quinta-feira, 28 de maio de 2020

Jihada Radical das Sogras

Criei a teoria, baseada em factos reais que, o companheiro para a Vida Toda é aquele que nos sorteia com uma sogra, com a qual nos possamos entender. Caso contrário, será um amor sem futuro. O poder das sogras é gigantesco. Um truque para perceber com que sogra estamos a lidar é: assim que a conhecer, manter-se calada e observar sorridente. Se respeitar o seu silêncio e sua privacidade, então há caminho para percorrer juntas mas, atenção, se ainda não teve oportunidade de falar com seu companheiro sobre o assunto não apresse conclusões. Por vezes, aliás, a maioria das vezes, as sogras usam os filhos para manifestarem seu descontentamento e turvam a imagem que estes tinham como certa das suas companheiras. E porquê? Homens inseguros, procuram nas suas companheiras uma cópia das suas Mães. É um complexo de identidade. 
Nunca mas, nunca, o questione sobre o que a Mãe dele achou de Si. Podem acontecer duas situações: ser vago na explanação e sua astúcia feminina a levar a concluir que, afinal os sorrisos e a forma respeitadora como a tratou não foram sinceros ou deixar escapar algo que, a mãe tenha dito a seu respeito que, a leve a pensar no quão ela é apressada a fazer juízos de valor. Acima de tudo, deve estar seguríssima de Si mesma.
O ideal seria nem chegar a conhecê-la. Acontece que, com a chegada dos netos essa possibilidade esvai-se. A partir daí, tudo piora. Jamais se enquadrará nos seus cânones de perfeição.
É neste preciso momento que, o recurso à meditação e ao Yoga e em, casos mais difíceis, a um psicoterapeuta, para a ajudar a lidar com a hecatombe de emoções que uma relação desta natureza oferece, se torna urgente.
Os domingos jamais serão os mesmos.
Está aberto o duelo entre duas vontades. A vontade que o domingo tarde em chegar e a vontade que ele acabe rapidamente.
Uma característica das sogras é revelarem-se muito opinativas e emitirem sua opinião como se tratasse de uma verdade inquestionável. Se discordar, o diálogo morre e a tensão aumenta.
Os comportamentos, a maneira de estar, o sentido crítico, o sentido estético, as preferências, as opiniões, os hábitos, o que consome, o que não consome, o que come, o que gasta, o que não gasta, como ocupa o tempo, os acontecimentos que partilha inocentemente, até os presentes que lhe oferece nas ocasiões especiais serão escrutinados, suas frases retiradas do contexto e tudo o resto serve para atacar.  Basicamente, as noras existem para servir seus filhos e seus netos. Não lhes são toleradas vaidades ou caprichos, para isso ficariam eternamente solteiras (em linguagem de sogra, encalhadas).  Parece até que, se têm de justificar pela forma como agiram e provar que não o fizeram em prejuízo de ninguém, nem no sentido de se privilegiarem a Si próprias.
Está declarada a guerra.
O maior medo das noras é, com esta convivência prolongada (até que o casamento dure), replicar os mesmos comportamentos, quando forem elas a assumir o papel de sogras. Por mais que se desviem da linha de pensamento das suas fiéis inimigas será que acabarão como elas, autênticas stalkers?
Está gerada a confusão mental.
Por isso é que se torna determinante estarem absolutamente confiantes e seguras de Si mesmas, para que não percam o equilíbrio. Ainda assim, nenhum amor sobrevive a esta jihada radical das sogras em perseguição das noras.

  




