Era tudo tão novo para ela. Tudo parecia diferente e distante do seu mundo. Caíra naquele ambiente por acaso e ali deixara-se ficar. Apesar de ser terreno desconhecido e movediço, sentia-se bem em desbravá-lo. Sem querer, foi criando um magnetismo inexplicável por aquele lugar, que nem parece estranhar. Sabe que não lhe pertence mas, a sensação de nele penetrar excitava-a. Uma vez naquele ambiente, sua postura molda-se e é curiosa, a transformação que se sucede. Sua capacidade de reencarnar várias personagens, com várias nuances, revela uma falha de personalidade, que custa a encontrar sua identidade própria. Usa-as conforme a sua conveniência e principalmente para esconder algo que deixou marcas no passado. Adora desafiar o risco, por isso, quanto mais desconhecido melhor. Avança antes mesmo de saber o que lhe espera. A sua inteligência camaleónica inventa sempre estratégias de oportunidade para escapar das vicissitudes decorrentes das suas ousadias. Julgava ela. Desta vez a sua inteligência acusa inadaptação e deixa cair as máscaras. Apesar de lutar para manter a sua verdadeira identidade oculta, descuida-se no instante, que reconhece o fantasma do seu passado, diante dos seus olhos, com seu olhar gelado e petrificante. Ela fingiu não ver mas, já era tarde. Ele já tinha cruzado seu olhar com o dela e a prendido na sua malha apertada de sedução. Todo o seu esquema de defesa desabou, sua força foi desanimando, sua postura encolheu perante aquela gigantesca ameaça, embebida em perfume. Não conseguiu resistir mais e deixou que ele nomeasse as suas zonas erógenas com seu beijo prolongado. Seus olhos fecharam-se para melhor absorver as sensações de arrepio na pele. Que saudades ela tinha do seu toque. Só ele sabia arrepiar os seus sentidos e fazê-la suspirar por mais. Seus reencontros eram sempre mágicos e curtos também. Se calhar, é por isso que se desejam tanto e tão intensamente. Uma envolvência especial que só ganha continuidade com a incerteza de um novo reencontro. Ambos sabem que a combinação dos seus corpos provoca uma química sem tradução. A raridade dos seus encontros torna-os ainda mais especiais e desejáveis. Numa dança corpo a corpo, encaixam suas vontades de amor ardente.
Escrita livre que, convida a pensar e sentir. Com a Escrita, empreendo fugas oportunas. Atribuo interesse aquilo que parece não ter interesse nenhum. Entendo que, a genialidade é mesmo essa. A Escrita Gourmet tem o seu próprio paladar mas, nem todos o saberão entender. Provavelmente, só os espíritos mais sensíveis encontrarão afinidades, semelhanças, identificação, emoções, realidades diversas, meio mundo, todo o mundo. Encontrarão aquilo que, a disponibilidade dos seus espíritos permitir.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
domingo, 11 de dezembro de 2011
Bom Natal
O correio foi generoso e trouxe-me postais de Natal, com mensagens bonitas e calorosas. Assim que, as acolhi nas minhas mãos, ansiosas por novidades, pude sentir os aromas do Natal e fiquei desejosa por mais.
O cheiro a lenha a arder, o cheiro do pinheiro de Natal , o cheiro a serrim e musgo, o cheiro a antiguidade do presépio, o cheiro a filhozes, rabanadas e demais perdições cheias de sabor, o cheiro a vinho quente, o cheiro a gente que vai preenchendo espaços, remeteram-me para um estado de felicidade familiar.
Que bom é sentir que, neste dia, tudo se transforma em bondade, afecto, carinho, generosidade, solidariedade e sentido de comunidade. Pena não podermos congelar esses momentos e fazê-los ressuscitar quando quisermos, noutros contextos que dele careçam.
Nossos espíritos alegram-se com a chegada desta época e engordam com tanto conforto e amor. Esquecemo-nos das amarguras e cedemos à magia do Natal, com toda a sua envolvência de paz e comunhão. Esta é a época ideal para nos manifestarmos e desentalarmos nossos melhores sentimentos e verbalizá-los junto dos seus principais causadores. Reforçar laços é consolidar o amor e se for através de palavras, actos e confissões melhor ainda. As pessoas que amamos merecem saber e nós precisamos desabafar. Esta reciprocidade desinteressada que contagia o ambiente com sorrisos e gestos de muita cumplicidade, comovem-me e deixam muitas saudades, principalmente, quando tudo acaba e nossas Vidas, até ali suspensas, voltam a lutar na adversidade e a acumular amarguras.
O que entristece é que a continuidade deste espírito é comprometida com a pressão da realidade, que alimenta nossos individualismos exacerbados. A fantasia do Natal retira-lhe essa carga e torna-a mais leve e digerível.
Tudo é tão doce, aconchegante, encantador e irreal. Não precisamos representar. Somos nós mesmos, perante aqueles que sabem prezar-nos.
O Natal é aquela bolha de amor que nasce para rebentar quando o feitiço acaba.
O Natal é como o Amor, eterno enquanto dure.
Que bom é sentir que, neste dia, tudo se transforma em bondade, afecto, carinho, generosidade, solidariedade e sentido de comunidade. Pena não podermos congelar esses momentos e fazê-los ressuscitar quando quisermos, noutros contextos que dele careçam.
Nossos espíritos alegram-se com a chegada desta época e engordam com tanto conforto e amor. Esquecemo-nos das amarguras e cedemos à magia do Natal, com toda a sua envolvência de paz e comunhão. Esta é a época ideal para nos manifestarmos e desentalarmos nossos melhores sentimentos e verbalizá-los junto dos seus principais causadores. Reforçar laços é consolidar o amor e se for através de palavras, actos e confissões melhor ainda. As pessoas que amamos merecem saber e nós precisamos desabafar. Esta reciprocidade desinteressada que contagia o ambiente com sorrisos e gestos de muita cumplicidade, comovem-me e deixam muitas saudades, principalmente, quando tudo acaba e nossas Vidas, até ali suspensas, voltam a lutar na adversidade e a acumular amarguras.
O que entristece é que a continuidade deste espírito é comprometida com a pressão da realidade, que alimenta nossos individualismos exacerbados. A fantasia do Natal retira-lhe essa carga e torna-a mais leve e digerível.
Tudo é tão doce, aconchegante, encantador e irreal. Não precisamos representar. Somos nós mesmos, perante aqueles que sabem prezar-nos.
O Natal é aquela bolha de amor que nasce para rebentar quando o feitiço acaba.
O Natal é como o Amor, eterno enquanto dure.
sábado, 3 de dezembro de 2011
Socorro
Sentia-se sufocada, apertada, esmagada, desesperada, perdida, num cenário pródigo em acontecimentos diversos e imprevisíveis, que escapavam ao seu excessivo controlo. Todas as saídas estavam bloqueadas, a tensão aumentava e o ar era cada vez mais escasso. Só precisava de um sopro fresco e uma retirada estratégica. Paralisada numa redoma de proximidade, com sobrecarga de atenção, patina na solidão e isola-se no seu interior, escudo protector da sua inadaptação. Sem querer, desviou ainda mais atenção na sua direcção. O fosso era grande e profundo. Desejou sofridamente uma quebra momentânea de luz, um alerta de incêndio, uma chamada inesperada que a ausentasse daquele lugar, fértil em silêncios esmagadores, traduzidos em olhares, sorrisos e expressões impossíveis de decifrar. Fugir seria cobardia. Ficar seria um tormento. A cadeira onde resistia sentada ganhava raízes. Só não ganhava asas para sair dali.
Um clarão de luz emergiu e deu-se o milagre da transformação, que a resgatou das amarras do desconforto. Seus pensamentos converteram-se em pensamentos positivos e capazes de produzir sensações de bem estar e prazer. Recuperou o ar, desacelerou o ritmo cardíaco, eliminou a tensão acumulada, soltou os movimentos, arrastou o peso da cadeira, ergueu-se de confiança e saiu sem se importar com as reacções suscitadas.
Sempre se sentiu diferente e distante da normalidade consagrada. Seus comportamentos denunciavam essa forma única e inimitável de ser. Diferente, não tem de ser sinónimo de pior ou melhor, apenas sinónimo de individualidade.
Sermos nós mesmos implica ser diferente e dessa evidência não podemos descolar-nos. A self aceitação é condição necessária para viver bem e sem pressões.
Gostar de nós mesmos não é egocentrismo mas sim pura sobrevivência.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Sem Arrependimentos
Vanda conheceu um anjo que não é alado. Não tem nome de anjo nem cara de anjo mas é um anjo. Não caiu do céu mas aterrou na terra junto a si e pousou na sua Vida. Ele surgiu para atender a um apelo seu e até hoje não falhou sua missão. Ela agradeceu.
Seu sorriso acolheu-a instantâneamente e Vanda rendeu-se, sem questionar suas intenções. Sentia-se carente, frágil, desanimada, desprotegida e sedenta de alguém que a compreendesse, a aceitasse, a mimasse e a elegesse para sua melhor companhia. Quando estava prestes a desistir de encontrar a sua salvação, eis que surge no seu caminho Gustavo. Não vinha num cavalo branco mas comandava um porshe carrera branco, oferta do seu papá, que não se inibe de esbanjar-lhe afectos caros. Afinal o anjo não veio do céu, nem em silêncio. Veio por terra e não poupou na buzina, quando viu Vanda desfilar no passeio de acesso ao cais de Gaia. Ela nem se incomodou com o som da buzina, tão concentrada que estava nos seus pensamentos cheios de amargura. Gustavo não se deu por vencido e voltou a insistir, até resgatar a sua atenção. Só quando a vizinhança mostrou desagrado com sua insistência, foi então que Vanda se moveu na sua direcção e incrédula, mostrou-se inibida com tamanho aparato. Assim que ela cruzou seus olhos com os dele, Gustavo arrancou satisfeito, sem nada dizer. Atordoada com aquele episódio caricato, refugia-se na esplanada e distrai-se com um livro de bolso, cujo tema nada tinha de animador " Vidas sem sentido". O esforço para se concentrar resultava inútil, logo após ter sido alvo daquela cena mediática, digna de uma novela em horário prime time, daquelas cujo o enredo nunca mais acaba e arrasta legiões de seguidores. Quem seria aquele sujeito? O que ele teria visto em si para suscitar uma exibição tão histriónica? Teria ele a confundido com alguém? Teria ele algum distúrbio comportamental?
Uma infinidade de perguntas, sem miragem de resposta.
Em boa verdade se diz que há muito mais que nos desanime do que aquilo que nos anima, principalmente quando nossa moral está tão em baixo. Vanda sentiu-se a chacota da rua e sem jeito, retirou-se sorrateiramente para o canto mais fundo da esplanada, longe daquele tumulto.
Estava ela em sossego, revirando as páginas do seu melhor recurso à solidão, quando se apercebeu da vontade resoluta de aproximação, de um indivíduo, de sorriso castiço, elegantemente vestido, transbordando sexappeal e assustadoramente confiante e que convicto, caminhava na sua direcção. Vanda estremeceu, quando ele tomou o lugar junto ao dela, sem sequer ser convidado. Que ousadia pensou ela.
Antes que Vanda se manifestasse, Gustavo adiantou-se e expôs sem hesitações o motivo da sua invasão.
