sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Sancho, o reconciliador

A separá-los, existia uma mesa, com dois metros de comprimento e, no centro, um candelabro que mais parecia um poste de iluminação caseiro, concebido ao jeito de Joana Vasconcelos, grande e majestoso. Cada um ocupava a sua extremidade e parecia ignorar o óbvio. O silêncio era avassaladoramente incómodo mas, mesmo assim, preferiam-no a dispender energias em vão. Aquele lugar, outrora iluminado e leve, tornara -se sombrio e pesado.
Vieram a adotar as mesmas atitudes que lamentavam nos outros. Perderam a intensidade. Perderam a vontade. Perderam a consideração. Perderam a admiração. Perdeu-se a fantasia. Na verdade, foram perdendo tudo aquilo que sustentava a sua união. Ambos sentiam que precisavam recuperar aquele passado bom e prazeiroso mas esgotaram suas forças na luta pelas suas próprias razões e mágoas e já não conseguiam abrir mão dessa determinação obstinada.
O Sancho, era o único a interromper esse silêncio e a promover alguma interação entre o casal. Sua chegada espalhafatosa ajudava a sacudir aquela nuvem negra que pairava no ar.
 Seu pêlo sedoso, seu olhar meigo, doce e suplicante, não os deixava indiferentes e, rendidos desviavam-se da sua indiferença, por instantes, para lhe dar atenção. Porém, essa manifestação emocional durava muito pouco e o regresso ao isolamento impunha-se novamente. Sancho era o principal responsável e provocador da erupção de sentimentos que emergia das suas almas desencontradas. Sem saber, as suas saídas com o dono para aliviar bexiga e tripa coincidiam com as saídas do cão sorna da vizinha jeitosa do prédio em frente, que inevitávelmente produziam efeitos colaterais na dona do Sancho que via aquilo como um pretexto para se reencontrarem e flirtarem, mesmo debaixo do seu nariz adunco. Ciúme e sentimento de posse esquentavam o ambiente, sempre que Sancho e Ezequiel regressavam do passeio. Nem havia tempo para raspar a sola dos sapatos no tapete da entrada e já Helena subia o tom para reclamar do passeio prolongado. Apesar das suas reações serem provocadas pelo chamado monstro dos olhos verdes (ciúme), negava sempre  e tentava, em vão, convencê-lo de que o motivo da sua súbita irritabilidade revelava apenas preocupação com o Sancho. Ezequiel bem tentava explicar-se mas quanto mais o fazia, mais ela encarava como desculpas para se aproximar da loira de cabelo pranchado e peito siliconado. Que pena o Sancho não poder falar, pensava ela.
Arrependia-se, mais tarde, do folclore explosivo de reações geradoras de discussão, pois sabia bem que Ezequiel só tinha olhos para ela, mesmo nesta ocasião em que estão de costas voltadas. Parecia indiferente mas não passava de disfarce.
Na cama fria que descobriam todas as noites existia um fosso a dividi-los e, cada até amanhã dado  antes de adormecerem, arrastava-os para uma despedida sem retorno.
Sancho estranhava seus comportamentos orgulhosos e enroscava-se no meio dos dois para recuperar hábitos antigos em tempo de união. Lá ia lucrando com festinhas e pedaços generosos de bolo caseiro. Sem querer Ezequiel e Helena retomavam o diálogo, com tendência para evoluir favoravelmente para uma reaproximação e noites mais quentinhas.
Até a morte, por preguiça crónica, do cão sorna, da vizinha matadora, de look arrojado, ajudou a  apaziguar os ciúmes.
A mesa de dois metros de comprimento deu lugar a uma mesa sem extremidades e o único motivo de adorno são as suas mãos entrelaçadas.

sábado, 15 de novembro de 2014

Descontentamento Descontente

Tenho tudo e não tenho nada. Sei de tudo e não sei de nada. Ter tudo e saber tudo ou nada saber e nada ter? Qual destas combinações traz felicidade? Será que a Felicidade é a ausência do saber e do ter ou a totalidade da posse e do Saber?
Ter tudo e saber tudo, não passa de uma crença nossa, que não retrata a realidade. No entanto, não vivemos na completa ignorância nem com ausência de tudo. O que nós sabemos e temos é que pode significar tudo para nós. O nada ter e nada saber não combina connosco. Poderemos ter essa sensação, talvez por ser tão fundamental ter e saber e, por esse especial motivo, cresce em nós o descontentamento de ainda nos parecer insuficiente e esse pouco, parecer nada.
Certamente serão mais leves as ausências sem carências do que os excessos com o total conhecimento de tudo.
Felizes os pobres ignorantes ou felizes os ricos sabichões?
Ter e Saber são dois poderes demasiado pesados e comandar as influências que ambos geram, determina a qualidade do nosso caráter. Os que julgam nada ter e nada saber, não se comprometem nem se deixam corromper por esse duplo poder. Quem comanda, assume o que tem e assume o que sabe e conquista a posição que quiser. Porém o preço a pagar é maior e sem margem de negociação.
Os que dizem viver na ignorância preferem questionar e certezas, são cometas distantes que só provocam interesse sem obsessão. São movidos pela curiosidade e o que têm, jamais chegam a possuir. Enriquecem partilhando.
Afinal não somos donos de nada nem do nosso cão, que a qualquer momento também pode abalar e nos abandonar. Não temos domínio sobre nada nem ninguém e se o temos, é mera ilusão. O que nos é dado também pode vir a ser-nos retirado.
Bem se diz, nunca queiras possuir o que tanto gostas pois corres o risco de vir a depreciá-lo.
Uns colocam barreiras no saber, outros colocam barreiras no ter. Eis a diferença. Liberdade para aprender e contenção na posse do que corrompe. Onde escolhemos colocar essas barreiras, assume importância no sentido que queremos atribuír à nossa Vida. Nem sempre fazemos escolhas que traduzem maior felicidade. Nem sempre essas escolhas traduzem o que queremos. Nem sempre o que queremos é condutor de maior felicidade. Nem todas as escolhas recaem apenas sobre nós.
Muitos de nós só saberão o que é ser feliz quando provarem a infelicidade.
Agarrarmo-nos sempre ao momento seguinte, à ilusão do que pode vir a ser melhor, num descontentamento descontente de quem não sabe o que quer.







