sábado, 6 de outubro de 2012

Massa Grudenta


Quem inventou a pastilha elástica devia ser banido da face da terra. Não há goma açucarada e elástica mais inconveniente que essa. É grudenta, estala nos ouvidos e, na boca de alguns incautos "ruminantes", vira suplício. O seu aroma intenso provoca, nos mais sensíveis, dores de cabeça e muito mau estar. O cenário mais adorável  de todos acontece, quando num recinto silencioso e que apela à concentração, se ouve aquele som irritante e suicida da pastilha elástica embrulhada em saliva, que se enrosca nos dentes e coça as gengivas numa dança frenética que termina com a explosão de um balão de ar quente, que se repete até à exaustão. Não entendo porque proíbem o uso do telemóvel, máquinas fotográficas e demais gadgets, com o objectivo de não criar distrações e desviar atenções e , incompreensívelmente, não proíbem o uso da maldita pastilha elástica e seus inúmeros sabores. Menta, morango, melancia, limão, framboesa, tutti-frutti, melão, laranja, maçã, you name it. Todas elas prometem um duradouro hálito fresco mas esquecem-se de prevenir sobre as contra-indicações do seu uso recorrente. Vício que distrai a fome, controla a ansiedade, baixa a tensão mas não poupa aqueles que são obrigados a conviver com isso mesmo sem o desejarem. Ressonar e mascar pastilha elástica pertencem à mesma categoria de actos indesejáveis e desconcertantes. Há pessoas que ainda não entenderam que nem tudo vale a pena partilhar. Essas duas acções dispensam platéia.
Depois há os chamados malabaristas da pastilha elástica que ensaiam rebentamentos atrás de rebentamentos até serem surpreendidos com uma gigantesca explosão de lava elástica em suas caras de pessoas sem noção. Mas mesmo assim insistem em continuar. Nem essa pequena humilhação pública os faz demover. Os mais ousados esticam a pastilha elástica o mais que conseguem e enrolam-na no dedo indicador numa espiral que resvala num género de insanidade mental sem precedentes. Aposto que estas pessoas também mastigam de boca aberta, se engasgam sozinhas, enfiam o dedo na boca para desatarrachar a carne entranhada no dente e no final,  para concluírem apoteóticamente, chupam o dedo húmido demoradamente, esquecendo-se que existem outros recursos que priveligiam a discrição e sobretudo a boa educação. Seus actos são desmedidos e sempre irreflectidos.
Depois de cansados de massacrar os dentes e os maxilares com tanta mascação, jogam sem piedade a pastilha elástica na calçada deixando marca da sua má criação.
Quem nunca foi brindado com um carimbo de pastilha elástica no sapato? Pior que cócó de cachorro. Não desgruda. 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

"Faixa de Gaja"


Se eu não fosse Mulher, seria certamente um Homem perdido na sua identidade sexual. Nasci para Ser Mulher e ajo como tal e às vezes devo confessar que me aterroriza um pouco, esses meus ímpetos femininos, que não disfarçam quem sou. Há característcas nas Mulheres que não gosto mas que eu própria reencarno e isso deixa-me mais assustada ainda. Vaidade é uma delas. Sim gosto de sobressair através dos meus trapos, que batalham por um espaço digno no meu depósito de fantasias de Mulher saliente. Bem sei que não são eles que me dão a consistência de que preciso, mas ajudam a elevar a minha auto-estima feminina. Adoro uma perna alongada por um salto alto, que termina num queixo içado de confiança e num sorriso rejubilante. Para mim cara lavada significa blush, eye-liner, sombra nos olhos e um batôn que aumente o volume dos meus lábios. Sem esses pós e brilhos sinto-me um pão sem sal. Decotes profundos já não são do meu agrado nem "faixas de gaja" (mini-saias ou vestidos reduzidos). Já os experimentei mas o incómodo é grande e, aliás,  nunca achei que me assentassem. Minhas medidas são, digamos, demasiado pronunciadas e anti tecidos demasiado aderentes.
Desabafar tudo aquilo que inunda a minha alma é provavelmente a característica que melhor evidencia a minha génese feminina. Não somos boas a medir as consequências dos nossos desabafos. Eles são mais repentinos e tão oportunos quanto arrotos sonoros.
Outra característica que não seduz e que eu partilho com tantas outras Mulheres é ter a capacidade de mudar o ambiente de bom para mau em instantes. Nosso humor é mais frágil que uma pétala de rosa. Absorve tudo o que o rodeia e atribui-lhe enorme significado. Nada nos é indiferente.
Não sei simplificar nem relativizar.
Mais estranho ainda é darmos importância a pressentimentos que aparecem sem fundamento. Quando eles surgem, activamos nossos alertas e desconfiamos do que é garantido.
Imprevisíveis sempre. 
Incrível é quando convencemos os outros da nossa insegurança na tomada de decisões, que nós já idealizamos na nossa cabeça e tudo iremos fazer para as concretizar, apesar de divertirmo-nos a ouvir terceiras opiniões.
O universo masculino desespera por nos entender e é esse enigma que adoramos criar e que nos torna ainda mais irresistíveis.
   

