sexta-feira, 28 de março de 2014

Felicidade Presumida

Colocam-nos no mundo, dão-nos uma Vida, apresentam-nos a realidade e lá vamos nós patinando até ,por fim, encontrarmos um equilíbrio que nos faz aproximar de certas pessoas, fixar-nos num determinado lugar, conquistarmos coisas, memórias, afectos, ligações e, tudo isso, vai ganhando raízes e assumindo um prolongamento de nós e que inevitavelmente hão-de condicionar a nossa felicidade. Eles são a nossa seiva, o que nos move e o que nos faz reencontrar com a realidade todos os dias com a mesma esperança. Sabemos que o pior permanece à espreita mas nunca esperamos ser alvo da sua expiação. Nós que somos gratos por quem temos e pelo que temos. Seria injusto demais sermos castigados de uma forma tão madrasta.
Uma Vida representa muito pouco tempo para alcançarmos a felicidade plena e, ironicamente, bastam alguns minutos ou até segundos para cairmos em desgraça e devastarem a nossa vida, até ali presumidamente feliz. 
Porquê? Mas Porquê?
Nunca saberemos verdadeiramente porque fomos os escolhidos para carregar tamanha dor. Uma dor excruciante e que custa a passar. Ela ajuda a não esquecer e a manter viva a presença dos que partiram e que tanta saudade deixaram. Nada nem ninguém nos pode consolar.
Ficou tanto por dizer. Aliás ficou o principal por dizer. Podia ter dado mais de mim, ter sido mais atenta, mais presente, mais paciente, mais compreensiva, mais companheira(o), mais, muito mais. Pensamentos como este agudizam mais a dor.
Nunca saberemos por quanto tempo durará a nossa felicidade e que mudanças nas nossas vidas teremos que empreender para repormos um novo equilíbrio. Garantidamente, perdemos muito tempo com o risível, com a insignificância e quando damos conta já não há mais possibilidade de repô-lo e ocupá-lo de uma forma mais profícua, a distribuir e receber felicidade.
Estar vivo é uma dádiva que não pode, ou melhor, não deve ser desperdiçada inutilmente. Cuidemos melhor dos nossos dias, das pessoas que amamos, de nós, do nosso espírito, da nossa vida.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Epidemia do Amor

Não sou profeta do bem nem discípulo do mal mas sei a quem quero bem e de quem apenas quero distância. Principalmente sei a quem quero bem e desses não perco memória porque a eles sempre retorno mesmo quando andamos às avessas. Há um magnetismo qualquer chamado de Amor que nos empurra para junto deles. Apesar de saber que não são perfeitos, aliás são irremediavelmente imperfeitos, nossa Vida é bem melhor quando os temos por perto. Se bem que seria ainda melhor se nos comunicássemos melhor e, por conseguinte, nos viéssemos a compreender melhor ainda uns aos outros.
Fomos respingados pelo seu Amor e enfeitiçados até à medula e arriscamo-nos a imitá-los um dia.
É pior que perfume impregnado na roupa e envolvido com o nosso próprio cheiro, gerando uma combinação única. Eles também definem a nossa identidade. Só a eles pedimos o mundo e exigimos o mundo.
Há o ADN e há o NDA (Nada Domina o Amor). Um é o nosso registo genético e o outro uma evidência.
Tantas vezes me apeteceu correr na direcção contrária e fugir de certas evidências, porque não me revejo ou não me quero rever mas há algo em nós que resiste e é castigante quando tu queres destoar.
Quero quem me quer bem porque gostar é isso mesmo, troca, partilha, reciprocidade, reconhecimento, realização. O Amor confere-nos uma certa imunidade relativamente ao que corrompe o bem e protege-nos do mal. Quanto mais nos conservarmos no Amor, maiores são as nossas defesas.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Pinchers sarnentos