terça-feira, 11 de novembro de 2014

Um dia vais entender

Quando fores crescido vais entender todas as minhas preocupações, a minha vontade de te abraçar e beijar a toda a hora, meus avisos, meus cuidados redobrados, minhas incursões durante a noite ao teu quarto para vigiar o teu sono, minha impaciência, minhas escolhas, as camadas de roupa que te obriguei a vestir, as minhas manias do boné e do protetor solar ao longo do ano, as minhas corridas para te alcançar, cada vez que corrias livre e desimpedido, os fretes que te fiz passar, as minhas insistências, as cantigas que arranhei com a minha voz desafinada, as vezes que te medi a temperatura do corpo, as visitas regulares ao homem da espátula de pau e bata branca, as paranóias com as corrente de ar, o meu olhar cansado, as minhas maluqueiras para te enfiar o maior número de colheres possível de sopa, as minhas cócegas na hora da mudança da fralda, que nem sempre acabavam bem para o meu lado, os rituais de limpeza diários, as considerações trocadas com a tua educadora que te roubaram alguns minutos de brincadeira, o esconde esconde das prendas de Natal que te picavam  a  paciência mas ajudavam-te a valorizar os gestos e conferir um caráter especial aqueles momentos e desvalorizar o pacote, as minhas sessões de sensibilização nas épocas especiais sobre a sorte em teres nascido num seio familiar equilibrado, capaz de oferecer conforto, bem estar, harmonia, os beijos roubados que te dei, as histórias que quiz que conhecesses, as saídas repentinas das festas, antecipando o dia seguinte, a importância dada ao sono e ao descanso, as inúmeras vezes que te afaguei o cabelo contigo a protestar, as vezes que te obriguei a ficar na mesa até todos se levantarem, as gargalhadas que soltei sem que tu nada entendesses mas que mais não eram que explosões de alegria por ti provocadas, a quantidade de vezes que me apanhaste a olhar para ti deslumbrada, os meus nãos, os meus sins, o rompimento do teu nome, vais entender as manhãs stressadas da Mãe, os nomes estranhos que te chamei em frente a estranhos, as vergonhas que te fiz passar, as não cedências às tuas birras, a retirada minuciosa das grainhas, pevides, ossinhos, casquinhas, que não chegam para travar tua voracidade crescente, um dia vais entender isso e muito mais.
Vais entender o que é amar verdadeiramente e o sofrimento que causa. Por enquanto, posso parecer protetora demais, chata, inconveniente, melosa, grudenta, maníaca do absoluto controlo das coisas, exigente, stressadinha mas este exagero todo é porque não consigo calar o imenso Amor que sinto por ti.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Casco encalhado

O que necessitava ouvir nunca foi dito e o que precisava desabafar nunca chegou a ser solto. Ambos  amordaçaram os seus sentimentos e deixaram que eles se convertessem em mágoas profundas. Foram convivendo. Ora bem ora não tão bem, com intervalos cada vez mais curtos, nem sequer chegavam a distinguir a sua passagem. Parecia tudo igual, nem os cenários mudavam.
Ele tentando-a convencer da sua invulgar sensibilidade e Bianca desvalorizando suas apregoações.
Algo contaminou a compreensão que tinham um do outro e provocou esse distanciamento não intencional, porém real e incómodo. Ele dizia-se tão sensível mas nunca se mostrou disponível para conversar com Bianca e entendê-la sem julgar. Das raras vezes em que estavam a sós preferia falar a ouvi-la e o tema não mudava e sempre que Bianca tentava desviar recebia vários carimbos, que não lisonjeavam a sua pessoa. Bianca esbarrava sempre num muro alto vedado, que mesmo numa relação privilegiada como a deles e que deveria resultar numa união harmoniosa, preferia dominar. Quer ser sempre a figura dominante. As suas apreciações usualmente discriminatórias comprovam a  sua rejeição. Suas palavras são letais. Seus gestos uma raridade. Foram tantas as ocasiões e as oportunidades para escapar do seu ego mas nenhuma foi superada.
Bianca apesar de ter nascido noutra geração sabe atribuir importância às pessoas, principalmente aquelas que com ela estabelecem uma forte ligação. Essas são as que hão-de permanecer sem reservas.
Bianca pensava sempre errado, agia mal, ajuizava mal, dramatizava demais, interpretava mal os outros, devia ser mais grata, devia comer e calar, devia abafar sua maneira de ser para não agitar os acomodados e acostumados a aceitar injustiças e gente dissimulada. Tudo o que ela devia ser não é.
Há quem se intrigue com pessoas que agem de acordo com o que pensam e não de acordo com o que podem suscitar nos outros. Bianca pertence a essa categoria dos que não usam artefactos para agradar e quando gostam sentem admiração.
Ele carece de atenção não de Amor. Os outros são demasiado importantes e movimentam opiniões que funcionam como vidas para acumular progressos no Candy Crash da Sua Vida.
É uma relação não evolutiva a deles.
Oxalá Bianca consiga libertar-se do peso dessa evidência e aceitar essa pobreza de Amor.





