terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Algumas Notas sobre Amesterdão

Algumas notas sobre Amesterdão.
Não há correrias desenfreadas, nem desordem, apanágio das grandes cidades, onde circula muita gente, uns com estadia fixa e outros em regime transitório. Tudo funciona bem e organizadamente. Não há lugar a empurrões, nem apertos, todos cabem e são aceites.
O moderno e o antigo convivem harmoniosamente numa cidade, que ousa respeitar todas as formas de expressão e não discute conceitos de beleza.   
Uma cidade flutuante que se estende pelos seus canais, com um curso de 75km e onde os ciclistas incautos podem vir a desaparecer. Andar de bicicleta é uma prioridade e dominar essa prática uma necessidade, para não sofrer quedas aparatosas, embaraçosas e dolorosas.
Antes de aterrar em Amesterdão e unfasten seat belt é preciso tomar conhecimento da predominância das bicicletas e seu direito de passagem face aos peões. Se respeitar esta regra, não terá de se preocupar com mais nada e tudo fluirá na perfeição.
Se há cidade onde ser jovem é fácil, essa cidade é Amesterdão. Não há entraves geracionais, a curiosidade e aprendizagem são fomentadas e todos saem beneficiados. Amesterdão é uma cidade que soube plantar para colher.
Não me refiro às tulipas e sua resistência em ambientes frios e gelados. Se bem que a sua produção é um dos principais motores da economia holandesa.
Rembrandt e Van Gogh são clássicos na história de arte holandesa, que nunca cairão no esquecimento e são inspiração de artistas emergentes talentosos.
Depois temos o Red Light District, uma porta aberta para a mais antiga profissão do mundo, que pretende romper tabus e expor o que sempre existiu com suas variedades e bizarrias. Sem querer vamos lá parar e a curiosidade cresce mas não é muito mais do que isso.
É daquelas cidades que nos faz arrepender de não ter arriscado em jovem estudar, exercer uma profissão e construir uma carreira no estrangeiro. Amesterdão é a cidade perfeita para arriscar numa vida abroad.
    

   


  

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

É Hoje!!!

 

Algo bom deve estar prestes a acontecer.

É desta forma que tento acordar todas as manhãs. Nem sempre acontece, mas é o melhor ponto de partida para ganhar esperança na vida, em nós, no universo e demonstra disponibilidade para seguir em frente.

Apesar de parecer uma lição de coach de algibeira, dessas que abundam por aí, nas redes e fora das redes e que influenciam multidões ávidas de milagres, não é essa a minha intenção. Juro!!

Obrigo-me a usar esta espécie de mantra porque, para mim, é mais fácil cair num buraco escuro, por lá ficar a ter pena de mim mesma e lamentar o meu estado no intervalo de cada soluço meu.

Cada vez que dobro mais um ano de vida e estou a dois dias de o fazer novamente, num mês que mais parece um pesadelo, recorro a estas âncoras fortalecedoras para emergir.

Hoje é sempre um bom dia para algo bom acontecer para registo na memória futura.

Falta saber o que nós entendemos por bom dia.

O que de bom pode acontecer para melhorar o nosso dia de hoje?

Qual o nível das nossas expectativas?

O que valorizamos?

O que nos motiva e qual é o curso das nossas energias?

Um bom dia não tem de estar identificado com as grandes conquistas, destacadas nas montras dos todo-poderosos. As conquistas que se baseiam em acumulação não sustentam por muito tempo os nossos bons dias, mas as conquistas que implicam beneficiar terceiros e melhorar suas condições de vida e promover bem-estar, essas sim prolongam o nosso bom dia.

Um sorriso de um desconhecido(a) entregue a uma tarefa enfadonha, ininterrupta e que lhe ocupa grande parte do dia, sem sobras de tempo para demonstrar o que gosta e sequer decidir o que quer é o exemplo de um bom dia que se repercute em benefícios crescentes para ambos.

Os bons dias resultam daquilo que não se vê mas se sente e propaga.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Porque os corredores dos mosteiros são tão compridos?

Porque os corredores dos mosteiros são tão compridos?