segunda-feira, 30 de março de 2020

Orgulhosos de Ti

Não páras de crescer. És demasiado Especial.
Quando nasceste, não consegui assimilar o valor que terias para mim. Estava ocupada com mudas de fraldas, biberões, suas dosagens e temperaturas, banhos temperados, desinfeção das chuchas e tetinas, vigiar teus sonos, aliviar as tuas cólicas, adormecer-te, cuidar dos teus soluços, percentis, molas, molinhas e colchetes, para apertar e tapar nos sítios certos, plano de vacinação, visitas regulares ao pediatra, minhas hormonas num frenesim, não deprimir e, principalmente, não desistir.
Não foi a melhor fase da minha vida. Todos os meus receios se materializaram. Não foram momentos fáceis. Eu tinha o dever de te poupar a todos eles mas, infelizmente, não soube lidar e creio ter-te afetado e, por esse motivo, culpo-me por não ter gerido melhor minhas emoções.
Hoje, o cenário é bem diferente. Estou mais disponível mental e emocionalmente. Já não me sinto frágil.
Contagem decrescente para os teus anos. Este ano será diferente mas não, necessariamente pior. A disseminação crescente do vírus mortal covid19, obrigou ao recolhimento obrigatório sem termo e,  portanto, este ano será cá por casa. Melhor dizendo, na casa dos avós paternos, que nos acolheram, numa fase de transição que, inesperadamente, veio a resultar
numa preciosa ajuda. Avô adoeceu dos olhos e nós somos seu principal apoio.
Apesar destas mudanças forçadas, teu comportamento revelou-se surpreendente. Estás sempre pronto a ajudar, sem contrariações. És a boa energia que retira dimensão a este pesadelo. És um menino de ouro. Orgulhosos de Ti.
Por pouco, nascias no dia das mentiras, para meu descontentamento. Seria numa segunda-feira, pós Domingo de Páscoa. Apesar de, ter suportado as contrações dolorosas por mais umas horas, foi bem melhor assim. Não gostaria que o teu dia de nascimento fosse partilhado com o dia das mentiras e, todos os anos, ter que conviver com algum engraçadinho(a), brincar com o acontecimento de forma repetitiva e cansativa.
Espero que, no próximo ano, possamos festejar o teu aniversário sem este perigo latente e no nosso novo lar. Estão Todos convidados. Velhos Amigos, Novos Amigos, Teus Amigos, Nossos Amigos, Vizinhos, Família. Juntaremos Vidas às nossas Vidas e deixaremos que a Magia da felicidade nos invada e, tal como o, insidioso covid19 se alastre pelas nossas células e nos infecte de Amor e Bem Estar.

sexta-feira, 20 de março de 2020

Enormes



Do sorriso ao choro dista muito pouco e a quantidade de vezes que isto se repete confirma a alteração do nosso estado mental e o quão sensível ele é ao processamento daquilo que nos rodeia.
Ora nos fortalece ora nos transtorna. Mudanças de estados emocionais estáveis para estados emocionais instáveis e vice versa, exigem reações rápidas e adequadas e um forte e firme acondicionamento mental. Essa resistência não aparece quando necessária, adquire-se com o tempo e as vicissitudes da Vida. As adaptações e ajustes são um desafio gigantesco. Direi, uma façanha. Não nascemos preparados para aceitar certos acontecimentos, principalmente, os maus.
Assim como, quando experimentamos um novo sabor, temos tendência a rejeitá-lo, por não o conseguirmos identificar na nossa memória gustativa, os factos novos recebem igual tratamento. Primeiro estranham-se, depois aceitam-se.
Trata-se numa, primeira fase, de uma resistência primária e negativa que, em princípio, resultará numa resistência positiva, apoiada pela aprendizagem que ajudará a superar a dor que esses novos acontecimentos possam vir a causar.
Crescemos todos durante o processo, sobretudo, os mais novos que aprendem a colaborar e não incomodar porque, o momento assim o obriga. Estão sempre dispostos sem queixumes. As transições não os atemorizam. O quarto escuro sim.
Têm tanta Vida pela frente e não gastam seu tempo a medir perdas e ganhos. Limitam-se a Viver.
Dão leveza ao pesadelo. São Enormes sem o saberem.

domingo, 15 de março de 2020

#Estamosjuntos

E de repente, quando menos se esperava, veio algo para redefinir o que é verdadeiramente importante.
Estávamos tão protegidos do mal e ocupados connosco próprios e eis que chega o COVID19 para estragar tudo e desorientar nossas Vidas.
Num mundo de cegos poucos conseguem ver a gravidade da situação. Não falo apenas do contágio fácil e rápido que compromete a nossa saúde, falo também da nossa postura relaxada relativamente a esta problemática. Aliás, antes mesmo de sermos atingidos por esta pandemia, o nosso cuidado para connosco e para com os outros era irrisório. Quantos de nós se dão ao trabalho, após o uso do wc ou mesmo antes das refeições, lavar devidamente as mãos e poupar-nos a contaminações, que em pessoas de risco pode muito bem originar a morte e o COVID19 pode até nem ser o responsável. Afinal, é uma estirpe entre tantas outras que pululam por aí.
Neste momento, decretou-se o período de quarentena, implicando perdas económicas e sociais mas, seguramente, ganhos em saúde e bem estar. Assim esperamos.
Todos somos responsáveis. Nessa qualidade, temos de ganhar uma nova consciência social que, quanto a mim, se encontrava amortecida pela correria do dia a dia e pela pressão de ter mais e melhor, para manter ou até subir de categoria.
Ainda que pareça impossível, ainda vamos chegar ao ponto de sentir saudades do nosso dia a dia. De sair para os lugares comuns, de lidar com pessoas comuns e de falar sobre temas comuns. Viver na instabilidade não é bom. Viver na incerteza muito menos.
Estamos todos sujeitos. Uns mais que outros mas, na verdade, estamos todos sujeitos.
Os dias seguintes vão determinar a nossa capacidade de resistência.
Viagens canceladas, visitas suspensas em hospitais e lares, espaços de desporto e lazer fechados, idas aos hipermercados e centros comerciais condicionadas, hospitais em rutura, negócios comprometidos, instituições de ensino encerradas, trabalho remoto para quem pode dispor dessa funcionalidade, evitar espaços públicos e contato físico, parques de diversão interditos, acessos dificultados, a Vida ativa interrompida.
Este estado vai  expor nosso caráter, nosso sentido do outro, nossa capacidade de destacarmo-nos do que é supérfluo e de menor importância, inspirar-nos a ser melhores pessoas e resistentes às tentações que comprometem bem estar do todo.
Depois disto, seremos pessoas com outras preocupações e movidas por um novo sentido de Vida.