domingo, 12 de outubro de 2014

Pressão positiva

Atingir os objectivos, manter o emprego, destacar-se, ignorar invejas,  atualizar-se, procurar mais conhecimento, conquistar vitórias, estar atento à concorrência, motivar-se diariamente, renovar-se, sair da zona de conforto, responder a todas as solicitações, quer no emprego, quer na família, quer nas relações sociais, quer nas relações conjugais, quer nas relações de amizade, é muita pressão. Como é que querem escapar ao stress. É impossível. Acumulamos demasiados compromissos.
Essa correria retira-nos alguma sensibilidade e capacidade de enxergar para além do óbvio e, por conseguinte, compreender melhor. Se tivéssemos oportunidade de abrandar e até parar para assistir a um apanhado de slides da nossa Vida, iríamos estranhar certos comportamentos em nós. Que pessoa é aquela que ali está? Iríamos interrogar-nos. Somos movidos por forças externas, por pressões várias, que testam a nossa resistência, a nossa escala de valores, o nosso núcleo duro de princípios, o nosso carácter, a nossa verticalidade. Certamente nem todos terão uma boa imagem nossa, até porque nem todos se regem pelos mesmos padrões. Os que nos compreendem seguramente terão boa imagem de nós e não serão necessários esforços alguns para os agradar. Isto num plano pessoal e informal. No plano estritamente formal temos de construir confianças, acreditação no nosso valor, respeito e colocar nossa vida privada num patamar seguro, resguardado de comentários livres. Não falo de mim nem deixo que falem por mim. Esse é o truque.
Os livros abertos perdem interesse e nunca chegam a sair da prateleira, revelam de mais. O carácter de intocabilidade dado à qualidade daqueles que são discretos cria curiosidade e interesse. Não se escondem mas jamais se expõem indiscriminadamente. Nem todos são dignos dos seus desabafos ou partilhas.
Ouvir e guardar silêncio ajuda a ajuizar melhor. Gralhas, é fugir delas. Poluem o ambiente de tão barulhentas e incómodas que são.
Nunca nos esqueçamos dos nossos papéis principais, do que queremos preservar nas nossas Vidas, daqueles que nos apoiam, do nosso percurso até aqui, do tanto que ainda podemos fazer e dos exemplos que queremos deixar como legado.
O facto de nos cruzarmos com seres desalmados ou sem alma não implica que nos convertamos a essa mesma condição. Vivemos num mundo de diferenças.
E a pressão existe para criar continuidade, imprimir andamento, dinâmica, promover diferentes capacidades, para comprovar eficácias e agir. As decisões criam pressões. As escolhas criam pressões. As opções criam pressões. As falhas criam pressões. As Competências criam pressões. As expectativas criam pressões. Os outros criam pressões. A vontade cria pressão. Pressão positiva que nos prende à Vida e ajuda a criar nossa própria história. 
Marcas da nossa passagem havemos de deixar, cuida para que honrem a tua pessoa.