Provavelmente, deve ser para que o trajeto em silêncio seja mais prolongado e haja tempo para arrumar melhor os pensamentos, até entrarmos nos aposentos principais e iniciar uma interação.
A que propósito veio esta constatação com um grau de utilidade muito residual?
Na verdade, veio da vaga de frio que estamos a atravessar neste mês de janeiro de 2024, sempre tão comprido e agreste. Algo me fez pensar na vida vivida nos mosteiros, cujas paredes gritam austeridade e segredos antigos, que resultam de histórias inacabadas e vítimas inconformadas.
Para além disso, não conheço mosteiros aquecidos e com ambientes cosy. O desconforto faz parte das aprendizagens cristãs medievais e cada vez que visito a casa dos monges, sinto arrepios e nem todos eles são de frio.   
Recolhimento e reclusão não são propriamente palavras da mesma família, apesar de haver interesses cristãos em torná-las sinónimas. 
Felizmente, posso recolher-me em ambientes confortáveis e, mesmo assim, não me desviar do que é mais importante, só porque me encontro numa situação mais acolhedora. Os desequilíbrios ambientais respirados nos mosteiros medievais, amigos próximos do desconforto, não promovem equilíbrios espirituais e alinhamentos emocionais necessários para valorizarmos o que está certo e desencadear o bem. Pode até dar-se o efeito contrário e se calhar é, por isso, que há histórias que revelam existir segredos que ocultam maldades obscenas. 
 



 

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Pessoas com feitios especiais são amadas por pessoas especiais com feitio.


Não raras vezes, surgem comentários sobre casais e suas relações. Perdigotadas soltas, que em tom afirmativo e venenoso, elevam a generosidade afetiva de um dos seus elementos, ele ou ela (não importa), por achar que ama mais quem ama alguém com um feitio bué complicado.
Ele ou ela é tão especial, ao ponto de aceitar uma pessoa com características tão particulares e difíceis.
Inicialmente pensei, como é que podemos achar que há pessoas mais especiais que outras e, porque é que suas características são abençoadas e altruístas pelo facto de lidarem com uma pessoa aparentemente tão retorcida e desafiante.
Aparências e generalizações convivem lado a lado e são os pregos no caixão da humanidade. 
Depois pensei, como é que ele ou ela, sendo uma pessoa difícil de agradar, entrega-se a uma pessoa de quem toda a gente parece gostar sem reservas. Não me parece que uma pessoa com critérios tão apertados se queira envolver com alguém tão consensual. Normalmente, as pessoas difíceis não lidam bem com a normalidade, aliás, não a compreendem, se não a compreendem não a aceitam e muito menos a acolhem de braços abertos e, para além do mais, o que é isso de ser difícil e retorcido. Aqui as opiniões podem divergir e é bom que divirjam.
Resolvi desconstruir esta generalização porque me parece injusta para ambas as partes.
De acordo com os autoproclamados gurus das relações monogâmicas, uma das partes do casal agrada a qualquer pessoa, quer todos e todos o querem. Seja quem for que lhe caia na rifa, cabe nos seus critérios indefinidos e elásticos. Topa qualquer parada. Nunca faz cara de contrariado, nem amua. Basicamente foi feito para não sentir, aceitar só e conviver com isso. Até parece que, estou a falar de uma passa mirrada e desidratada.
É capaz de amar incondicionalmente pelos dois porque é portador(a) das melhores características pessoais, que todos parecem reconhecer, menos a feliz ou o feliz contemplado. 
Mais uma generalização com base numa imagem avulsa e uma imaginação deprimente.

O outro elemento é a última bolacha do pacote, aquela que ninguém quer, já partida e mole.
Não sorri, nem ri, sem ter vontade, não adula, não entra em concordância, mesmo que isso favoreça a sua sociabilização, não é popular, mas também não é bizarra, apesar de ser este o rótulo que lhe é atribuído, só porque não promove conversas fúteis e desnecessárias para conquistar as massas, no entanto, sabe ser acolhedora e compreensiva, mas só o revela se sentir confiança e verdadeira amizade. Entretanto é vista, de uma forma resumida, pelos generalistas do amor, como uma pessoa fria, misteriosa e distante.
Nós somos feitos de vários matizes e assumimos vários perfis, consoante as situações a que somos sujeitos e mais ainda dentro de uma relação de casal, tantas vezes, esquizofrénica e turbulenta.
Há os maus e depois há os que tiram partido.