Não conhecia Vanda mas tinha muita vontade em conhecê-la. Seus gestos, sua postura, seu ar cabisbaixo intrigaram-no. Uma Mulher tão bonita quanto ela entregue à solidão é sacrilégio.
Sua tristeza tocou-o e fê-lo agir daquela maneira tão insana e despropositada. Algo o intimou a agir. Reconheceu seu erro em expô-la daquela maneira mas assim que a viu, algo o magnetizou. Apenas a procurou para expressar o conjunto de sentimentos inusitados que ela acabara de lhe provocar e manifestar o seu desejo em manter com ela uma relação de proximidade. Era um sinal inequívoco de que ambos estavam predistinados.
Vanda ouviu-o atentamente e interiorizou suas palavras tocantes.
Pensou em arrumar com o assunto, negando-se a qualquer tipo de contacto e seguir com a sua Vida sem aromas. Porém, a tentação de testar o futuro de uma combinação entre ambos ressoava na sua cabeça.
Racionalizar ou Enlouquecer? Evitar ou Arriscar?
Apesar das suas palavras não combinarem com suas atitudes desvairadas e assumirem uma estrutura mais lógica e racional, não chegavam para ganhar total coerência e convencer Vanda. Se o deixasse partir, jamais saberia no que poderia resultar entre os dois. Se o acolhesse e aceitasse investir em algo inconsistente, podia resultar emocionalmente desastroso.
Um dilema destes precisava de mais tempo para ser resolvido.
Confusa e sem tempo, resvala para o desconhecido e escorrega numa relação sem sentido. Com a convivência percebeu que afinal o que parecia ser insano e imprudente pode desencadear em algo marcante e duradouro, tudo depende da nossa predisposição e contribuição para um rumo certo, sem desviar do que é realmente importante.
Bem se vê que os Finais Felizes mudaram de paradigma e de padrão. Nem sempre o que começa incerto acaba mal e nem sempre o que começa certo acaba bem. Não há certezas apenas boas e más intuições. A consistência trabalha-se.
Uma infinidade de perguntas, sem miragem de resposta.
Em boa verdade se diz que há muito mais que nos desanime do que aquilo que nos anima, principalmente quando nossa moral está tão em baixo. Vanda sentiu-se a chacota da rua e sem jeito, retirou-se sorrateiramente para o canto mais fundo da esplanada, longe daquele tumulto.
Estava ela em sossego, revirando as páginas do seu melhor recurso à solidão, quando se apercebeu da vontade resoluta de aproximação, de um indivíduo, de sorriso castiço, elegantemente vestido, transbordando sexappeal e assustadoramente confiante e que convicto, caminhava na sua direcção. Vanda estremeceu, quando ele tomou o lugar junto ao dela, sem sequer ser convidado. Que ousadia pensou ela.
Antes que Vanda se manifestasse, Gustavo adiantou-se e expôs sem hesitações o motivo da sua invasão.
Não conhecia Vanda mas tinha muita vontade em conhecê-la. Seus gestos, sua postura, seu ar cabisbaixo intrigaram-no. Uma Mulher tão bonita quanto ela entregue à solidão é sacrilégio.
Sua tristeza tocou-o e fê-lo agir daquela maneira tão insana e despropositada. Algo o intimou a agir. Reconheceu seu erro em expô-la daquela maneira mas assim que a viu, algo o magnetizou. Apenas a procurou para expressar o conjunto de sentimentos inusitados que ela acabara de lhe provocar e manifestar o seu desejo em manter com ela uma relação de proximidade. Era um sinal inequívoco de que ambos estavam predistinados.
Vanda ouviu-o atentamente e interiorizou suas palavras tocantes.
Pensou em arrumar com o assunto, negando-se a qualquer tipo de contacto e seguir com a sua Vida sem aromas. Porém, a tentação de testar o futuro de uma combinação entre ambos ressoava na sua cabeça.
Racionalizar ou Enlouquecer? Evitar ou Arriscar?
Apesar das suas palavras não combinarem com suas atitudes desvairadas e assumirem uma estrutura mais lógica e racional, não chegavam para ganhar total coerência e convencer Vanda. Se o deixasse partir, jamais saberia no que poderia resultar entre os dois. Se o acolhesse e aceitasse investir em algo inconsistente, podia resultar emocionalmente desastroso.
Um dilema destes precisava de mais tempo para ser resolvido.
Confusa e sem tempo, resvala para o desconhecido e escorrega numa relação sem sentido. Com a convivência percebeu que afinal o que parecia ser insano e imprudente pode desencadear em algo marcante e duradouro, tudo depende da nossa predisposição e contribuição para um rumo certo, sem desviar do que é realmente importante.
Bem se vê que os Finais Felizes mudaram de paradigma e de padrão. Nem sempre o que começa incerto acaba mal e nem sempre o que começa certo acaba bem. Não há certezas apenas boas e más intuições. A consistência trabalha-se.
domingo, 20 de novembro de 2011
APELO Á INCLUSÃO
Tudo começou com um olhar, na minha direção. Um olhar ameaçador e insistente, que atrasou o meu destino e me atirou para o abismo do Mal. Não reagi, com medo de descarregar sobre mim o ódio do inimigo impiedoso. Sofri calado, todas as ofensas, insultos, agressões, humilhações, castigos e desonras. Morri por dentro para anestesiar a dor e esqueci o meu nome, para não guardar memória de mim, naquele cenário de horror que continua a atormentar os meus dias.
Pouparam-me a vida, só porque estava na iminência de me entregar nas mãos dos párias da morte. Quando supliquei, não cederam. Quando caí indefeso no vazio, abandonaram-me sem remorso.
Não medi forças, nem cruzei meu olhar com o deles, para não ofender suas sensibilidades xenófobas. Só não consegui esconder quem sou, e foi precisamente isso, que os ofendeu. Minha imperfeição quase me matou e fez-me rastejar por ajuda, que não bastou para me consolar, nem tão pouco para me explicar porque é que o mundo é assim tão cruel e porque, arrasou com a minha felicidade.
Ainda continuo a ouvir as vozes da exclusão a ecoarem bem alto na minha cabeça, alertando-me de todos os perigos que ensombram o meu caminho. Vivo com medo de despertar, novamente, os demónios da incompreensão e cair nas malhas apertadas da intolerância.
Cansei de estender a mão em busca da salvação ou do amor pela inclusão, temendo cair mais uma vez na desilusão.
Sou uma minoria asfixiada pelo preconceito, que prolifera com a miséria humana.
Mostra-me que não pertences ao grupo dos que negam hospitalidade à diferença e destoas, de tudo aquilo que empobrece o ser humano, incapaz de acolher através do amor.
Devolve-me a esperança perdida e conduz-me para um mundo melhor, livre destes grilhões sociais que atrofiam as relações humanas.
Aprendi a Crescer na divisão do, Nós e Eles. Eles, são os que nos desprezam, nos querem mal, nos atiram para as profundezas da sociedade, não sabem respeitar-nos, nos rejeitam e condicionam nossa inserção, só porque entenderam que constituímos a ameaça da diferença e Nós, somos a sua erva daninha.
Eu e os que comigo sofrem, aprendemos a encará-lo como algo inevitável e alastramo-lo às gerações vindouras para que cresçam a defender-se da hegemonia social.
Às vezes penso, que histórias do meu passado, posso eu contar aos meus filhos, sem lhes provocar pesadelos? Na verdade, não sobram nenhumas ou muito poucas.
Tentarei mudar o cenário mas sei que eles irão ser confrontados com ele, mais cedo ou mais tarde e eu, nada poderei fazer para lhes poupar o incómodo. O que mais me magoa é saber que eles não merecem, nem é justo expô-los a esta luta de desigualdades.
Não posso desviá-los desses olhares irados que cimentam as discórdias e espreitam em qualquer esquina, como aquela que me retirou a dignidade e arrasou com todos os meus sonhos mas, posso tentar mudar a tua consciência, apelando a que promovas atitudes de inclusão no seio da tua comunidade e as alastres a outras comunidades, a outros contextos e assim possamos construir a imunidade à intolerância.
Não evites alguém só porque ele não faz o teu estereótipo ou perfil. Contraria essa tendência. Aproxima-te, dedica-lhe atenção, esboça-lhe um sorriso, melhora o seu dia e, principalmente, mostra que ele é como tu, digno de Amor. Ganhas tu, ganha ele e ganhamos nós os que seguirmos o teu exemplo.
O retorno é muito maior para quem dá, do que para quem recebe.
As tuas hesitações podem magoar o outro, fazendo-o acreditar que ele é persona non grata e indigno da tua companhia. Não faças as tuas escolhas em função de caprichos egoístas, altamente marginalizadores.
Eu próprio aprendi que, também eu, apesar de ter sido vítima do racismo social, convivia mal com outras minorias e, desdenhava dos seus modos de Vida, julgando-me melhor que eles. Afinal, eu assumia dois papéis. O de vítima e o de opressor.
Eu próprio tive que mudar de paradigma.
Sem nos apercebermos, nossos gestos ou ausência deles podem ofender terceiros e é essa falta de sensibilidade que precisamos trabalhar, para fomentar uma maior proximidade e coesão social. Não contornes o que está diante de ti. Presta atenção. Presta atenção de Novo. Olha melhor. Verás que podes fazer algo por mim, além de te comoveres com a minha história e, no dia seguinte, continuares a contornar-me a mim e a todos aqueles que precisam de um gesto teu, que os relembre que são importantes.
Quem sabe um dia não nos cruzamos numa esquina qualquer e tu consciente deste meu apelo, me reconheças e me abras o teu melhor sorriso e ilumines o meu dia e eu terei todo o prazer em iluminar o teu.
É nesta onda de luz que nossos corações se tocam e a Vida se torna mais leve e manifestamente mais apetecível.
Não previ o que me ia acontecer, nem consegui fugir a tempo e fui apanhado desprevenido, por um grupo de revoltados, que quiseram crucificar-me pelas suas desgraças. Paguei injustamente e, de mil uma maneiras vis. Perdi todos os sentidos e mais um. Perdi todo o sentido da Vida.
Foi um duro golpe, que incapacitou meus movimentos e me retirou a alegria de viver sem obstáculos, a condicionar o meu caminho.
Se és livre para pensar e agir então não te conformes e mostra-me que não estou só nesta empreitada pela inclusão social.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Renascer
Provavelmente, neste momento, milhares de pessoas estão sentadas no canto do sofá, que mais lhes apraz, com vista privilegiada para o ecran plasma da Tv, munidos do comando que ditará a sua vontade de entretenimento do momento, alheados de tudo e de todos. Esta será a única fonte de motivação da maioria delas, que amanhã voltarão a resignar-se à estagnação das suas Vidas, movidas por rotinas que se repetem a todo o momento. Lastimam o dia seguinte, porque encaram-no como um dia dedicado a obrigações com poucos intervalos para fazer o que gostam. E do que é que elas gostam? Nem elas sabem, porque até as suas pausas estão presas por rotinas que não despertam as suas capacidades de seres pensantes e com alma. Desperdiçam aquilo com que foram abençoados.
Não querem mais, apenas querem mais do mesmo e isso basta-lhes para viver uma pseudo felicidade.
