram alternativa. Trinta e oito. Trinta mais oito. Será que não dá para lançar esses oito numa fase posterior, quando não fizer diferença nenhuma no saldo final. Sei lá, quando atingir os 90 e não der mais para recarregar as pilhas, então aí sim, faria sentido repor esses tais oito desavindos.
Já diz a Vanessa da Mata "... É demais, é pesado....".
A nossa idade podia regular pela medida dos protetores solares. No caso, bastaria preencher na idade 30+. Corresponderia a um moreno pouco intenso. Afinal, vamos perdendo a intensidade de cor e a elasticidade também.
A idade a mais não traz evolução, traz sim confusão mental. Para quê converter em números a nossa idade e baralhar ainda mais o nosso sistema. Prefiro encarar que ganhei 38 créditos para aplicar na minha Vida, no meu crescimento. Temos que encarar a nossa idade como uma benesse por que nos possibilita dar continuidade à nossa Vida e enriquecê-la ainda mais e ainda por cima lucrar com uma fatia de brigadeiro de chocolate húmido e macio e os parabéns por apenas existir. Mil calorias depois e um ano mais velha, continuo a sentir que há muito mais para além de um número par composto por dois algarismos também pares, há Vida, há oportunidade, há tudo aquilo que ainda está para ser e fazer.
Se eles perguntarem por mim, os tais inquilinos de que vos falei, peçam para virem mais tarde que eu ainda estou a fazer o funeral dos 37 :)


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A Guerreira

Nunca desistas de Mim, porque eu Nunca desistirei de Ti. Quando os meus joelhos fraquejarem, a força física sucumbir e a resistência quebrar, conto contigo para me fazeres esquecer o quanto dói. Só tu podes fazê-lo. Só tu sabes fazê-lo. Sabe bem entregar-me nos teus braços e deixar que tu assumas o papel que habitualmente era meu e passares tu a liderar. Ser forte o tempo todo desviou-me daquilo que me faz bem, porque obriguei-me a resistir às sensações boas e más. À medida que elas iam chegando eu ia matando-as a todas sem critério. Não havia tempo para seleccionar. Na minha cabeça soava constantemente É Obrigatório Agir. Neste momento, não quero, não posso, não tenho mais energias para controlar tudo. Vou deixar-me cair às cegas esperando que os teus braços estendidos estejam lá para me amparar na queda. Desta vez sou eu a precisar de Ti. Mesmo de olhos fechados continuo a ouvir-te e a apreciar tua presença. Animas os meus dias. Apesar de eu não poder interagir tanto, nada mudou. Nem quero que mude. Se assim fosse sentiria que algo se perdeu.
Se eu não der pela tua presença, interrompe o meu sono, quero estar desperta para te ver. Não sou dada a sonos profundos. Deixam-me os olhos inchados e diminuem-me a visão.
Nunca pensei vir a desejar ingressar na rotina e rodar a mesma bobine vezes e vezes sem conta. É bom fazer parte do filme em rodagem.
Obrigaram-me a acalmar, eu bem não queria mas se calhar estava a precisar de abrandar. Por isso, para não perder o andamento da carruagem vai-me mantendo informada. Entretanto vou fazendo a lista do que ainda me falta fazer e que dará ainda maior importância à Minha Vida, já que as listas do supermercado ficaram a teu cargo, assim sempre fico com mais tempo livre para outras listas.
Tudo está bem desde que não prolonguemos tristezas e projectemos maus cenários. Que Melhor cenário poderia haver eu e tu, juntos no mesmo espaço, partilhando episódios da nossa Vida e  programando outros ainda mais animados. Não quero pensar no Amanhã. Na minha idade deixou de ser divertido pensar no Amanhã. O Hoje é o que eu tenho de mais garantido e é a ele que me vou agarrar corajosamente e prometo não dar tréguas.
Ainda estás aí?