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Bring it On


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E de repente, crias para ti própria uma condição que te devolve à estaca zero. Na verdade, não tinhas alternativa. Se ficasses, sujeitavas-te e se saísses, também te sujeitavas. A questão é, qual das duas pesa menos ou causa menos estrago na tua Vida. Sendo que, agora já não há tantas oportunidades  para errar.
Tuas decisões vão determinar os dias seguintes e consolidar tua situação futura.
Pesa embora, tua resistência para encarar novos desafios e potenciar motivação suficiente durante o processo, para que não deixes de agir em prol do que queres e precisas, sofre quebras de confiança que demoram a restaurar. Com o tempo tornamos-nos mais frágeis. Nossa capacidade de sonhar é bloqueada pela passagem do tempo que, nos remete para determinadas realidades que,  por sua vez, impedem desvios irracionais.
Tudo é uma questão de tempo mas, Nós sabemos que o Tempo nem sempre é nosso aliado e a sua velocidade é desproporcional ao ritmo das nossas Vidas. Uma vez estagnados, o tempo não conspira a nosso favor, nem tampouco abranda. É a Vida na sua plenitude. Não pode haver lugar a cansaços, reclamações, indignações, amuos, revoltas, recuos, recusas, hesitações. Tudo tem de funcionar em pleno.
Digo, Vida na sua plenitude porque, está tudo lá ao nosso dispor. Só que por vezes nossa visão está turva porque teimamos em lamentar o estado atual e demoramos a reagir.
A forma como reagimos a tudo que acontece, expõe-nos ao que a Vida tem para oferecer e a magia acontece. Assim espero.
Bring it on.



segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Perdições com Açúcar

Haverá Bolachas que não façam migalhas? Falo de Bolachas de tamanho proporcional ao seu sabor. Não falo de amostras de Bolachas, boas para bochechar. Falo de Bolachas com tamanho suficiente para te arrependeres depois. Bolachas a sério. You know what I mean. ;)
Quero Bolachas que não deixem rasto de desperdício, nem se colem ao céu da boca, tal qual as hóstias das missas de domingo. Bolachas para se comer silenciosamente, melhor até, clandestinamente e, principalmente, Bolachas que não espalhem marcas do nosso pecado. A sua embalagem poderia até se auto destruir em segundos. Sem marcas. Sem dedadas. Sem ADN. Sem medo de sermos descobertos. A ideia é eliminar quaisquer vestígios comprometedores. Nós os gulosos, somos muito perseguidos. Verdade que sim. Principalmente, os mais crescidos que já não têm a casa dos avós para se refugiar e lambuzar sem castigos.
Parece que o açúcar é agora o veneno do século XXI, uma dependência de morte lenta e um estandarte dos Serviços Nacionais de Saúde para repudiar os gulosos. Estamos ao nível dos dependentes de substâncias ilegais. Qualquer dia entra a canabis, sai o açúcar. Não tarda vou adoçar o café com pauzinho de canabis.
Há todo um ritual ao desembrulhar o que envolve essas perdições com açúcar. Conheço aquele barulho da prata que reveste o chocolate. Consigo até abafar os outros sons só para o ouvir. É a Música de abertura das hostilidades "Sei que Não Devo mas Sabe-me Bem".
Quem me dá doces dá-me afeto. Marcas do meu passado infantil.
Podiam-me ter dado um rabanete mas, não creio que deixasse marcas tão boas quanto estas que trago. O sabor a doce não se confunde com nenhum outro. É único.
Não quero fazer propaganda ao doce mas por favor não o diabolizem, em nome dos gulosos como Eu.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Só mingo. Só mingo.

