Não falo apenas do ritmo acelerado da semana ou sequer dos horários a cumprir, dos compromissos estabelecidos, das regras de boa conduta, dos sorrisos forçados, das poucas horas de sono, do trânsito, do café da manhã apressado, do trabalho acumulado na secretária, do telefone sempre a tocar sem sossego, do elevador que tarda em chegar à minha chamada e o relógio a ditar o compasso. Falo da mesmice dos nossos dias, sempre tão iguais, sem lugar ao inesperado. É tão irritante.
Até a cor da caneta a uso é sempre a mesma. As únicas opções são azul ou preta. E se de repente eu eleger a caneta vermelha para assinar documentos, para tirar apontamentos, para preencher espaços em branco, para sublinhar, para riscar, para libertar pensamentos? Certamente, seria internada numa instituição para doentes mentais inimputáveis e isolada numa cela de decoração minimalista. Quanto menos houver para arremessar melhor, não vá eu ameaçar fazê-lo.
Às vezes dá vontade de agitar com aquilo que permanece igual.
Roupa do avesso também seria uma boa prática para quebrar com o esquema rígido com que assentamos nossas Vidas. Apesar de eu achar que esta iniciativa é saudável para despistar a loucura eminente, haverá quem não pense assim. A maioria estranharia e me aconselharia a recorrer a ajuda psiquiátrica. Este exagero apenas serve para reflectir o quanto nós estamos formatados a reproduzir determinados pressupostos e quando nos desviamos para outras formas de comportamento, resulta estranho e anormal.
Estas duas novas sugestões comportamentais radicais e quiçá absurdas, apenas justificam a nossa relutância em mudar.
Acho que essa resistência a outras formas comportamentais e o cumprimento dos mesmos pressupostos são castigos a que nos obrigamos e que nos instrumentalizam. Tornam-nos previsíveis, desinteressantes, irremediavelmente incuráveis.

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