quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Antipatia Contagiante

Estes dias e após mais um episódio de atendimento inadequado, cada vez mais comum e recorrente, ocorreu-me este pensamento avulso: - A simpatia é ambígua, enquanto que, a antipatia é direta e eficaz, sem margem para ambiguidades. Letal como uma arma branca, que até podia ter tido outro uso, não fosse a intenção do seu portador(a), pérfida e insidiosa, assumir as rédeas da intenção.
A memória de um mau atendimento, de um tratamento ruim, fica gravada instantaneamente na nossa mente e instala-se, tal qual, uma ameba e, cria em nós, o seu habitat ideal. Nalguns casos, pode provocar contágio e usar-nos como um veículo de transmissão, depois de sucessivas desconsiderações abusivas.
Nunca sabemos quando seremos um alvo e quais as motivações que precipitaram essa intenção declarada de maltratar. Colocaram-nos ali, num tempo e espaço, que parece não combinar com a vontade do nosso atendente. Uma condenação injusta e que obriga a posicionarmo-nos, para não questionar o inquestionável.
O que é mais irritante, nisto tudo, é que estamos à mercê das suas intenções, sobretudo, quando precisamos de obter informações úteis, auxílio, segurança, conforto social.
Blindagem emocional e correção de posturas, com recurso a meios adequados e eficazes, como por exemplo, demonstrações de ironia, envernizadas de amabilidade intimidante e bons modos. Desconcertar para anular os efeitos de uma antipatia intencional e altamente contagiosa.
Se bem que, a vontade de reagir descontroladamente é gigante e parece combinar na perfeição com a frase e carga tripeira "bai-te *****"

segunda-feira, 28 de julho de 2025

CAOS VIRAL

Cada vez que consulto as redes sociais, meu estado de ansiedade dispara.
Não sei o que vou encontrar, nem o que o algoritmo preparou para mim.
Circulam imagens difusas, que alternam entre crianças desnutridas, desamparadas, orfãos entregues a si próprios e férias luxuosas em destinos paradisíacos 
Esta alternância entre o caos e o ilusório modifica-nos e, sem nos apercebermos, torna-nos dependentes de artificialidades, com tendência a normalizar estes dois mundos tão antagónicos e diametralmente opostos. 
A realidade atual coloca em destaque, crianças indefesas, desprotegidas, subjugadas às leis e vontades dos adultos, sem perspectiva de futuro, a quem a infância foi arrancada, entregues à maldade humana, amaldiçoadas, votadas ao abandono, sem cuidados, enfermas, escravizadas e impedidas de viver em paz e explorar a sua felicidade livremente.
O pior disto tudo é que não se trata de um pesadelo ou de uma encenação brutalmente dramática.
Esta é a realidade em que vivemos!
Mais valia sermos engolidos por um tsunami e nascermos de novo.
Se eu e, muitos como eu, não aguentam ver as imagens que circulam, de cenários de guerra, morte, desespero humano e buscam limpá-las com purpurina e trivialidades, o que será, viver nessa carnificina.
Pelos vistos, o Hitler e seus desígnios não morreram.
O propósito é o mesmo. Limpeza étnica e conquista territorial, sacrificando nações inteiras, populações inocentes, vingando um poder insaciável e indomável.
A única coisa que mudou desde o holocausto foram os meios de divulgação dessas imagens e sua reprodução no universo digital, com milhões de visualizações, partilhas, likes e comentários. Imagens virais que circulam descontroladamente, nem parecem reais, de tão bárbaras que são, diante de uma assistência apática, ociosa e impotente.
O que se segue depois disto?
O pior e o melhor convivem no mesmo espaço e ganham a dimensão que lhes quisermos dar.
Parece que não há mais salvação para este mundo e, o melhor mesmo, é nascermos de novo e criar alertas automáticos para corrigir desvios de humanidade. 