Confiam naquilo que lhes foi dado e estão convencidos que o sabem manusear bem, não carecendo de mais e melhor. Não vislumbram sentido nem valor em coisa nenhuma. Penduraram as chuteiras antes mesmo de entrarem em campo.
Encostaram-se às boxes diante de uma boxe, que julgam devolver-lhes uma nova Vida. Querem tudo e não querem nada.
Não vêem propósito em nada novo e diferente, a não ser o incómodo de implicarem uma ameaça ao alinhamento das suas Vidas tão bem programadas.
Na verdade, o mal de todos nós consiste em gastarmos tanto tempo a esgotar as nossas energias com as mesmas tarefas, que geram as mesmas expectativas, que geram o mesmo grau de exigência, que geram os mesmos resultados e não geram surpresa nenhuma nem dificuldade. Essa falta de surpresa nas nossas Vidas causa aborrecimento e falta de entusiasmo.
Por onde começar? São tantas as direcções que nos podem fazer mudar de rumo e procurar outras formas de felicidade que não redundem numa só. Para isso temos que apurar a nossa sensibilidade e o nosso auto-conhecimento e assim descobrir o que ainda há a fazer por nós. Desistir nunca.
Enquanto os holofotes estiverem ligados e o pano hasteado, não podemos parar de ocupar e representar no palco da Vida, aproveitando todas as suas potencialidades.
Contrariar contrariar contrariar e contrariar é um óptimo desbloqueador de situações demasiado confortáveis. O que quer que nos impeça de desacomodar deve ser contrariado e contribuir para derrubar as barreiras mentais que limitam o nosso crescimento.
Ganhar interesse e paixão por outras fontes de aprendizagem faz-nos sentir vivos e despertos. Afastam-nos da apatia de que muitos abusam e parecem nem se importar com isso.
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Novo Herói
Os Heróis de banda desenhada no masculino, com seus fatos de lycra justos, cheios de brilho, que representam a sua própria pele e que os carrega de tanto poder fantástico, causa-me alguma curiosidade. Bem sei que, estas criaturas maravilha não são humanas mas inspiraram-se em nós e, portanto, deveriam considerar a faceta do Homem terreno, que preza a sua masculinidade. Não estou a ver o nosso Zé povinho, vestido com um tecido elástico reluzente verde alface, a fazer o manguito e manter o seu ar machão com um traje tão festivaleiro. Seria o fim da picada. Porque é que aceitamos um look tão drag queen nos nossos heróis da BD e não duvidamos da sua força e grandeza de criaturas viris? Será porque não os encaramos como realidade mas sim uma fantasia que nos entretém e nos afasta das nossas amarras morais?
Imagina agora se uma amiga tua te confessasse que marcou um blind date e o seu encontro resultou desastroso, porque seu parceiro decidiu vestir-se com uns leggings pretos justos, um blazer vermelho debruado a dourado, a tapar o peito nú e sem pilosidades, na orelha uma argola em ouro, cabelo húmido a cobrir o pescoço, arrumado por uma bandelete dourada, sobrancelhas arranjadas e pele macia? Nem no perfume ela conseguiu superá-lo. Aliás ela nem conseguiu sobressair. Quem sobressaiu foi ele em tudo aquilo que habitualmente é apreciado numa mulher. Ele pontuou com nota máxima na postura, beleza, elegância, feminilidade, bom gosto e até na falta de pontualidade. Aquele encontro destruiu a sua auto-estima feminina. Até ele chegar ela era o centro das atenções. Mal ele apareceu, cabeças rodaram, silêncios se impuseram, a curiosidade aumentou e o interesse subiu. Ela ficou na sombra aguardando o fim do seu momento de fama. Nem sei como ninguém se lembrou de lhe solicitar um autógrafo.
Se ele fosse um herói de banda desenhada, aquele traje até que seria perfeito e adequado. Quanto mais exagerado melhor. A sua qualidade de carne e osso ajuda a quebrar o feitiço e desdenhar do seu look new age.
Talvez seja altura de mudar o nosso paradigma e encarar o homem moderno e actual como alguém sensível, charmoso, que gosta de se cuidar, que gosta de exibir seu bom gosto, que partilha de alguns gostos femininos, que se comove facilmente, que é bom gestor caseiro, que é bom confidente, que é bom cuidador, que é prestável nas tarefas domésticas, asseado, delicado, saudável e um mestre em compreensão feminina.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Nave Enterprise
E se de repente te informassem que teus dias na terra estão contados e partirias para outra galáxia, livre de impostos, com acesso gratuito a educação e saúde, com um mercado imobiliário protegido pela banca, que empresta com garantias de não abusar muito depois, sem crime, soalheira, com reformas antecipadas livres de penalizações, sem desemprego, sem mendicidade, sem vicíos, com uma política salarial vantajosa e muitos motivos para sorrisos. Parece tentador? De facto, com um panaroma destes, o que mais apetece é apressar a despedida. Mas e se essa despedida implicar abandonar as pessoas que amamos e que se aferroaram à nossa Vida e nós deixamos? Aí tudo muda, não é verdade? Nem aquilo que parecia tão tentador assume o mesmo encanto.
Só de pensar, minha ansiedade dispara e a vontade de devorar uma pasta de chocolate obececa-me. Aquele barulho enrugado da prata a rasgar-se, ecoa na minha mente e não me deixa aclarar as ideias. Sei que se ceder a este capricho perderei o controle e não me ficarei por uma única dentada. Ou Tudo ou Nada. Nas minhas mãos vira nada. O arrependimento vem depois.
Afinal onde é que eu ia mesmo?
Ah sim, já me lembro. Existe a possibilidade, ainda mal esclarecida, de termos que partir sozinhos e deixar para trás nossas ligações afectivas. Uma vez tomada essa opção talvez não possamos recuar. Só alguns foram convocados a transitar para esta nova e facilitada realidade, que nos afasta de todos os problemas que infeccionam a nossa sociedade. O meu presumido estado de privilegiada, condiciona ainda mais a minha decisão de voltar as costas a quem já me estendeu a mão tantas vezes. Que palavras lhes dedicaria antes de me despedir, para lhes prestar a minha homenagem e impedi-los de duvidar do meu Amor por eles? Acho que por mais eficaz que seja a exposição das minhas razões, os imunizaria da dor de ser rejeitados por um futuro de sonho. A liberdade de decisão ajuda a estabelecer compromissos de responsabilidade. Se decidir prolongar minha circunavegação na terra, continuarei a gozar da companhia dos meus suportes emocionais e continuarei a enfrentar as dificuldades, próprias da Vida em directo. Se optar pelo comodismo de uma Vida, programada para me poupar chatices, então estarei comprometida com o egoísmo e a inércia. Uma e outra, estão para as nossa Vidas como o Míldio e o Oído estão para as videiras. Ambas, pragas de destruição.
Com tanta divagação, até já acabei com a tablet de veneno gustativo, que nem sequer careceu de apresentações.
O peso é desigual. O mundo dos afectos vale bem mais que a garantia de um futuro sem complicações. Se partisse para outra galáxia teria que ser numa enterprise familiar, com todos os spock's que preenchem o meu perímetro de proximidade emocional. Viagens sozinha, só aquelas até ao wc. Curtas e de grande alívio.
domingo, 11 de setembro de 2011
Mãe por Acaso
Vivian entrou no bar Clash, para cumprir mais um turno, a aturar bêbados, chatos, agressivos, deprimidos, exibidos, engatatões, mulherengos e um sem número de intoxicados, fãs daquele lugar decadente e com bebidas a saldo. Aos Sábados à noite não havia folgas para ninguém. Casa cheia e garantia de dinheiro em caixa, não davam margem para prescindir do pessoal de apoio aos bares.
Decote pronunciado, lycra colada ao corpo, sapato de salto alto, cabelo solto, bronzeado artificial, muito sexappeal e desembaraço para atender todos os pedidos que não param de chegar, é assim que Vivian assegura a crescente adesão ao seu balcão de atendimento.
Porém, nessa noite, Vivian estava desconcentrada, distante e não conseguia destacar-se pelo seu alto desempenho. Não atinava com os pedidos, derrubava os copos, tropeçava em tudo, remoía baixinho seu nervosismo, atrapalhava seus colegas com sua desconcentração. Nada parecia funcionar. Anos de experiência a aturar os caprichos dos clientes, não a impediram de prestar um mau desempenho naquela noite de festa. O motivo não era forte mas era bastante íntimo e pessoal. Suspeitava estar grávida e debatia-se com essa incerteza. Só poderia confirmá-lo na segunda feira, até lá tentava sobreviver à agonia. Depois disso teria que reavivar a sua memória sexual e atribuir um autor para aquele deslize, que lhe iria complicar o esquema de Vida.
Barwoman e grávida não combinavam. O momento não era o ideal. Sem parceiro fixo, família emigrada, instabilidade financeira, dependente da sua beleza para se manter, instável emocionalmente, tudo conjugado fazia campanha negativa contra a sua gravidez. Assustada com a evidência dos sintomas, não consegue sossegar e alhear-se dessa possibilidade.
Afunda-se nos seus pensamentos, descuida os seus compromissos e quase compromete a animação alcoólica dos seus dependentes.
Vivian tenta apressar aquela noite, desperdiçando todos os convites dos seus admiradores, que todos os sábados imploram a sua atenção, sem aliviar. Só queria descansar e adormecer sobre o assunto, que só deveria preocupá-la no dia seguinte.
No domingo de folga, escapou-se para o centro comercial com duas amigas, adeptas do consumo desenfreado de futilidades. Nos corredores de acesso às lojas, que percorreram com diversas paragens pelo meio, era raro não esbarrar com um carrinho de bébé e conviver com uma linguagem própria, que denunciasse grande comprometimento com a nova condição familiar daqueles pais. Um cenário do qual ela se queria libertar mas, não estava a ser fácil desviar-se da epidemia familiar, endémica aos domingos com chuva.
Sem se enternecer, despede-se daquele ambiente e refugia-se na sala de cinema, tentando melhorar o seu humor com a comédia em cartaz. Azar dos azares, a comédia aligeirou o tema filhos, educação das crianças, casais, família. Como se não bastasse o anúncio que interrompeu o filme para intervalo fazia propaganda a fraldas infantis. Um pesadelo para Vivian que se vê pressionada a lidar com esta realidade que começa a acusar demasiada proximidade. Algo que ela ainda não determinou encarar como a sua própria realidade. As circunstâncias que precipitaram a sua presumida gravidez não estão envoltas em romantismo mas, numa inconsciente urgência de satisfazer uma necessidade física. Nunca houve um prolongamento dos seus encontros, que suscitasse a estimulação do seu instinto maternal. Não teve irmãos mais novos, nem sobrinhos para cuidar e, como consequência disso, não teve oportunidade de treinar sua habilidade para criar afectos com crianças. Tinha medo de desiludir e fracassar como mãe. Sem orientação, busca a confirmação das suas suspeições. Os exames despacharam a sua decisão. Ia ter um filho. De quem? Quem quer que fosse não iria querer assumi-lo. Afinal, nem no dia seguinte lhe ligou a marcar novo encontro, demonstrando total desinteresse. Foi tudo tão rápido, no intervalo do seu expediente, comprimidos no apertado espaço da cabine do wc, sustendo gemidos, para no final do acto, sem chamar a atenção, abandonarem o local separadamente. Ele regressou à multidão que ocupava a pista de dança e ela voltou a ocupar o seu lugar de bartender. Romântico? Nem por isso.
