terça-feira, 29 de março de 2016

Reféns do style

Personalidades com excesso de vaidade. Causa de muitos litígios, relações cortadas, convivência espaçada, afastamento. Sobrevalorizam-se em relação aos demais, acham que têm de ser servidos e não equacionam trabalhar ou cumprir ordens de outros. Querem ter permanentemente um papel com preponderância. Nunca trabalharam por conta de outros e até evitam-no. Não tendo experiência anterior, não gostam de receber ordens e quando as recebem  sentem-se ofendidos e com o ego ferido. Acham que nasceram para comandar e os outros para executar. Querem ter seguidores e acreditam que reúnem as características de um líder como se fosse algo inato, que não merecesse aprendizagem,    adquirir experiência, buscar conhecimento, perceber como é ser comandado e receber ordens hierárquicas, ter vivido do lado de lá, de quem é regido e se deixa reger, envolver-se, promover sinergias, reconhecer valor, dar o exemplo, abraçar o trabalho com um sentido de missão e não com o sentido de fazer só o que se gosta e encarar os outros como tarefeiros, sair da zona de conforto, marcar a diferença mais com atitudes do que com palavras.
Geralmente são personalidades que subestimam o outro e acham que nada têm a aprender com ele. Iludem-se com cenários, com a possibilidade de um dia virem a ser líderes porque acham que se enquadram no perfil e, convenhamos dá style.
São os tais  que pisam a nuvem e do alto da nuvem a vista lá em baixo é turva e distante e causa muitos vertigens. São os tais com excesso de si e não confundamos com confiança, pois essa requer trabalho, tempo, resistência, auto controlo. São os tais que se acham tão especiais e não percebem porque mais ninguém vê isso e então preferem encarar que é inveja, ciúme, intolerância, autismo e se calhar ingratidão.
Os outros são os descompensados, os mal resolvidos, os amuados, os mal amados, os negativistas, que não compreendem a sua grandiosidade. Riem-se deles como se fossem um género de seres em extinção ou espécies raras, com escárnio e altivez. É a vaidade mais uma vez a consumi-los e a enchê-los de crença de que Tudo podem. 
Há tanta possibilidade no Nada e, na mesma dosagem, do vazio que há no Tudo. Nada é garantido é a Melhor premissa para encetar nossas conquistas.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Amar ao som do Assobio

Existe uma correlação entre Amar e Assobiar. Nem todos sabem Amar assim como nem todos sabem assobiar. Bem tentam mas, ambos requerem treino. Amar não é para Todos. Só para alguns e por isso tanta carga tem o Amor. Uns são afinados e melodiosos, outros são desafinados e ruidosos. No Amor também há os afinados e harmoniosos e os desafinados e ruidosos. Há disponibilidade para os receber em nossos lábios, quer o Amor quer o assobio, mas isso não nos prepara para os prolongar e fazê-los resistir e continuar a provocar arrepios.
Parece simples até porque sai da boca de qualquer um. Um em modo verbal outro em forma de entoação melodiosa. Fala-se muito de Amor como se de um assobio se tratasse, refrescante e um bom estimulante ou condutor de felicidade, que ajuda a aliviar tensões.
Amar bem acalma e equilibra, assobiar bem também ajuda a acalmar e equilibrar em momentos de desequilíbrio. Ambos causam reações e boas quando bem articulados.
Para aqueles que vão celebrar o Amor sugiro que abram a cerimónia com uma sessão de assobios entoando a música das suas vidas.
Bons assobios ;)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Om Mani Padme Hum