   

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Esperança é hoje uma ironia

A nossa importância é igual à das moscas.
A única diferença é que as moscas têm asas e nós não e para elas escapar fica mais fácil.
Nossas vidas estão dependentes dos desígnios de uma minoria de poderosos que brincam aos terroristas e competem com recursos humanos próprios, altamente treinados para não sentirem absolutamente nada e lutar, por algo que nem eles compreendem muito bem, mas sabem que se não o fizerem deixarão de ter proteção e suas vidas se resumirão a pó.
As imagens que os noticiários fazem questão de divulgar, em horário nobre e na presença do agregado familiar, abalam nossa compreensão de ocidentais privilegiados, ainda virgens nesta matéria do terrorismo religioso e territorial.
Incapazes de entender, avançamos com nossas vidas, apesar da carnificina continuar e em países não muito distantes do nosso e, o pior é que, ninguém sabe quando tudo irá acabar.
Por mais que tente colocar-me no lugar dos alvos inocentes, a quem tudo retiraram, não consigo e penso, porque é que há preferidos e preteridos, sendo nós filhos de Deus, o Deus Bom, que todos idealizámos e no qual nos fizeram acreditar.
Não deveria este Deus acolher  todos da mesma maneira? 
Que legado de fé vamos deixar às gerações mais novas para propagar, diante da aceitação passiva destas monstruosidades, por parte dos políticos internacionais, que lideram organizações "supostamente" fomentadoras da paz no mundo.
Afinal a fé também mata e de que maneira e nós assistimos a tudo, na esperança que passe.
É irónico falar ou sequer invocar esperança, em períodos como este, enquanto a fé está a servir propósitos egoístas e terroristas.


terça-feira, 7 de novembro de 2023

Christmas reminder

Um amor antigo mas sem as palpitações de antigamente.
Hoje já não há aquela ansiedade crescente para reencontrá-lo e que, em tempos, me movia a preparar a sua chegada, para que tudo parecesse mágico e inolvidável, mas ficaram as memórias antigas gravadas e cuja edição é da inteira responsabilidade das minhas emoções instantâneas, demasiado gigantes, para caber num corpo pequeno e frágil, que sempre esquecia os chinelos ao pé da cama, numa manhã fria de dezembro, para espreitar curiosa e sorridente a chegada do grande dia. 
Felizmente, consegui viver esses bons momentos em slow motion e esse reconhecimento, em jeito de reminder, permite-me continuar a gostar de o ter por cá, desta vez, numa experiência mais serena e muito cosy.

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

O Mundo Mudou

Lembro-me de ser menina e gostar de escrever o meu nome completo. Algo que ainda permanece. Não encontro significado para isto mas, certamente, está no topo das sintomatologias, pertença de uma patologia psicológica qualquer.
Necessidade de afirmação. Será???? 
Quando o faço não me questiono. Faço-o e pronto!
É um gosto como outro qualquer.
De repente, ocorreu-me outro do qual retiro satisfação e que mantenho, apesar de o fazer com menor frequência.
Ler em voz alta, fechada no quarto, isolada do mundo, protegida por quatro amigas sólidas e mudas.
A verdade é que, me sinto poderosa após essa prática.
Há os que rezam, os que meditam, os engenhocas, os bricolage, os das intermináveis conversas ao telemóvel, os fofoqueiros, os hipocondríacos, cada um com a sua bizarria.
Se calhar deveria regressar a estas práticas, mais vezes, para alinhar os chakras, analisar o que se passa e normalizar estados de alma.
Curioso pensar que, com tudo o que está a acontecer no mundo, em países bem próximos do nosso, organizados, com dinâmicas económicas e sociais integradoras e que acolhem diferentes culturas, sejam alvo e reação de conflitos antigos, que pareciam serenados e a gozar de uma dormência provisória. Isto para dizer que, é um privilégio poder estar segura,  a ler, no meu quarto e não sentir medo, nem ameaças.
Porém, o que parece seguro já não é mais, porque, entretanto, as mentalidades mudaram e são mais permeáveis à maldade.

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Até um dia sermos velhinhos

 "Vamos brincar, ai ai vamos brincar com elas, vamos aproveitar, um dia destes já estamos velhinhos(...)"

Este é o refrão de uma música não solicitada que um automobilista, muito provavelmente, pai, avô, tio, quis partilhar com os restantes automobilistas estacionados nas imediações da escola preparatória do seu concelho.

Não sei se a sua intenção era alegrar-nos, se tem problemas sérios de audição ou, pura e simplesmente, acha que todos gostamos do mesmo.

Agora a minha pergunta é:

- Como irei conviver com isto no meu ouvido?

Cheguei a pensar que com a despedida do Verão as festas e romarias tivessem acabado.

A música sem filtros continua a ser amplificada por altifalantes demoníacos em modo non stop.

Socorro!!!

Nem me adianta arrancar a toda a velocidade. Trata-se de uma perseguição sem fim.