Algo mudou, ou melhor, tudo mudou. Não sei se é bom ou mau. O que eu sei é que não tem sido fácil e só me apetece gritar, espernear, descarregar a pressão toda, desaparecer e voltar quando meu espírito acalmar. Certamente irei estar fora por um longo período.
Intolerante é assim que eu me sinto com tudo e com todos. Já não sei, nem quero lidar com a mediocridade, aturar manipuladores e egoístas, falsidades, invejas, manias de quem se julga importante, vaidade de gente oca, conversa fiada que vai matando o vazio, falta de personalidade e firmeza de caráter, curiosos devassos, inconvenientes, convencidos e exibicionistas. Onde páram os seres magnânimes, de espírito elevado, grande capacidade e sabedoria, seguros de si e que nunca entram em disputas inúteis e sabem valorizar-se e valorizar? Onde os posso encontrar? Quero aprender com eles e crescer até atingir a sua dimensão e qualidade de seres superiores e inatingíveis. 
Estou saturada de pinchers armados em rottweilers. 
Um rasteiro jamais deixará de ser rasteiro mesmo que se queira impôr como tal. Falta-lhe o principal, pedigree. Ou se tem ou não se tem.
A minha vontade era dar-lhes um chuto e amolgar-lhes o focinho mas então é que ia ter que aturar seus ganidos todo santo dia. Melhor não.
Preciso de silêncio mas do bom silêncio, daquele que não denuncia tensão nem expiação Como eu gostava de poder mergulhar nesse dito silêncio bom e boiar livremente e perder o contato com certas realidades desanimadoras e só vir à tona quando me bem apetecesse.
Porque é que não gozamos da mesma função do rádio, poder sintonizar-nos na estação e frequência que mais nos apraz? Tem dias que sinto estar em modo AM, agonia maldita e demoro a atingir modulação FM, Felicidade Mais.
Dias difíceis, dizem que representam a melhor aprendizagem para a Vida. Mas porque é que a aprendizagem através da facilidade não é tão eficaz? Porque é que tem de ser "hard way" e não "easy way"? Cá para mim a dificuldade pode trazer recalcamentos e nada ensinar.
Só sei que quero aprender com os melhores mas só me aparecem pinchers sarnentos.



segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Inquilinos Intrusos

Eles estão a chegar aí muito rapidamente e eu não tenho outro remédio senão aceitar a sua chegada com resignação. Os inquilinos anteriores agiram da mesma forma. Instalaram-se sem sequer aguardarem as minhas boas vindas e passado um ano, deram lugar a outros. Eu nem me sentia preparada para os receber, assim tão de repente e aceitar que algo mudou ou que algo estaria prestes a mudar. Na verdade, já tinha vindo a notar que os cremes de rosto têm perdido eficácia e a fotogenia havia-me abandonado quando mais precisava dela, mas mesmo assim podiam ter sido mais discretos na abordagem.  Ainda para mais não dá para aplicar o truque das velas, invertendo posições. Se o fizesse teria que retirar a placa dos dentes para bufar as velas. Não me deram alternativa. Trinta e oito. Trinta mais oito. Será que não dá para lançar esses oito numa fase posterior, quando não fizer diferença nenhuma no saldo final. Sei lá, quando atingir os 90 e não der mais para recarregar as pilhas, então aí sim, faria sentido repor esses tais oito desavindos.
Já diz a Vanessa da Mata "... É demais, é pesado....".
A nossa idade podia regular pela medida dos protetores solares. No caso, bastaria preencher na idade 30+. Corresponderia a um moreno pouco intenso. Afinal, vamos perdendo a intensidade de cor e a elasticidade também.
A idade a mais não traz evolução, traz sim confusão mental. Para quê converter em números a nossa idade e baralhar ainda mais o nosso sistema. Prefiro encarar que ganhei 38 créditos para aplicar na minha Vida, no meu crescimento. Temos que encarar a nossa idade como uma benesse por que nos possibilita dar continuidade à nossa Vida e enriquecê-la ainda mais e ainda por cima lucrar com uma fatia de brigadeiro de chocolate húmido e macio e os parabéns por apenas existir. Mil calorias depois e um ano mais velha, continuo a sentir que há muito mais para além de um número par composto por dois algarismos também pares, há Vida, há oportunidade, há tudo aquilo que ainda está para ser e fazer.
Se eles perguntarem por mim, os tais inquilinos de que vos falei, peçam para virem mais tarde que eu ainda estou a fazer o funeral dos 37 :)


