segunda-feira, 13 de março de 2017

Não precisa mudar

Nunca se repetiu tantas vezes esta frase: Empreender Mudanças. É até condição de sobrevivência nos dias de hoje. É apregoado em todo lado e propagou-se de tal forma, a ponto de ser dado como receita para tudo. Eu até para imbuir-me do espírito de mudança, troquei de marca de champô e o que eu lucrei, foi com a juba do Rei Leão. Foi assim, com este estilo Afro friendly, que empreendi a minha primeira mudança.
Mudar, afinal, não implica sair da normalidade?
A normalidade é tão ruim assim?
Será que abalar com a normalidade significa abalar com a nossa estrutura, a nossa coluna vertebral?
Mudar para acertar?
Será que é esse o maior fundamento do movimento de mudança?
Estaremos assim tão errados ou tão estagnados?
Quantas vezes teremos nós que nos virar do avesso?
Acho que estrangulamos de tal forma este termo, que virou um movimento de consumo.
Mudar para ser diferente, gera incerteza e às tantas, provoca confusão mental. Propõe que te abandones a ti mesmo e aceites um outro registo de ti próprio. Às tantas este movimento de mudança vai ditar uma tendência e virar moda, que se pegar, então viraremos inimigos até do que é bom. A mudança faz mesmo isso, um corte com o passado, embora haja passado bom e passado que valha a pena reviver.
Que seriamos nós sem memórias?
São as memórias que confirmam nossa existência no tempo.
Mudo de humor, mudo de cuecas, mudo de champô, mudo de sapatos, mudo de passeio, mudo de penteado, mudo de menú, mas não mudo o que existe em mim.

segunda-feira, 6 de março de 2017

A Maninha

Marta Aragão Pedroso de Sousa nasceu pós 25 de Abril, num dia gelado e soalheiro de Fevereiro, na maternidade da região, hoje extinta por razões económicas e sem piedade social. Nasceu no seio de uma família jovem e remediada, descendente de Barões esquecidos e falidos. Nasceu num período de mudança, de esperança, de rutura com Vidas sem opção, de liberdade, fim do isolamento, novo começo, mas sua maior sorte foi ter nascido num ambiente enriquecido de afectos e inconciliado com a abundância e o desperdício. Nada podia ser mal gasto, até porque não havia folgas para tal desgoverno.
Marta, cedo percebeu que seus pedidos tinham de ser conscientes e exigências não eram permitidas,  nem bem aceites. Aprendeu também a não reclamar e agradecer sempre. Aprendeu a valorizar pessoas e momentos e descredibilizar as distrações materiais, recurso dos Pais da atualidade, para corrigir e ajustar comportamentos. Não havia condições para tais desvios consumistas e os comportamentos de Marta, não exploravam essa necessidade de Ter para Ser. Nunca se sentiu desfavorecida nem tão pouco descontente.
Marta ganhou uma sensibilidade rara, que alguns ainda estranham e preferem encarar como um desvario qualquer, trabalho para exorcistas certificados e inscritos na Ordem.
Umas vezes ficava incomodada, outras nem por isso.
Já crescida e mulherzinha, abalaram o seu mundinho de afetos, precioso e sagrado. Nascera a Renata Aragão Pedroso de Sousa. Agitada, rabina, com goelas, vítimas de um traumatismo agudo, elevado ao exponente máximo de todos os decibéis e mais um.
Todos achavam-na simpática. A Marta achava-a tonta e suicida para se meter no seu caminho.
Seu quarto, virou galpão das tralhas da pirralha e Marta a segurar-se para não explodir.
Quando ninguém estava a olhar, pendurou-se no berço da Renatinha e no momento em que, se preparava para lhe fazer caretas, a imbecil devolve-lhe um sorrisão, que a fez recuar. Desdentada e simpática, ninguém aguenta
Lá ganhou coragem e desafiou-a com uma careta e não é que, Renata solta sua primeira gargalhada,  que rapidamente ecoou em toda a casa e fez seus Pais correr de alegria enlouquecida.
Marta retirou-se nesse instante e pensou fazer as malas e abalar, mas sua Mãe nem deu tempo para aprofundar esse pensamento e espetou Renatinha no seu colo, que babava e babava. 
Quando regressava da escola, lá estava Renata à sua espera. Rastejava até si e reclamava colinho e Marta, já rendida, cedia mas não a poupava a  meia dúzia de caretas.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Reza do Ano