terça-feira, 23 de setembro de 2014

Chamava-se Lili e bufava

Chama-se Lili, não veste de organdi e o pior é que não sabe sonhar. Veste-se de preto e só sabe bufar. Bufa por tudo e por nada. Bufa e desdenha simultaneamente. Seus sentidos, permanentemente ocupados, com o exterior, com os movimentos dos outros, medindo e catalogando suas reações, não têm descanso. Olhos ora caídos ora levantados, evitando o eye contact e é assim, passando despercebida, que vai julgando tudo e todos sem poupar ninguém. Ser antiquado a querer passar-se por espírito jovem mas congelado numa época que não existe mais, onde rigor e terror estavam separados por uma linha muito ténue. Não tolera espíritos livres e que não vogam ao sabor dos outros. Incomoda-se com a boa aparência dos outros, incomoda-se com a boa impressão que eles deixam nos outros, incomoda-se com a boa qualidade de vida dos outros, incomoda-se com os mimos materiais que os outros dão a si mesmos, incomoda-se com os benefícios dos outros, incomoda-se com o que os outros fazem do seu tempo, incomoda-se demais com a Vida dos outros. Diz desejar-lhes o Melhor mas não sabe , não consegue passar essa mensagem porque não é isso que deseja verdadeiramente.
Chama-se Lili e caminha por aí, na sombra, na escuridão e encolhe cada vez que alguém iluminado brilha. Até é bom as Lilis existirem para sabermos de quem nos desviar e orgulharmo-nos de quem somos cada vez que esbarramos nelas. Não sabem calar suas más vibrações e suas falhas incontornáveis  de personalidade e pisam sempre os limites da boa convivência.
Esta Lili só conhece sensibilidade quando sente frio ou calor. Nisso é demasiado sensível. Até a espinha se dobra, na provavelmente única versão de flexibilidade que alguma vez irá reproduzir.
Só sabe mexer os olhinhos cima, baixo e lado, repetidamente, sem cessar de bufar. Não conhece talento maior.
Lili tem a Vida tão programadinha ao ponto de ter horários definidos para as descargas fisiológicas. Que domínio.
Não há sal grosso que chegue para o seu mau olhado.
Chama-se Lili e pulula por aí e bufava bufava.







terça-feira, 2 de setembro de 2014

Aos Papéis

Reunimos tantos papéis e tão diversos uns dos outros que, por vezes, se torna impossível não colapsar. Somos filhos, somos irmãos, somos pais, somos maridos, mulheres, somos tios, somos padrinhos, somos afilhados, somos sobrinhos, somos netos, somos cunhadas(os), somos noras, genros, etc. Acumulamos muitos papéis e a juntar a esses ainda temos as funções de responsabilidade social e profissional. É muita carga. Quem procura um desempenho exemplar há-de inevitavelmente cair em frustração. Certamente não iremos brilhar em todos esses papéis ou sobressair social e profissionalmente. Não porque sejamos incapazes ou menos dedicados, algo nos desvia e nos empurra a explorar determinadas vertentes da nossa vida em detrimento de outras. Para além disso há papéis mais exigentes que requerem muito de nós e que marcam indelevelmente nossas Vidas e depois há em, certos casos, episódios que precipitam nossas aproximações a certos perfis. Há contextos onde somos mais amados ou, melhor dizendo, onde nos sentimos parte integrante e com influência ilimitada.
Curioso, ocorreu-me agora mesmo, o porquê de existir a combinação de papéis marido e mulher. Se interpretarmos com maior acutilância percebemos que dito assim, então, para ser Mulher tem que obrigatoriamente ter companheiro ou alguém a quem se dedicar. Neste contexto, é a Mulher de alguém e não a pessoa do sexo feminino, livre e independente para optar. Somos a circunstância de alguém.
É nisto que reside a dificuldade de assumir certos papéis. Trazem demasiada carga afetiva que por vezes só atrapalha na resolução de certos conflitos. Não conseguimos travar as palavras, abafar as emoções, disfarçar nosso descontentamento, renunciar os nossos desejos, exigimos demais, sofremos por antecipação, queremos intervir, ser parte ativa, insistimos em emitir opiniões, tememos sempre o pior, queremos que nos ouçam sem interrupções, desejamos que queiram o mesmo que nós, queremos muitas vezes o impossível.
Nossos movimentos têm o mesmo impacto nas nossas vidas que as movimentações das peças de xadrez têm na decisão do jogo. O cronómetro debita tempo e por isso não há lugar para abrandamentos. Tic tic tic sem aliviar.
Tem dias que me sinto um polvo com dezenas de tentáculos cheios de elasticidade e que chegam a todo e qualquer lado. Noutros dias, sinto o seu peso e só os consigo arrastar comigo.
Uma vez imbuído da responsabilidade de cada um desses papéis, deixarás de ser absolutamente livre. Passa a ser uma missão de Vida. Mas será que queremos ser absolutamente livres? Não será que essa pseudo liberdade nos devolve à solidão?