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A Guerreira

Nunca desistas de Mim, porque eu Nunca desistirei de Ti. Quando os meus joelhos fraquejarem, a força física sucumbir e a resistência quebrar, conto contigo para me fazeres esquecer o quanto dói. Só tu podes fazê-lo. Só tu sabes fazê-lo. Sabe bem entregar-me nos teus braços e deixar que tu assumas o papel que habitualmente era meu e passares tu a liderar. Ser forte o tempo todo desviou-me daquilo que me faz bem, porque obriguei-me a resistir às sensações boas e más. À medida que elas iam chegando eu ia matando-as a todas sem critério. Não havia tempo para seleccionar. Na minha cabeça soava constantemente É Obrigatório Agir. Neste momento, não quero, não posso, não tenho mais energias para controlar tudo. Vou deixar-me cair às cegas esperando que os teus braços estendidos estejam lá para me amparar na queda. Desta vez sou eu a precisar de Ti. Mesmo de olhos fechados continuo a ouvir-te e a apreciar tua presença. Animas os meus dias. Apesar de eu não poder interagir tanto, nada mudou. Nem quero que mude. Se assim fosse sentiria que algo se perdeu.
Se eu não der pela tua presença, interrompe o meu sono, quero estar desperta para te ver. Não sou dada a sonos profundos. Deixam-me os olhos inchados e diminuem-me a visão.
Nunca pensei vir a desejar ingressar na rotina e rodar a mesma bobine vezes e vezes sem conta. É bom fazer parte do filme em rodagem.
Obrigaram-me a acalmar, eu bem não queria mas se calhar estava a precisar de abrandar. Por isso, para não perder o andamento da carruagem vai-me mantendo informada. Entretanto vou fazendo a lista do que ainda me falta fazer e que dará ainda maior importância à Minha Vida, já que as listas do supermercado ficaram a teu cargo, assim sempre fico com mais tempo livre para outras listas.
Tudo está bem desde que não prolonguemos tristezas e projectemos maus cenários. Que Melhor cenário poderia haver eu e tu, juntos no mesmo espaço, partilhando episódios da nossa Vida e  programando outros ainda mais animados. Não quero pensar no Amanhã. Na minha idade deixou de ser divertido pensar no Amanhã. O Hoje é o que eu tenho de mais garantido e é a ele que me vou agarrar corajosamente e prometo não dar tréguas.
Ainda estás aí?




 