Egos tantos Egos a gritar, tantos a querer manifestar-se e, nossos sentidos ofendidos consomem-se, a tentar compreender o que querem dizer, ou melhor, tentar decifrar o que estará implícito nas suas palavras, nos seus silêncios, nas suas reações não verbais, nas suas atitudes veladas. Enfim, coitado de quem não nasceu básico e gosta de aprofundar a todo o momento e a toda a hora.
Porque é que estamos constantemente a supor e a acrescentar o que não está lá nem sequer foi dito, só para nos enchermos de razões e dilatarmos ainda mais o nosso pensamento, já de si demasiado trabalhador.
Não sei o que querem dizer e como o querem dizer, só me baseio no que foi dito. Evitaria muitas complicações só que, infelizmente, não é o que acontece na realidade.
Na realidade, damos protagonismo à nossa sensibilidade e deixamos que ela qualifique tudo o que nos rodeia, fabricando histórias, traçando perfis, retirando ingenuidade, acrescentando malícia, dissecando toda e qualquer informação e, dessa forma, atrapalhando saudáveis convivências.
Neste momento, se me concedessem um desejo, eu pediria, sem hesitar, que silenciássemos nossos egos e não procuremos achar algo que não foi dito ou declarado. Não desviemos nossas atenções, não descontextualizemos, não avaliemos o tom do outro, o ritmo do outro, o passado do outro, as intenções do outro, a maneira de estar, a maneira de ser, o aspeto, a formação, o sentido de oportunidade. Basicamente o que eu quero dizer é que não avaliemos e deixemos que algo se manifeste por si só sem nossa intervenção intelectual e emocional. Tudo seria tão mais fácil.
Nosso grande erro, por vezes, fatal na comunicação com os outros é querermos dar razão ao que pensamos e sentimos. Esta nossa urgência em sermos ouvidos e aceites é que gera os grandes conflitos.
Ao querermos defender nossas versões expomo-nos mais e tornamo-nos alvos a abater e bastante mais vulneráveis. Não nos deixemos ofender por versões diferentes da nossa nem cair em tentação de impor a nossa própria versão. Apesar de não ser católica militante deixo-vos esta reza que eu própria tenho tentado aplicar.
Este é o meu desejo para 2017, além daqueles habituais aos quais não podemos ser indiferentes e que me reservo de mencionar.
 
 
 

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Never say Never

Finalmente tinha chegado aquele dia que julgava nunca vir a acontecer. Aquele lugar foi durante anos o seu "lugar comum" e já há muito tempo que não supunha dali sair. Na verdade, teve que abandonar essas suposições para não se castigar mais e teve que aprender a aceitar que esse era o seu destino e portanto mais valia adaptar-se mesmo que isso não a beneficiasse. Quanto mais supunha sair dali mais repulsa ganhava por aquela centena de metros quadrados de reclusão, que apesar de tudo a ajudaram a crescer e a desenvolver competências e, mais do que isso, a conviver com emoções e a saber defender-se de algumas delas. Um ambiente muitas vezes hostil, repressor e um cerco de olhares que tentavam sugar suas energias, só porque não conviviam bem com a diferença e uma diferença que parecia amolgar seus egos mirrados.
Deixou tudo. Desapego total. Por fim sentia-se livre.
O que viesse a levar para onde quer que a colocassem seria novo. Por estrear. Até mesmo as emoções serão outras e, desta vez estava confiante e melhor preparada para enfrentar novos contextos. Seu desejo é que que não fossem os mesmos. Louvado seja o Senhor.
Sentia-se pronta. Afinal há dez anos que se preparava para aquele momento e foi quando deixou de acreditar e, sem suspeitas de nada, que tudo aconteceu.
Todos gostavam dela e quando digo Todos, falo em pessoas normais, equilibradas e estruturadas, que sabem prezar o outro, respeitar o seu espaço, o seu tempo, a sua conduta, a sua privacidade.
Saudades não sentiria. Com certeza, ficará o seu rasto, a sua pegada, a sua marca, a sua entrega e o registo de um modelo a seguir.
As amarguras ficam no passado e o presente é o que mais importa. Nunca é tarde para recomeçar.
Com estes pensamentos apresentou-se aos presentes e houve automaticamente manifestações empáticas, por parte de alguns, reservas por parte de outros, mas tudo num clima descontraído e acolhedor.
Terão bastante tempo para se conhecer. Aliás a novidade provoca sempre interesse, algo do qual ela já tinha vivenciado no tal lugar, agora distante e enterrado no passado.
Nada de euforias. Calma muita Calma. Sem pressões. Só pertencemos onde quisermos estar. Quando deixarmos de querer lá estar, deixamos de ali pertencer e é sempre tempo de mudar.
O difícil é criar a dinâmica da mudança, ou melhor, empreender a mudança. Após isso, as mudanças seguintes não serão tão difíceis de empreender pois já se encontrará num registo de mudança. Parece confuso mas na sua cabeça fazia todo o sentido e mais do que isso estava Feliz.