domingo, 12 de agosto de 2012

Um "Abre Olhos"



Querida Amiga Verdadeira. Amiga de longos Invernos e Verões apressados, que deixam saudades. A Ti, dedico estas minhas palavras, que creio ajudarem a quebrar a distância física que impede de estarmos juntas tantas vezes quantas aquelas que achamos que merecemos. Tenho tanto para te contar, mas não sei por onde começar. Se adotar o critério da prioridade, então minha tarefa fica difícil de ser superada, pois todos esses acontecimentos exercem influência na minha Vida e cada um assume uma importância particular. Desde que me abandonaste para cuidar da tua Felicidade, algo que eu entendi perfeitamente apesar de me entregares à solidão, acabou por se tornar num factor sorte. Se bem que a tua presença alegraria ainda mais os meus dias e fomentaria ainda mais a minha Felicidade. Não sei se estás preparada para assimilar tudo aquilo que tenho para te revelar, por isso recomendo que reserves a leitura desta minha carta para uma altura de maior disponibilidade, pois vais precisar de dispôr de todos os teus sentidos. Lembras-te da promessa que eu tinha feito quando me despedi de ti à três anos atrás, lavada em lágrimas de despedida? Lembras pois. Ainda outro dia mencionaste-o e eu, propositadamente, desviei o assunto apesar de, naquele momento, ter algo para desenvolver sobre isso. Só que preferi arrastar por mais algum tempo as novidades. Até me admirou não insistires. Se calhar se tivesses insistido eu teria desbobinado tudo e arrematado o assunto. Não sou Mulher de curtas metragens. Sempre gostei de prolongar um pouco mais. Os resumos tiram toda a criatividade e graça aos episódios. Marca bem este dia na tua agenda pois será um dia memorável para ambas. Finalmente vou desabafar o que tenho entalado e tu vais usufruir dessa revelação e partilhar dos mesmos sentimentos. Dá-me só tempo de servir-me de um copo de martini rosso, para aguentar toda a intensidade do momento. És servida? Não gosto de pecar sozinha. Serve-te à vontade.
Foi tudo muito repentino, mágico e revelador. Uma Nova Realidade se impôs. Aliás, não se tratou de uma nova realidade mas da mesma Realidade, só que vista de outro ângulo.  Descobri que era Feliz e não sabia. Finalmente saí do coma paralisante que me retirou a lucidez e descobri que tinha conquistado a Felicidade. Só precisava dar-lhe maior apreço. Algo me tinha impedido de ver a Realidade diante de mim. Quando fiz a promessa de ser feliz desconhecia que já o era. Pelos vistos, também tu querida Amiga já o sabias só eu é que vivia na ignorância. Estupidamente insistia em ver a Minha Vida através das lentes daqueles que só sabem desdenhar e apontar. Um beliscão me fez acordar e colar todos os retalhos da minha Vida num grandioso smile que eu decidi partilhar contigo Minha Grande e Eterna Amiga, que nunca desistiu da Nossa Amizade.
Eu que pensava ter pouco do que me orgulhar, por não ter uma Vida exuberante em sucessos que me distinguissem dos demais. O que nos deve verdadeiramente distinguir são as nossas atitudes, o nosso coração, a nossa bondade, a nossa sensibilidade, os nossos valores, as pessoas que conquistamos, aquilo que transmitimos e tudo aquilo que geramos. É Disso que nos devemos orgulhar. O resto são meros acessórios que só nos sabem distrair do mais importante.