 



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A Maçada do Amor

O que é o Amor. Ninguém me ensinou a Amar, fui vendo e aprendendo e, continuo nessa fase de observação e aprendizagem. Quanto mais me especializo no Amor, mais o acho complicado. Tem dias que o sinto, tem outros que nem o chego a apalpar. Se calhar eu é que não sou assim tão permeável e ele até pode lá estar, mas eu é que não o consigo absorver. Meu maior problema é continuar a achar que Amar é querer estar por perto, dedicar atenção, perscrutar em silêncio, dar a mão, abraçar, apoiar, acolher, marcar presença nas datas importantes e, principalmente, quando mais precisamos, compreender sem julgar, querer ouvir a tua voz, querer ver-te sem pretexto, querer saber de ti, querer estar contigo, não abdicar de ti em favor de interesses egoístas ou atribuir preferência a outro tipo de público com a pretensão de conquistar um fã clube e alimentar assim uma vaidade imensurável. Provavelmente, eu é que estou errada e nem todos partilham da mesma percepção pessoal do Amor. Se calhar esta visão romanceada do Amor é exagerada e grudenta, para aqueles espíritos mais independentes e distraídos. O Mal do Amor é que ele não atinge todos da mesma maneira. Nem todos o sentem da mesma forma e, principalmente, nem todos o sabem honrar.
Amor é acudir, é estar lá, é meiguice, é afecto, é promover o inesperado, é verdade, é lealdade, é fidelidade, é compromisso, é rir e chorar junto, é sofrer por alguém que nunca queremos ver partir, Amar é reconhecimento, agradecimento, gratidão. Sofro só de pensar que um dia não verei as pessoas que mais amo e quanto mais aprofundo o meu pensamento, mais me convenço, que não consigo viver sem elas, fazem-me falta, é a elas que eu recorro e delas me socorro. Todas elas me Amam, disso não tenho dúvida mas, poucas são aquelas que me sabem Amar. Mas o Amor é assim mesmo, complicado e maçador, se pensarmos que se trata de algo que devemos estimar e estimular. Aqueles que têm o Amor como garantido não querem ter esse cuidado, porque acham que nunca o irão perder e, na maioria das vezes, nem dão conta que já o perderam, apesar de tudo parecer normal e a proximidade não ter desaparecido. Estão demasiado ocupados com eles próprios e esqueceram-se de olhar para aquilo e aqueles que realmente têm importância e quando, subitamente, são atingidos por um qualquer vibe de ternura, estranham a fraca receptividade.
E de repente, tudo muda e o que foi tão importante na tua vida deixa de ser porque entretanto amadureceste e foste percebendo que uns merecem mais de ti que outros, não porque ames mais uns que outros, só porque esperaste tanto tempo por esses tais vibes e reacções de ternura e eles tardaram em chegar e tu, inevitavelmente, tiveste que te acolher noutros lugares que agora são os teus lugares de eleição. Agora, olhas para trás e pensas, aquele passado não renasce mais. Foi Bom mas é Passado. Entretanto cresceste e muita coisa mudou. Tu própria tiveste que mudar para conseguires ultrapassar o facto de teres sido preterida por caprichos e vaidades. Mas o Amor é assim, só atrapalha quando mais precisamos dele.