 

terça-feira, 29 de março de 2016

Animosidade neurótica

Circunscritos a 60 metros quadrados, forrados de pastas, inundado em papéis, preenchido por mesas e cadeiras, de uma austeridade artística sem igual, pertença de um passado longínquo e out date, assentes numa carpete sem personalidade e sem cor, abrigo de legiões de àcaros.
O Bom naquele espaço são os janelões rasgados nas paredes, que filtram os raios de sol e embaciam  com a chuva. Eles relembram-lhes que há mais mundo para além desse que os torna reféns de segunda a sexta.
Moram nele temporáriamente mas intensamente e, por isso, é lá que tudo acontece, o destempero, a loucura, o estalar do verniz, os desvios de caráter, a cobiça entre outros mimos comportamentais.
Muitos anos de convivência, muitos anos de permanência, tornaram-nos seguidores de um regime institucionalizado, que fizeram questão de perservar e coagir os "piratas mais novos" a incorporar, num exercício de obediência algo repressivo.
Eis que a realidade actual fê-los vítimas do seu excesso de controlo e domínio.
Falo de personagens com comportamentos retorcidos, algo infantis e absolutamente imbecis. Amigas, cúmplices, catedráticas em conversa fiada, visando sempre os outros, impiedosas a rotular e ridiculamente neuróticas.
Sua convivência era serena, até que a conjuntura mudou e já não havia espaço para lugares confortávéis e impôs-se a necessidade de justificarem sua permanência ali.
Todos os dias reina a comédia. Uma age como intocável e portadora de condições especiais e teatraliza o tempo todo. Considera-se uma profissional especial. Construiu um forte de pastas à Volta do seu monitor, vedando o acesso a visitas ou olhares indiscretos, principalmente da parceira next door. Seus gestos, suas expressões denunciam-na. Quando convocada a ajudar amua e finge estar a meio de algo importante. No entretanto, a Amiga fumega e inicia uma sessão de ruído com tudo aquilo que lhe aparece à frente. Bate com o agrafador violentamente na mesa, remói, ausenta-se, regressa, muda de objeto, que vítima do seu destempero, jaz indefeso junto ao seu "colega" agrafador e levanta-se novamente, desta vez, piurça da Vida e, tipo sonda procura o olhar da criatura, para a fulminar. Enquanto ela, provoca um pouco mais e zomba descaradamente, fingindo estar entretida com Tudo menos com o oficío. Vasculha na bolsa o telemóvel, retira todos os papeizinhos que acumulou no porta moedas e rasga-os, um a um, cirurgicamente e pior, demoradamente.
Vive preocupada com o exterior, reclama atenções, incomoda-a o destaque dado aos outros, monitoriza os desvios de atenção ou a desatenção dos colegas face ao trabalho, quer saber o que os retira por instantes do dever e sua curiosidade é intrusiva e perniciosa.
Quando ambas precisam falar-se, controlam-se ao máximo para não levantar suspeitas e perder as máscaras. Amordaçam suas revoltas e tentam agir com naturalidade.
Religiosamente, quer estejam esquinadas ou não, vão juntas gozar o break matinal e regressam as melhores amigas de sempre, sem salpicos ou respingos de animosidade.
Assumem novamente os seus papéis. A dissimulada armada em astuta e a loba disfarçada de cordeiro.
A outra personagem desta novela, discípula e seguidora da Amiga, também, em tempos, navegou na inutilidade e relaxou nas suas obrigações e agora sofre de  exploração e convoca a outrora mentora  para sua secretária particular. E a sinfonia continua. Vigias ao monitor uma da outra, para medir quem produz mais é uma constante. Vivem numa neurose permanente.
Perderam o controlo e agora lutam para não se afundar num lugar vazio qualquer.