Quem sabe um dia possa novamente escrever outra história para a minha Vida. Que seja num daqueles dias de Sol ameno, bons para secar a roupa no varal.
Quando minha missão terrena acabar, quem sabe me doem outra oportunidade para fazer diferente. Não propriamente melhor mas, diferente. Outros rostos, outros contextos, outros enredos, outros que não os mesmos. Quem sabe um dia liberalizem a venda não regulada da canabis e eu possa mascar a Vida de uma outra forma.
Não que a Vida não me saiba. Acho que até sabe melhor agora, do que na idade do fermento. Já não cresço. Só mingo. Só mingo.
Curiosamente, vemos pior mas, enxergamos melhor. Basicamente, aprendemos a conservarmo-nos. Pode parecer um papo caduco. Porém, eu prefiro charmar-lhe papo de uma consciência maior. Não me rendo às evidências mas reconheço-as. Mais ou menos isso.
Meu filho já me confessou estar cansado de ter 4 anos, isto porque ele não sabe o que vem por aí e pensa que, a idade dá poderes. Olha para mim e para o pai e pensa, quanto mais velhos mais poderosos. Só mandam. Só mandam.
Não direi mais poderosos mas sim mais sábios. E o que está escrito, escrito está e o que está por escrever devolve-nos outra esperança que nos prende aqui até deixarem.
Sinto que estou só de passagem. Isto não acaba aqui.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

E a Saga continua....

E a Saga continua. Os que querem falar. Os que são impedidos de falar. Os que interrompem. Os que são interrompidos. Os que se acham donos da palavra. Os que ficam em silêncio por opção. Os que te observam e medem tuas reações com intensímetro. Os que preferem ficar em silêncio e não se comprometer. Os que nem sequer tentam falar. Os que promovem a discussão para agitar mais as águas. Os que aguardam a vez de falar. Os que tomam partido. Os que não tomam partido. Os que se manifestam em privado e em particular. Os que só falam se tiverem platéia. Os que convocam os outros a falar. Os apressados. Os Ansiosos. Os Enfadados. Os Conflituosos. Os Temperamentais. Os Tranquilos. Os Emotivos. Os Frívolos. Os Indiferentes. Os Distantes. Os Ciumentos. Os Invejosos. Os que são lembrados. Os que ninguém se lembra. Os Desinteressados. Os Responsáveis. Os Preguiçosos. Os Irresponsáveis. Os Materialistas. Os Despojados. Os Persuasivos. Os Verdadeiros. Os Sinceros. Os Profundos. Os Superficiais. Os Falsos Moralistas. Os Opinion Makers. Os Altivos. Os Modestos. Os Humildes. Os Sabichões. Os Fundamentalistas. Os Followers (Seguidores). Os Perseguidos. Os que perseguem. As Vítimas. Os Caça Likes. Os Presunçosos. Os Fundamentalistas. Os que pensam pequeno. Os que pensam out of the box. Os Executantes. Os Pensadores. Os Banidos. Os Contidos. Os Desbocados. Os Perfecionistas. Os vai assim mesmo e os Inocentes que acabaram de chegar e os acompanham para todo lado e com eles querem estar.

The Bad Ones

O Meu Filho insiste para que lhe conte histórias. Não escolhe o melhor momento, nem o melhor contexto. É na base do quero que me contes agora mesmo, em ambientes de ruído com muita gente ou pior, em ambientes de silêncio com muita gente também. E curiosamente (ou não) os seus personagens favoritos são os maus da fita ou em "Strong Language", The Bad Ones.
Rufem os tambores, porque os eleitos são: Bruxa Má e Lobo Mau.
As melhores histórias são aquelas onde estes dois protagonizam. Afinal, dos bons não reza a história.
Nem vale a pena tentar suavizar suas presenças pois vai tirar toda a graça, que eles parecem ter para o Meu Filho. A minha tentativa de o poupar a pesadelos redundou numa frustação conjunta. Eu falhei porque não soube contar a história que ele queria ouvir e Ele amuou porque a história não soou como ele queria.
Tentei de novo, desta vez sem filtros e com efeitos sonoplásticos. Foi Libertador. Acho até que me empolguei.
Quando terminei, Meu Filho estava a tentar processar não só a história mas também, a minha transformação. O que é que eu fiz? Pensei Eu.
Após uma breve paralisia sensorial, surge o rigor jornalístico de um miúdo de quatro anos, que me deixou bloqueada.
E a Bruxa Má vive sozinha ou acompanhada?
O Lobo Mau vomitou a Avózinha?
Que idade têm?
O Lobo Mau e a Bruxa Má vão à Escola?
And so on...
Questões práticas de uma acurada pertinência histórica, direi Eu. :)