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Não é a Minha Vez


Duas pessoas largadas numa sala impessoal, sem cor, fria e metálica. Uma secretária ocupada por um ser sem alma e sem ambição, treinado a obedecer sem questionar. Um telefone que estremecia sem parar e uma voz fanhosa a conduzir um diálogo programado com perguntas e respostas. Numa mesa de verga jaziam revistas da devassa alheia, com toda a variedade de escândalos da actualidade. A demora fez-me preferir o meu livro de bolso do momento "O que me trouxe aqui?". Uma questão que ecoava na minha cabeça sem cessar e tão pertinente naquele momento. Afinal o que estava eu ali a fazer. Assim que entrei naquela sala comecei a hiperventilar e a minha ansiedade dominou-me por completo. Nas mãos agarrava a minha sorte ou falta dela. Aquele tempo de espera podia estar a ser desperdiçado, caso não esteja em maré de sorte. Diante do carrasco vivo de cabelo loiro platinado que não poupava na pastilha elástica, barricados naquele buraco sem janelas e pejado de fendas, tantas quantas as vidas que por ali passaram e não vingaram, aguardavamos estóicamente a nossa vez.
Finalmente, a vasta grinalda dourada se lembrou de mim e me acompanhou até ele, o porta-voz das boas e más notícias. Diante de mim um Homem corpulento, impassível, frio, distante, de voz abafada pelo excesso de maus vícios, que descobri ter família, filhos e netos, pela coleção de retratos que formavam uma pequena exposição de parede. Então pensei que talvez aquele homem pudesse ter sentimentos e não ser tão bruto assim. Quando o panorama não se apresenta auspicioso, tendemos a agarrar-nos a ínfimos pormenores que nos devolvam esperança.
Eu e a minha boa educação, que parece não desarmar a todos, entramos em campo, prontas para tudo. Preferi ficar de pé apesar da insistência para que me sentasse. Afinal a resposta a todas as minhas dúvidas demoraria segundos e eu não podia perder mais tempo. Vestido de bata branca e armado em Mestre do Suspense, Venceslau Bogas, de seu nome, desferiu suas palavras à queima roupa e nem se preocupou em saber se tinha trazido meu colete à prova de duros golpes. Atordoada digeri tudo no momento, suspirei de alívio, agradeci e fugi dali para nunca mais voltar. Aquele nao era o meu habitat. Precisava desembaraçar-me daquele cheiro bafiento e voltar a cultivar a minha vontade de viver, até ali sustenida por exames e mais exames de despistagem, como se eu fosse uma cobaia em missão.
Resisti e sinto-me mais forte que nunca pela oportunidade que me foi dada e por saber que não chegou a Minha Vez. Não era suposto. Quando chegar a minha vez prefiro que ma anunciem ao som das quatro estações de Vivaldi na máxima potência e eu esteja confortavelmente deitada num cadeirão de pele, voltada para uma barreira de vidro que reflecte bonitas paisagens com cheiro de mar.  

terça-feira, 17 de julho de 2012

If I Can Make it There.................