Reféns do style

Personalidades com excesso de vaidade. Causa de muitos litígios, relações cortadas, convivência espaçada, afastamento. Sobrevalorizam-se em relação aos demais, acham que têm de ser servidos e não equacionam trabalhar ou cumprir ordens de outros. Querem ter permanentemente um papel com preponderância. Nunca trabalharam por conta de outros e até evitam-no. Não tendo experiência anterior, não gostam de receber ordens e quando as recebem  sentem-se ofendidos e com o ego ferido. Acham que nasceram para comandar e os outros para executar. Querem ter seguidores e acreditam que reúnem as características de um líder como se fosse algo inato, que não merecesse aprendizagem,    adquirir experiência, buscar conhecimento, perceber como é ser comandado e receber ordens hierárquicas, ter vivido do lado de lá, de quem é regido e se deixa reger, envolver-se, promover sinergias, reconhecer valor, dar o exemplo, abraçar o trabalho com um sentido de missão e não com o sentido de fazer só o que se gosta e encarar os outros como tarefeiros, sair da zona de conforto, marcar a diferença mais com atitudes do que com palavras.
Geralmente são personalidades que subestimam o outro e acham que nada têm a aprender com ele. Iludem-se com cenários, com a possibilidade de um dia virem a ser líderes porque acham que se enquadram no perfil e, convenhamos dá style.
São os tais  que pisam a nuvem e do alto da nuvem a vista lá em baixo é turva e distante e causa muitos vertigens. São os tais com excesso de si e não confundamos com confiança, pois essa requer trabalho, tempo, resistência, auto controlo. São os tais que se acham tão especiais e não percebem porque mais ninguém vê isso e então preferem encarar que é inveja, ciúme, intolerância, autismo e se calhar ingratidão.
Os outros são os descompensados, os mal resolvidos, os amuados, os mal amados, os negativistas, que não compreendem a sua grandiosidade. Riem-se deles como se fossem um género de seres em extinção ou espécies raras, com escárnio e altivez. É a vaidade mais uma vez a consumi-los e a enchê-los de crença de que Tudo podem. 
Há tanta possibilidade no Nada e, na mesma dosagem, do vazio que há no Tudo. Nada é garantido é a Melhor premissa para encetar nossas conquistas.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Amar ao som do Assobio

Existe uma correlação entre Amar e Assobiar. Nem todos sabem Amar assim como nem todos sabem assobiar. Bem tentam mas, ambos requerem treino. Amar não é para Todos. Só para alguns e por isso tanta carga tem o Amor. Uns são afinados e melodiosos, outros são desafinados e ruidosos. No Amor também há os afinados e harmoniosos e os desafinados e ruidosos. Há disponibilidade para os receber em nossos lábios, quer o Amor quer o assobio, mas isso não nos prepara para os prolongar e fazê-los resistir e continuar a provocar arrepios.
Parece simples até porque sai da boca de qualquer um. Um em modo verbal outro em forma de entoação melodiosa. Fala-se muito de Amor como se de um assobio se tratasse, refrescante e um bom estimulante ou condutor de felicidade, que ajuda a aliviar tensões.
Amar bem acalma e equilibra, assobiar bem também ajuda a acalmar e equilibrar em momentos de desequilíbrio. Ambos causam reações e boas quando bem articulados.
Para aqueles que vão celebrar o Amor sugiro que abram a cerimónia com uma sessão de assobios entoando a música das suas vidas.
Bons assobios ;)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Om Mani Padme Hum