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Ousadia de Viver

O que nos define? O que determina nossa Felicidade? O que determina nossas Vidas?
Pensando bem, o que nos gera, o que gera nossa Felicidade e nossas Vidas é, basicamente, a importância que atribuímos ao que nos vai acontecendo, aquilo que prende nossas atenções, às obsessões que acumulamos.  A relevância que damos a certos aspetos da nossa Vida, revelam quem somos e a nossa propensão para a Felicidade.  Quanto mais conscientes formos da nossa imperfeição mais fácil será nos atribuirmos valor e aceitarmo-nos sem reservas. A busca pela perfeição não traz felicidade. Querer impôr a nossa verdade não traz felicidade. Querer impôr a nossa razão não traz felicidade. Querer sobressair para os outros não traz felicidade. Querer chamar as atenções não traz felicidade. Querer sem merecer não traz felicidade.
De que forma queremos causar impacto? O que merece maior impacto nas nossas Vidas? A resposta a essas questões ajuda a compreender quem nós somos, o que é para nós a Felicidade, qual o nosso estilo de Vida.
De igual modo, aquilo que ignoramos ou preferimos ignorar, aquilo que não merece nossa atenção, contextualiza-nos.  Há quem procure seguidores e há quem procure amar-se a si mesmo. Dessa forma, a nossa voz interior deve falar mais alto e comandar nosso destino.
O importante é sermos fiéis a nós mesmos e orgulharmo-nos disso. Haverá sempre quem critique, quem diga mal, quem queira boicotar nossa felicidade e, por isso, quanto mais frágil for o nosso amor próprio, mais vulneráveis nos tornamos. Só nós sabemos o que é melhor para nós. Satisfações, são dadas unicamente aos responsáveis máximos da nossa Vida (NÓS) e a consciência será sempre nossa e só nossa.
É preciso ter ousadia para Viver. Nunca percamos essa ousadia que revela confiança em nós mesmos. Não hesitemos quando alguém nos demove com suas vozes criticas e arranhadas de inveja e maldade.
Prepara-te sempre para grandes desafios e para a chegada do melhor na tua Vida. Essa perspetiva cria uma predisposição para viver de forma mais animada e otimista, sem te despreparar para as vicissitudes que possam surgir.  
Não quero ser igual a ninguém nem diferente de ninguém. Quero ser eu mesmo.
Quero fazer parte da diversidade sendo eu mesmo. Esse ensejo vai-te expôr ao escrutínio exterior e é por isso que viver é ousar e ousar é viver.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Cereja no topo do bolo

Carga muita carga, tanta que veio a tornar-se um pesado fardo. Não aliviava e, quanto mais Camila se consumia, maior dimensão ela assumia. É preciso estar preparado. Dizia a voz da experiência. Mesmo assim e depois de muitos km percorridos nessa missão, nunca se está definitivamente preparado. Não basta querer, amar a ideia, amar incondicionalmente, assumir, assimilar, porque todos os dias é uma batalha. Camila sempre quiz, sempre amou a ideia, ama incondicionalmente, assumiu a 100% essa missão, assimilou e continua a assimilar toda a informação útil para a prossecução dessa missão mas parece não chegar para dissipar certas inseguranças que advêm do grau de entrega exigido. Não há instruções, não há ideais, não há tréguas, não há uma forma para agir, há 1001 formas, o que compromete o sucesso da missão, é difícil não falhar ou melhor é difícil acertar sempre, pelo que, mais do que uma missão, Camila encara-a como uma aprendizagem. É preciso estar atenta e focada. Algo que surge assim que nos envolvemos nessa cruzada de Vida.
Alguém disse a Camila que os filhos são a cereja no topo do bolo. Não devem ser o único maior acontecimento da nossa Vida, que afinal já decorria até à sua chegada mas é, sem dúvida um acontecimento importante e marcante. Camila entendeu perfeitamente essa mensagem, até porque, uma das muitas lições que foi obrigada a aprender com a chegada do Dani e que fizeram disparar o seu crescimento pessoal, foi a combinação harmoniosa de certos fatores para exercer o seu papel de Mãe e gerir melhor essa missão. É fundamental que se sinta bem para estimular positivamente e transmitir boas vibrações aos que mais dela precisam e que, por sua vez, funcionam como bombas injetoras de energia que a farão continuar e progredir. 
A responsabilidade é muita e Camila sente que precisa defender o seu petiz das ausências de quem deveria ter um dos papéis fundamentais, das preferências que tornam o seu menino um dos preteridos, das poucas ocasiões criadas para gerar um amor mais sustentável, da falta de dedicação. Camila terá, inevitavelmente, de sofrer porque não há nenhum Grande Amor sem dor. 
Aos poucos vai se convencendo que nem sempre o que é esperado e aguardado acontece. Não aconteceu no passado, certamente, não se irá repetir no presente. Terá que garantir que não se criem vazios e ressentimentos que constranjam a "cereja" no topo do seu bolo.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Pick Me