Sexta feira 13, com chuva, num mês que se previa soalheiro e ideal para a prática do "praianismo", enfiada num carro com o máximo conforto, eis que sou brindada com a combinação de duas vozes galácticas americanas Frank Sinatra e Tony Bennett no tema "New York, New York" e pensei, veio mesmo a calhar. Sem hesitar aumentei o som do rádio e gozei o momento faustosamente. Naquele instante, só me apetecia ligar para a  emissora de rádio e saber quem foi o responsável pelo alinhamento das músicas naquele horário e desabridamente agradecer-lhe tamanho presente. Nunca aquele caminho tão rotineiro me dispôs tão bem.  "If I can make it there I'll make it anywhere It's up to you New York, New York......" Ao cantar esta estrofe senti o poder dessas palavras e o quão longe elas me poderiam levar se acreditasse nelas. Foram breves instantes de absoluto domínio, isolada naquele pequeno habitáculo, soltei o meu ego desafinado que fazia crescer o meu bem estar. Ninguém para me interromper, um momento só meu, sublime e que não sei se se virá a repetir. Quando algo de tão especial acontece não sabemos quando virá a surgir novamente e em que formato e por isso entreguei-me aquele extravasamento imprevisto. Soube tão bem que foi inevitável a sua reprodução em mim e nas minhas atitudes seguintes. Deveria ser assim sempre.
Aquele dia estava ganho e nem nada nem ninguém me poderia retirar de tais sensações. Foi inusitado,  foi oportuno, foi autêntico, foi libertador, foi o melhor do dia.
A chuva não constituiu incómodo algum, até empregou maior envolvência e fez-me refugiada de um conforto prazeiroso.
Há dias assim, ou melhor, momentos assim que não têm explicação só emoção. 

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Nada é Definitivo


Nem sempre podemos ter aquilo que queremos da forma como o previmos. O que podemos é mudar nossas perspectivas e passar a encarar o que se nos apresenta de um outro modo. Não se trata de fingir que gostamos mas, tão somente, não desaproveitar à partida aquilo que nos é dado. Transformá-lo em algo potencialmente bom e não num castigo que nos foi imposto. Quanto mais estreitamos a nossa visão perante a Vida e suas passagens, mais ficamos a perder. Não há modelos perfeitos e, principalmente, não há um só modelo de Vida. A Vida tem elasticidade para muito mais do que aquilo que se vislumbra. Quando algo surge nas nossas Vidas de menos bom, certamente tem um propósito, nem que seja para se expor como uma revelação daquilo que não é adequado para nós e do qual nos temos que desviar. Acreditar nisso, faz doer menos a alma e permite-nos avançar com nossas Vidas. Não fomos feitos para acumular tristezas ou desilusões, nem encará-las como nosso único destino. Quanto mais prolongamos o rasto de comiseração, mais ele nos consome e nos impede de sermos felizes.  Aceitar e Simplificar podem muito bem ser as palavras passe para a felicidade. Aceitar que nada é definitivo e simplificar, não criando demasiadas expectativas sobre as pessoas e suas acções, evita cairmos em desgostos e decepções continuadas. Isso não quer dizer que não possamos sonhar. O que não é conveniente é criar uma planta cheia de coordenadas em torno desse sonho e esperar que tal aconteça na íntegra. Se assim for, vai parecer um projecto assente em custos e benefícios.
Não vamos conseguir corresponder à imagem que os outros criaram sobre nós, nem os outros irão moldar-se à nossa semelhança. Esta pode muito bem ser uma medida de escolha de quem merece nossa maior atenção e quem merece nossa atençãozinha ou então uma forma de entendimento do nosso mundo povoado.
Não podemos encarar a Felicidade como algo distante de nós, brinde para os mais afortunados e acessível só para alguns.
O destino é só um dos caminhos que podemos tomar. Não temos que nos aprisionar a ele como se fosse a nossa única possibilidade de sermos felizes.  

  