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Verão Propagandista

 Em pleno verão, sinto saudades do inverno, do frio, do agasalho de conforto, do ar gélido no rosto, dos lanches caseiros e demorados, no final de semana, do cinema, da chuva, que nos escusa de compromissos, não obrigatórios e que exigem posturas adequadas, sem revelações inesperadas, moderadas e abafadas. Nessas ocasiões, demito-me, mesmo antes de qualquer convocatória. 
Quem me conhece bem sabe que não vou comparecer nesses contextos comuns e repetitivos. O avançar da idade tornou-me intolerante e intransigente com programas, nada nutritivos, demorados, mentalmente indigestos, demasiado comuns e nada atrativos. 
No verão, não há escapatórias, retiradas airosas. Não há recusas, imprevistos de última hora ou desculpas criativas. Os convites à queima-roupa, apanham-nos desprevenidos e intimam-nos a aceitar, sem reservas. Por mais elásticas que sejam as nossas férias, em ambientes controlados e reservados, longe de aglomerados e programas organizados, elas não são vitalícias. 
Apesar da nossa discrição, chegada silenciosa, não anunciada, não há como escapar a equipas treinadas, no terreno, undercover, aparentemente inofensivas e distraídas. No dia seguinte, soam os alarmes e, lá estás tu, no epicentro de um quotidiano pulsante e delirante. O verão retira-te o sono, ativa a tua impaciência, condiciona as tuas escolhas, expõe as tuas imperfeições, desmoraliza-te diante do espelho, rodeia-te de incómodos e artifícios atordoantes. 
Até parece que tenho repulsa ao verão, mas não. Adoro dias longos, banhos de mar, pele bronzeada, ombros nus, refeições leves, pés descalços, noites longas e ligeiramente animadas.
Só não gosto da pressão entusiasta do verão e dos seus aduladores.

terça-feira, 29 de abril de 2025

Ontem foi dia de apagão

Ontem foi dia de apagão.

O impensável aconteceu e, felizmente, durou menos de um dia.

Um aviso, uma avaria, uma manobra de diversão, uma Putin(ice), um ataque informático, um erro humano, uma traquinice do recém falecido Papa Francisco, o fim do mundo, uma encomenda da Al-Qaeda, a malícia e frieza de um génio informático, a querer dar nas vistas ou um fenómeno, ao estilo dos extra terrestres?

Algo foi e o que quer que tenha sido, provocou um susto épico em muitos de nós.

Tal como os negacionistas, há sempre quem relativize tudo, não se deixe abalar e até ache parvo temer o pior.

Custa-lhes admitir que pensaram, ainda que, fugazmente, na possibilidade de ter sido algo programado para nos atingir.

Assumam que também vêm Netflix.

terça-feira, 15 de abril de 2025

Professora Olga Beatriz

Acabei de descobrir que sofro de claustrofobia. Na verdade, descobri há, aproximadamente, duas horas, assim que me enfiei numa sala de aulas com duas dezenas de pais famintos por notícias das suas crias, mais a diretora de turma.
Estupidamente, perguntei se a distribuição dos lugares era por ordem alfabética. Lembrei da saudosa Professora Olga Beatriz (saudosa para alguns, not for me) e do seu método clássico de nos aterrorizar.
A sua familiaridade com as palavras classe, clássica e classificação não era casual. Palavras, aparentemente, inofensivas mas, uma vez saídas da sua boca, soavam à sirene do quartel do comando distrital dos bombeiros.
As chamadas dorotéias, meninas disciplinadas e devotas do método clássico da Regente Doutora Olga Beatriz, dificultavam a nossa integração e, sobretudo, a nossa vontade de aprender. Emendavam os nossos erros, para acumular pontos na caderneta dos clássicos, que não despem o uniforme, nem aos sábados, domingos e feriados.
As classificações eram um sinal claro e inequívoco de que "escovar" a Professora compensa.
Testei essa habilidade, uma única vez, na sala habitual, com casa cheia e o resultado foi absolutamente desastroso. 
O meu teste falhou!
Naquele dia, o aparelho auditivo da professora caiu e perdeu qualidades. 
Bem quis agradar, ao estilo dorotéia, mas não houve boa recepção.
Passados tantos anos e de regresso à sala de aula, parece que nada mudou. As palpitações, o suor nas mãos, a bexiga cheia, o receio de ser chamado ao quadro das tormentas, reapareceram, para invadir a minha paz.
Adopto a atitude exemplar das dorotéias, de joelhos unidos, músculos comprimidos, olhar fixo e mente, sabe-se lá onde e com quem, ou, troco bilhetinhos com os pais do lado e manifesto minha vontade de bazar?
Depois lembro, que estou ali numa missão pelo meu filho, Leandro de Jesus Valente Aguiar Mota.
   

