quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Algumas Irritações

  

Bancos Altos de Bar

Sinto-me uma mostrenga a subir para um desses bancos do além. Sou alta e não tenho um ângulo privilegiado de pernas que me permita saltar para cima de um desses canastrões de madeira, sem falhar o alvo. Além do mais, não me entusiasma estar mais próximo do teto e desafiar a gravidade que vai, seguramente, resultar em dor.

 

WC estreitos

Quando comes mal, o serviço é péssimo e ainda levas com um destes na rifa. É o trinómio perfeito para lhes partir a montra, ao estilo dos membros da ETA. Inclusive, perdi a conta às vezes que saí cheia de contusões e perfumei-me de hirudoid, como se fosse protetor fator 50+.

 

Caras de cú na caixa  

Prontas para estragar nosso dia e com a metralhadora carregada de maus modos. O pior disto tudo, é que no meu entendimento, uma atitude destas é, claramente, maldade gratuita e apetece-me revidar, ainda para mais, quando sei que me preocupo em ser gentil e compreensiva, para com quem está a trabalhar e a ganhar o seu ganha-pão. Ativam o meu lado selvagem.

 

Trocas no período de Natal

Nunca encontro o meu tamanho e se desvio para outro artigo, na tentativa de ganhar mais opções ou não é do meu agrado ou alguém toma a iniciativa de se juntar a mim e perseguir os meus gostos, encurralando a minha vontade de concluir a troca.

 

Considerações à mesa que matam o teu apetite

Sabem aquelas pessoas que colocam defeitos em toda a comida que é servida fora de casa? A comida até te está a saber bem, estás a desfrutar do momento e alguém resolve trazer suas notas pessoais sobre a forma como lhe está a saber, que por sinal é má. Saem das refeições a queixar-se da azia e eu, de tê-las ao meu lado.

  

Quando te deixam as asas

Quando isto acontece, prefiro ligar a torradeira e torrar pão. Asas não trazem conforto e eu adoro comida de conforto. Inibem a minha vontade de comer e aumentam a vontade de odiar as pessoas que me fazem isso.

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Tabela de preocupações

Zero preocupações, traz muitos perigos.
Acordei esta manhã com este pensamento - zero preocupações traz muitos perigos.
Será que é possível ter zero preocupações?
Neste mundo?
Provavelmente, só os psicopatas desprovidos de consciência, gozam deste estado de despreocupação total. O resto dos mortais vive ansioso, logo, preocupado.
Até mesmo parados, em descanso, nunca abandonamos o nosso estado de vigilância, fio condutor das preocupações latentes.
A consciência da nossa realidade, o nosso papel no mundo, as nossas responsabilidades, as ligações que criamos, os compromissos estabelecidos, os atrasos, as perdas, as renúncias, as ilusões e desilusões, humanizam-nos. Tudo isso ocupa espaço e arrumá-lo, da melhor forma, para que tudo caiba sem desconforto, gera muita preocupação.
Os psicopatas não desenvolvem esse tipo de ansiedade, nem somam preocupações reais.
O perigo de contrair zero preocupações é, mesmo esse, deixamos de ser pessoas com sentido de humanidade.
Viver bem é cuidar do que nos humaniza e esse cuidado, implica lidar com preocupações existenciais.
Preocupemo-nos em viver, bondosamente, bem.


segunda-feira, 18 de novembro de 2024

O ato de viver

Quando somos crianças, viver é uma prioridade. À medida que crescemos, banalizamos o ato de viver.

Gastamos tempo, em vez de viver.

A urgência das crianças em viver é uma declaração de felicidade comovente.

Adultos e crianças têm urgências diferentes. As crianças precisam tocar para sentir e os adultos precisam conquistar para sentir.

A vida entregue a  diferentes pulsações e batimentos, assume diferentes níveis de importância e modos de participação e nem todos estão sujeitos aos mesmos esforços e provações e se para uns, viver implica contrariar um destino traçado, para outros, basta corresponder a um legado que os enche de confiança e orgulho.