domingo, 3 de junho de 2012

Vida com ou sem Sabor



A que sabe a Vida? Todos nós sentimos o seu sabor e experimentámo-lo todos os dias mas será que sabemos expressar a que ela realmente nos sabe? Será um sabor forte e intenso? Será um sabor suave? Será salgado ou doce? Será daquele tipo de sabor que se gruda às papilas gustatitvas e cria tentação ou será aquele sabor duradouro, saciante, que permanece e não causa enfartamento?
A Vida tem vários sabores. Não são uns sabores quaisquer.
Os bolos de padaria carregados de coco e creme lembram-me a minha infância e a protecção materna, que cuida sempre dos pormenores com todo o carinho. 
Aquele sabor a gorila de morango, que enchia a minha boca de um aroma intenso, ainda faz estalar os meus sentidos. Fazem-me recordar a minha adolescência. A pressa de crescer para ter mais liberdade, representa esse sabor a morango, expulsado em cada balão que sempre terminava em rebentamento.
O sabor a bebidas espirituosas sugadas por uma palhinha colorida que coçava os dentes, nas minhas saídas boémias all night long, recordam-me de mim miúda vaidosa e vidrada em gente bonita. 
O sabor quente do café matinal que bebia num só trago marcaram outro ritmo da minha Vida. Um ritmo mais sério e mais responsável.
O sabor a MacDonald's remetem-me para as minhas saídas internacionais que continuo a querer prolongar. Sem querer, o Mac aparece no meu caminho e acaba por ser a minha primeira opção de refeição, assim que entro noutro território. São sabores que retêm memórias sem fim.
Croquetes, rissóis, bolo de aniversário folhado, sumol de laranja, navegam no meu imaginário das festas de aniversário familiares.
Tantos são os sabores, quantos os momentos da minha Vida.
Férias com sol e calor sabem a sumo de laranja natural fresco e não há melhor vitamina matinal energizante.
Ainda me perco em muitos sabores. Sou fiél a muitos deles. Engordam a minha Vida de Felicidade.

  

domingo, 27 de maio de 2012

Be somebody or Be someone??? That's The Question.


"Quanto mais diferente de mim alguém é, mais real me parece, porque menos depende da minha subjectividade."



Há quem queira ser gente eu apenas quero ser alguém. À partida parece que não existe diferença entre estas duas formas de querer mas a distância entre elas é grande demais, tão grande que não criaram ainda um intervalo para a mensurar. Aqueles que querem ser gente não passam disso mesmo, apesar de acharem que valem muito mais. Se os pudermos qualificar, eu qualificá-los-ia como aquele substrato de pessoas que se acham, sem nunca chegarem a sê-lo verdadeiramente. Nós, aqueles que queremos ser alguém, preferimos deixá-los pensar que são realmente gente. Suas ilusões divertem-nos. Seus modos excessivos, cheios de vontade de resgatar atenções, sua esperteza saloia, sua falta de noção, seu diálogo pobre e inconsistente, suas apreciações sobre os outros, sua mania de intromissão em tudo que não lhes diz respeito, suas interrupções, suas lamúrias, sua vitimização, sua opacidade, sua insistência na comparação com os outros, colocando-se sempre em vantagem, são algumas das características daquelas pessoas que não páram de se achar mas que jamais irão surpreender ou sequer ser consideradas um exemplo a seguir.
Na verdade quando eles se manifestam, facilmente percebemos que estamos perante gente. Seu cantar de galo revela bem o género. Sabem tudo, opinam sobre tudo, cobiçam o que é de fora, reclamam perfeição, remoem baixinho e ganham proximidade apenas para sugar tuas energias.
Ser alguém é muito mais que isso. Aliás, nada tem a ver com ser gente. Os que realmente o são não o sabem ou abafam o caso e os que acham que o são, nunca o foram nem nunca o serão.
Cada vez que me deparo com pessoas comprometidas com  a nobreza de espírito, apetece-me logo conhecê-las e fazê-las minhas amigas e inspirar-me nelas. Não precisam ser perfeitas. Nem é isso que se pretende. Aliás a perfeição não existe, nem deve ser a maior preocupação da nossa existência.
Não basta ter vontade de ser alguém é preciso ter perfil para o ser. A pretensão de querer ser alguém não deve ser encarada como um carimbo  ou marca registada que só arrasta vantagens futuras e notabilidade. O que alimentamos interiormente, os sentimentos que exaltamos, as nossas acções, os nossos pensamentos, as nossas vontades, a nossa dignidade, aquilo que atraímos e provocamos nos outros, definem-nos. A ideia não é agradar a toda a gente e sim agradarmos, tão somente, a nós mesmos. Só assim seremos capazes de reproduzir algo genuínamente nosso, que só alguns saberão compreender e aproveitar. Eles são e deverão ser os merecedores da nossa atenção. Dos outros não rezará a nossa história.      