Vivian sobreviveu ao trauma da notícia e enfrentou a decisão de ser mãe a tempo inteiro, com grande dedicação e muito amor. Abandonou o Clash e todos os Clash's com quem partilhou a cabine do wc, palco de muitos momentos fugazes e ardentes de prazer. Comprometeu-se totalmente no seu papel de mãe e nunca deixou ninguém sem resposta nem mesmo os mais preconceituosos e moralistas. Felizmente, a cria saiu à mãe. Do pai nem sinal. Pelo menos para já. No entanto, quando a criança crescer e formar a sua personalidade poderão surgir alguns estilhaços do passado, com os quais Vivian terá que conviver. Esperemos que Vivian tenha uma resposta adequada a todas as curiosidades do seu filho.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
Happy Endings
Esta ideia importada das telenovelas brasileiras "E todos viveram Felizes para sempre", enche-nos de esperanças vãs. Pior que isso, faz-nos acreditar que nossos desejos de felicidade devem ser os primeiros a ser satisfeitos em detrimento dos de todos os outros, que deverão aguardar na longa fila de espera. Nem sequer, invocamos terceiros para connosco partilharem da tão cobiçada e efémera felicidade, julgando-nos o único ser merecedor dessa dádiva. Acontece que, no trailer da Vida real há um leque diversificado de boas pessoas que tal como nós merecem ser Felizes. Só seremos felizes se elas também o forem, porque é com algumas delas que esbarramos no nosso dia a dia, em diferentes ocasiões. As suas manifestações de felicidade irão contagiar-nos, as quais, por sua vez, irão ser devolvidas por nós a outros, que se cruzarão no nosso caminho e, por conseguinte, irão repercuti-lo a outros mais e assim, sucessivamente. Isto claro, se não estivermos demasiado obcecados connosco e com o nosso bem estar.
Dar e receber assumem a mesma importância e é dessa troca de bondades que formamos a felicidade.
Jamais seremos felizes se não desejarmos o bem do outro. Não implica que gostemos de todos ou a todos amemos da mesma forma. Seria inútil contrariar nossos critérios de gosto. É bom que os tenhamos e não nos deixemos encantar com tudo o que aparece e, com isso, fragilizar nosso carácter.
Ao desejarmos mal aqueles de quem não gostamos, estamos a desperdiçar energias em algo que não comunga com a nossa felicidade. Só nós detemos o poder para mudar o que há em nós e criar a nossa própria concepção de Felicidade.
Ao contrário do que muitos pensam, não há um só conceito de Felicidade. Há sim uma base, onde todas as vertentes da felicidade vão beber, mas cada uma dela age independentemente.
Nas mentes mais herméticas, só há uma única forma de viver feliz. Para elas, viver feliz deve obedecer a uma ordem de vontades alheias, que nos tornam semelhantes no modo e estilo de Vida. O conceito de Felicidade aqui subjacente implica cumprir uma série de obrigações de inserção social. Têm pânico de cair na boca do povo e destoar do rebanho. Não importa, o que gostam ou não gostam. O que importa é manter as aparências e desviar atenções.
Ignoram, por completo, que a Felicidade constrói-se de dentro para fora e não de fora para dentro. Auscultar no nosso interior o que nos faz verdadeiramente felizes, sem atender aos caprichos de uma sociedade estilizada é condição essencial para progredirmos e nos distanciarmos de uma felicidade programada. Quem melhor do que nós para saber o que nos torna felizes?
Haverão sempre vozes da reacção a querer impugnar a nossa Felicidade com suas férreas crenças pessoais.
Mesmo que essas vozes nos sejam familiares pela proximidade que nos une, nem tudo o que elas transmitem é digno de ser assimilado. Muitos dos seus discursos devem ser filtrados pelo spam e recambiados para a lixeira.
Voltemos aos finais felizes das telenovelas. Convenhamos, a bobine está um pouco gasta. Que tal desconstruirmos a instituição matrimonial tão tradicional e sem grande eficácia na felicidade dos seus aderentes?
Graças à Evolução do Direito, não temos que carregar o mesmo erro a Vida inteira. O divórcio veio determinar a ruptura legal entre um casal que não quer mais estar junto e procura libertar-se para encontrar a sua felicidade noutro lugar e de um outro modo, que resulte em algo melhor.
Viver em união de facto ganhou expressão e grande adesão por parte dos jovens, que só querem assumir aquilo que existe no momento, sem garantir o que o futuro lhes possa reservar em termos de longevidade da sua união.
Há quem prefira ser livre para amar e transitar de parceiro em parceiro, acumulando novas e diferentes experiências.
Há quem não queira ter filhos e se sinta feliz ao lado do seu companheiro(a) e suas ninhadas de gatos.
Há quem parta para a produção independente e antecipe algo com que sempre sonhou.
Há quem adore famílias grandes e não se canse de gerar descendentes.
Há ainda os pais de coração que adoptam os filhos dos outros e os tornam seus, sem poupar em afectos e amor.
Há os tementes a Deus, que na sua devoção vão saciar sua carência de Amor.
Há também os casais Homosexuais que querem ser livres para Amar sem exclusão.
Transgénicos, travestis, gays, bisexuais, heterosexuais, acomodados, assumidos, não assumidos, viúvos, solitários, prostitutas, promíscuos, puritanos, góticos, satânicos, judeus, ateus, vegan, vegetarianos, budistas, viciados, são alguns exemplos dos frutos libertados pela crescente democratização da felicidade. Todos eles sem excepção querem ser felizes tal como tu e eu.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Também Te Amo
Três Mulheres reúnem-se à mesa. Almoçam descontraídamente e soltam seu veneno, que dispara em todos os sentidos, sem poupar nada nem ninguém. Falam sem pudor e sem arrependimento. Destilam maledicência sobre seus companheiros, suas colegas de trabalho, suas cunhadas, suas irmãs, seus cunhados, suas sogras, suas amigas e adoram dissecar suas Vidas perante estranhos. Se pudessem, aproveitariam a tarde para hostilizar todos aqueles que com elas convivem directa ou indirectamente. Adoram construir cenários, sem bases sustentáveis que solidifiquem uma opinião construtiva, só para ter do que falar, ou melhor, do que comentar.
Nem sei se estas mulheres amam verdadeiramente alguém ou fingem amar. Impiedosas, condenam todas as atitudes das suas congéneres, repetidamente e num tom que denota muito conhecimento na matéria. De vez em quando, aliviam a tensão com a inclusão do tema filhos na conversa, mas depressa escorregam na vitimização. Carregam o peso de mil e uma tarefas, que se gabam de acumular sem ajudas e insistem, em esfregá-lo na cara dos seus companheiros, que continuam sem saber as razões do seu destempero. Se eles oferecem ajuda, rejeitam e depois condenam a sua passividade. Se fossem mais sinceras, assertivas e incisivas nas suas vontades, não haveria tantas batalhas caseiras. A volubilidade das Mulheres desespera os Homens, que nunca sabem qual sentido elas vão tomar. Essa volubilidade até seria apreciada na intimidade, com a personificação de várias facetas da mulher poderosa.
Eles não vão reconhecer seu esforço, se essas ocupações que as Mulheres decidem assumir, as desviarem do mais importante na relação. Tempo para Amar sem tabus.
Até as sessões de sexo são agendadas e cronometradas, não vão estas estenderem-se e roubar-lhes as horas de sono recomendadas, que as farão sobreviver a toda a agitação do dia seguinte. Prescindem dos preliminares e orientam os seus parceiros na dominação do seu ponto G. Propulsor do máximo prazer.
Até as sessões de sexo são agendadas e cronometradas, não vão estas estenderem-se e roubar-lhes as horas de sono recomendadas, que as farão sobreviver a toda a agitação do dia seguinte. Prescindem dos preliminares e orientam os seus parceiros na dominação do seu ponto G. Propulsor do máximo prazer.
Muitas vezes, chegam a questionar o seu papel de companheiros para a Vida e a considerá-lo inútil e dispensável. Afinal elas dominam todas as matérias menos uma e, justamente, aquela que eles tanto apreciam numa mulher. Os seus companheiros querem sentir que elas ainda precisam deles e do seu Amor. Em vez disso, estas Mulheres mostram-se insatisfeitas e arrependidas. Implacáveis a repreender todas as atitudes dos seus Homens.
Já deveriam saber que as Mulheres são mestres a acumular tarefas e executar todas elas ao mesmo tempo, enquanto os Homens, não misturam tarefas e dedicam-se a elas exclusivamente e só transitam de uma para a outra, após terminada a tarefa anterior com sucesso. A sua abrangência é circunscrita ao que é mais prioritário, enquanto para nós Mulheres tudo é prioritário e urgente. Se desacelerarmos um pouco, talvez eles nos consigam acompanhar melhor e ser-nos úteis. Acho que alguns já se habituaram a que nós façamos tudo sem a sua colaboração. E de quem é a culpa? Obviamente, a culpa é das Mulheres que querem triunfar em tudo e custam em delegar, temendo não resultar na sua idealização de perfeição.
Amuam constantemente e quando interrogadas sobre a razão desse amuo atiram com um ambíguo NADA que os deixa cada vez mais confusos e sem palavras.
Sempre tão exigentes com o comportamento masculino e, curiosamente, tão facéis de agradar. Sair para jantar satisfaz seus desejos de exibir seu look novo e arrasar, além de acabar com qualquer amuo. É cartada ganha. Não falha.
Tudo para as ver felizes e vulneráveis. É esse o pensamento masculino.
O Pensamento delas é Ser a Única que o faz feliz.
Complicado????????????????????? Muitoooooooooooooooooooooooooooooooooo :D
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Sniper
Um quarto vazio, apenas um telefone ligado à ficha, acompanhado por uma lista telefónica, uma janela de postigo gradeada, um cheiro fétido a humidade entranhada, um relógio de parede a marcar o peso do silêncio, um homem curvado, esconde a cara entre os joelhos e luta com pensamentos ruins. Tudo à volta é triste e desolador. Parece que a esperança morreu ali.
O telefone toca e quebra o silêncio profundo, despertando a mudez do homem, que sem esforço, num único movimento, alcança o auscultador e num tom de voz impessoal, responde ao seu interlocutor, que lhe confia uma ordem de comando. Obediente e decidido, abandona o buraco húmido e sebento, para cumprir mais uma missão que o graduará na especialidade do Mal, que contamina o Mundo.
Convenceram-no de que era má pessoa, só porque tropeçara nalguns erros de percurso e, por isso, fora programado a cometer atrocidades, para gáudio dos seus educadores. Alfabetizaram-no para o mal, deram-lhe um rumo, traçaram-lhe um destino, atribuíram-lhe uma Vida, integraram-no e ele só tem que ser grato e obedecer sem questionar. Ensinaram-no a crescer na escuridão e a defender-se às cegas. O medo, com o qual conviveu so many times in so many ways, preparou-o para agir com frieza e muito método, aperfeiçoando a sua técnica de assassino profissional. A sua experiência leva-o a inspirar-se no medo e atingir os seus objectivos com muita determinação, sem se desviar do seu compromisso para com os seus orientadores. Nas suas missões, não há lugar a empolgações, nem excessos de vedetismo, que comprometam a perfeição do acto em si e venham a abrir fendas, por onde se esgueiram as vontades próprias, de quem não se soube controlar e arriscando catastrofizar o momento.