quinta-feira, 27 de março de 2025

Slugger15

Não sei o que são perdas reais.

Desviei-me da realidade e dos demais.

Fechei-me no quarto dos consumos digitais.

Rodeado de amigos virtuais.

Os afetos deixam-me estranho e desconfortável.

Não sei, se é bom ou mau.

Meu mundo é fechado e controlado por vícios e acessos

Não tenho nome, nem identidade.

Apenas, um nickname

Call me Slugger15.

Só me encontras no chat, cheio de ódio nos dedos e vontade de te tirar o ar.

Nesse espaço sinto-me gigante, poderoso e preparado, para matar todos os meus medos, com nomes próprios e banais.

Estes são os meus domínios. 

Até o meu gato Blinder sabe, onde me encontrar.

Não sinto abandono, apenas tensão ocular.

Minha mãe não sabe das minhas missões, planos e ações.

Morreria se soubesse.

Para ela, eu sou o Sebastião.

Nasci prematuro e glutão.

Esquecido por todos, inclusive, pelo meu irmão, que entretanto encontrou a sua paixão.

Meu pai, só o vejo, dia sim, dia não, de fugida para mais um plantão.

Não me tratem por Sebastião, enfraquece o meu lado campeão. 


Prolongamentos de uma vida comum

Ontem fui a uma sessão, organizada pelas psicólogas, residentes na escola, frequentada pelo meu filho e, em representação, de todo o agrupamento, abordaram o tema: A Saúde Emocional de crianças e jovens.

Para o efeito, convidaram uma enfermeira da unidade de cuidados na comunidade.

A sua exposição sobre de que forma os pais devem contribuir para a saúde emocional dos seus filhos, foi baseada em dados científicos obsoletos e que não refletem a realidade atual. Certamente, fizeram sentido num determinado intervalo temporal, provavelmente, aquele que compreendeu o ano do meu nascimento.

As crianças e os jovens, de hoje, têm acesso a informação diversa, em doses industriais, massivas, vivem numa bolha, carregada de comodismos, cada vez mais, impacientes, agitados, ansiosos e desconectados da realidade.

Eles selecionam o que querem ver e os manipuladores de tendências, percebendo isso, oferecem conteúdo direcionado e nada educativo.

A exigência mental que este tipo de conteúdo oferece é nenhuma, gera habituação e desinteresse por tudo aquilo que implique foco, esforço, trabalho e dedicação.

É composto por passagens de recepção rápida e imediata, entendimento automático, com efeitos nocivos no desenvolvimento psicossocial, sociocultural, intelectual, educacional e mobilidade motora.   

Quando a Senhora Enfermeira convidada, tenta explicar a uma mãe ou pai, consciente, atento, informado, interessado, que é preciso acompanhar, vigiar, sem invadir, orientar, disciplinar, sem autoritarismos, nem permissividades, cuidar e amar, a minha reação é de desconcerto total.

Essa receita, já nós conhecemos e colocamos em prática, diariamente. Porém, não chega.

É preciso muito mais!

Mais intencionalidade, mais interações, mais dinâmicas, outros entendimentos, outras percepções, promover diálogos construtivos, convocá-los a pensar, trabalhar a sua autonomia, desviá-los para aquilo que eles acham não gostar, mas que desconhecem profundamente, inseri-los e integrá-los, através da escuta ativa, livre de julgamentos, entendendo-os, conquistar sua confiança e convidá-los a olhar, ouvir e pensar demoradamente, retirá-los da facilidade, resgatá-los e desviá-los de ambientes comuns e repetitivos, sem benefícios emocionais e mentais permanentes.