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A Maçada do Amor

O que é o Amor. Ninguém me ensinou a Amar, fui vendo e aprendendo e, continuo nessa fase de observação e aprendizagem. Quanto mais me especializo no Amor, mais o acho complicado. Tem dias que o sinto, tem outros que nem o chego a apalpar. Se calhar eu é que não sou assim tão permeável e ele até pode lá estar, mas eu é que não o consigo absorver. Meu maior problema é continuar a achar que Amar é querer estar por perto, dedicar atenção, perscrutar em silêncio, dar a mão, abraçar, apoiar, acolher, marcar presença nas datas importantes e, principalmente, quando mais precisamos, compreender sem julgar, querer ouvir a tua voz, querer ver-te sem pretexto, querer saber de ti, querer estar contigo, não abdicar de ti em favor de interesses egoístas ou atribuir preferência a outro tipo de público com a pretensão de conquistar um fã clube e alimentar assim uma vaidade imensurável. Provavelmente, eu é que estou errada e nem todos partilham da mesma percepção pessoal do Amor. Se calhar esta visão romanceada do Amor é exagerada e grudenta, para aqueles espíritos mais independentes e distraídos. O Mal do Amor é que ele não atinge todos da mesma maneira. Nem todos o sentem da mesma forma e, principalmente, nem todos o sabem honrar.
Amor é acudir, é estar lá, é meiguice, é afecto, é promover o inesperado, é verdade, é lealdade, é fidelidade, é compromisso, é rir e chorar junto, é sofrer por alguém que nunca queremos ver partir, Amar é reconhecimento, agradecimento, gratidão. Sofro só de pensar que um dia não verei as pessoas que mais amo e quanto mais aprofundo o meu pensamento, mais me convenço, que não consigo viver sem elas, fazem-me falta, é a elas que eu recorro e delas me socorro. Todas elas me Amam, disso não tenho dúvida mas, poucas são aquelas que me sabem Amar. Mas o Amor é assim mesmo, complicado e maçador, se pensarmos que se trata de algo que devemos estimar e estimular. Aqueles que têm o Amor como garantido não querem ter esse cuidado, porque acham que nunca o irão perder e, na maioria das vezes, nem dão conta que já o perderam, apesar de tudo parecer normal e a proximidade não ter desaparecido. Estão demasiado ocupados com eles próprios e esqueceram-se de olhar para aquilo e aqueles que realmente têm importância e quando, subitamente, são atingidos por um qualquer vibe de ternura, estranham a fraca receptividade.
E de repente, tudo muda e o que foi tão importante na tua vida deixa de ser porque entretanto amadureceste e foste percebendo que uns merecem mais de ti que outros, não porque ames mais uns que outros, só porque esperaste tanto tempo por esses tais vibes e reacções de ternura e eles tardaram em chegar e tu, inevitavelmente, tiveste que te acolher noutros lugares que agora são os teus lugares de eleição. Agora, olhas para trás e pensas, aquele passado não renasce mais. Foi Bom mas é Passado. Entretanto cresceste e muita coisa mudou. Tu própria tiveste que mudar para conseguires ultrapassar o facto de teres sido preterida por caprichos e vaidades. Mas o Amor é assim, só atrapalha quando mais precisamos dele.

domingo, 10 de novembro de 2013

Universo Feminino


As associações de ideias na Vida de uma Mulher assumem um lugar especial. São as associações de ideias e a colecção de sapatos e carteiras. Imprescindíveis e insubstituíveis, a não ser por mais modelos e feitios diferentes.
Perante uma determinada situação nós mulheres procuramos relacioná-la com algo e quase sempre connosco. Um desabafo, um boato, um acontecimento, um dado novo, uma confidência, uma coincidência recai inevitavelmente numa co-relação com a nossa pessoa. Somos maquiavélicas ao ponto de achar que tudo interfere connosco. Vários exemplos podiam ser dados e todos eles bem familiares ao universo feminino mas mais revelador é seguramente a mania que nós temos de questionar e suspeitar que tudo o que nos é dito quer dizer mais do que aquilo que nos foi revelado. “O que é que ela/ele quis dizer com aquilo”? Esta frase é mítica entre as mulheres.
O que nos preocupa são as entrelinhas. Presunções e subentendimentos são a nossa predilecção. É aqui que incluímos as associações de ideias, usadas para retirar o diálogo do contexto e cobri-lo de duplas intencionalidades.
Para nós tudo tem uma intenção, não existe o dizer por dizer, numa tentativa de apenas exercer um comentário banal e inocente, indutor de quaisquer consequências. Quando não encaramos ou criamos suspeitas com o guião e o guionista apressamo-nos a atribuir outra dinâmica à história e a instalar a confusão.
Achar cabelo em ovo é a nossa especialidade.
Por vezes vamos desenterrar situações de um passado longínquo para justificar determinados comportamentos do presente como se tudo tivesse um carácter repercutório tão dilatado no tempo. Guardamos tudo e por muito tempo e mesmo quando aproveitamos para arremessar algumas dessas coisas que mantemos guardadas, em ocasiões que nos são propícias, não esvaziamos a memória e continuamos a guardar até que nos deixe de ser mais útil.
Não admira que vivamos mais. O nosso memorial é tão vasto que precisamos de muito tempo para o esvaziar.
Cá para mim as mulheres com companheiros são as que vivem por mais tempo, pois os homens são um óptimo descompressor, mas isto é apenas uma teoria minha.
Damos tudo de nós e sem travões mas também reclamamos agradecimentos e exigimos ser acarinhadas. Quando sufocadas, sacudimos as nossas frustrações, as nossas tristezas, as nossas emoções, os nossos receios, as nossas desilusões e mesmo assim eles custam a entender-nos.   