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Eu e a Vida


Eu e a Vida. Por vezes juntos, por vezes separados. Nem sempre estamos ao mesmo ritmo. Eu quero abrandar, mas a Vida faz-me correr. Para onde, não sei. Ela é quem mais ordena. Eu apenas obedeço-lhe. Tem dias em que ela me inclui nos seus planos, noutros nem sequer sei qual o rumo que ela preparou para mim. Não sou mais dona de mim mesma. Sou apenas uma peça que se movimenta consoante os seus designíos. Quando decido lutar e mostrar-lhe que sou eu quem decide para onde quero ir, ela faz-me deixar pensar que afinal sou mais forte que ela mas logo depois, retira-me todo o poder e num puxão obriga-me a acompanhá-la. Despreparada, lá vou enfrentando as duras realidades que ela insiste em me dar a conhecer. Se isso me fortalece? Talvez, mas também me deixa cada vez mais receosa dos momentos seguintes, da sua implacabilidade, da sua vontade avassaladora, do não ser capaz de a  acompanhar, dos seus ultimatos, das suas rasteiras, do seu enorme poder. Nem sempre me apetece ser forte e superar todos os obstáculos. É cansativo e nem sempre nos ensina algo. Por vezes, só traz lembranças más e nada mais do que isso.
Ouço muitas vezes dizer a "Vida é assim, tem destas coisas". Mas porquê? Porque é que ela tem sempre a última palavra. Porque é que é ela quem decide o nosso destino. Porque é que estamos suspensos pela sua vontade? De que vale o meu Eu, se é ela quem me arrasta e me mostra o que eu não quero ver e o que eu não quero sentir. Porque é que eu lhe devo Tudo e ela não me deve Nada? Queria eu saber.
Ela insiste em querer-me ensinar, em dar-me lições que eu não quero aprender, em aplicar-me castigos, a desviar-me de mim, do que eu quero. Só há algo para o qual ela não tem poder. Não consegue mudar quem eu sou. Só depende de mim mudar-me. Tudo o resto ela pode controlar.
Ás vezes questiono-me porque é que não nos deram a possibilidade de ter duas Vidas. Uma seria um rascunho e a outra seria a original, o aperfeiçoamento do rascunho, a definitiva, a versão melhorada.
Se calhar já estariam a pensar nas reacções dos ativistas ecológicos e sua reprovação pelo gasto massivo e excessivo de papel. Se calhar foi uma questão de custo ou de poupança. Se calhar foi porque a Vida expressa num papel imaculado sem borrões não tem graça nenhuma e não existem versões melhoradas, porque a Vida não é nem nunca será perfeita. Será apenas a nossa Vida. O nosso destino. O nosso borrão. A nossa marca.  