segunda-feira, 13 de março de 2017

Não precisa mudar

Nunca se repetiu tantas vezes esta frase: Empreender Mudanças. É até condição de sobrevivência nos dias de hoje. É apregoado em todo lado e propagou-se de tal forma, a ponto de ser dado como receita para tudo. Eu até para imbuir-me do espírito de mudança, troquei de marca de champô e o que eu lucrei, foi com a juba do Rei Leão. Foi assim, com este estilo Afro friendly, que empreendi a minha primeira mudança.
Mudar, afinal, não implica sair da normalidade?
A normalidade é tão ruim assim?
Será que abalar com a normalidade significa abalar com a nossa estrutura, a nossa coluna vertebral?
Mudar para acertar?
Será que é esse o maior fundamento do movimento de mudança?
Estaremos assim tão errados ou tão estagnados?
Quantas vezes teremos nós que nos virar do avesso?
Acho que estrangulamos de tal forma este termo, que virou um movimento de consumo.
Mudar para ser diferente, gera incerteza e às tantas, provoca confusão mental. Propõe que te abandones a ti mesmo e aceites um outro registo de ti próprio. Às tantas este movimento de mudança vai ditar uma tendência e virar moda, que se pegar, então viraremos inimigos até do que é bom. A mudança faz mesmo isso, um corte com o passado, embora haja passado bom e passado que valha a pena reviver.
Que seriamos nós sem memórias?
São as memórias que confirmam nossa existência no tempo.
Mudo de humor, mudo de cuecas, mudo de champô, mudo de sapatos, mudo de passeio, mudo de penteado, mudo de menú, mas não mudo o que existe em mim.

segunda-feira, 6 de março de 2017

A Maninha

Marta Aragão Pedroso de Sousa nasceu pós 25 de Abril, num dia gelado e soalheiro de Fevereiro, na maternidade da região, hoje extinta por razões económicas e sem piedade social. Nasceu no seio de uma família jovem e remediada, descendente de Barões esquecidos e falidos. Nasceu num período de mudança, de esperança, de rutura com Vidas sem opção, de liberdade, fim do isolamento, novo começo, mas sua maior sorte foi ter nascido num ambiente enriquecido de afectos e inconciliado com a abundância e o desperdício. Nada podia ser mal gasto, até porque não havia folgas para tal desgoverno.
Marta, cedo percebeu que seus pedidos tinham de ser conscientes e exigências não eram permitidas,  nem bem aceites. Aprendeu também a não reclamar e agradecer sempre. Aprendeu a valorizar pessoas e momentos e descredibilizar as distrações materiais, recurso dos Pais da atualidade, para corrigir e ajustar comportamentos. Não havia condições para tais desvios consumistas e os comportamentos de Marta, não exploravam essa necessidade de Ter para Ser. Nunca se sentiu desfavorecida nem tão pouco descontente.
Marta ganhou uma sensibilidade rara, que alguns ainda estranham e preferem encarar como um desvario qualquer, trabalho para exorcistas certificados e inscritos na Ordem.
Umas vezes ficava incomodada, outras nem por isso.
Já crescida e mulherzinha, abalaram o seu mundinho de afetos, precioso e sagrado. Nascera a Renata Aragão Pedroso de Sousa. Agitada, rabina, com goelas, vítimas de um traumatismo agudo, elevado ao exponente máximo de todos os decibéis e mais um.
Todos achavam-na simpática. A Marta achava-a tonta e suicida para se meter no seu caminho.
Seu quarto, virou galpão das tralhas da pirralha e Marta a segurar-se para não explodir.
Quando ninguém estava a olhar, pendurou-se no berço da Renatinha e no momento em que, se preparava para lhe fazer caretas, a imbecil devolve-lhe um sorrisão, que a fez recuar. Desdentada e simpática, ninguém aguenta
Lá ganhou coragem e desafiou-a com uma careta e não é que, Renata solta sua primeira gargalhada,  que rapidamente ecoou em toda a casa e fez seus Pais correr de alegria enlouquecida.
Marta retirou-se nesse instante e pensou fazer as malas e abalar, mas sua Mãe nem deu tempo para aprofundar esse pensamento e espetou Renatinha no seu colo, que babava e babava. 
Quando regressava da escola, lá estava Renata à sua espera. Rastejava até si e reclamava colinho e Marta, já rendida, cedia mas não a poupava a  meia dúzia de caretas.

Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...