domingo, 3 de novembro de 2013

Um Novo Eu

Porque caímos em tristezas profundas e paralisantes, que nos arrastam para o isolamento? Por mais razões que tenhamos para nos sentirmos assim,  temos que remexer na dor e  decompô-la em situações, episódios, momentos, atos, palavras, omissões, ofensas sentidas mas nunca verbalizadas. Em vez de interiorizar a dor devemos exteriorizá-la sem receio de expor a nossa fragilidade e vulnerabilidade. O fingimento alimenta essa dor e favorece a passagem das recaídas emocionais. Quem se sente sempre bem, sorri constantemente, solta simpatia indiscriminadamente, se presta a moralizar e motivar os outros, nunca se lamenta nem tão pouco se manifesta, está seguramente a fingir. A inconstância faz parte da génese humana. Ela é a responsável pelas revisões que se impõem em diversas fases da nossa Vida. Essas revisões são provavelmente o que nos mantém à tona e não nos deixam colapsar. Aceitar sem nunca contrapôr está a reprimir sua inteligência, seus sentimentos, sua interpretação, seu juízo, sua vontade e por conseguinte a anular-se. Quem procede assim está a carregar a dor e a fazê-la inchar até se tornar insuportável. Certamente seria mais fácil não sentir mas se assim fosse seríamos desprovidos da felicidade ou das sensações de felicidade. Somos bem mais fortes do que julgamos. Só precisamos de nos libertar da culpa e acreditar que merecíamos melhor e que esse alguém ou esses alguéns que não corresponderam enquanto pessoas importantes na nossa vida é porque não souberam amar e infelicidade a delas por não saberem o quanto ficaram a perder.
Podemos não recuperar o que éramos mas podemos sempre construir um novo eu, mais autêntico, mais disponível para amar, mais forte, mais espiritual, mais livre.
Quem procura o amor de estranhos para se sentir incluído e deixa que eles os julguem torna-os emocionalmente dependentes e insatisfeitos. A maior garantia de Amor é amarmos-nos. 
Quem nos ama verdadeiramente está sempre atento a nós, os outros, são estranhos e agem como tal, não guardam memória nem afetos apenas se cruzam connosco por aí.
Quem ama não se esquece de nós e sofre connosco e mesmo quando se sente renunciado em favorecimento de estranhos não deixa de amar. 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Querido Mês de Agosto