Até parece que já ouço ao longe, a aproximar-se a toda a velocidade o som dos Santa Maria.

Fui!!!! 

 


Aparição Sinistra

 Entretanto, o Gato Sullivan continua sumido.

Além de sete vidas tem sete vezes sete premonições e, claro está que, gato escaldado da água tem medo.

Ricardo rompeu o silêncio e o mundo à volta estremeceu quando ele avançou destemido e disse que se tem encontrado com o pai em secretismo e a relação deles tem progredido e quer dar-lhe continuidade. Os irmãos sabiam disso mas nunca se sentiram motivados a conhecê-lo melhor. Apenas o alertaram para o facto de se magoar ainda mais e desabar diante de uma desilusão gigantesca.

Porventura há algo que os une mais do que os separa, apesar de Ricardo ser um pai muito presente e atento aos seus três filhos. Nesse papel ele é impecável, ao contrário do papel de companheiro da mãe dos seus filhos. Com ela todas as desatenções são permitidas e defende-se com o compromisso estabelecido enquanto pai e diretor geral, numa multinacional de bebidas espirituosas e isso deveria bastar-lhe, para se sentir muito amada.

Tia Greta regressa ao seu plano etéreo, inquieta com a revelação do seu sobrinho Ricardo. Sabe que, as escolhas são de cada um e são as nossas escolhas que nos conduzem a determinados caminhos e o processo de aprendizagem acontece quando questionamos e revemos as escolhas que tomamos ao longo do trajeto e a Vida é mesmo assim e está tudo bem!

Ricardo não está a desrespeitar a sua mãe, nem a sua tia por querer conhecer melhor o seu pai e ter havido um bom entendimento entre os dois. Certamente, ele precisava disso para desbloquear sentimentos reprimidos.

Escolhas são necessárias para nos colocar em movimento! 



   

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Aparição Sinistra

Agora que tenho a Vossa atenção, agradeço que me escutem e se manifestem apenas no final da minha intervenção - ordena a tia Greta, no seu habitual tom cerimonioso.
Eu não morri! Eu apenas deixei de fazer parte das Vossas Vidas, mas continuo aqui, pelo menos, por enquanto.
Não será por muito tempo. Só até cumprir a missão que me trouxe aqui.
Sem que vocês se tivessem apercebido, flutuei, invisível, por diversos ambientes e contextos e aproveitei para tirar notas mentais do que sucede  no vosso mundo, outrora também meu, chamado realidade.
A minha intenção não é assustar-vos ou mostrar os meus novos poderes tansmutacionais, nem tão pouco abandonar a minha condição atual, até porque estou bem melhor assim. - adiantou ela, resoluta.
Abel, Olívia, Pietra e Ricardo, permaneciam imóveis e perscrutantes.
Há um segredo na nossa família que foi enterrado comigo e é a razão de eu ter regressado.

Silêncio absoluto!
Imóveis, os cristais do lustre abafaram o seu vibrato.
Até o gato sumiu para parte incerta. Não podia desperdiçar uma vida com uma história da qual nunca fez parte.

A Tia Greta atira - O vosso pai não morreu!
É dessa forma que começa a desembaraçar-se do peso carregado à mais de quarenta anos.