Meditar não é para amadores, isso vos asseguro. Eu bem tentei. Estendi no chão um tapete, parente próximo do colchão, confortável e com bons amortecedores, caso viesse a levitar, evitando assim os efeitos da queda e um brusco despertar. Vesti roupa leve, sem botőes, sem elásticos, sem fechos, sem acessórios incómodos, sem apertos. Descalçei-me. Queimei incenso e ao som de música zen ocupei o meu lugar e já sentada endireitei a corcunda, ergui o queixo sem pedâncias, fechei os olhos e confiei que iria esvaziar a mente e ganhar a paz.
Nem mantra faltou. Om Mani Padme Hum (Da lama nasce a flor de lótus). Repeti-o tantas vezes que até ganhei dormência nos lábios e um eco na cabeça para a vida inteira. Entoa até agora na minha cabeça sobrevivente.
Controlei a respiração mas não consegui controlar a mente nem a ansiedade de ser bem sucedida na prática da meditação. Até com mosquito lutei. Mas o pior foi o vai e vem de pensamentos invasores que boicotaram todo o processo de meditação. Ainda para mais pensamentos inúteis, mais inúteis que pé esquerdo em carro automático. Arrasou comigo. Gastei o incenso todo, esgotei minha paciência e ganhei fome. Quem consegue meditar com fome? Nem monge tibetano altamente disciplinado aguenta. Fui comer e aí relaxei e pelo menos fiquei em paz com meu estômago.
Dizem que a meditação baixa os niveis de ansiedade mas no meu caso revelou-se o contrário. Não sei o que foi mais  difícil, se treinar a concentração ou manter a postura erecta e sofrer calada.
Ainda bem que me lembrei a tempo de prender o cão senão ainda me urinava em cima e arriscaria perder um lar só pela sua ousadia. Não cronometei o tempo gasto na meditação mas uma coisa é certa, envelheci e nada de beneficios espirituais.
Enquanto digo isto, duas sandes de presunto sucumbem à minha voracidade.
O resultado da Meditação foram uns kilos a mais e sessões de acunpuctura para curar rigidez muscular.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Perspectiva da Vida

Acabaram-se as histórias encantadas com finais felizes. Já nem imaginário criativo temos para criar ou sequer imaginar contextos encantatórios. A realidade consome todo o nosso tempo. Para além disso estamos enfiados em nós mesmos e nas nossas próprias dores o que torna ainda mais difícil descolarmo-nos e sonharmos mais e duradouramente.
Voamos cada vez menos e, certamente, por isso também esboçamos menos sorrisos e contribuímos menos para a nossa própria felicidade.
Os nossos monitores de trabalho limitam a nossa capacidade de enxergar mais longe e quando levantamos os olhos para ver o que se passa à nossa volta já nosso olhar está enfraquecido e sem capacidade de uma visão mais ampla.
Os trajetos são sempre os mesmos quer na ida quer no regresso, o encadeamento de tarefas também não sofre alteração, o ritmo sempre acelerado, os colegas hão de ser sempre os mesmos, até os aborrecimentos são sempre os mesmos e a saturação cresce com a repetição incessante.
Tudo nos passa ao lado, deixamos de nos comover, somos cada vez mais individualistas, descrentes, irresponsáveis pelo outro, mesquinhos, invejosos, caprichosos, soldadinhos de chumbo com pose de altas patentes.
Já nem sabemos o que são convicções próprias. Perdemos a noção de nós mesmos e cultivamos vazios que redundam em relações debéis ou inconsistentes.
Rico e Feliz é aquele que consegue sair da masmorra, saltar vedações, correr como o Tom Sawyer ou o Forrest Gump e retirar peso à Vida.
Run Forrest Run.
Nós corremos efetivamente mas não corremos por Ter Vida mas em função da Vida.
Suportamos o insuportável porque tem de ser, ou melhor, porque preferimos assim a ter que encetar uma mudança da qual não há garantias, só expectativas.
Exigimos demasiado uns dos outros, como se eles fossem a causa de todos os problemas.
Confiamos desconfiando.
Amamos sem tempo.
Carregados de energia artificial e desprovidos de interesse.
Sofremos de Inconformismo resignado.
Fazemos fretes naquilo que nos poderia tornar útéis e melhores.
Não vale a pena e ficamos por aí.
Tudo Eu Tudo Eu.
Queixamo-nos de barriga cheia.
Remoemos para dentro ou baixinho.
Conspiramos a toda a hora.
Apostamos em probabilidades remotas.
Queremos ficar por cima e entoar nosso triunfo
Invocamos o divino para disfarçar nossa bondade.
Achamos sempre que merecemos mais mesmo não o merecendo.
Cada um por Si
Alimentamos o superficial.
E no entretanto, deixamos de ler aquele livro, apreciar aquela paisagem, amar quem nos ama, fazer descobertas, aprofundar conhecimento, criar novas amizades, conviver com o mundo espiritual, progredir, cuidar, respeitar, engrandecer.