O Mês de Agosto é pior que uma virose infecto-contagiosa. Seu efeito é mais avassalador que uma virose. Agosto é sinónimo de enchentes, excessos, falta de civismo, ruído, música alta, gritaria, afundanços na piscina como se esta fosse exclusividade só de alguns, turistas com ar perdido e cansados de procurar por ajuda de gente capaz, preços inflacionados na restauração, filas para o pão, filas para os gelados, filas de trânsito, filas à entrada das discotecas de elite, filas de espera para comer, taxistas gananciosos que aos poucos vão matando o turismo na região com a sua esperteza saloia, excursões, romarias, muito fogo de artifício com altos patrocínios, angariados pela comissão de festa da terrinha, filas de automóveis que se estendem ao longo da via, aguardando estoicamente por estacionamento no melhor spot, operações stop ao virar da esquina, casamentos sem parcimónia, cheiro intenso a creme protector solar, crianças em euforia gozando de uma liberdade sem freios, desrespeito pelos sinais de trânsito, que ganham a qualidade de placas decorativas em tons de perigo e prevenção, cães incontinentes e donos despreocupados, filas nas caixas dos hipermercados, filas para levantar dinheiro, fila para abastecer nas bombas de gasolina, lixo acumulado, mau serviço, cheiro a churrasco, a indústria paraliza e o comércio ganha expressão com o chamariz dos saldos de fim de estação, incêndios com e sem mão criminosa, aceleras, buzinadelas cheias de carga nas mãos de manipuladores imbecis que carecem de atenção, francês com sotaque português, chicos espertos, ânimos exaltados, ataques de bola arremessadas por pés de pato,  pressa muita pressa, larápios à espreita, mirones, voyeurs ou, simplesmente, pasmões assumidos, garotas a querer parecer mulheres e mulheres a querer parecer garotas, para deleite dos engatatões, início de mais uma temporada de futebol com destaque para as novas aquisições e tema para dominar uma época, não fosse ele o desbloqueador de conversa preferido  dos machos militantes, aspersores de rega descontrolados, motards e seus malditos rateres. É a chegada do silly month. 
O Mês de Agosto faz-me lembrar os domingos de chuva no centro comercial. Só “pobo” aos magotes a ocupar todos os espaços, até os mais apertados, até caber. Socorrooooooooooooooo!
Loucura loucura para aqueles que gostam de viver no inferno e para esquecer, para aqueles que procuram sossego e oportunidade para apreciar sem ficar chocados.
Tudo choca no Mês de Agosto. É um mês que cultiva o mau gosto, a má educação, más atitudes, más posturas, más companhias, mau funcionamento, mau atendimento, que incita ao desgoverno, um mês onde o cumprimento de regras se torna a excepção e não prática corrente, basicamente, um mês sem limites.
Por tudo isto, o Mês de Agosto só é Querido por alguns.
Curioso é perceber que se fragmentarmos a palavra Agosto podemos convertê-la em A gosto, ou seja, o Agosto é assim mesmo, ao gosto dos seus seguidores que o tornam só seu e de mais ninguém, sem cerimónias e quanto mais piroso melhor.  

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Final Feliz

"Quando se ama alguém, tem-se sempre tempo para essa pessoa. E se ela não vem ter conosco, nós esperamos. O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar. A vida transforma-se numa estação de comboios e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar. O amor na espera ensina-nos a ver o futuro, a desejá-lo, a organizar tudo para que ele seja possível. É mais fácil esperar do que desistir. É mais fácil desejar do que esquecer. É mais fácil sonhar do que perder. E para quem vive a sonhar, é muito mais fácil viver."