terça-feira, 8 de maio de 2012

Até um dia destes




Nunca sabemos quando vamos partir, nem em que condições. Nem sequer sabemos se teremos tempo de nos despedirmos das pessoas que mais amamos. Deixamos um rasto de sofrimento naqueles que cá ficam e que terão de forçosamente reunir forças para prosseguir com suas Vidas ainda a decorrer. A única forma de apagar alguma dessa dor é aceitar e deixar o tempo correr. Cada momento que desperdiçarmos das nossas Vidas, estaremos a enterrar oportunidades de sermos felizes e de fazer felizes aqueles que decidem acompanhar-nos.
A morte não é um fim nem nunca será um fim. Será sempre um começo de algo ainda melhor. Uma transição para um patamar mais elevado da nossa existência. Não somos feitos apenas de carne, sangue e ossos. Nem faz sentido que assim seja. Senão que significado teriam nossas Vidas. Tudo tem um propósito. A Vida terrena é provavelmente a passagem mais curta que temos e aquela à qual nos amarramos com mais força e vontade. O lado de lá será sempre o eterno desconhecido.
A Morte não é uma despedida. Apenas um desencontro entre Vidas que se posicionam em níveis e estágios diferentes e que um dia se irão reencontrar num cenário de paz e harmonia absolutas.
A Morte apenas cria descontinuidade e encerra uma etapa já cumprida.  Não cabe a nós determinarmos quem merece ou quem não merece ficar por cá.
A nossa maior homenagem a todos aqueles que já não estão entre nós, é sermos felizes e recordá-los nos seus melhores momentos e despedirmo-nos com um "até um dia destes".
Podemos, mesmo assim, continuar a falarmo-nos num silêncio cúmplice, que apesar de não compensar a ausência, ajuda a apaziguar a saudade.
A partir do momento em que perdemos alguém muito querido tudo passa a assumir um significado diferente. Nossa percepção muda. Tentamos procurar sinais ou razões para determinados acontecimentos, que até então passavam despercebidos e não mereciam o desvio da nossa atenção. A dor não é genuínamente má. Transfere para as nossas Vidas opacas, a profundidade e riqueza de que careciam.
A Morte não nos desune. Pelo Contrário, aproxima-nos ainda mais.
Até um dia Destes!

  

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Me and my silence



Não sei ficar em silêncio, apesar de considerar ser uma qualidade dos preserverantes. Gosto de me manifestar e libertar a minha vontade momentânea. Nem sempre essas manifestações me fazem ganhar tempo. Por vezes, sucede bem o contrário e desperdiço-o inutilmente. Preciso dar mais valor ao meu tempo. Alguém me castigou impiedosamente e fez-me defender de tudo aquilo que não compreendo e não aceito. São dores internas que não se cicatrizam sozinhas.
O espelho não me devolve aquilo que eu preciso saber. Devolve-me aquilo que eu sinto e não consigo esquecer. Se calhar não nasci para ser simples mas um enigma, para todos aqueles que ignoram outras formas de Vida. Não quero ser diferente, mas ao mesmo tempo sinto-me diferente, apesar de para alguns poder parecer arrogância da minha parte e estarem longe de presumir ser, simplesmente, ignorância sua, aquela que os faz pensar assim. Um dos meus maiores receios era despertar a curiosidade alheia e ser atacada por isso, quando eu nem sequer me esforcei para ser desse modo. Apenas, sou. Vulnerável a tudo o que me rodeia, construo pensamentos em torno de emoções que vão e voltam e faço crescer a minha ansiedade nervosa, que pulsa por uma reação imediata. Na verdade, qualquer um de nós detém essa capacidade de impressionar, desde que haja alguém que destoe de nós e custe lidar connosco e nos interprete mal. Neste caso, o azar é deles não nosso. Conhecermo-nos uns aos outros implica mais do que colecionar evidências, é preciso dedicar tempo, sensibilidade, reverter pensamentos primários, aprofundar, estudar comportamentos e reconhecer-lhes um sentido lógico.
Porque é que nos sentimos afetados por aquelas pessoas de quem não gostamos, só porque elas demonstram não gostar de nós? Até parece que pelo facto de alguém não gostar de nós, tem de haver algo de errado connosco. Não necessariamente. O que complica tudo são as percepções que fazemos uns dos outros e a sucessão de razões que tentamos recolher, para demonstrar que estamos certos relativamente às nossas sensações.
Não nos devemos deixar envolver por tudo mas a envolvência faz parte da Vida daqueles que querem viver apaixonadamente como eu. Nem tudo tem importância é certo mas faz parte da nossa Vida e seja por mal ou por bem surgiu no nosso caminho.
Não consigo dissimular o que sinto e quanto mais tento dissimulá-lo mais se nota. Não sei fingir e por isso sofro mais. Detesto que contradigam aquilo que sinto, principalmente, aquelas pessoas que, supostamente, me deveriam conhecer melhor. Nesses momentos, precisamos nos sentir em sintonia com alguém e se lhe concedemos a primazia de nos ouvir, então o melhor que ela tem a fazer é compreender-nos e não desdramatizar o que sentimos, pensando que isso nos fará bem.

   

Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...