Meditar não é para amadores, isso vos asseguro. Eu bem tentei. Estendi no chão um tapete, parente próximo do colchão, confortável e com bons amortecedores, caso viesse a levitar, evitando assim os efeitos da queda e um brusco despertar. Vesti roupa leve, sem botőes, sem elásticos, sem fechos, sem acessórios incómodos, sem apertos. Descalçei-me. Queimei incenso e ao som de música zen ocupei o meu lugar e já sentada endireitei a corcunda, ergui o queixo sem pedâncias, fechei os olhos e confiei que iria esvaziar a mente e ganhar a paz.
Nem mantra faltou. Om Mani Padme Hum (Da lama nasce a flor de lótus). Repeti-o tantas vezes que até ganhei dormência nos lábios e um eco na cabeça para a vida inteira. Entoa até agora na minha cabeça sobrevivente.
Controlei a respiração mas não consegui controlar a mente nem a ansiedade de ser bem sucedida na prática da meditação. Até com mosquito lutei. Mas o pior foi o vai e vem de pensamentos invasores que boicotaram todo o processo de meditação. Ainda para mais pensamentos inúteis, mais inúteis que pé esquerdo em carro automático. Arrasou comigo. Gastei o incenso todo, esgotei minha paciência e ganhei fome. Quem consegue meditar com fome? Nem monge tibetano altamente disciplinado aguenta. Fui comer e aí relaxei e pelo menos fiquei em paz com meu estômago.
Dizem que a meditação baixa os niveis de ansiedade mas no meu caso revelou-se o contrário. Não sei o que foi mais  difícil, se treinar a concentração ou manter a postura erecta e sofrer calada.
Ainda bem que me lembrei a tempo de prender o cão senão ainda me urinava em cima e arriscaria perder um lar só pela sua ousadia. Não cronometei o tempo gasto na meditação mas uma coisa é certa, envelheci e nada de beneficios espirituais.
Enquanto digo isto, duas sandes de presunto sucumbem à minha voracidade.
O resultado da Meditação foram uns kilos a mais e sessões de acunpuctura para curar rigidez muscular.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Perspectiva da Vida

Acabaram-se as histórias encantadas com finais felizes. Já nem imaginário criativo temos para criar ou sequer imaginar contextos encantatórios. A realidade consome todo o nosso tempo. Para além disso estamos enfiados em nós mesmos e nas nossas próprias dores o que torna ainda mais difícil descolarmo-nos e sonharmos mais e duradouramente.
Voamos cada vez menos e, certamente, por isso também esboçamos menos sorrisos e contribuímos menos para a nossa própria felicidade.
Os nossos monitores de trabalho limitam a nossa capacidade de enxergar mais longe e quando levantamos os olhos para ver o que se passa à nossa volta já nosso olhar está enfraquecido e sem capacidade de uma visão mais ampla.
Os trajetos são sempre os mesmos quer na ida quer no regresso, o encadeamento de tarefas também não sofre alteração, o ritmo sempre acelerado, os colegas hão de ser sempre os mesmos, até os aborrecimentos são sempre os mesmos e a saturação cresce com a repetição incessante.
Tudo nos passa ao lado, deixamos de nos comover, somos cada vez mais individualistas, descrentes, irresponsáveis pelo outro, mesquinhos, invejosos, caprichosos, soldadinhos de chumbo com pose de altas patentes.
Já nem sabemos o que são convicções próprias. Perdemos a noção de nós mesmos e cultivamos vazios que redundam em relações debéis ou inconsistentes.
Rico e Feliz é aquele que consegue sair da masmorra, saltar vedações, correr como o Tom Sawyer ou o Forrest Gump e retirar peso à Vida.
Run Forrest Run.
Nós corremos efetivamente mas não corremos por Ter Vida mas em função da Vida.
Suportamos o insuportável porque tem de ser, ou melhor, porque preferimos assim a ter que encetar uma mudança da qual não há garantias, só expectativas.
Exigimos demasiado uns dos outros, como se eles fossem a causa de todos os problemas.
Confiamos desconfiando.
Amamos sem tempo.
Carregados de energia artificial e desprovidos de interesse.
Sofremos de Inconformismo resignado.
Fazemos fretes naquilo que nos poderia tornar útéis e melhores.
Não vale a pena e ficamos por aí.
Tudo Eu Tudo Eu.
Queixamo-nos de barriga cheia.
Remoemos para dentro ou baixinho.
Conspiramos a toda a hora.
Apostamos em probabilidades remotas.
Queremos ficar por cima e entoar nosso triunfo
Invocamos o divino para disfarçar nossa bondade.
Achamos sempre que merecemos mais mesmo não o merecendo.
Cada um por Si
Alimentamos o superficial.
E no entretanto, deixamos de ler aquele livro, apreciar aquela paisagem, amar quem nos ama, fazer descobertas, aprofundar conhecimento, criar novas amizades, conviver com o mundo espiritual, progredir, cuidar, respeitar, engrandecer.