Parece que nunca estamos completos, por mais esforços e desvios que façamos, para alinhar com aquilo que vemos funcionar nos outros e achamos combinar com felicidade.

Aquilo que nos assombra e nos paralisa, não os incomoda e sublinha a sua superioridade humana.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

"Num mundo de cegos quem tem olho é rei"

A seguir ao atentado às torres gémeas, este é o pior acontecimento do ano nos Estados Unidos da América e que promete abalar o mundo.
Ainda não eram 8 da manhã em Portugal e Trump já cantava vitória. 
O mundo aos pés de um déspota republicano, com cadastro criminal, que afirma devolver aos americanos, a América gloriosa de outros tempos. 
Um homem fácil de odiar, por tudo aquilo que ele personifica, a quem os americanos depositaram o poder de decidir o que fazer das suas vidas, nos próximos quatros anos.

Kamala não soube seduzir a América ou dizer aquilo que os americanos queriam ouvir. 
Pelo contrário, Trump estudou muito bem o seu eleitorado, a forma como podia propagar a sua mensagem e conquistar mais votantes.

Ganhou o candidato com o melhor pitch.

E agora?

No epicentro das preocupações mundiais estão a invasão da Rússia na Ucrânia e o Conflito entre Israel e Palestina, que desencadearam duas grandes guerras, motivadas por disputas territoriais.

Benjamin Netanyahu e Vladimir Putin, a liderar estas duas guerras às portas da Europa, a proximidade entre Benjamin e Trump, a desconfiança de Putin relativamente às intenções de Trump, as deslocações forçadas das populações dos países em guerra, o fluxo crescente de migrações e o fecho das fronteiras, precipitam cenários nada auspiciosos. 

A liberalização do acesso ao porte de arma e o aumento da criminalidade.

As tarifas que Trump quer aplicar às importações, não só vão abalar a economia global, como encarecer os produtos nas prateleiras e colocar os americanos em grandes apertos.   

O esmagamento das minorias sociais.

A concentração do poder e a tentação de tirar aproveitamento dessa condição. Algo que Trump domina na perfeição.

Agora é a vez de Trump recompensar os amigos influentes com medidas protecionistas dos seus negócios, atribuir cargos públicos de destaque aos seus aliados, favorecer os parasitas do poder.  

A objetificação das mulheres.

O desrespeito pela imprensa, pelos jornalistas, pela liberdade de expressão.

Uma hecatombe de problemas ameaçam abalar o mundo.

Saramago previra esta cegueira generalizada e contagiante.











sábado, 19 de outubro de 2024

De Toalhete em Toalhete

 Toalhetes de mesa, em papel, são uma tentação!

Quem como eu, faz-se acompanhar da sua caneta de estimação, antecipando vir a encontrar um toalhete de papel livre, a cheirar a novo, à sua espera, não resiste em colonizá-lo, com desenhos, frases, desabafos, elogios, devaneios, sensações e um filão de emoções soltas.
O toalhete de papel pode dar início a um projeto profissional, levar à concretização de um sonho, expor as dores, que guardamos cá dentro, avivar memórias, registar momentos, programar viagens, definir metas, promover diálogos internos e muito mais.
Eles existem para descarregarmos algo que nos consome, naquele lapso de momento, de bom e de mau e que. precisamos libertar, para depois sair em modo abandono e dar lugar ao rasto seguinte.
Alguém irá sentar-se no lugar que, por instantes, foi meu, diante de uma nova moldura de papel e deixar suas impressões digitais, borrando as minhas, entretanto, jogadas no lixo ou borrifadas com spray desinfetante. 
Eu, entretanto, muito provavelmente, já estarei do outro lado da rua, ocupada a vigiar o semáforo e seguir viagem, para outras paragens, que me hão de levar a novos toalhetes de papel. 

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Vou sair de fininho!