domingo, 10 de novembro de 2013

Universo Feminino


As associações de ideias na Vida de uma Mulher assumem um lugar especial. São as associações de ideias e a colecção de sapatos e carteiras. Imprescindíveis e insubstituíveis, a não ser por mais modelos e feitios diferentes.
Perante uma determinada situação nós mulheres procuramos relacioná-la com algo e quase sempre connosco. Um desabafo, um boato, um acontecimento, um dado novo, uma confidência, uma coincidência recai inevitavelmente numa co-relação com a nossa pessoa. Somos maquiavélicas ao ponto de achar que tudo interfere connosco. Vários exemplos podiam ser dados e todos eles bem familiares ao universo feminino mas mais revelador é seguramente a mania que nós temos de questionar e suspeitar que tudo o que nos é dito quer dizer mais do que aquilo que nos foi revelado. “O que é que ela/ele quis dizer com aquilo”? Esta frase é mítica entre as mulheres.
O que nos preocupa são as entrelinhas. Presunções e subentendimentos são a nossa predilecção. É aqui que incluímos as associações de ideias, usadas para retirar o diálogo do contexto e cobri-lo de duplas intencionalidades.
Para nós tudo tem uma intenção, não existe o dizer por dizer, numa tentativa de apenas exercer um comentário banal e inocente, indutor de quaisquer consequências. Quando não encaramos ou criamos suspeitas com o guião e o guionista apressamo-nos a atribuir outra dinâmica à história e a instalar a confusão.
Achar cabelo em ovo é a nossa especialidade.
Por vezes vamos desenterrar situações de um passado longínquo para justificar determinados comportamentos do presente como se tudo tivesse um carácter repercutório tão dilatado no tempo. Guardamos tudo e por muito tempo e mesmo quando aproveitamos para arremessar algumas dessas coisas que mantemos guardadas, em ocasiões que nos são propícias, não esvaziamos a memória e continuamos a guardar até que nos deixe de ser mais útil.
Não admira que vivamos mais. O nosso memorial é tão vasto que precisamos de muito tempo para o esvaziar.
Cá para mim as mulheres com companheiros são as que vivem por mais tempo, pois os homens são um óptimo descompressor, mas isto é apenas uma teoria minha.
Damos tudo de nós e sem travões mas também reclamamos agradecimentos e exigimos ser acarinhadas. Quando sufocadas, sacudimos as nossas frustrações, as nossas tristezas, as nossas emoções, os nossos receios, as nossas desilusões e mesmo assim eles custam a entender-nos.   

domingo, 3 de novembro de 2013

Um Novo Eu

Porque caímos em tristezas profundas e paralisantes, que nos arrastam para o isolamento? Por mais razões que tenhamos para nos sentirmos assim,  temos que remexer na dor e  decompô-la em situações, episódios, momentos, atos, palavras, omissões, ofensas sentidas mas nunca verbalizadas. Em vez de interiorizar a dor devemos exteriorizá-la sem receio de expor a nossa fragilidade e vulnerabilidade. O fingimento alimenta essa dor e favorece a passagem das recaídas emocionais. Quem se sente sempre bem, sorri constantemente, solta simpatia indiscriminadamente, se presta a moralizar e motivar os outros, nunca se lamenta nem tão pouco se manifesta, está seguramente a fingir. A inconstância faz parte da génese humana. Ela é a responsável pelas revisões que se impõem em diversas fases da nossa Vida. Essas revisões são provavelmente o que nos mantém à tona e não nos deixam colapsar. Aceitar sem nunca contrapôr está a reprimir sua inteligência, seus sentimentos, sua interpretação, seu juízo, sua vontade e por conseguinte a anular-se. Quem procede assim está a carregar a dor e a fazê-la inchar até se tornar insuportável. Certamente seria mais fácil não sentir mas se assim fosse seríamos desprovidos da felicidade ou das sensações de felicidade. Somos bem mais fortes do que julgamos. Só precisamos de nos libertar da culpa e acreditar que merecíamos melhor e que esse alguém ou esses alguéns que não corresponderam enquanto pessoas importantes na nossa vida é porque não souberam amar e infelicidade a delas por não saberem o quanto ficaram a perder.
Podemos não recuperar o que éramos mas podemos sempre construir um novo eu, mais autêntico, mais disponível para amar, mais forte, mais espiritual, mais livre.
Quem procura o amor de estranhos para se sentir incluído e deixa que eles os julguem torna-os emocionalmente dependentes e insatisfeitos. A maior garantia de Amor é amarmos-nos. 
Quem nos ama verdadeiramente está sempre atento a nós, os outros, são estranhos e agem como tal, não guardam memória nem afetos apenas se cruzam connosco por aí.
Quem ama não se esquece de nós e sofre connosco e mesmo quando se sente renunciado em favorecimento de estranhos não deixa de amar. 

Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...