- Não passou de uma encenação criada por mim e pela vossa mãe para vos poupar ao sofrimento de um abandono cruel e sem remorsos.
Ele nunca vos procurou porque nós não deixamos. Estabelecemos um acordo e ele aceitou, sem contrariar. 
A decisão de sair de casa e ficar ausente por tempo indeterminado foi dele, sem encarar as consequências emocionais devastadoras que provocariam nos seus filhos e na vossa mãe. Para que vocês não fossem atingidos pela dor da rejeição, eu, em parceria com a vossa mãe, decidimos simular que ele tinha sido atropelado mortalmente.
Curiosamente ou não, o mais difícil não foi acalmar a vossa dor, na verdade, o que mais lhe custou foi responder a todas as vossas perguntas e construir uma história dominante e coerente, que vos convencesse. Apesar de tudo, havia mais curiosidade, do que propriamente, dor ou desespero. Na verdade, a presença de pai era praticamente nula. Não havia proximidade, nem para beijos de chegada, nem de despedida. Ele não a promovia e vocês habituaram-se a depender exclusivamente da vossa mãe para tudo.   
Durante todo o processo, a minha irmã engoliu choro, raiva, revolta, angústia, medo, superou todas as adversidades, acompanhou as fases do vosso crescimento, lutou, cuidou para que nada de essencial vos faltasse e mesmo cansada tinha sempre uma palavra meiga, um mimo, um abraço, um conselho útil, colo, ombro, ouvidos, atenção e sobretudo amor, muito amor.
Se quiserem culpar alguém, culpem-me a mim. Vossa mãe estava perdida e sem saber o que fazer quando o marido a abandonou para perseguir os seus sonhos e fazer a vontade ao seu manifesto egoísmo. Quatros filhos pequenos para cuidar, uma casa para gerir, a culpa de ter ignorado os sinais que indicavam um futuro miserável junto a esse traste com alcunha de navalhas, o medo de não conseguir seguir em frente e defender-se sozinha, formavam um cenário assustador e eu não podia deixar a minha irmã desamparada e foi, nesse momento, que decidi avançar para a erguer e fazê-la acreditar que seria possível sobreviver a tudo isso e construir algo bem melhor. Apesar de tudo, há males que vêm por bem.
A minha descida ao rés do chão  deve-se à ameaça do vosso pai em romper o nosso pacto e desvendar o segredo e ganhar proximidade convosco, ao fim destes anos todos de ausência. - revelou a tia Greta, indignada!
Quis adiantar-me para que não sejam surpreendidos com revelações enganosas da parte do vosso gerador. Não podemos chamá-lo de pai - rematou a tia Greta com a voz embebida em revolta.

Penso que é hora de inaugurar o debate e devolver-vos a palavra porque afinal vocês foram os principais visados desta trama queirosiana.

A Tia Greta estava preparada para reações rápidas e impulsivas, a sangrar sentimentos contraditórios. Em vez disso, recebeu um silêncio sepulcral e a antecipação da morte do título de tia preferida.


TO BE CONTINUED



 
 

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Aparição Sinistra

Reunião familiar é uma proeza, cujo resultado sai sempre desastroso.

Não vale a pena insistir. É o mesmo que bater com os cornos na porta. 

Há sempre alguém que chega atrasado e vem a falar ao telemóvel e quando acaba, desfia as desculpas do costume.

Os contrariados que ficam retidos à espera, exasperam e espumam de raiva. Tanta coisa inútil para fazer e nós aqui.

Entretanto o telefone toca. Todos consultam seus gadgets mas percebem que nenhum deles é o responsável.

O som vem da cozinha. Deve ser o telefone fixo, de disco, estilo retro e cabo espiral, com toque de campainha, herança dos ex proprietários.

Pietra corre para atender. Suprema curiosidade cai estendida no chão, sem amparo. Era engano!

Farto de tanto esperar, Ricardo levanta-se e dirige-se à porta de forma resoluta e decidida, pronto para sair e abandonar a reunião familiar, que ainda nem tinha começado.

Onde vais? - pergunta Olívia, sob stress.

No exato momento que Ricardo se vira contrariado para lhe responder, despenca o quadro da sala de jantar e por entre as partículas de pó esvoaçantes surge uma criatura serena e familiar.

Todos congelaram!

Não pode ser! - gaguejaram.

É a tia Greta, irmã da mãe e outrora presença assídua lá de casa.

A paralisia durou ainda alguns minutos. Ficou tudo borrado de medo. Nem o gato Sullivan escapou do susto. Barricou-se debaixo do louceiro, inspirado na mobília francesa do séc. XV e por lá se eternizou.

A tia Greta morreu à cinco anos, de morte súbita, na sala das ocasiões solenes, como ela gostava de lhe chamar. Foi um choque para todos, principalmente, para a minha mãe de quem era muito próxima. Nesse trágico dia, estavam todos presentes, não para ver a tia morrer mas para participar na reunião familiar por ela convocada.

Passados cinco anos a história repete-se, desta vez, num ambiente sinistro e bizarro.

Será que a tia Greta quer regressar à reunião entretanto interrompida pela sua morte súbita?

Afinal quem convocou esta reunião familiar?

Intrigas e perguntas não faltam. O que falha são as respostas para todas elas.

Olívia e Ricardo chegaram à conclusão que a convocatória afinal chegou em forma de alerta nos seus telemóveis a indicar dia e hora da reunião. Sem hesitações, Pietra e Abel acusaram o mesmo registo.

Diante deles permanecia aquela figura, muda, etérea, pungente, de traços pronunciados e maxilar definido, olhar sereno e penetrante, testa descoberta, cabelo habilmente apanhado  e mãos em descanso, aguardando a atenção de todos os convocados.

TO BE CONTINUED........


 



   



     

Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...