Não há desvios, não há hesitações, não há recuos, não há remorso, não há adiamentos, não há precipitações, não há desperdícios, não há erro.
Este homem verga-se à perfeição e trabalha-a compulsivamente. Dentro da sua desconstrução mental, a busca da perfeição é o único traço de normalidade que nele podemos vislumbrar. Tudo o resto são distúrbios.
Age isoladamente. A companhia só o faz distrair-se das suas prioridades. A sua maior defesa é não manifestar-se em absoluto sobre coisa alguma e assim passar despercebido. A sua capacidade de parecer invisível arrecadou-lhe bons serviços e a confiança da sua clientela fiél.
Apesar de ainda não ter perdido a habilidade e perícia de sniper, teme ser vítima da perda de defesas, consequência do avanço da idade. Não se encara num lar para idosos, a limpar a sua carabina, que tantas baixas provocou. Nem se encara a socializar com os velhinhos incontinentes de pantufas e roupão.
Se calhar quando essa fase chegar, regressa ao buraco húmido e ordena ele próprio a sua morte.
sábado, 20 de agosto de 2011
Viva o Verão
Meio dia, um sol abrasador, guarda-sóis hasteados, filtram os raios intensos, esplanadas sem fim, vaivém de bandejas pesadas, cobertas de bebidas frescas, leques nervosos tentam combater a agonia de mulheres maduras e acaloradas, repuchos de àgua fresca salpicam os incautos, que se deixam refrescar com agrado, belezas desfilando semi-nuas, despertam interesse, euforia na fila dos gelados de muitos sabores, muita sedução e noites longas. É assim o Verão de curta duração mas sempre inesquecível, que o diga David e sua trupe de amigos festivaleiros. Brutal é a palavra de ordem, que eles adoram abusar em todos os Verões que passam juntos. Clima brutal, música brutal, ambiente brutal, férias brutais, animação brutal, noites brutais. Tudo bons motivos para gozar de pura diversão. Aliás, parecia tudo estar garantido para mais um Verão, alto em boas sensações. Na verdade, as premissas estavam lá todas. Só não estava David. O maestro da boa disposição.
Estranhamente, David desapareceu sem deixar rasto. Nem um bilhete de despedida. Absolutamente nada, que pudesse conter uma pista do seu paradeiro. Quem com ele conviveu diz ser um sonhador cheio de vontades e com um lado optimista tão apurado, que não conhece barreiras.
Agora, desconfiam se não seria uma máscara para esconder o seu Eu verdadeiro. Muito se especulou à volta do seu desaparecimento.
O seu lado aventureiro podia tê-lo impelido a programar uma viagem pelo Mundo com várias paragens, cenários a perder de vista, múltiplas experiências, amigos de ocasião que deixam saudades, algumas tentações, lições de vida, outros costumes e outras fomas de vida.
Será que David empreendeu uma ida sem regresso mas agora que quer regressar, esgotaram-se suas economias? Algo que também chegou a ser ponderado. No entanto, seria demasiado improvável dada a esperteza de David, astuto a libertar-se de enrascadas bem mais complicadas. Nenhum sinal seu. Todas as possibilidades foram exploradas sem sucesso.
Sua família recusava conformar-se com o seu sumiço. Sua implicância era evidente quando David expulsava a sua espontaneidade. A quem ele saíria tão louco? Interrogavam-se. Pois bem, a sua loucura é saudável e tem um nome. Chama-se Juventude. Custaram a entender a intensidade dessa passagem obrigatória e agora, querem-no de volta no seu registo próprio.
A chegada do período estival empolou a sua memória. Sua convivência ganhava maior expressão no Verão. Esta será a primeira vez que seus amigos ficarão impedidos da sua presença. Em todo o caso não podiam acabar com a magia da melhor estação do ano e desonrá-lo. Afinal ele era a grande figura do Verão.
Reunidos numa esfera de good vibe, relembravam os melhores momentos de David no Verão passado e sem se aperceberem, alguém se aproximou e desfez o cenário, resgatando-lhes total atenção. Era o nadador salvador, alertando-os para a mensagem que rasgava os céus da praia de Melides e que talvez, os pudesse interessar. Dizia: Viva o Verão. David Likes
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Piano Mágico
Soaram as vinte horas no relógio vertical que marca o estilo clássico da sala de jantar, com seu frondoso lustre de cristal, mobília de estilo, carpete em relevo, trabalhada manualmente com fios de seda, o luzidio piano de cauda Shumann e sua banqueta em veludo encarnado, candelabros em prata, que saltitam de móvel em móvel, emprestando-lhes a sua graciosidade altiva. Aos poucos os presentes foram chegando e instalando-se em seus lugares habituais, cumprindo mais um ritual familiar, que instiga uma convivência programada e nem sempre desejada. Naquele instante, todos saem das suas tocas, interrompem seus caprichos pessoais e, ordeiramente, descem para jantar. Com ou sem fome, garantem sua presença, cabendo a eles decidir se vale a pena quebrar o silêncio com suas participações activas na animação daquele momento, que se repete todos os dias, sem excepções. Mil calorias depois, dispersam-se e voltam a fugir para a segurança das suas tocas. Alguém se ocupará do resto. A sala volta a ficar vazia e impecavelmente arrumada para o próximo encontro.
O gato persa invade com cautela a living room, temendo ser engolido pelos antepassados, congelados nos retratos que forram as paredes, bem isoladas da passagem da modernidade.
Ouve-se apenas o tilintar cerimonial das grinaldas de cristal que iluminam todas as raridades daquele espaço de convívio.
A juventude ocupou o andar de cima, transformando-o numa resistência à permanência da antiguidade.
Gustavo, prevenindo invasões, colou na porta do seu santuário um Not Disturb com neóns luminosos, oferta de Miss Dangerous, sempre atenta à sua frequência assídua na Strip House. Além de ter sido agraciado com um presente de extrema utilidade, para um jovem cheio de secretismos, como ele, também recebeu especial destaque no mural da Strip House, com um nome mui a preceito. Pure Touch. Se bem que, o que Gustavo procura, para além de um touch particular que comunique com vários estímulos, é a sensação de ser um Homem completo.
No quarto, ao lado do seu, habita a ingenuidade de Belinha, que farta-se de sonhar com o princípe encantado e seus rasgados elogios à sua jovem beleza. O Tal que a faça sentir uma princesa, dona do seu coração. Infelizmente, até aqui só tem encontrado sapos, sem tacto para a sua delicada veia romântica.
No outro aposento vive Joel e suas obssessões ambientais. É nesse espaço que aproveita para dirigir a sua campanha de sensibilização ecológica. Não há um único objecto no seu ecossistema, que não seja reciclado. Até as descargas sanitárias lá de casa são controladas por si, bem como, o consumo do papel higiénico. Todos foram intimados a reciclar. Até mesmo o gato fósforo, não escapa a essa intimação.
Os banhos são vigiados e todos os gestos que comprometam o ambiente.
Sua namorada não aguentou a pressão e abandonou-o com justa causa. Toda a Mulher sucumbe a alguns luxos. Para Joel, luxo é sinónimo de desperdício e desgoverno.
Cátia alcançou o seu limite, quando ele começou a implicar com o seu gasto em guardanapos de papel, nas suas raras saídas para comer pizza.
Os pais, isolaram-se no andar de baixo, onde se cultiva a rigidez familiar e o respeito pela tradição geracional.
O gato fósforo é o único a conviver com ambos os mundos e a lamber as feridas de uns e de outros.
Quando a Mãe Ester quer convocar os três para colaborar nos compromissos domésticos, recorre ao seu assistente fósforo e sua hábil capacidade de captar atenções. Ao bichano ninguém nega atenção.
Até o Pai Agostinho se afeiçoou a ele e não prescinde da sua presença, quando se barrica na garagem, para matar o seu vício do bricolage.
Antecipando as badaladas histriónicas do relógio quartzo, Ester experimenta romper o silêncio, recuperando o seu talento musical através da domesticação do piano, que durante anos não passou de um objecto decorativo. Em sobressalto, Gustavo, Belinha e Joel, são atropelados por algo inesperado e que os remete para o prazer que sentiam quando a Mãe tocava para os adormecer. Já se tinham esquecido de quão importante foi o seu crescimento ao som de Shumann. Apesar do seu som ser um excelente calmante, também trazia animação à comemoração dos seus aniversários. Tudo dependia da melodia nele reproduzida.
Hoje acumulam vários interesses que os desviam do contacto familiar desinteressado.
Mesmo assim sentem que, ainda faz sentido estarem juntos, apesar de todas as distracções a que estão sujeitos.
O relógio deixou de atacar os seus silêncios individuais. A suavidade das notas que o piano evapora, passaram a reclamar suas presenças sem incomodar seus sentidos. Aos poucos encaram a interrupção dos seus egoísmos pessoais, como um bem necessário a cultivar, para que não se perca o espírito de coesão familiar.
Desilusão
Dizem que o tempo cura tudo mas será que, limpa as mágoas que se foram acumulando com os sucessivos abalos dos quais fomos sendo vítimas? Conviver com esses espinhos faz-nos desenvolver defesas, que irão impedir interacções entusiasmadas e que contemplem uma entrega total de nós mesmos. O medo de sermos novamente magoados, retira-nos liberdade para agir sem rede e sermos movidos pela inconsciência.
Quando remexem nas nossas emoções, tudo muda. Nossa perspectiva muda. Nossa predisposição muda e tudo passa a ser avaliado e processado com outro pormenor. Não haverá mais distracções, confianças desmedidadas, disponibilidade total, concessões, compaixão ou perdão. Esgotadas todas as possibilidades de conciliação, fechamos um ciclo e começamos outro, com mais cautelas e menos descuidos. Nem se trata de ter razão ou querer ter razão mas, decretar um fim para aquilo que não tem futuro e se aprofundado irá alimentar mais discórdias, mais dor, mais batalhas perdidas e uma barreira de aço que confirmará o nosso total desentendimento. Sabermo-nos retirar de cena e isolarmos num recanto escondido da memória, as ofensas, os ataques sem sentido, a falta de reconhecimento, a falta de respeito, o desaproveitamento da nossa dedicação, a desconsideração das nossas manifestações de afecto, a expiação dos nossos comportamentos e sua permanente conotação negativa, quase sempre, assente em más interpretações, torna inevitável, o nosso afastamento e evita prolongar mais o sofrimento. Chegamos a colocar em causa a nossa própria essência e achar que há algo em nós que suscita todo este mau estar e que, devemos incrementar mais tentativas de aproximação, que reponham a nossa boa união. Essa insistência precipitará mais cobranças, mais chantagens, mais réplicas do descontentamento instalado.