Reagir ou  não reagir. Influenciar ou deixar fluir. Impôr-se ou manter-se à margem. Mostrar indignação ou conviver com o que existe. Chamar as atenções ou preferir o anonimato. Marcar posição para dominar ou dominar para marcar posição. Querer ser mais e maior ou querer ser mais e melhor. Estas e outras opções criam lutas internas e desafiam nossas características pessoais e nossa forma de Ser e de Estar. Muitas vezes pensamos que este perfil só nos retira oportunidades e ganhos,  somos mais sentimentais que cerebrais, mais preocupados com o outro ou os outros do que connosco próprios, sem ambição de poder, nascidos para amar e ser amados, somos desvalorizados porque não pedimos nada nem exigimos, deixamos que se apercebam de nós pelo tanto que somos e continuamos a ser. No entanto, já percebi que há uma atração inexplicável por aquele género, fachada de uma herdade em ruínas. Eu Sou, Eu faço acontecer, Eu Tenho, Eu conheço ou conheço bem quem conhece, Eu posso, Eu, Eu e Eu e só Eu a garantir o que não está lá nem nunca estará. Um género tão comum que facilmente encontramos em qualquer contexto seja social, profissional, relacional, familiar, etc.
Perante a propagação rápida desse género de espécie ficamos com a sensação de que nós é que somos o animal em vias de extinção, a ave rara que ninguém sabe retirar aproveitamento. Sim, porque, hoje em dia o que representa maior importância é o teu grau de utilidade e o aproveitamento que podem retirar daí e tu, por sua vez, se não quiseres ficar para trás deves repetir esse mesmo comportamento com terceiros e ganhar vidas como no candy crash ou seguidores e gozar das suas vantagens.
Se calhar há egos, tão mas tão gigantescos, que não há espaço para os demais.
Tu, Eu Aliás Todos Nós exibimos um carimbo na testa. Descartáveis ou reutilizáveis. Tão atual que é esta temática da causa ambientalista que procura evitar desperdícios. Será que não estamos a desperdiçar o que temos de melhor e verdadeiro e a reutilizar pimpões a sacudir vaidade, sem educação nem princípios ,  que manipulam os outros a acreditar na sua utilidade só porque sabem como ninguém dar boas palmadinhas nas costas e sabem fazer uma boa triagem das pessoas certas para ajudá-los a trilhar o seu caminho. Sabem encostar-se, criar empatias e convencê-los a apostar neles, mesmo apresentando um histórico nada auspicioso.
O seu ego gigantesco não os faz desviar do que querem possuir sem merecer.
Seu crescimento foi baseado na facilidade e se obstáculos houvesse bastava fazer o truque do cachorrinho de olhar meigo sem dono, desprotegido e faminto.



segunda-feira, 21 de abril de 2014

Pepita e sua Maldição


Pepita Cardo riscou aquele soalho flutuante, tantas e tantas vezes, num corrupio incessante. Em silêncio se confessava e em silêncio se retirava novamente, para mais tarde voltar. Aqueles exíguos metros quadrados de espaço guardavam segredos, abafados por paredes duplas de gesso, cobertas de memórias, pensamentos, histórias de vida, retratos, recordações, vestígios de uma passagem prolongada. Aquele espaço era bem mais que uma cela era o seu refúgio sagrado com entrada restrita. Nele criava os seus disfarces, ensaiava o seu papel para aquela noite e preparava os diálogos com os quais pretendia enrolar suas vítimas, nunca agia da mesma forma para não perder eficácia. O mais importante era nunca perder o contole da situação e dominar para conquistar. O que mais a excitava era a sensação de poder que lhe dava mais do que convertê-los aos seus caprichos. O medo nos olhos das suas vítimas, levavam-na ao rubro e a uivar de satisfação. Os melhores eram aqueles que imploravam para que os poupasse da sua diversão com requintes de malvadez.
Estudava ao pormenor os seus peões, seus percursos de vida, seus princípios, suas personalidades, suas maneiras de estar, seus passos, seus vícios, seus pontos fracos e principalmente suas falhas de carácter. Quanto mais imperfeitos fossem maior seria a probabilidade de caírem na sua rede de perigosa sedução. Certamente, poucos iriam chorar suas ausências ou guardar boas memórias suas. Esses eram o seu alvo preferido.
Inicialmente, fingia ser ela a corsa perdida na floresta que aceita ser resgatada pelo macho experiente cheio de boas intenções. Raramente falhava. Eles, por sua vez, sentiam-se esperançosos, vulneráveis, ansiosos e confiantes de que estavam em vantagem, inconscientes do perigo em que poderiam incorrer.
Poucos a surpreendiam. Na verdade, era mais ela a surpreendê-los. Aliás esse era o grande objectivo.
Todas as noites repetia o mesmo ritual que a poderia levar a ser candidata de um óscar, caso se tratasse da cena de um filme, onde ela participasse como protagonista, tal era a dimensão da sua capacidade de iludir e convencê-los das suas personagens. A sua escola foi a Vida amarga que levou e da qual nunca recuperou. Alguém tem de pagar. Pagam aqueles que reproduzem a imagem dos fantasmas do seu passado e que para ela valem muito pouco enquanto pessoas.
Com o tempo, o seu distúrbio foi-se intensificando em vez de enfraquecer. As suas iniciativas não contribuem para a sua recuperação. Pelo contrário, fazem crescer ainda mais a raiva e a vontade de castigar aqueles que descendem em carácter e atitudes do causador da sua bipolaridade.
Desse já não reza a história. Tropeçou tantas vezes no seu caminho que acabou por morrer nesse mesmo trajecto. Desta vez tropeçou mas não se levantou mais. Morte ocasional. Assim se rematou o caso sem levantar suspeitas.
Desde esse dia Pepita Cardo insiste em querer matar a imagem do seu agressor vezes e vezes sem conta, que apesar de morto, continua bem vivo e amaldiçoando sua vida.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Felicidade Presumida