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Boa Mudança

Hoje é dia de mudança. Boa mudança. Chega de dar ouvidos a pessoas que não nos entendem nem nunca irão entender porque sua visão da vida está assente em estacas fixas e inserida em perímetros limitados por uma consciência pouco livre.
Mudar, essencialmente, porque é dessas mentalidades, que nos castigaram tanto no passado, que queremos fugir e que continuam a achar-se exemplos de pessoas bem socialmente.
Ainda bem que há várias pessoas tipo e não um tipo de pessoas. A julgar pelo discurso de alguns muitos de nós nos devemos sentir uns ET'S, perdidos numa tribo que não é a nossa.
Principalmente, não devemos ser aquilo que esperam de nós, por ser o que fica bem ou aquilo que eles acham que melhor nos defende.
Hoje e mais do que nunca é preciso ter audácia para sermos do jeito que somos.
Inacreditável é ter que privar com pessoas que nunca fizeram um exercício interior sobre si mesmas e venham apontar e ditar de que jeito deveremos ser e arrogantemente sugerir o que é melhor para os outros e para a sua convivência interior e exterior.
Devo ter crescido numa dimensão diferente e por isso, por vezes, também me ache diferente não que isso implique boa diferença mas pelo menos sei que sou eu mesma sem pós de arroz.
Falo de pessoas que acham que sabem tudo, falam sobre tudo e opinam sobre tudo quando nem sensibilidade têm para enxergar o óbvio.
Querem apenas mostrar-se e exibir aquilo que não têm em si.
Chegam aos locais e querem dominar, quando o mais importante é fazer a diferença e a diferença só se faz com determinado tipo de sensibilidade, privilégio só de alguns. 


segunda-feira, 13 de julho de 2015

Desilusão

Tudo o que foi será produção da minha memória e as sensações que daí advierem são manifestações da minha vontade de regressar ao passado tal qual um naufrágo agarrado ao salva vidas. Tudo mudou e eu também tive de mudar para me adaptar. Não houve sequer tempo para me recompôr e avaliar com clareza o estado das coisas. No fundo eu já suspeitava que o que é bom um dia iria acabar mas , nunca me preparei para isso e aqui estou eu aos pedaços.
Foi castigo ou aprendizagem ou Ambas? Desilusão, muita Desilusão foi concerteza.
Certamente eu é que não quis ver o óbvio e iludi-me porque precisava acreditar.
Agora, não há perspetivas nem garantias de nada. A dor impôs-se e sabe-se lá quando vai abalar. Logo a seguir virá a revolta e dúvida muita dúvida sobre qual o caminho certo.
Solidão, vazio e descrença são as minhas companhias do momento.
Mas tudo passa. Tem de passar apesar de não melhorar.
O sentimento não será o mesmo, a entrega não será a mesma, a conduta não será a mesma, apesar de tudo permanecer igual. Silêncios, muitos silêncios e vontade de isolar-me do mundo.
Afinal não conquistei nada. Alimentei apenas a ilusão de que comigo poderia ser diferente.
Meu coração está pisado e meu cérebro não consegue processar direito todos os pensamentos que vão chegando.
Os sonhos acabaram e os planos para o futuro também. Não há mais condições para tais empreendimentos. Tudo o que existia deixou de fazer sentido. Perdeu a intensidade e caiu na banalidade. Deixou de ser algo do qual me orgulhava.
Não quero consolo, não quero ouvir experiências de vida dos outros, não quero conselhos, não quero moralismos, não quero advogados de defesa, rejeito tudo. Já nada me serve.
Não me apetece assumir nada.
Não prometo nada.
Pensei ter construído algo sólido e cúmplice mas tudo não passou de um logro.
Acreditei que há valores que se sobrepõem a caprichozinhos pessoais e que todos devemos saber honrar as escolhas que fazemos mas afinal não é bem assim. Há quem prevarique e venha a desvalorizar uma história, pessoas envolvidas e os sentimentos.
É assim a Vida ora doce ora amarga.