 Hoje, amanhã e depois não irei estar.

Seria bom que no meu primeiro dia de ausência infinitamente prolongada, haja choros, choros de bebés a nascer.

Eu já cá não ficarei para ver, mas vocês sim e o facto de permanecerem cá, então, é porque a vossa missão continua viva e cheia de intenção.

Se pudesse, escolhia sair de fininho, ao som das vossas gargalhadas, ao som das vossas palavras silabadas, revestidas de amor e com hálito a espumante rosé e beijar-vos-ia de longe, com a certeza de que nada vai mudar este estado de felicidade.

Vou levar-vos comigo, em formato slide e rodar a película dos melhores momentos em loop. Só ainda não escolhi a banda sonora que vai acompanhar o acontecimento. Nada muito pesado e deprimente, nem lamechas. Algo com power, ao jeito do divino.

Ainda não me deram indicação da nuvem onde posso aterrar e quem serão os meus vizinhos do lado. Só espero que me recebam com um café quentinho e gostoso. Será o meu quinto ou sexto, mas uma vez morta, que se lixe, as dependências passam a ser um mal menor 😁

Não esperem por mim. 

Não se deixem consumir pela saudade. O vosso amor sente-se, mesmo estando muito longe. É intenso e perfumado.

Obrigada por tudo!

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Escapei por um triz

Em 2016, Diana Quer, com 18 anos, desapareceu na região da Galiza.

Numa manhã quente de agosto, quando me preparava para sair do aparthotel e passear pelas calles de Salamanca, sou atraída por uma notícia de última hora, que anuncia o desaparecimento de uma jovem madrilena, de 18 anos, a passar férias na Corunha. O seu nome é Diana Quer. 
Entretanto, já se passaram 8 anos e o nome Diana Quer, não me sai da cabeça. Hoje, regressei a esse acontecimento trágico e o que me deixa intrigada é saber o que está na origem desta minha fixação, se não tenho nenhuma relação afetiva com a vítima, nem com a sua família, apenas uma forte empatia pelo sucedido e, infelizmente, este não foi o único acontecimento trágico a merecer destaque noticioso e cujas vítimas são jovens mulheres indefesas, que gostam de sair à noite e se divertir. Todos os dias e cada vez mais, assistimos a casos de mulheres violentadas e mortas por predadores sexuais, que aparentam ser inofensivos e disponíveis para ajudar. 
O cadáver foi encontrado dentro de um poço, numa antiga fábrica de móveis abandonada, na localidade de Rianxo, perto da zona onde vivia o seu assassino. 
O autor do crime tem nome de goma e um sorriso bobo e infantil no rosto. Chamam-no de "El Chicle" e durante anos, esta alcunha pode muito bem, ter ajudado a encobrir os seus crimes, apoiado por uma família, que preferiu ignorar o óbvio e acentuar a sua perturbação mental e criminosa.
Esta história ficou gravada em mim e o meu consciente recusa-se a eliminá-la do seu histórico e, o mais curioso, é que não encontro respostas para esta fixação que, infelizmente, não pertence a nenhum quadro invulgar de tragédia.
Tal como a Diana Quer já fui jovem e estremeço quando penso, poder ter sido alvo de algo parecido e creio que, só não fui, porque algo se intrometeu no caminho e me desviou de todo o mal.
Tudo o que podia dar errado eu fiz e, talvez por isso, eu me obrigue a reviver a história da Diana Quer e pensar na sorte que tive por não acabar como ela.
Algo no meu íntimo me diz que, já tive na mira de ser atacada e escapei por um triz.
Sair com estranhos, que conheci numa noite de diversão, regressar a casa de madrugada, sozinha e a pé, ficar alcoolizada e sem noção do que disse ou fiz, dar boleia a estranhos, receber boleia de estranhos, denunciam o tamanho da minha irresponsabilidade e o quão próxima estive de ser a protagonista de um crime, com o mesmo desfecho da Diana Quer.