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Boa Mudança

Hoje é dia de mudança. Boa mudança. Chega de dar ouvidos a pessoas que não nos entendem nem nunca irão entender porque sua visão da vida está assente em estacas fixas e inserida em perímetros limitados por uma consciência pouco livre.
Mudar, essencialmente, porque é dessas mentalidades, que nos castigaram tanto no passado, que queremos fugir e que continuam a achar-se exemplos de pessoas bem socialmente.
Ainda bem que há várias pessoas tipo e não um tipo de pessoas. A julgar pelo discurso de alguns muitos de nós nos devemos sentir uns ET'S, perdidos numa tribo que não é a nossa.
Principalmente, não devemos ser aquilo que esperam de nós, por ser o que fica bem ou aquilo que eles acham que melhor nos defende.
Hoje e mais do que nunca é preciso ter audácia para sermos do jeito que somos.
Inacreditável é ter que privar com pessoas que nunca fizeram um exercício interior sobre si mesmas e venham apontar e ditar de que jeito deveremos ser e arrogantemente sugerir o que é melhor para os outros e para a sua convivência interior e exterior.
Devo ter crescido numa dimensão diferente e por isso, por vezes, também me ache diferente não que isso implique boa diferença mas pelo menos sei que sou eu mesma sem pós de arroz.
Falo de pessoas que acham que sabem tudo, falam sobre tudo e opinam sobre tudo quando nem sensibilidade têm para enxergar o óbvio.
Querem apenas mostrar-se e exibir aquilo que não têm em si.
Chegam aos locais e querem dominar, quando o mais importante é fazer a diferença e a diferença só se faz com determinado tipo de sensibilidade, privilégio só de alguns. 


segunda-feira, 13 de julho de 2015

Desilusão

Tudo o que foi será produção da minha memória e as sensações que daí advierem são manifestações da minha vontade de regressar ao passado tal qual um naufrágo agarrado ao salva vidas. Tudo mudou e eu também tive de mudar para me adaptar. Não houve sequer tempo para me recompôr e avaliar com clareza o estado das coisas. No fundo eu já suspeitava que o que é bom um dia iria acabar mas , nunca me preparei para isso e aqui estou eu aos pedaços.
Foi castigo ou aprendizagem ou Ambas? Desilusão, muita Desilusão foi concerteza.
Certamente eu é que não quis ver o óbvio e iludi-me porque precisava acreditar.
Agora, não há perspetivas nem garantias de nada. A dor impôs-se e sabe-se lá quando vai abalar. Logo a seguir virá a revolta e dúvida muita dúvida sobre qual o caminho certo.
Solidão, vazio e descrença são as minhas companhias do momento.
Mas tudo passa. Tem de passar apesar de não melhorar.
O sentimento não será o mesmo, a entrega não será a mesma, a conduta não será a mesma, apesar de tudo permanecer igual. Silêncios, muitos silêncios e vontade de isolar-me do mundo.
Afinal não conquistei nada. Alimentei apenas a ilusão de que comigo poderia ser diferente.
Meu coração está pisado e meu cérebro não consegue processar direito todos os pensamentos que vão chegando.
Os sonhos acabaram e os planos para o futuro também. Não há mais condições para tais empreendimentos. Tudo o que existia deixou de fazer sentido. Perdeu a intensidade e caiu na banalidade. Deixou de ser algo do qual me orgulhava.
Não quero consolo, não quero ouvir experiências de vida dos outros, não quero conselhos, não quero moralismos, não quero advogados de defesa, rejeito tudo. Já nada me serve.
Não me apetece assumir nada.
Não prometo nada.
Pensei ter construído algo sólido e cúmplice mas tudo não passou de um logro.
Acreditei que há valores que se sobrepõem a caprichozinhos pessoais e que todos devemos saber honrar as escolhas que fazemos mas afinal não é bem assim. Há quem prevarique e venha a desvalorizar uma história, pessoas envolvidas e os sentimentos.
É assim a Vida ora doce ora amarga.




Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...