in Diário da tua Ausência
Margarida Rebelo Pinto


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Não estavamos preparados mas sabíamos que ia acontecer. Mesmo assim arriscamos. Assumimos sem pensar naquilo em que nossas Vidas se iriam transformar. Muitas emoções se atropelaram, tantas que algumas ainda estão por descodificar e por pouco não arrasaram connosco. Volto a dizer, não estávamos preparados para abdicar de nós, das nossas vontades, dos nossos ócios e de alguns prazeres também. Apesar de continuarmos a dizer que trouxe felicidade, certo é que também abalou com alguns alicerces pouco sólidos e que ameaçaram ruir caso não tomássemos uma atitude.
Se calhar nós é que não havíamos dado conta que estávamos distantes, na forma de estar, de pensar, de reagir, de exprimir, de encarar a realidade. Muito provavelmente, andávamos distraídos no computador, no trabalho, na leitura, na selecção dos programas de tv, nas saídas a dois no meio da multidão, nos nossos hobbies e de repente temos que colaborar em equipa e criar consensos. Afinal, viemos a descobrir que também há algo que nos desune e em que nos revelamos antagónicos.
Cada um quis impôr suas razões e nenhum estava disposto a aceitar a razão contrária porque afinal estavamos ambos a colaborar para o mesmo e a dar o nosso melhor e nada mais ofensivo do que nosso parceiro para a Vida nos venha apontar erros ou más condutas, quando apesar de todas as contrariedades continuamos ali, presentes, activos, resistentes e a dar tudo de nós.
Quando damos por nós estavamos a discutir miudezas e a esgotar as energias remanescentes, que deveriam ser empregues em algo que ajudasse à regeneração física e psicológica.
Já nem havia tempo para lamber as feridas. Só havia tempo para repetir tarefas e descansar nos intervalos. Qualquer incómodo era encarado com a nossa máxima intolerância, a qual se encarregava de azedar o ambiente e contribuir para silêncios profundos, mágoas, distanciamento emocional, desilusão e uma sensação de perda iminente.
Estavamos demasiado cansados para procurar outras formas de reacção com efeitos apaziguadores. Limitavamo-nos a aliviar o nosso desespero com troca de palavras, mais letais que disparos de bala.
 Fomos obrigados a isolar-nos e cada um fazer a sua própria introspecção e tentar perceber se queríamos continuar a lutar ou desistir a meio. Se valia a pena aceitar nossas diferenças e não deixar que elas pesassem na nossa relação, dando continuidade à nossa história ou então encurtá-la e transformá-la num resumo dos melhores momentos e cada um seguir seu caminho, sem descurar nosso bem mais precioso.
Apesar de alguns saldos negativos, ainda ficamos com algum fundo de maneio para tentar mais uma vez recuperar a felicidade que existia quando estávamos juntos.  