 


sábado, 31 de agosto de 2024

Máquina Diabólica

Eu assumo, em tom de penitência, que sou bruta com a minha máquina de café. Até tenho vergonha de confessá-lo, mas quem diz a verdade, não merece castigo.

Será que alguém se identifica comigo, neste acesso de loucura repentino e repetitivo?

Sinto que, ela pressente o meu vício e urgência imediata em tomar um shot quente de café e tenta boicotar a minha vontade. Assim que, coloco a cápsula no encaixe próprio e tento fechar a tampa, um universo todo conspira contra mim. A tampa recusa-se a fechar e a gaveta, depósito das cápsulas, não abre, um riacho de água com sujidade, se acumula junto à máquina diabólica, enquanto, suo e ressaco, numa cadência descompassada desesperante, que me impede de desistir.

Esta batalha dura 5 a 10 minutos mas, para mim, parece uma eternidade, contudo, compensa todos os esforços suados e desesperados para, no fim, beber a minha bebida estimulante preferida.

Beber café representa um mimo que eu ofereço a mim própria, uma pausa reconfortante que me desvia das maçadas do dia a dia. São demasiadas pausas, demasiados cafés e um prazer antigo, do qual não abdico.

Como todo o viciado, rejeito essa condição que me querem colar de dependente. Se quiser, abandono de imediato este meu prazer, só preciso de encontrar um melhor substituto para o café. 

De vez em quando e isto agora vai soar paradoxal, reduzo as pausas, na tentativa de estabilizar a taquicardia e só regresso, quando a frequência cardíaca volta à normalidade. As minhas pausas curtas incluem café, a droga quente e aromática mais bebida do mundo e com uma legião de adictos.

A oferta de um café é um ato de excelsa generosidade, que me leva às lágrimas e quem o faz merece constar das minhas boas orações. Para além disso, a oferta de café é um excelente desbloqueador de conversa e a oportunidade de abrir clareiras, de outro modo, intransponíveis.

Se me dão licença, está na hora da minha pausa para café, com vista para o Santuário da Nossa Senhora do Alívio e mais além.


sexta-feira, 30 de agosto de 2024

DESNUDA



 *** SE MORRESSES AMANHÃ… ***


… e pudesses escolher uma lista de coisas para fazer…



1. Onde é que ias... e porquê? (Podes escolher qualquer sítio no mundo!)

A oportunidade de recuperar a memória dos lugares, pessoas e momentos, onde fui realmente feliz e regressar a eles, supera qualquer viagem que gostasse de fazer. Infelizmente, a nitidez da memória que grava os acontecimentos bons é muito fraquinha e isso, sempre me prejudicou.



2. Qual era a tua última refeição?

Uma bola de Berlim recheada de creme e polvilhada de açúcar granulado.


 

3. O que dizias num último post?

Como sou do tempo da escrita em papel e o prazer da escrita, nasceu desse gosto de escrever em cadernos com marcadores pretos ou esferográficas, com tinta que escorre bem, deixarei uma carta para as pessoas da minha vida.

 

4. Para quem é que fazias o último telefonema?

O telefonema é muito impessoal e promove uma distância, que não revela fielmente o que queremos dizer.



5. Qual era a tua última bebida?

Um sumol de laranja, bem fresco



6. Qual era a banda sonora ou playlist do teu último dia?

Ia em silêncio


 

 7. Pedias DESCULPA ou dizias OBRIGADO a alguém?

Eu estou, constantemente, a desculpar-me e a agradecer, a tudo e todos, num exercício interno diabólico e castigador, que me retira paz e liberdade para agir em função de mim, do que gosto e daquilo que me faz feliz.

 


8. A quem é que vendias o teu carro?

Não vendia. Fica tudo!

 


9. A quem é que dizias AMO-TE?

A mim mesma. Algo que nunca disse, porque nunca senti.

Quero acreditar que as pessoas que amo sentem o meu amor, com ou sem verbalizações.

