domingo, 30 de janeiro de 2011

Sonho envenenado


Carlota é um nome clássico que nos remete para o imaginário dos princípes e princesas, duques e duquesas, infantes e infantas, cheios de privilégios a quem devemos prestar reverência. Efectivamente, seus pais quando lhe atribuíram o nome, pensaram nas possbilidades que um nome tão marcante no passado histórico, poderia trazer para o futuro da sua filha. Na verdade, Carlota habituou-se a fomentar essa imagem de alguém com sangue azul, com pose real, diferente dos demais, inatingível, soberana. Teve a felicidade de frequentar bons colégios, elitistas, conhecer o mundo, viver numa mansão com oitocentos anos de história, aprender educação musical, aprender vários idiomas, aprender boas maneiras, comunicar melhor, frequentar ambientes sociais restritos, vestir bem, ter acesso facilitado aos melhores lugares nos espetáculos e demais eventos.
Para uns, uma vida de sonho mas para Carlota, uma Vida aprisionada num mundo cheio de convenções, comportamentos e poses estudadas, cerimónias, reverências, frio e emocionalmente castrador.
Não se sentia nenhuma previligiada por pertencer aquele mundo fabricado, sem lugar à descontração, ao descontrolo emocional, sem arrebatamentos, sem graça. Suas amizades eram sugeridas pelo meio fechado em que vivia, seu futuro estava programado, seus sentimentos eram desconsiderados, sua liberdade estava comprometida, seu valor não carecia de prova pois não havia nada para conquistar nem para provar. Carlota escorregou num descontentamentamento permanente que surpreendeu sua família, que desconhecia completamente seus motivos. Remeteram seu problema para psicólogos, pensando livrar-se do fardo emocional gerado pela sua filha única, designada sucessora de todo o império da Família Bourbon.
Carlota não padecia de nenhum distúrbio mental por querer criar a sua independência, longe daquele sistema de conveniências. Incompreendida, preparou a sua fuga e aventurou-se no desconhecido, sem noção do que iria encontrar e que batalhas iria travar, mas o facto de ter opção fazia-a sentir-se livre e Feliz.   
  

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