sexta-feira, 19 de junho de 2015

Definitivamente Tu

Nasci acompanhada e bem acompanhada. Até hoje. Quando meus olhos perderam a sensibilidade à luz e se abriram, deram contigo e o susto foi enorme. Quem é este ser enrugadinho, babando, cabeludo e sem noção? Apresentaste-te desastrosamente, com um monumental berreiro e eu percebi ,que o caso ia ser sério. Tão sério que, provocaste em mim a mesma vontade e em solidariedade berramos juntas a plenos pulmões. Diante de nós um ser abalado, em apuros.
Crescemos juntas e de mãos dadas permanecemos até nos tornarmos independentes. Tu seguiste um caminho e eu outro, soltamos as mãos mas o apêgo continuou com a mesma intensidade. Continuo a precisar de Ti e tu de Mim.
Já rimos desalmadamente juntas, já choramos juntas, já brigamos, fizemos as pazes, rimos, perdoamos, abraçamo-nos, discordamos, reatamos e voltamos a conquistar-nos sem ressentimentos, sem remexidas, sem feridas abertas. Não há Amor igual.
Sou a força que tu dizes carecer e tu a força que eu reclamo não ter. Sou forte por ti e tu forte por Mim. Acredito mais em ti do que tu em tu mesma, porque conheço bem todo o teu potencial e não me canso de te esparramar essa verdade, tal qual uma tarte merengada que esborracham na nossa cara, só que tu apenas te ocupas do merengue, olvidando o principal.
Quer tu queiras quer não, vou continuar a atirar-te tartes dessas até tu te enxergares e reagires em prol de ti mesma. Caso não saibas mas suspeito que saibas, uma das passas (não são essas, são as primas murchas delas) reservo-a para desejar que sejas e principalmente que saibas Ser Feliz. Nasci a pensar em mais alguém porque sempre exististe tu e cedo também aprendi que não há exclusivos.
Connosco não há cá Amor à primeira vista. Sem opção, fomos convivendo e o Amor cresceu e a continuidade tem ajudado a amadurecê-lo De início de costas voltadas mas olhando por cima do ombro até que a curiosidade levou a melhor e o frente a frente foi inevitável, evoluindo para o lado a lado na placenta, no berço, nos bancos de escola, no recreio, nas visitas escolares, no quarto comum, na mesa das refeições e na Vida.
Cumplicidade é o nosso míddle name. Não confundir com dois em um nem com vidência.
Graças a Deus não temos os mesmos gostos nem fazemos as mesmas opções.
Não te dou o direito de te sentires só nem teres memória curta, porque eu estou aqui. Sou mais disponível que central eletrónica de uma Multinacional de serviços. Para desabafar marque 1, para reclamar marque 2, para boa companhia marque 3, para Te animar marque 4, para uma boa conversa marque 5, para chorar no ombro marque 6, para o que der e vier marque 0 ou assistência personalizada.
Definitivamente Tu ensinaste-me a Amar.







terça-feira, 5 de maio de 2015

It takes guts to be happy

É ousado ser Feliz. Requer coragem e boas doses de loucura. As pessoas felizes não prestam atenção aquilo que a grande maioria de nós presta. Vivem numa dimensão diferente que as remete para um estado de ausência, muitas vezes confundido, por alguns, como demência. Pessoas felizes ao contrário do que se possa pensar também entristecem, também se enervam, também se desiludem, mas com a grande diferença de nunca encararem esses acontecimentos que provocam más sensações, como os mais marcantes nem acreditam merecê-los para o resto da Vida. Suas ações promovem a Felicidade porque acreditam ser essa a sua Missão de Vida. 
Pessoas Felizes, onde as podemos encontrar? Em todo o lado e em lado nenhum.
Em todo o lado, em ocasiões diversas e na sua essência e, em lado nenhum, porque não se trata de uma felicidade consolidada. Naturalmente que, há momentos em que somos verdadeiramente felizes mas trata-se de uma felicidade com enquadramentos favoráveis e não de uma Felicidade conquistada pelo nosso espírito.
O que muitas vezes compromete a Nossa Felicidade é o peso que atribuímos aos acontecimentos que vão sucedendo na nossa Vida e o peso que damos à opinião dos outros. Há até aqueles que se agarram de tal maneira a superstições, gerando comportamentos obsessivos compulsivo. Do género, se não bochechar durante dez segundos o elixir na boca, algo de ruim vai acontecer. São masoquistas ao ponto de achar que a sua Felicidade depende destes rituais ou rotinas pessoais.
A desinfeção da boca com elixir só mata cáries e não todas.
Não há bênçãos, não há rezas, não há súplicas, não há sacrifícios, não há penitências que assegurem a sustentabilidade da Felicidade.
O Poder está em Nós, na forma como encaramos a Vida, como abordamos as situações, como comunicamos connosco e com os outros. Principalmente, como comunicamos connosco. Contaminamos o nosso cérebro com reações, expressões, manifestações, porquês, às quais procuramos atribuir razões que consomem o nosso bem estar, indutor da Felicidade.
Para quê encontrar razões? Todos reagem, todos se expressam e todos se manifestam, faz parte do Ser Humano e fazem-no muitas vezes inconscientemente, porque não conseguem dissociar-se do seu legado emocional e educacional. É a sua verdade, a sua perspectiva, a sua razão.
Lá por destoarem da nossa razão, não temos que concordar ou discordar, apenas aceitar que haja outras maneiras de compreensão. São manifestações individuais que revelam muito de nós.
Não precisamos que concordem connosco. Esta não é uma área na qual devamos intervir porque não traz Felicidade. A Felicidade está em nós e na consciência de nós mesmos, da perceção que temos de nós mesmos. Tu é que convences os outros a gostar de ti e não são os outros que te convencem a gostares de ti.