Não partirei sem dizer, a cada um deles que os amo profundamente.

 


10. Qual era a última coisa que compravas?

Não comprava nada.

As “coisas” valiosas são invisíveis, não têm preço e têm de ser conquistadas.

terça-feira, 27 de agosto de 2024

#BULADOSVIVOS


 

#BULADOSVIVOS

Eu amanheci bem mas, esbarrei com pessoas pouco ou

nada matutinas e quando quis ignorá-las, meu ego

ressentiu-se e um ego ressentido, cuidado, contamina

tudo o que move.

Tentei voar para o espaço sideral e ultrapassar o limite 

da terra mas, como esqueci de contar até dez e 

respirar fundo, perdi o voo e a manhã, que tinha começado tão

bem.

#BULADOSVIVOS

 


sexta-feira, 9 de agosto de 2024

BLOQUEIO CRIATIVO

Este calor infernal compromete a minha criatividade. Sinto que, funciono melhor em dias cinzentos, frios e chuvosos.
Apesar de não parecer, a criatividade obedece a uma disciplina que, obriga a exercitar todos os dias. A elasticidade criativa é expandida através de práticas disciplinares regulares, com horários definidos e uma boa chávena de café a fumegar.
A disponibilidade para começar algo, promove a ação e uma vez em ação, não podemos contrariar o chamamento da criação e, muito provavelmente, chegaremos a um resultado que, para ser efetivamente bom, terá de ser revisto e editado.
Se esperamos ficar inspirados para começar, nada acontece e desperdiçamos tempo significativo.
Subitamente, lembrei-me das missas e suas bençãos finais e uma, em particular que, sempre me intrigou e continua a intrigar - "Ide em paz e o senhor vos acompanhe".
Em criança, aguardava que alguém me viesse acompanhar até à saída e fazer todo esse caminho em paz, sem alvoroço. Não havia ninguém, destacado para esse papel. Cheguei a pensar que estaria ocupado e regressaria, mais tarde, para me vir acompanhar, mas tal não aconteceu e um puxão familiar forçou a minha saída.
A inspiração não funciona como um recurso, ao qual recorremos sempre que nos pode ser útil. Há todo um ritual necessário para que, a inspiração se manifeste e total disponibilidade sensorial para a receber. A inspiração é como esse senhor que eu, muito mais tarde, percebi ser o tal Deus omnipotente e que só aparece, quando estamos disponíveis, predispostos, sensíveis e envolvidos.
É preciso estar pronto!  

terça-feira, 9 de julho de 2024

A MORTE ACENOU-ME DE LONGE

Quero partilhar algo que me aconteceu recentemente e que eu suspeitava poder vir a acontecer novamente.
Já aconteceu no passado, num contexto e dimensão diferentes mas, tal como desta vez, comprometeu a minha paz e fez-me duvidar da minha capacidade de superação.
Desta vez, o cenário tinha céu, asas, nuvens e saídas de emergência, entre outras distrações.
Uma voz feminina, impecavelmente apresentada, no cumprimento das suas obrigações profissionais, dá-nos as boas vindas e atira com um "have a pleasant flight".
Uma frase repetida muitas vezes e já sem força para provocar reações. Um autêntico placebo, sem efeitos na terapêutica de medos e fobias.
Desta vez, fiquei junto ao corredor, encostada às casa de banho e muito próximo das hospedeiras e das saídas de emergência. Uma pseudo sensação de conforto, com benefícios no meu bem estar. 
Apesar de ser uma viagem de curta duração, num espaço aéreo imperturbável, apoiado por uma torre de controle experiente, continuava inquieta e sem nada para fazer, a não ser dormir.
Não sei como, consegui gerir as quase três horas de voo, sem entrar em pânico.
Finalmente, o avião aterrou com segurança em Zurique e, assim que, emitiram o sinal para desapertar os cintos de segurança, levantei-me de imediato, para garantir um dos primeiros lugares, junto à saída. Até aqui, tudo bem!
Infelizmente, imprevistos acontecem e a escada que encosta ao avião tardava em chegar e foi-nos informado que, poderia levar alguns minutos e teríamos de aguardar.
Neste momento, o ar fresco tinha sido desligado, o calor tinha-se expandido e sem espaço disponível, para libertar a minha tensão nervosa, entrei em pânico e perdi a noção de como se respirava. Por momentos, lembrei da respiração descompassada, provocada pelas contrações de parto.
Ao mesmo tempo que, tentava resistir ao calor sufocante, desesperava por encontrar pensamentos refrescantes e apaziguadores.
A morte acenou-me de longe e só não se aproximou mais, porque, entretanto, as portas blindadas do avião se abriram e a corrente de ar me encontrou.