Colocam-nos no mundo, dão-nos uma Vida, apresentam-nos a realidade e lá vamos nós patinando até ,por fim, encontrarmos um equilíbrio que nos faz aproximar de certas pessoas, fixar-nos num determinado lugar, conquistarmos coisas, memórias, afectos, ligações e, tudo isso, vai ganhando raízes e assumindo um prolongamento de nós e que inevitavelmente hão-de condicionar a nossa felicidade. Eles são a nossa seiva, o que nos move e o que nos faz reencontrar com a realidade todos os dias com a mesma esperança. Sabemos que o pior permanece à espreita mas nunca esperamos ser alvo da sua expiação. Nós que somos gratos por quem temos e pelo que temos. Seria injusto demais sermos castigados de uma forma tão madrasta.
Uma Vida representa muito pouco tempo para alcançarmos a felicidade plena e, ironicamente, bastam alguns minutos ou até segundos para cairmos em desgraça e devastarem a nossa vida, até ali presumidamente feliz. 
Porquê? Mas Porquê?
Nunca saberemos verdadeiramente porque fomos os escolhidos para carregar tamanha dor. Uma dor excruciante e que custa a passar. Ela ajuda a não esquecer e a manter viva a presença dos que partiram e que tanta saudade deixaram. Nada nem ninguém nos pode consolar.
Ficou tanto por dizer. Aliás ficou o principal por dizer. Podia ter dado mais de mim, ter sido mais atenta, mais presente, mais paciente, mais compreensiva, mais companheira(o), mais, muito mais. Pensamentos como este agudizam mais a dor.
Nunca saberemos por quanto tempo durará a nossa felicidade e que mudanças nas nossas vidas teremos que empreender para repormos um novo equilíbrio. Garantidamente, perdemos muito tempo com o risível, com a insignificância e quando damos conta já não há mais possibilidade de repô-lo e ocupá-lo de uma forma mais profícua, a distribuir e receber felicidade.
Estar vivo é uma dádiva que não pode, ou melhor, não deve ser desperdiçada inutilmente. Cuidemos melhor dos nossos dias, das pessoas que amamos, de nós, do nosso espírito, da nossa vida.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Epidemia do Amor

Não sou profeta do bem nem discípulo do mal mas sei a quem quero bem e de quem apenas quero distância. Principalmente sei a quem quero bem e desses não perco memória porque a eles sempre retorno mesmo quando andamos às avessas. Há um magnetismo qualquer chamado de Amor que nos empurra para junto deles. Apesar de saber que não são perfeitos, aliás são irremediavelmente imperfeitos, nossa Vida é bem melhor quando os temos por perto. Se bem que seria ainda melhor se nos comunicássemos melhor e, por conseguinte, nos viéssemos a compreender melhor ainda uns aos outros.
Fomos respingados pelo seu Amor e enfeitiçados até à medula e arriscamo-nos a imitá-los um dia.
É pior que perfume impregnado na roupa e envolvido com o nosso próprio cheiro, gerando uma combinação única. Eles também definem a nossa identidade. Só a eles pedimos o mundo e exigimos o mundo.
Há o ADN e há o NDA (Nada Domina o Amor). Um é o nosso registo genético e o outro uma evidência.
Tantas vezes me apeteceu correr na direcção contrária e fugir de certas evidências, porque não me revejo ou não me quero rever mas há algo em nós que resiste e é castigante quando tu queres destoar.
Quero quem me quer bem porque gostar é isso mesmo, troca, partilha, reciprocidade, reconhecimento, realização. O Amor confere-nos uma certa imunidade relativamente ao que corrompe o bem e protege-nos do mal. Quanto mais nos conservarmos no Amor, maiores são as nossas defesas.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Pinchers sarnentos

Algo mudou, ou melhor, tudo mudou. Não sei se é bom ou mau. O que eu sei é que não tem sido fácil e só me apetece gritar, espernear, descarregar a pressão toda, desaparecer e voltar quando meu espírito acalmar. Certamente irei estar fora por um longo período.
Intolerante é assim que eu me sinto com tudo e com todos. Já não sei, nem quero lidar com a mediocridade, aturar manipuladores e egoístas, falsidades, invejas, manias de quem se julga importante, vaidade de gente oca, conversa fiada que vai matando o vazio, falta de personalidade e firmeza de caráter, curiosos devassos, inconvenientes, convencidos e exibicionistas. Onde páram os seres magnânimes, de espírito elevado, grande capacidade e sabedoria, seguros de si e que nunca entram em disputas inúteis e sabem valorizar-se e valorizar? Onde os posso encontrar? Quero aprender com eles e crescer até atingir a sua dimensão e qualidade de seres superiores e inatingíveis. 
Estou saturada de pinchers armados em rottweilers. 
Um rasteiro jamais deixará de ser rasteiro mesmo que se queira impôr como tal. Falta-lhe o principal, pedigree. Ou se tem ou não se tem.
A minha vontade era dar-lhes um chuto e amolgar-lhes o focinho mas então é que ia ter que aturar seus ganidos todo santo dia. Melhor não.
Preciso de silêncio mas do bom silêncio, daquele que não denuncia tensão nem expiação Como eu gostava de poder mergulhar nesse dito silêncio bom e boiar livremente e perder o contato com certas realidades desanimadoras e só vir à tona quando me bem apetecesse.
Porque é que não gozamos da mesma função do rádio, poder sintonizar-nos na estação e frequência que mais nos apraz? Tem dias que sinto estar em modo AM, agonia maldita e demoro a atingir modulação FM, Felicidade Mais.
Dias difíceis, dizem que representam a melhor aprendizagem para a Vida. Mas porque é que a aprendizagem através da facilidade não é tão eficaz? Porque é que tem de ser "hard way" e não "easy way"? Cá para mim a dificuldade pode trazer recalcamentos e nada ensinar.
Só sei que quero aprender com os melhores mas só me aparecem pinchers sarnentos.



segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Inquilinos Intrusos

Eles estão a chegar aí muito rapidamente e eu não tenho outro remédio senão aceitar a sua chegada com resignação. Os inquilinos anteriores agiram da mesma forma. Instalaram-se sem sequer aguardarem as minhas boas vindas e passado um ano, deram lugar a outros. Eu nem me sentia preparada para os receber, assim tão de repente e aceitar que algo mudou ou que algo estaria prestes a mudar. Na verdade, já tinha vindo a notar que os cremes de rosto têm perdido eficácia e a fotogenia havia-me abandonado quando mais precisava dela, mas mesmo assim podiam ter sido mais discretos na abordagem.  Ainda para mais não dá para aplicar o truque das velas, invertendo posições. Se o fizesse teria que retirar a placa dos dentes para bufar as velas. Não me deram alternativa. Trinta e oito. Trinta mais oito. Será que não dá para lançar esses oito numa fase posterior, quando não fizer diferença nenhuma no saldo final. Sei lá, quando atingir os 90 e não der mais para recarregar as pilhas, então aí sim, faria sentido repor esses tais oito desavindos.
Já diz a Vanessa da Mata "... É demais, é pesado....".
A nossa idade podia regular pela medida dos protetores solares. No caso, bastaria preencher na idade 30+. Corresponderia a um moreno pouco intenso. Afinal, vamos perdendo a intensidade de cor e a elasticidade também.
A idade a mais não traz evolução, traz sim confusão mental. Para quê converter em números a nossa idade e baralhar ainda mais o nosso sistema. Prefiro encarar que ganhei 38 créditos para aplicar na minha Vida, no meu crescimento. Temos que encarar a nossa idade como uma benesse por que nos possibilita dar continuidade à nossa Vida e enriquecê-la ainda mais e ainda por cima lucrar com uma fatia de brigadeiro de chocolate húmido e macio e os parabéns por apenas existir. Mil calorias depois e um ano mais velha, continuo a sentir que há muito mais para além de um número par composto por dois algarismos também pares, há Vida, há oportunidade, há tudo aquilo que ainda está para ser e fazer.
Se eles perguntarem por mim, os tais inquilinos de que vos falei, peçam para virem mais tarde que eu ainda estou a fazer o funeral dos 37 :)


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A Guerreira

Nunca desistas de Mim, porque eu Nunca desistirei de Ti. Quando os meus joelhos fraquejarem, a força física sucumbir e a resistência quebrar, conto contigo para me fazeres esquecer o quanto dói. Só tu podes fazê-lo. Só tu sabes fazê-lo. Sabe bem entregar-me nos teus braços e deixar que tu assumas o papel que habitualmente era meu e passares tu a liderar. Ser forte o tempo todo desviou-me daquilo que me faz bem, porque obriguei-me a resistir às sensações boas e más. À medida que elas iam chegando eu ia matando-as a todas sem critério. Não havia tempo para seleccionar. Na minha cabeça soava constantemente É Obrigatório Agir. Neste momento, não quero, não posso, não tenho mais energias para controlar tudo. Vou deixar-me cair às cegas esperando que os teus braços estendidos estejam lá para me amparar na queda. Desta vez sou eu a precisar de Ti. Mesmo de olhos fechados continuo a ouvir-te e a apreciar tua presença. Animas os meus dias. Apesar de eu não poder interagir tanto, nada mudou. Nem quero que mude. Se assim fosse sentiria que algo se perdeu.
Se eu não der pela tua presença, interrompe o meu sono, quero estar desperta para te ver. Não sou dada a sonos profundos. Deixam-me os olhos inchados e diminuem-me a visão.
Nunca pensei vir a desejar ingressar na rotina e rodar a mesma bobine vezes e vezes sem conta. É bom fazer parte do filme em rodagem.
Obrigaram-me a acalmar, eu bem não queria mas se calhar estava a precisar de abrandar. Por isso, para não perder o andamento da carruagem vai-me mantendo informada. Entretanto vou fazendo a lista do que ainda me falta fazer e que dará ainda maior importância à Minha Vida, já que as listas do supermercado ficaram a teu cargo, assim sempre fico com mais tempo livre para outras listas.
Tudo está bem desde que não prolonguemos tristezas e projectemos maus cenários. Que Melhor cenário poderia haver eu e tu, juntos no mesmo espaço, partilhando episódios da nossa Vida e  programando outros ainda mais animados. Não quero pensar no Amanhã. Na minha idade deixou de ser divertido pensar no Amanhã. O Hoje é o que eu tenho de mais garantido e é a ele que me vou agarrar corajosamente e prometo não dar tréguas.
Ainda estás aí?




 



Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...