Ao permitirmos que destratem a nossa essência, a nossa maneira de ser, a nossa identidade, rebaixamo-nos aos caprichos de quem se sente incomodado com nosso jeito. Tentar entender os porquês de já não haver mais encanto em nós, que promova a continuidade de uma boa empatia, implica diabolizarmo-nos. Não merecemos ser massacrados por sermos como somos, nem devemos agir contra a nossa própria autenticidade. Quem abusa de nós dessa forma só merece indiferença pelo que não soube aproveitar. Talvez o tempo dissipe as marcas da desilusão ou talvez não. Difícil será repor a cumplicidade, que se veio a perder com o descontrolo emocional de quem não soube conquistar o seu lugar sem impôr um trono.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Imperfeição
Vai soar estranho, mas eu sempre quiz ter a capacidade de descolar-me do meu corpo e poder estar do lado de quem me vê e me julga, para saber ao certo qual a imagem que eu transmito. Sei que não sou condescendente comigo mesma, nem me poupo com a minha própria intransigência e forço-me a ser do jeito que toda a gente gosta. Fui educada a não desagradar os presentes mas o que eu sei fazer melhor é chocar e provocar diversas e diferenciadas reacções. Acredito até que, os mais amados são aqueles que pouco se importam com o julgamento dos outros e vivem sem aprofundar as manifestações que giram à sua volta. Retiram-lhes toda a sua intensidade e encaram-nas como automatismos de defesa que escapam às suas vontades e estão cimentados numa repetição daquilo que lhes foi transmitido. Na verdade, até faz sentido mas, na realidade, todos nós caímos nas malhas dos outros e na necessidade de aprovação. Nós só nos garantimos tendo a chancela do próximo. Eu só serei feliz se alguém me compreender e me incluir num núcleo que me saiba compreender, senão serei uma outsider grudada no espelho à espera de respostas que eu não consigo obter. Isto de depender dos outros para nos sentirmos bem é sádico, mas é assim que funciona na maioria das vezes, até porque fomos programados nos mandamentos cristãos, que colocam o outro como o fundamento para aferir a nossa boa criação. "Ama o próximo como a ti mesmo". Bem, este mandamento fomenta um espírito altruísta inigulável. O próximo pode ser o maior imbecil à face da terra mas, mesmo assim, continua a ser nosso dever amá-lo e respeitá-lo. Esta qualidade de bom samaritano colide com o meu sentido apurado de justiça social. Não tenho nem nunca terei essa capacidade de amar toda a gente, nem quero amar toda a gente, pois nem toda a gente é digna do meu amor. Se já me custa respeitar alguns géneros de ser não me obriguem a amá-los também. Como também não posso crucificar aqueles que não conseguem gostar de mim. Apenas tenho que aceitar que não sou um ser consensual. Uns gostam, outros nem por isso. Não sei se vale a pena mover esforços para que gostem de nós quando quem nós somos deveria bastar para criar empatias. Apenas devo ao outro a minha autenticidade, com tudo o que de bom e de mau ela tem, mas pelo menos garanto aquilo que sou. Esse sim, deveria ser um mandamento divino. "Sê autêntico como só tu sabes ser".
Certamente quem criou o mandamento "Ama o próximo como a ti mesmo", estava a pensar em seres alados, sem alma. A carne que reveste o osso e o sangue que aquece o nosso corpo não nos dá margem para fantasias, nem para disfarçar nossa fraqueza humana. Ela existe. Não a podemos negar.
Nasci na imperfeição e vou morrer na imperfeição e não há nada a fazer senão contrariá-la, pois jamais deixarei de cometer erros, ofender alguém, desiludir alguém, desagradar alguém e tropeçar na minha própria condição de Ser com falhas. A paga para estas minhas fraquezas é aturar o mesmo dos outros, que como eu também não são perfeitos.
terça-feira, 26 de julho de 2011
Personagens Menores
Esta história pode ser apresentada de duas perspectivas. Sob uma perspectiva cómica ou sob uma perspectiva trágica.
Três personagens, três vidas, três criaturas sem noção, num só espaço, desdenham de tudo aquilo que não compreendem e que se apresenta melhor que elas.
Chamemos à nossa primeira personagem Fedora. Ela é a rainha do Fedor. Tudo lhe enoja mesmo antes de sentir ou de provar. Mulher intrometida, inconveniente e sem educação. Julga que tudo lhe diz respeito e sobre tudo tem que opinar. Impiedosa a criticar os outros, que destoam da sua maneira de ser. Raramente coloca em causa as suas acções, que quanto a si são sempre as melhores e as mais adequadas. Procura, constantemente, um alvo a perseguir como forma de entretenimento e para coleccionar matéria que quebre com a sua imensa falta de espiritualidade. É incapaz de ficar em silêncio, perscrutando seu próprio interior. O bem estar dos outros afecta-a de tal maneira que não consegue evitar detonar a felicidade alheia, com seus desabafos infelizes e carregados de inveja. Não reconhece mérito nos outros e, sem contexto algum, reclama atenção colocando em evidência ela própria e os da mesma criação que a sua. Não oferece qualquer surpresa nem deslumbre, só pena. Sua altivez desconcerta-nos porque só testemunha a sua própria mediocridade interior.
A segunda personagem consegue ser mais moderada em algumas manifestações próprias de um Ser Menor. Chamemos-lhe Bexiga. Apresenta-se tal qual uma víscera oca que se julga muito imprescindível e de extrema fiabilidade. Chega a ser irritante sua sapiência saloia cada vez que tenta auto-promover-se, a toda a hora, sustentando-se em nada concreto, nem tão pouco relevante. Sempre que pode, rouba o momento do outro para tentar surpreender a plateia, tentando convencê-los de que sabe o que diz. Na verdade, ela expulsa aquilo que os outros já mastigaram. Seu raciocínio é básico e pobre em conteúdo. Adora imitar e chamar a si o que não é da sua autoria. Defende-se antes mesmo de ser atacada, com medo que a desmascarem. Parece aquele miúdo incontinente que tresanda a urina e mesmo assim tenta esconder o óbvio até às últimas consequências, para não parecer mal e reprovável.
Seu cérebro não consegue filtrar aquilo que não carece de verbalização. Comunicar sem pensar é um hábito recorrente da Bexiga.
A terceira e última personagem é uma combinação destas duas mas numa versão agravada. Chamemos-lhe Obtuso. Este nome assenta-lhe bem mas outros há, que também o descreveriam na perfeição.
O género é tão insuportável que até receio ao invocá-lo empestar meu pc com uma torrente de vírus nocivos e altamente destrutivos. Sem graça exterior, nem interior que compense. Amargo como rabo de gato. Seco e árido, afasta todas as espécies incluindo as rastejantes. Insensível, preconceituoso, maldoso, impiedoso, intolerante, são as características que melhor o identificam. Pode parecer implacável e cruel a minha apreciação mas só quem convive de perto pode comprovar e até desaconselhar sua presença nefasta.
Atormentado por um sentimento de inferioridade profundo tenta abafá-lo com sua arrogância inconsistente. Suas exibições demonstram ressentimentos inultrapassados. Não sabe perdoar nem reconhecer que errou.
Em vez de se esforçar por melhorar-se enquanto pessoa, prefere vingar-se do mundo como se o mundo não o merecesse. Assustador é saber que se auto intitula um cativador de almas perdidas e em perigo. O seu poder tem tudo menos de curativo. Ele próprio é um ser incurável que não sabe amar o outro.
Fedora, Bexiga e Obtuso são uma irmandade de profetas da pobreza interior, que não chegam a fazer história.
Lamento mas o que quer que fosse que surtisse da combinação destes três resultaria desagradável. Ninguém merece.
Qualquer semelhança com estes perfis é pura coincidência.
terça-feira, 19 de julho de 2011
Sucumbir à Dor
A Luz apagou-se, o coração acusou batimentos cardíacos cada vez mais fracos e acabou por decretar falência, os sentidos desligaram-se. O sangue deixou de se espalhar e bombear as artérias, o corpo arrefeceu e rapidamente virou alimento de larvas, que atraídas pelo seu intenso odor, formaram uma gigantesca legião desordenada e faminta.
Sua alma levitou como uma sonda no espaço e sem deixar rasto partiu, deixando apenas a consolação de ter partido em paz.
Inconsoláveis, estavam as figuras vestidas de negro, que sem desgrudar, velavam o corpo, empregando ainda mais profundidade ao momento fúnebre. Quanto mais consumidos pela tristeza melhor. Mais tarde serão recordados como os mais afectados com a perda, que o tempo se encarregará de esbater.
Frases consoladoras saídas de um qualquer manual de boas maneiras rebentam com a nossa dor, porque teimam em querer apagá-la.
É uma batalha perdida e inútil. Para quê remediar o irremediável, com palavras de apoio que só sabem interromper nossa necessidade de privacidade. Nada disso nos alivia, nem é nosso propósito aliviarmo-nos. Afinal a dor é a única demonstração de Amor que nos resta e, por isso, não procuramos conforto nessa onda repetitiva de condolências gentis.
Não nos queremos despedir. Não queremos atirar para o passado o que previmos ter no futuro. Não nos queremos libertar da dor, ela prende-nos áquilo que recusamos abandonar apesar de nos ter sido retirado. O facto é que sabemos que a partida daqueles que mais amamos e veneramos, não impede o nosso percurso de Vida e essa evidência deprime-nos ainda mais. O pior é que ultrapassá-lo não resultará fácil enquanto as recordações recentes não se desvanecerem mas, com a passagem do tempo não restarão mais motivos para reviver o que não se pode recuperar e tudo aquilo que foi importante se evaporará.
Queremos impedir a passagem do tempo e comandar o nosso pensamento para aquele ou aqueles momentos em que fomos tão felizes e cúmplices. Queremos continuar a ser dignos do Amor dos ausentes e ficar suspensos por um sinal da sua omnipresença, que ditará a continuidade do nosso amanhã numa busca incessante por algo que nos aproxime deles.
Algo mudou e é essa impermanência que nos assusta. Aquilo que não podemos controlar coloca-nos numa posição muito vulnerável, sacrificando a nossa resistência à dor.
O sofrimento não honra os ausentes nem os faz ressuscitar. Viver Felizes é o melhor tributo que lhes podemos prestar porque foi assim que eles nos fizeram sentir e continuariam a fazer sentir. É nossa missão retomar esse ciclo de felicidade.
sexta-feira, 15 de julho de 2011
Pensamentos Soltos
1. Ideais não há.
2. Pessoas ideais também não.
3. Ser Feliz é uma escolha.
4. Justiça demorada perde eficácia.
5. Sonho nem sempre vira realidade mas, pode aproximar-se.
6. Amar nem sempre faz bem mas, não Amar faz pior.
7. Desistir atribui razões aos outros e retira-nos autonomia.
8. Acreditar alivia-nos do peso da realidade.
9. O Medo é um mecanismo de defesa que nos impede de viver plenamente.
10. Tolerar não implica aceitar mas, admitir que nem tudo pode ser mudado.
11. Amarmo-nos com base no que os outros pensam é doentio.
12. Quanto mais complicado mais interessante.
13. Normas existem para dosear a nossa liberdade.
14. Recaídas são fraquezas de quem não se sabe amar.
15. Solidão maior sente aquele que não se aceita e se acha diferente.
16. Dúvidas são atalhos para chegar à Verdade.
17. Envelhecer é um processo ingrato. Quando finalmente nos tornamos mais sábios para encarar a Vida, impedem-nos de Viver.