sexta-feira, 24 de maio de 2024

quarta-feira, 22 de maio de 2024

Inquietações de Mãe

Nasci num período de tempo, marcadamente patriarcal e intimidatório, que obrigava os filhos a obedecer cegamente aos pais, sem reclamar e sem fitas. A nossa opinião, a nossa versão da história, as nossas vontades, os nossos gostos, eram abafados diante da dupla de gigantes de peso, chamado PAIS.

Cala e Aceita.

A mim custou-me horrores, calar e aceitar, principalmente, quando me retiravam a palavra, me ignoravam, desvalorizavam a minha participação e não compreendiam as minhas dores, o meu descontentamento e frustração.

Hoje, sou mãe e tento contrariar essa obediência cega, da qual fui vítima e procuro dar oportunidade ao meu filho, de se expressar, de expor os seus motivos, desabafar, convencer-me a mudar de opinião e, sobretudo, entendê-lo melhor. Uma missão nem sempre fácil e serena. 

Para além de existir um gap geracional entre nós e um histórico de vida, que me permite antecipar cenários, consequência de comportamentos repetidos, há uma vontade própria que se quer impor, ingénua, contrariadora e que rejeita ser disciplinada.

Sempre que o convoco a cumprir as suas tarefas e tomar consciência do excesso de tempo entregue aos gadgets e a necessidade de se desviar desse mau vício e experimentar ler, escrever, desenhar, tocar um instrumento musical, praticar desporto, desenvolver as suas capacidades de outra forma e, sobretudo, não desperdiçá-las, contraria-me e reage como se atacasse a sua personalidade.

Por vezes, a temperatura das nossas conversas sobe e dou por mim, a imitar os meus pais e fazê-lo sentir-se culpado pelas suas escolhas e atos.

É neste preciso momento, que o perco para o quarto.

No silêncio, me culpabilizo por não saber agir com maior maturidade emocional e evitar fragilizá-lo.

Os gatilhos do passado foram ativados, bem como, os receios de o perder para uma vida triste e insignificante.

O stress domina-me com a lembrança dos perigos atuais e a vulnerabilidade dos jovens, mais suscetíveis de ceder à atração para esses abismos. Não quero que ele perca as oportunidades, que hão-de defendê-lo neste mundo.

Se calhar há aspetos em mim ainda por resolver. Claro que há! No entanto, sinto que não posso deixar de o orientar e desviá-lo de certos comportamentos perniciosos.

Só espero que estes "desequilíbrios" ocasionais, não comprometam a sua felicidade e sirvam para trabalhar nossa comunicação e entendimento.

