A separá-los, existia uma mesa, com dois metros de comprimento e, no centro, um candelabro que mais parecia um poste de iluminação caseiro, concebido ao jeito de Joana Vasconcelos, grande e majestoso. Cada um ocupava a sua extremidade e parecia ignorar o óbvio. O silêncio era avassaladoramente incómodo mas, mesmo assim, preferiam-no a dispender energias em vão. Aquele lugar, outrora iluminado e leve, tornara -se sombrio e pesado.
Vieram a adotar as mesmas atitudes que lamentavam nos outros. Perderam a intensidade. Perderam a vontade. Perderam a consideração. Perderam a admiração. Perdeu-se a fantasia. Na verdade, foram perdendo tudo aquilo que sustentava a sua união. Ambos sentiam que precisavam recuperar aquele passado bom e prazeiroso mas esgotaram suas forças na luta pelas suas próprias razões e mágoas e já não conseguiam abrir mão dessa determinação obstinada.
O Sancho, era o único a interromper esse silêncio e a promover alguma interação entre o casal. Sua chegada espalhafatosa ajudava a sacudir aquela nuvem negra que pairava no ar.
Seu pêlo sedoso, seu olhar meigo, doce e suplicante, não os deixava indiferentes e, rendidos desviavam-se da sua indiferença, por instantes, para lhe dar atenção. Porém, essa manifestação emocional durava muito pouco e o regresso ao isolamento impunha-se novamente. Sancho era o principal responsável e provocador da erupção de sentimentos que emergia das suas almas desencontradas. Sem saber, as suas saídas com o dono para aliviar bexiga e tripa coincidiam com as saídas do cão sorna da vizinha jeitosa do prédio em frente, que inevitávelmente produziam efeitos colaterais na dona do Sancho que via aquilo como um pretexto para se reencontrarem e flirtarem, mesmo debaixo do seu nariz adunco. Ciúme e sentimento de posse esquentavam o ambiente, sempre que Sancho e Ezequiel regressavam do passeio. Nem havia tempo para raspar a sola dos sapatos no tapete da entrada e já Helena subia o tom para reclamar do passeio prolongado. Apesar das suas reações serem provocadas pelo chamado monstro dos olhos verdes (ciúme), negava sempre e tentava, em vão, convencê-lo de que o motivo da sua súbita irritabilidade revelava apenas preocupação com o Sancho. Ezequiel bem tentava explicar-se mas quanto mais o fazia, mais ela encarava como desculpas para se aproximar da loira de cabelo pranchado e peito siliconado. Que pena o Sancho não poder falar, pensava ela.
Arrependia-se, mais tarde, do folclore explosivo de reações geradoras de discussão, pois sabia bem que Ezequiel só tinha olhos para ela, mesmo nesta ocasião em que estão de costas voltadas. Parecia indiferente mas não passava de disfarce.
Na cama fria que descobriam todas as noites existia um fosso a dividi-los e, cada até amanhã dado antes de adormecerem, arrastava-os para uma despedida sem retorno.
Sancho estranhava seus comportamentos orgulhosos e enroscava-se no meio dos dois para recuperar hábitos antigos em tempo de união. Lá ia lucrando com festinhas e pedaços generosos de bolo caseiro. Sem querer Ezequiel e Helena retomavam o diálogo, com tendência para evoluir favoravelmente para uma reaproximação e noites mais quentinhas.
Até a morte, por preguiça crónica, do cão sorna, da vizinha matadora, de look arrojado, ajudou a apaziguar os ciúmes.
A mesa de dois metros de comprimento deu lugar a uma mesa sem extremidades e o único motivo de adorno são as suas mãos entrelaçadas.
Seu pêlo sedoso, seu olhar meigo, doce e suplicante, não os deixava indiferentes e, rendidos desviavam-se da sua indiferença, por instantes, para lhe dar atenção. Porém, essa manifestação emocional durava muito pouco e o regresso ao isolamento impunha-se novamente. Sancho era o principal responsável e provocador da erupção de sentimentos que emergia das suas almas desencontradas. Sem saber, as suas saídas com o dono para aliviar bexiga e tripa coincidiam com as saídas do cão sorna da vizinha jeitosa do prédio em frente, que inevitávelmente produziam efeitos colaterais na dona do Sancho que via aquilo como um pretexto para se reencontrarem e flirtarem, mesmo debaixo do seu nariz adunco. Ciúme e sentimento de posse esquentavam o ambiente, sempre que Sancho e Ezequiel regressavam do passeio. Nem havia tempo para raspar a sola dos sapatos no tapete da entrada e já Helena subia o tom para reclamar do passeio prolongado. Apesar das suas reações serem provocadas pelo chamado monstro dos olhos verdes (ciúme), negava sempre e tentava, em vão, convencê-lo de que o motivo da sua súbita irritabilidade revelava apenas preocupação com o Sancho. Ezequiel bem tentava explicar-se mas quanto mais o fazia, mais ela encarava como desculpas para se aproximar da loira de cabelo pranchado e peito siliconado. Que pena o Sancho não poder falar, pensava ela.
Arrependia-se, mais tarde, do folclore explosivo de reações geradoras de discussão, pois sabia bem que Ezequiel só tinha olhos para ela, mesmo nesta ocasião em que estão de costas voltadas. Parecia indiferente mas não passava de disfarce.
Na cama fria que descobriam todas as noites existia um fosso a dividi-los e, cada até amanhã dado antes de adormecerem, arrastava-os para uma despedida sem retorno.
Sancho estranhava seus comportamentos orgulhosos e enroscava-se no meio dos dois para recuperar hábitos antigos em tempo de união. Lá ia lucrando com festinhas e pedaços generosos de bolo caseiro. Sem querer Ezequiel e Helena retomavam o diálogo, com tendência para evoluir favoravelmente para uma reaproximação e noites mais quentinhas.
Até a morte, por preguiça crónica, do cão sorna, da vizinha matadora, de look arrojado, ajudou a apaziguar os ciúmes.
A mesa de dois metros de comprimento deu lugar a uma mesa sem extremidades e o único motivo de adorno são as suas mãos entrelaçadas.