18. Crescer faz doer.
19. Vontade promove dinâmicas que desencadeiam acções, que por sua vez produzem resultados.
20. Cantar bem espanta Todos os Males.
21. Cantar mal espanta Todos os Males e também a freguesia.
22. Viver sem ânimo rouba-nos qualidade de Vida.
23. Perder vira derrota quando nos deixamos afectar e o encaramos como uma facada no nosso ego.
24. Orgulho benigno é a defesa do que é Bom e sagrado em nós.
25. Orgulho maligno é a defesa de tudo aquilo que é Bom e Mau em nós e não abdicamos de o sujeitar aos outros.
26. Perder ou falhar são aproximações à perfeição.
27. Tentação é o desejo suprimido.
28. Beleza sem conteúdo agrada mas não convence.
29. Serenidade é o estado de quem aprendeu a não guardar a dor.
30. Saudade é o alerta para as nossas dependências afectivas.
31. Humor é a camada fina onde se alojam as emoções.
32. Riso e choro são duas expulsões emocionais antagónicas mas, altamente libertadoras.
33. Amizade sem dedicação perde eficácia.
34. Culpar os outros pelo que não souberam ser ou não puderam ser, não nos isenta de responsabilidades para com aquilo que provocamos.
35. Indiferença é o castigo dos nossos inimigos.
36. Vingança é o tributo aos nossos inimigos.
37. A Esperança recupera o que julgavamos perdido.
38. O silêncio aprofunda o que ficou por dizer.
39. Doçura é candura.
40. Tudo e nada expressam muita coisa.
41. Inteligência conjugada com esforço traz mais proveitos.
42. Sorria mesmo sem motivo, não tardará a saber porquê.
Mente Insondável
Baldwin apresenta-se ao grupo de profissionais em saúde mental do Instituto Lonliness, isolado na periferia de Londres e longe do epicentro cosmopolita londrino.
Sorridente mas, sem se deslumbrar com a recepção que o aguardava, impaciente por aplicar a sua implacabilidade clínica, suspira baixinho e enfrenta o veredicto do júri. Antes disso, dedicou-lhes umas breves palavras em sua defesa, tentando atenuar a sentença. Sua habilidade para comunicar e convencer, confirmavam a sua inteligência persuasiva. Impressionante é a forma como ele cria emoções que desconhece, de uma forma tão real e verosímil. Baldwin Spencer escapou do internamento prolongado e do isolamento, naquele espaço frio e decrépito, com cheiro a morte lenta.
Agradeceu a confiança na sua regeneração e despediu-se das criaturas ingénuas que o absolveram da sua loucura. Cada vez mais confiante no seu poder de camuflar evidências, retira-se vitorioso e mentalmente enfermo. Despistara todos os exames psicológicos e a perícia técnica.
O Tribunal determinou à cinco anos atrás a sua inimputabilidade e, por sugestão de um advogado de defesa astuto e bem pago, decretou o internamento de Baldwin na casa mental do condado de Yorkshire. Juntamente com seu defensor, encenaram o seu distúrbio mental e enfatizaram o seu registo criminal limpo e sem mácula, como prova de um desvario sem premeditações.
Isolado numa cela exígua, desprovida de alma, parca em conforto, funesta, acolhimento do silêncio absoluto, programada para acalmar os distúrbios da demência, não se deixa abater. Nos cinco anos de clausura, não só não aprendeu a mudar o seu comportamento como, não reconheceu o erro, nem mostrou arrependimento. Apenas fingiu.
A má decisão judicial podia ter resultado em amarga tragédia. Desta vez, Baldwin quiz ir mais longe na sua empreitada de malvadez. Estavamos perante um racista sexual. A raça feminina constituia uma raça a exterminar, num sopro só. Conhecia bem seu modus operandi. Primeiro seduzem com seu olhar, que se esquiva, cada vez que se cruza com o do seu alvo, demonstrando interesse para depois os descartarem quando suas emoções estão em brasa. São todas iguais.
Todas elas foram concebidas para maltratar. Queria acabar com o poderio feminino. Por onde recomeçar?
A vizinha Rose fora sua primeira vítima. Pagara as consequências da sua intromissão, que incomodou Baldwin. Não gostou das suas tentativas de aproximação e seus ensejos para o agradar. Desconfiou da sua bondade feminina, quando ela desviou o olhar e percebeu seu desconforto. Atraiu-a para dentro da sua casa com o pretexto de lhe agradecer a amabilidade com que o recebeu no condomínio. Após visita guiada ao seu cómodo apartamento, encaminhou-a para a varanda, com a promessa de uma vista da cidade digna de um postal.
Impressionada com a paisagem detém-se junto ao gradeamento de protecção e a pedido de Baldwin, confirma a chegada da chuva, estendendo a mão para o infinito. Desprotegida, balança e cai desamparada na calçada. Morte imediata. Baldwin finge preocupação e corre em seu socorro. Gritou por ajuda que não tardou em chegar e confirmar o óbito.
Essa foi a primeira experiência activa com a morte.
Sentiu prazer em desembaraçar-se da curiosidade daquela mulher desocupada e cansada da sua viuvez precoce.
A sua libertação permitia-lhe repetir a proeza, fazendo outras vítimas. Não faltariam nomeadas. Elas proliferam por toda a parte.
Apesar de ter sido absolvido, havia populares que não acreditavam na sua inocência e a permanência naquele lugar, onde tudo aconteceu, o colocaria sob suspeita. Partiu sem remorso para outras paragens, virgens em acontecimentos criminais relevantes.
A pequena cidade gaulesa de Sens foi a escolhida. Simpática e pitoresca, só podia ser albergue de Mulheres cheias de disposição em receber um turista rendido à novidade.
A estalagem Bonne Nuit acolheu-o num quarto single, com vista para a praça, ponto de atracção turística de Sens. Era perfeita para se perder na obscuridão da sua mente perturbada, que contrasta com a prezada calma daquele lugar, que privilegia o espiríto de comunidade e interacção social.
Baldwin nunca se quiz integrar em grupos, que sufocassem a sua liberdade e estranha individualidade. Orgulhava-se do seu estado de outsider porque o libertava da envolvência social e comunitária, dos afectos, das retribuições, da igualdade, das desilusões, da fraqueza humana. Dela aproveitava-se para cometer as suas atrocidades e defender a sua raça superior. Seus alvos eram as Mulheres carentes, marcadas pela rejeição, inseguras e emocionalmente instáveis. Aproximava-se com grande tacto para lhes apalpar o pulso e ganhar a sua confiança, garantia do seu domínio total e do prazer de as ver sucumbir a seus pés, implorando por clemência. Excitava-o vê-las a rastejar por misericórdia.
O esquema de conquista tornou-se num padrão e imagem de marca do seu modelo de actuação.
Valerie foi o próximo alvo de Baldwin. Mulher sociável, sobretudo com o sexo oposto, com o qual se deixava encantar facilmente e se, no caso, fossem forasteiros então maior era o seu deleite. Pobre Valerie. Caiu nas malhas apertadas de Baldwin que, não se permitia falhar.
Após ter sacrificado o seu corpo para dar prazer a Valerie, era a sua vez de ser compensado. Aguardou pacientemente que Valerie se entregasse ao sono, para imprimir sua força bruta com a ajuda da almofada, que a despertaria para a Morte.
Quando se preparava para agir foi surpreendido com a entrada brusca de dois agentes da Scotland Yard, que o impediram de satisfazer sua vontade mórbida. Valerie acordou sobressaltada e assustada com a intrusão. Mais surpreso ficou Baldwin com a visita inesperada e em sua defesa, tentou argumentar com a sua habilidade habitual para convencer, mas foi em vão. Os agentes conheciam bem as suas manhas, suas obssessões, seus ímpetos de malvadez. Sem saber, Baldwin tinha sido vigiado desde que abandonou Londres e um passado no minímo intrigante.
domingo, 10 de julho de 2011
I Like
Gosto de gente simpática e sobretudo educada
Gosto de silêncio mas não muito
Gosto de esplanadas de Verão e de Inverno
Gosto de apreciar, sem ser notada
Gosto de gente que ousa quebrar com o conformismo
Gosto das manhãs livres
Gosto de pessoas, com as quais posso aprender algo
Gosto de pessoas autênticas
Gosto de uma boa conversa
Gosto de música ambiente
Gosto de pessoas com opinião
Gosto de desabafar o que sinto
Gosto de ser ouvida
Gosto de estar perto de pessoas que melhoram a minha disposição
Gosto de aprofundar
Gosto de me prender a um bom livro
Gosto de ver pessoas bonitas e que gostam de se cuidar
Gosto do cheiro intenso a café
Gosto de Chocolate
Gosto de boas sugestões
Gosto que me entendam
Gosto de me expressar
Gosto da diferença
Gosto de me inspirar num bom filme
Gosto de mentes abertas
Gosto de sacar a alguém uma boa gargalhada
Gosto que as pessoas se sintam acolhidas na minha presença
Gosto da liberdade para decidir sem pressões
Gosto que me saibam valorizar
Gosto de me emocionar
Gosto de ver Famílias Unidas
Gosto de ser um bom exemplo
Gosto de partilhar
Gosto de conhecer outras culturas e retirar o que elas têm de melhor
Gosto de provocar boas sensações
Gosto de ter tempo para mim
Gosto de cuidar de mim
Gosto que me transmitam confiança
Gosto de pessoas invulgares
Gosto de ver a maldade ser derrotada
Gosto de ver pessoas maldosas serem desmascaradas
Gosto que me peçam conselhos
Gosto de pessoas sensatas
Gosto da baixa mar para caminhar na areia molhada
Gosto de reanimar alguém em sofrimento
Gosto de saber que tenho o poder para reverter aquilo que não gosto em mim e à minha volta
Gosto de um bom abraço
Gosto de me sentir útil
Gosto de sentir que fiz o que era mais correcto
Gosto de ouvir a música da minha eleição em tom alto
Gosto de arrasar com pessoas preconceituosas e invejosas
Gosto de ser por vezes forte (nem sempre)
Gosto de boa companhia
Gosto de pessoas sensíveis
Gosto de saber que pensam como eu
Gosto de me sentir Feliz
Gosto de boas surpresas
Gosto de ver o bem triunfar sobre o mal
Gosto de ouvir histórias de sucesso
Gosto de pessoas humildes
Gosto da magia do Natal
Gosto de sonhar
Gosto de boas acções
Gosto de acabar o que comecei
Gosto que façam as minhas vontades
Gosto de sair da rotina
Gosto de aplicar bem o meu tempo e dinheiro
Gosto de ser saudável
Gosto de pessoas com bons princípios
Gosto de pessoas que não calam os seus sentimentos
Gosto de dormir bem e acordar melhor
Gosto dos finais de semana
Gosto de pessoas bem humoradas
Gosto de pessoas discretas
Gosto da novidade
Gosto de Destinos longínquos
Gosto de escrever quando me sinto triste e só
Gosto de gelado de morango
Gosto de pessoas com bom gosto
Gosto de pessoas, sem vocação para a inconveniência
Gosto de pessoas decididas
Gosto de TI, que sabes gostar de MIM.