sábado, 4 de abril de 2015

AMANHÃ INCERTO

Viva Mais, Viva Melhor.
Mas Porquê, Viver Menos é Viver Pior?
Não será que a Vida nos prova o contrário?
Ultimamente o que tenho assistido é que Viver mais só tem trazido acumulação de problemas, menos saúde, menos dinheiro, menos segurança, menos amor, menos conforto, menos disponibilidade, mais encargos, menos esperança e mais solidão.
Na verdade, deveríamos chegar a uma certa idade e ser poupados a certos cenários e receber o mesmo tratamento que os anciãos recebem no Japão e na China. Nestes dois países a velhice é sinónimo de sabedoria e respeito. Acreditam que chegados a esta fase atingiram um patamar de desenvolvimento tal que bem merecem ser venerados pela sua experiência, sabedoria, espírito de sacrifício e solicitude.
Na nossa cultura, reagimos diferente, maltratamos aqueles  que vivem por mais tempo e fazemos com que se sintam os despojos do século passado.
Para quê Viver Mais se as garantias de Viver Melhor não passam de pregões publicitários que tentam mascarar a realidade.
Há quem lhes chame Séniores com promessas de maior dignidade, melhor qualidade de Vida, maior bem estar, mais tranquilidade, menos preocupações, maior desafogo e no final, tratam-nos como velhos imbecis.
Não estamos a Viver Melhor, nem de longe nem de perto e o pior disto tudo é que estamos a viver por mais tempo. Poucos são aqueles que se querem aventurar a ter filhos, para evitar cair nesta incapacidade social de viver melhor. Não há condições para Viver, quanto mais Viver Melhor Ainda.
Velhos, Tristes, Deprimidos e Falidos assim somos nós.
Distante vai aquele tempo do orgulho de ser português.
Depois ainda nos pedem para reagir e encarar com leveza tudo isto como se não fosse peso a mais nas nossas Vidas.
Agora entendo porque muitos deles vivem colados ao passado e com vontade de lá regressar, alguns deles regressariam até ao período austero do salazarismo e do orgulhosamente sós.
Comissões de inquérito atrás de comissões de inquérito vamos dando oportunidade de justificarem o injustificável e escaparem de pesadas sentenças, permanecendo exilados nos seus palacetes à prova do ruído de revolta social instalado.
Viva enquanto o deixarem assim é o slogan do sentimento de ser português.  