Não basta seguir o padrão habitual, ditado por especialistas, ocupados com outras especialidades e, longe, de perceber os “dramas” reais da parentalidade, nos dias de hoje.

Sou totalmente a favor destas iniciativas de âmbito escolar, que convocam a participação dos pais e a sua responsabilização no bem-estar dos seus filhos e sempre que me chamarem, lá estarei.

No entanto, sinto que, estas iniciativas respeitam formalismos, vinculados pelo ministério da educação e estão formatadas, no sentido de alertar, de forma ligeira e pouco explanada, pais e educadores, a intervir na educação dos seus filhos, sem antes, os compreenderem e perceber, os contextos atuais em que eles estão inseridos.  

domingo, 2 de março de 2025

Corrijo e Sigo

Não sou de modinhas

Nem de tendências moderninhas

Não procuro protagonismo

Fujo de eufemismos e de todos os ismos

Minhas expressões não se convertem a seitas, seitans ou grupos de fãs

Prezo a liberdade de pensamento, sem mordaças ou carraças, a perseguir meu entendimento 

Meus erros são autorais, denunciam meu estado transitório, distante dos tais e quais.

Não me lamento, nem me contento

Corrijo e sigo

É o bom que a Vida tem, na certeza de que não somos ninguém, sem a vontade de alguém.


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Tropeços

Saí de noite para fumar.

 Não tive cara para regressar.

 A noite estava fria e eu não, entendia, porque, receava voltar.

Era tudo tão imperfeito, para eu pensar em regressar.

Segui a passo, no meio da neblina.

Contrariei a minha sina.

Tropecei, muitas vezes, na densa neblina.

Esfolei a alma de sentimentos ruins e segui, sempre, em frente, em busca de mudar.

Libertei-me do cigarro e de quem não me quis acompanhar.

Um cenário comum e dominante, difícil de esquecer e apagar. 

Agora, muito distante e para o qual prometo não regressar.

A vida não me quis poupar.

Ensinou-me a viver, aos bocados, na felicidade, que não se detém mas vai e vem.



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Um Mundo Novo

 A "sorte protege os audazes" ou "A sorte protege os capazes que ousam"?

De que tipo de capacidade estamos a falar?

Capacidade para fazer o que está certo e comprometer, sem destruir, nem apoderar, ou, servir, exclusivamente, fins próprios.

É dessa capacidade que estamos a falar ou há, outra, que nos está a escapar?

A capacidade de contagiar o grupo, as organizações, a comunidade, o meio envolvente, com efeitos propagativos e coletivos.

O que me parece, baseado numa percepção pessoal, demasiado recorrente, é que a capacidade explorada e desenvolvida é tudo menos generosa, altruísta, agregadora, galvanizadora do bem comum, mobilizadora e transformadora.

O seu propósito é fútil e ganancioso, desprovido de princípios, ética, valores e limites.

Ultimamente, tenho assistido ao esmagamento da integridade, da honestidade, das liberdades individuais, da responsabilidade social, da lealdade, do compromisso e da honra. 

Os esforços, o trabalho, o empenho, a melhoria contínua, a entrega, os sacrifícios, trazem mais problemas do que ganhos. As atitudes vingadoras compensatórias são amorais. Cercadas de poder, cobiça, ambição desmedida, status, fama, visibilidade oca, passeiam o seu charme caro, mas pobre em autenticidade e conteúdo.

A aparência é a cabeça de cartaz, a protagonista, a angariadora de todas as atenções e recompensas.

O sentimento de injustiça é tão demolidor e a mensagem sobre ganhar vantagem e seus fiéis seguidores é tão declarada, que parece convidar a desistir e procurar isolamento nas ilhas Faroé.

Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...