Gosto de silêncio mas não muito
Gosto de esplanadas de Verão e de Inverno
Gosto de apreciar, sem ser notada
Gosto de gente que ousa quebrar com o conformismo
Gosto das manhãs livres
Gosto de pessoas, com as quais posso aprender algo
Gosto de pessoas autênticas
Gosto de uma boa conversa
Gosto de música ambiente
Gosto de pessoas com opinião
Gosto de desabafar o que sinto
Gosto de ser ouvida
Gosto de estar perto de pessoas que melhoram a minha disposição
Gosto de aprofundar
Gosto de me prender a um bom livro
Gosto de ver pessoas bonitas e que gostam de se cuidar
Gosto do cheiro intenso a café
Gosto de Chocolate
Gosto de boas sugestões
Gosto que me entendam
Gosto de me expressar
Gosto da diferença
Gosto de me inspirar num bom filme
Gosto de mentes abertas
Gosto de sacar a alguém uma boa gargalhada
Gosto que as pessoas se sintam acolhidas na minha presença
Gosto da liberdade para decidir sem pressões
Gosto que me saibam valorizar
Gosto de me emocionar
Gosto de ver Famílias Unidas
Gosto de ser um bom exemplo
Gosto de partilhar
Gosto de conhecer outras culturas e retirar o que elas têm de melhor
Gosto de provocar boas sensações
Gosto de ter tempo para mim
Gosto de cuidar de mim
Gosto que me transmitam confiança
Gosto de pessoas invulgares
Gosto de ver a maldade ser derrotada
Gosto de ver pessoas maldosas serem desmascaradas
Gosto que me peçam conselhos
Gosto de pessoas sensatas
Gosto da baixa mar para caminhar na areia molhada
Gosto de reanimar alguém em sofrimento
Gosto de saber que tenho o poder para reverter aquilo que não gosto em mim e à minha volta
Gosto de um bom abraço
Gosto de me sentir útil
Gosto de sentir que fiz o que era mais correcto
Gosto de ouvir a música da minha eleição em tom alto
Gosto de arrasar com pessoas preconceituosas e invejosas
Gosto de ser por vezes forte (nem sempre)
Gosto de boa companhia
Gosto de pessoas sensíveis
Gosto de saber que pensam como eu
Gosto de me sentir Feliz
Gosto de boas surpresas
Gosto de ver o bem triunfar sobre o mal
Gosto de ouvir histórias de sucesso
Gosto de pessoas humildes
Gosto da magia do Natal
Gosto de sonhar
Gosto de boas acções
Gosto de acabar o que comecei
Gosto que façam as minhas vontades
Gosto de sair da rotina
Gosto de aplicar bem o meu tempo e dinheiro
Gosto de ser saudável
Gosto de pessoas com bons princípios
Gosto de pessoas que não calam os seus sentimentos
Gosto de dormir bem e acordar melhor
Gosto dos finais de semana
Gosto de pessoas bem humoradas
Gosto de pessoas discretas
Gosto da novidade
Gosto de Destinos longínquos
Gosto de escrever quando me sinto triste e só
Gosto de gelado de morango
Gosto de pessoas com bom gosto
Gosto de pessoas, sem vocação para a inconveniência
Gosto de pessoas decididas
Gosto de TI, que sabes gostar de MIM.
sábado, 9 de julho de 2011
Almas desencantadas
Silêncio total, escassa luz natural, ruídos indecifráveis, respiração acelerada, algum receio mas também, muita curiosidade, em acabar com o mistério daquele lugar perdido na mata, que conta a lenda ter sido palco de um rapto de uma jovem de vinte anos.
Apesar da jovem ter sobrevivido ao trauma, quiz guardar segredo da história que protagonizou, bem como, todos os detalhes do medo que sentiu. Sabe-se que o responsável pelo acto não assumiu sua autoria e, por isso, foi condenado ao remorso que o atirou para o isolamento e, por fim, para a morte tão desejada.
Apesar da jovem ter sobrevivido ao trauma, quiz guardar segredo da história que protagonizou, bem como, todos os detalhes do medo que sentiu. Sabe-se que o responsável pelo acto não assumiu sua autoria e, por isso, foi condenado ao remorso que o atirou para o isolamento e, por fim, para a morte tão desejada.
Já passaram tantos anos mas, os mais velhos não esquecem esse passado mau que ensombrou a aldeia de Castrim, até ali refúgio de caminheiros rendidos à sua pacatez.
Samuel foi um dos hospedeiros desta história, carregada de dor, que seu avô não se cansa de lhe relembrar sempre que ele lhe dá essa oportunidade, aproveitando assim para esvaziar todo o seu legado de memórias.
Samuel cresceu a ouvir retalhos deste drama e, aos poucos, interessou-se em recriar esse episódio cheio de densidade dramática.
Os dados eram poucos e difusos, para reconstruir os momentos complicados que Marlene viveu na presença do seu agressor.
Seu espírito inquieto impulsionou-o a mover esforços para remexer na ferida, velada pela vergonha de uma comunidade fechada que, sem saber, gerou um monstro de quem nunca suspeitaram vir a temer.
Iládio, filho único de Gertrudes e Valdemar, enganou-os a todos com seu modo apagado de ser. Seus pais até o convenceram a experimentar a via religiosa. Julgavam eles ser a melhor escolha para ele. Porém, as constantes ausências de Iládio no seminário, arrasaram com as saudades da sua mãe, que acabariam por forçar a sua desistência. Seu pai achou ser um erro mas, aceitou a vontade da Mulher, nada conformada com o afastamento do seu menino de ouro. Iládio tornou-se um homem fechado em si mesmo, de poucas palavras, sem expressividade, baço e algo invisível. Foi através dessa invisibilidade que Iládio aproveitou para criar o seu disfarce, de homem inofensivo e sem maldade.
De longe, expiava Marlene, registando com pormenor cada passo seu, cada gesto seu, todo e qualquer sinal da sua vivacidade. Apesar de se terem cruzado várias vezes e Marlene, o ter ignorado, nunca houve uma tentativa da sua parte de aproximação. Até parece que, provocava aqueles reencontros para conceder a Marlene a oportunidade de se redimir, junto dele, por o ter evitado repetidas vezes. Tal não aconteceu. Marlene continuou a discriminá-lo e a ferir o seu frágil orgulho masculino.
Desprevenida, Marlene nem tentou escapar à sua boleia, naquela vespertina quinta-feira molhada de Setembro. Sem hesitar, acomodou-se a seu lado sem receio das suas atormentadas intenções. Iládio cumpria o seu plano, deixando-a cada vez mais desconfiada e assustada. Quando, finalmente, percebeu o desvio de comportamento e de trajecto também, sentiu-se ameaçada e gritou por ajuda. Ninguém a ouviu, naquele lugar, à mercê do abandono. Arrastada até ao buraco frio, outrora abrigo de ursos selvagens, suplica por um milagre que a resgate de todo o Mal. Caíra em desgraça, ainda a determinar pela vontade daquele homem movido pelo demónio. Que destino teria ele traçado para ela?
Sujeita aos seus caprichos doentios, aguardava ser alvo de todos eles. Estranhamente, nada disso aconteceu. Iládio mostrou-se muito cortês e atencioso, cedendo-lhe o seu casaco de fazenda para a defender do frio da mata. Marlene aceitou o gesto sem se comover e remeteu-se a um silêncio perturbado. Afinal que queria ele?
Sua calma, deixavam-na cada vez mais apreensiva e tentada a provocar-lhe uma resposta, que a ajudasse a desmontar o mistério em torno do seu rapto. Iládio continuava a tentar agradá-la apesar das suas continuadas rejeições. O pior aconteceu quando Marlene invocou o nome da sua querida e intocável Mãe Gertrudes, pensando conseguir demovê-lo daquela loucura. A ousadia enfureceu-o. Marlene teve que pagar a inconveniência com mordaças e amarras apertadas. Sem mobilidade, teve que aturar as metamorfoses de personalidade do seu carrasco. Ora atencioso, ora irado.
Tentou acariciá-la na face, desculpando seu temperamento intempestivo mas, Marlene sacudiu a cabeça sem reconhecimento. Iládio descontrolou-se e, sem piedade, desferiu-lhe um duro golpe na nuca que a deixou inconsciente. Ele só queria que Marlene o amasse. Pensava ele, ser capaz de ganhar o amor daquela Mulher. Julgava-a, nos mesmos moldes da sua mãe. Temente a ele e à sua dedicação.
Sem vocação para despistar psicopatas, Marlene alimentou a frieza de Iládio.
Vendo-a desmaiada sobre o manto dourado de folhas secas, declara-lhe o seu Amor. Tirando o enredo, o cenário até que era dos mais românticos. Lá nisso Iládio teve olho. Só não tinha noção dos seus actos impulsivos, marcados por uma infância protegida e sem contrariações. Aproveitando, a dormência de Marlene, corre para a estrada, onde largou o seu transporte e apressa-se a comprar mantimentos para ambos, programando mantê-la por mais algum tempo em cativeiro.
Atordoada com a força da pancada, recupera lentamente os sentidos que a hão-de tirar dali. Que ódio daquele paspalho perturbado, que a todos enganou com seu ar sereno e confiável, pensou ela. Sem poder gritar, nem movimentar pés e mãos, desespera por uma solução rápida que a liberte dos designíos do Mal. Em boa verdade, a necessidade aguça o engenho e foi com essa urgência que Marlene apurou sua esperteza. Esquecido no bolso das calças jazia o isqueiro, combustor de um vicío, condenado pela sociedade patriarcal, que privilegia o recato nas mulheres de família. Às escondidas, acalmava a ansiedade própria de uma juventude instável.
Bendito objecto non grato, que a desembaraçou das ataduras improvisadas pelo seu raptor. Acelerou o passo e correu até casa sem olhar para trás. O caminho era longo mas Marlene, enganava o cansaço com a sua obstinada vontade de fuga. Quando encontrou sua mãe, entretida no jardim de casa, só lhe apeteceu abraçá-la e ficar em segurança no seu colo, mas foi dissuadida pela má reacção da mãe à sua chegada. Eram recorrentes as suas implicâncias com os atrasos de Marlene para jantar. Só que desta vez não foram as passas que a atrasaram. Não valia a pena debater com a mãe suas razões. Ela iria encará-las como desculpas esfarrapadas para escapar dos castigos. Marlene, gramou com todos eles e sentiu em todos eles o desgosto de uma mãe movida pelo abandono. Até parecia que ela era culpada do seu estado de infelicidade. A mãe nunca a compreendeu e enquanto não apagasse o passado de amargura, jamais a compreenderia. Por isso aceitou mais um castigo e abafou o caso. Apenas sua melhor amiga soube do susto que viveu e até ela custou a acreditar. Comprometeu-se a revelar o segredo de Marlene, caso a amiga incorresse em perigo. Tal não foi necessário.
Iládio, temendo ser desmascarado, saiu de casa dos seus pais e converteu-se à clausura dos padres beneditinos, sem nunca ter confessado seu maior pecado.
Samuel termina a sua pesquisa, fotografando o lugar de perdição dessas duas almas desencantadas com o amor. Uma com falta de amor e outra com excesso dele. Qual destes traumas causa mais transtorno? Esta será a questão que Samuel irá desenvolver na sua tese de apresentação sobre os Perigos do Amor nas suas múltiplas facetas, que dedicará ao seu preferido contador de histórias de sempre e também seu avô.
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