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Sancho, o reconciliador

A separá-los, existia uma mesa, com dois metros de comprimento e, no centro, um candelabro que mais parecia um poste de iluminação caseiro, concebido ao jeito de Joana Vasconcelos, grande e majestoso. Cada um ocupava a sua extremidade e parecia ignorar o óbvio. O silêncio era avassaladoramente incómodo mas, mesmo assim, preferiam-no a dispender energias em vão. Aquele lugar, outrora iluminado e leve, tornara -se sombrio e pesado.
Vieram a adotar as mesmas atitudes que lamentavam nos outros. Perderam a intensidade. Perderam a vontade. Perderam a consideração. Perderam a admiração. Perdeu-se a fantasia. Na verdade, foram perdendo tudo aquilo que sustentava a sua união. Ambos sentiam que precisavam recuperar aquele passado bom e prazeiroso mas esgotaram suas forças na luta pelas suas próprias razões e mágoas e já não conseguiam abrir mão dessa determinação obstinada.
O Sancho, era o único a interromper esse silêncio e a promover alguma interação entre o casal. Sua chegada espalhafatosa ajudava a sacudir aquela nuvem negra que pairava no ar.
 Seu pêlo sedoso, seu olhar meigo, doce e suplicante, não os deixava indiferentes e, rendidos desviavam-se da sua indiferença, por instantes, para lhe dar atenção. Porém, essa manifestação emocional durava muito pouco e o regresso ao isolamento impunha-se novamente. Sancho era o principal responsável e provocador da erupção de sentimentos que emergia das suas almas desencontradas. Sem saber, as suas saídas com o dono para aliviar bexiga e tripa coincidiam com as saídas do cão sorna da vizinha jeitosa do prédio em frente, que inevitávelmente produziam efeitos colaterais na dona do Sancho que via aquilo como um pretexto para se reencontrarem e flirtarem, mesmo debaixo do seu nariz adunco. Ciúme e sentimento de posse esquentavam o ambiente, sempre que Sancho e Ezequiel regressavam do passeio. Nem havia tempo para raspar a sola dos sapatos no tapete da entrada e já Helena subia o tom para reclamar do passeio prolongado. Apesar das suas reações serem provocadas pelo chamado monstro dos olhos verdes (ciúme), negava sempre  e tentava, em vão, convencê-lo de que o motivo da sua súbita irritabilidade revelava apenas preocupação com o Sancho. Ezequiel bem tentava explicar-se mas quanto mais o fazia, mais ela encarava como desculpas para se aproximar da loira de cabelo pranchado e peito siliconado. Que pena o Sancho não poder falar, pensava ela.
Arrependia-se, mais tarde, do folclore explosivo de reações geradoras de discussão, pois sabia bem que Ezequiel só tinha olhos para ela, mesmo nesta ocasião em que estão de costas voltadas. Parecia indiferente mas não passava de disfarce.
Na cama fria que descobriam todas as noites existia um fosso a dividi-los e, cada até amanhã dado  antes de adormecerem, arrastava-os para uma despedida sem retorno.
Sancho estranhava seus comportamentos orgulhosos e enroscava-se no meio dos dois para recuperar hábitos antigos em tempo de união. Lá ia lucrando com festinhas e pedaços generosos de bolo caseiro. Sem querer Ezequiel e Helena retomavam o diálogo, com tendência para evoluir favoravelmente para uma reaproximação e noites mais quentinhas.
Até a morte, por preguiça crónica, do cão sorna, da vizinha matadora, de look arrojado, ajudou a  apaziguar os ciúmes.
A mesa de dois metros de comprimento deu lugar a uma mesa sem extremidades e o único motivo de adorno são as suas mãos entrelaçadas.

sábado, 15 de novembro de 2014

Descontentamento Descontente

Tenho tudo e não tenho nada. Sei de tudo e não sei de nada. Ter tudo e saber tudo ou nada saber e nada ter? Qual destas combinações traz felicidade? Será que a Felicidade é a ausência do saber e do ter ou a totalidade da posse e do Saber?
Ter tudo e saber tudo, não passa de uma crença nossa, que não retrata a realidade. No entanto, não vivemos na completa ignorância nem com ausência de tudo. O que nós sabemos e temos é que pode significar tudo para nós. O nada ter e nada saber não combina connosco. Poderemos ter essa sensação, talvez por ser tão fundamental ter e saber e, por esse especial motivo, cresce em nós o descontentamento de ainda nos parecer insuficiente e esse pouco, parecer nada.
Certamente serão mais leves as ausências sem carências do que os excessos com o total conhecimento de tudo.
Felizes os pobres ignorantes ou felizes os ricos sabichões?
Ter e Saber são dois poderes demasiado pesados e comandar as influências que ambos geram, determina a qualidade do nosso caráter. Os que julgam nada ter e nada saber, não se comprometem nem se deixam corromper por esse duplo poder. Quem comanda, assume o que tem e assume o que sabe e conquista a posição que quiser. Porém o preço a pagar é maior e sem margem de negociação.
Os que dizem viver na ignorância preferem questionar e certezas, são cometas distantes que só provocam interesse sem obsessão. São movidos pela curiosidade e o que têm, jamais chegam a possuir. Enriquecem partilhando.
Afinal não somos donos de nada nem do nosso cão, que a qualquer momento também pode abalar e nos abandonar. Não temos domínio sobre nada nem ninguém e se o temos, é mera ilusão. O que nos é dado também pode vir a ser-nos retirado.
Bem se diz, nunca queiras possuir o que tanto gostas pois corres o risco de vir a depreciá-lo.
Uns colocam barreiras no saber, outros colocam barreiras no ter. Eis a diferença. Liberdade para aprender e contenção na posse do que corrompe. Onde escolhemos colocar essas barreiras, assume importância no sentido que queremos atribuír à nossa Vida. Nem sempre fazemos escolhas que traduzem maior felicidade. Nem sempre essas escolhas traduzem o que queremos. Nem sempre o que queremos é condutor de maior felicidade. Nem todas as escolhas recaem apenas sobre nós.
Muitos de nós só saberão o que é ser feliz quando provarem a infelicidade.
Agarrarmo-nos sempre ao momento seguinte, à ilusão do que pode vir a ser melhor, num descontentamento descontente de quem não sabe o que quer.







Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...