domingo, 4 de agosto de 2013

Boas Surpresas


 
Acordei ao som de gargalhadas estridentes, que ecoavam em toda a casa e fizeram estremecer o meu gato persa “centelha”, que aborrecido se esgueirou para o jardim.
Na verdade, aquelas risadas eram me familiares mas, o despertar retumbante atordoou de tal forma o meu pensamento, que este demorou a reestabelecer-se. Precisei de alguns minutos para descobrir o culpado, por aniquilar a tranquilidade do meu sono, mas até que não foi difícil achá-lo. Só podia ser o Vicente e sua espaçosa e generosa forma de ser, que a todos conquista e eu, então, que o diga. Fui impiedosamente arrebatada pela sua envolvência magnetizante. Até hoje, ainda não parou de me surpreender com suas atitudes inesperadas de uma sensibilidade invulgar.
Aliás, nosso primeiro encontro foi no mínimo caricato, porém inesquecível. Estava eu a recuperar de uma cirurgia à tiróide, ainda sob observações médicas e sem data prevista para abandonar a enfermaria, quando sou abordada por um fulano de olhar castiço, em roupão e chinelos a condizer e, sem sinais visíveis de enfermidade. Nem parecia pertencer aquele local.
Da forma como estava vestido associei que, tal como eu, deveria ser inquilino temporário do hospital. Porém, seu contentamento despropositado, levou-me a suspeitar que tivesse fugido da ala psiquiátrica e aterrado na normalidade dos meus aposentos. São inúmeros os quartos de um hospital, mas sem qualquer razão aparente que o justificasse, foi justamente aterrar no meu e atormentar meu sossego. Logo eu, que prezo tanto a minha sanidade mental e evito conviver com a loucura dos outros para não vir a ser contagiada e perder o meu equilíbrio. Tentei não mostrar-me intimidada com sua presença e procurei reagir com normalidade mas, sem prolongar muito o diálogo, para não fomentar nenhum tipo de empatia. Esse era o meu objectivo. Eu digo era, porque se revelou totalmente o contrário.
Não tardou a apresentar-se e tentar ganhar proximidade. Iniciei automaticamente um processo de desconfiança e, para me defender de um possível ataque tresloucado, agarrei o botão de emergência e esperei que a ocasião surgisse. Seus modos educados, sua simpatia e amabilidade amorteceram o meu instinto de defesa, que deixou de estar alerta e fez soltar, sem esforço, o botão de socorro. Algo o tinha atraído aquele local e algo me atraiu nele e me fez acreditar que podia confiar. Certamente, a convalescença deixou-me mais carente e sôfrega de afectos.
Vicente, tal como eu estava hospitalizado e a recuperar bem, de uma operação na coluna. Anos e anos de más posturas, intensa actividade física, excessos de carga. Não que eu tivesse perguntado ou sequer presumido, esta foi a explicação, que ele mesmo, fez questão de revelar e que explicam o seu internamento. Se bem que não me admirou, quando apontou como uma das causas actividade física frequente e excessiva, a julgar pelo seu físico bem torneado, de fazer corar o seu antepassado Adónis. Se quisesse, já teria sacado o acesso à sua conta bancária, tal era a sua permeabilidade e vontade de se expor.
A julgar pelos dedos nus e sem marcas, não é comprometido mas quantas já não foram enganadas pelas aparências e conclusões precipitadas como esta. Prefiro continuar a guardar reservas.
Continuava sem saber o que o tinha atraído até ali e apesar de me achar uma pessoa frontal e sem rodeios, estranhamente, aguardava os próximos desenvolvimentos com expectância.
Finalmente, resolveu desvendar o mistério e acabar com o suspense.
A razão da sua intrusão deixou-me perplexa e ao mesmo tempo enternecida com a sensibilidade demonstrada.
O meu quarto, sem que eu me apercebesse, tinha vista para a praia e sua marginal iluminada, sempre movimentada por casais apaixonados, praticantes incansáveis de jogging, crianças endiabradas, astutos comerciantes, turistas incautos, entre outros. Vicente queria apenas sentir o palpitar da vida no exterior e assistir à mobilidade das pessoas no seu dia-a-dia. Sentia-se engaiolado e impedido de fazer o que mais gosta. Nunca tinha permanecido tanto tempo fechado e estava a detestar a sensação. Já não era muito do seu agrado, apesar de o fazer por consideração, visitar amigos e familiares hospitalizados. Sempre que era obrigado a isso, ausentava-se várias vezes com o pretexto do famigerado vício do tabaco.
Senti que as longas conversas que tivemos o acalmavam e o faziam esquecer desse lugar sinistro que é o hospital, sua mais recente morada temporária.
Foi nesse clima de cumplicidade que partilhamos a mesma janela e usufruímos demoradamente da companhia um do outro com a conivência do staff da enfermaria, que se rendeu à nossa vontade de estarmos juntos.
Naturalmente, criamos uma forte Amizade que se transformou numa crescente relação de Amor que tudo supera, até mesmo gargalhadas sonoras a consumir o meu sono e a fomentar a minha curiosidade. Apesar de tudo, deixei-me estar, sentia-me demasiado cansada para desperdiçar minhas energias com uma anedota ou piada qualquer, além disso, iria precisar de ter mais motivos para me rir de manhã, antes mesmo de encarar uma jornada de trabalho. Por isso, preferi questionar, no dia seguinte, a razão de todo aquele alvoroço nocturno.
Vim a saber que as explosões de riso foram provocadas pela seguinte mensagem, deixada pelo nosso filho Tiago de apenas sete anos:

“Pai e Mãe, a partir de hoje e para sempre, evitem beijos e recados prolongados à porta da escola. Eu sei que vocês me amam. Deixem-me crescer. Os beijos fazem-me encolher e os recados fazem-me chegar atrasado às aulas. Também vos Amo. Respeitem, por favor, meu pedido.
O Vosso Filho Tiago”.

Por fim, eramos dois pais comovidos por ter gerado um filho tão maravilhoso.
Valeu a pena ter esperado pelo dia seguinte e amanhecer com este dado novo. Nosso filho está a crescer e nós vamos ter que conviver com isso e resignarmo-nos às evidências.

Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...