 

terça-feira, 21 de maio de 2024

Engorda Olfativa

Nunca sabemos quem se vai sentar ao nosso lado no avião. A curiosidade cresce. O que o (a) trouxe até aqui? Que histórias viveu, antes de se sentar ao meu lado? O silêncio é o único diálogo cativante, até que alguém interrompe e faz desviar o meu pensamento, para algo trivial e longe de ser importante, mas tudo bem, já estava a ficar sem conteúdo interior e a precisar interagir levemente. A hospedeira pergunta se prefiro a refeição de carne ou peixe e eu, sem fome para nenhuma das duas, mas a precisar comer, opto pela de carne, assim como o meu parceiro do lado, que nem o sono faz pular refeições. No instante em que, recebo o tabuleiro com a minha refeição sinto-o sorrir dos meus modos atrapalhados. Ignorei para não ser assaltada por pensamentos automáticos autodestrutivos. Porém, ele continuou sorridente e trocista. Continuei a desvalorizá-lo, ao mesmo tempo que, tentava apreciar a carne, borrachuda, sem tempero, sem molho, insossa, com sabor a cela de prisão. Na verdade, era tudo o que eu tinha naquele momento, para me desviar daquele encosto trocista.
Inesperadamente, uma voz quente e sussurrante, decide aumentar o meu incómodo e pergunta se aceito o seu pão. Dito assim, soa pornográfico. Eu sei! Sem querer, já estava até a imaginar o grafismo daquele momento inusitado. Um homem sentado na cadeira ao meu lado, a oferecer-me o seu pão é, no mínimo, constrangedor. Certamente, deve ter pensado que sofro de compulsão alimentar.
Acontece que, eu gostei. Adoro quando me oferecem comida. Para mim, nascida no final da década de setenta, é um ato de generosidade. Os cheiros da minha infância têm todos a ver com comida. Eu até costumo dizer que a minha engorda é olfativa.
Lógico que aceitei o seu pão e lógico que, meus pensamentos entraram em curto circuito.




segunda-feira, 20 de maio de 2024

Pecar fininho

Só um pouquinho! 

Quero uma fatia bem fininha!

Não enchas o prato!

Quando recebo este tipo de pedido, minha mão tremelica de desdém e o meu olho escorre sangue.

Será que devo recorrer à régua e esquadro ou, para uma maior precisão, será melhor recorrer à medição a laser?

Já me conheço e sei que não vou aguentar, se a fatia cortada for rejeitada por estar acima do peso ideal.

Quem deveria determinar o tamanho da fatia deveria ser eu, a mulher que segura a faca do bolo na mão. Aliás, nem é aconselhável desafiar alguém, que está diante de nós e segura um objeto contundente nas mãos. Pode ser trágico!

Para além disso, bolo não é fiambre para solicitar fatias fininhas.

Cada vez que alguém pede uma fatia do bolo preferido translúcida, dita às pessoas circundantes e que, tal como ela, manifestam vontade de comer uma fatia de bolo, que o façam mas com muito autodomínio. Um convite a pecar às escuras e apressadamente.




segunda-feira, 13 de maio de 2024

Inimigos das Grandezas

Bani todas as lojas de roupa, com tamanhos até ao L.
Já aconteceu, aliás, está sempre a acontecer, entrar no seu universo e me sentir encantada com todas as opções de pronto a vestir disponíveis e esbarrar, com tamanhos nada inclusivos e espelhos diabólicos. Como se não bastasse, os tamanhos possíveis, não correspondem fielmente à sua atribuição, enganam-nos com fechos interiores invisíveis, botões frágeis, costuras sensíveis, zero elasticidade, aberturas estreitas, que entalam toda a nossa dignidade.
Estou, inclusive, a pensar tornar-me ativista desta causa e tentada, a atirar tinta para as montras dessas lojas, inimigas da minha grandeza e deixar lá carimbado, o meu rabo tamanho XL, com a seguinte mensagem - Façam o molde! :)
Am I right or am I wrong?

terça-feira, 7 de maio de 2024

ESTAMOS A RECRUTAR!

 

Quando leio esta afirmação no linkedin, num portal de emprego ou numa rede social qualquer, para ser vista por milhares de pessoas, antevejo um cenário muito comum e omisso.

Queremos um(a) profissional que preencha o lugar deixado vago por outro profissional(a) que, se cansou de nós e dos nossos abusos e que faça o mesmo ou mais ainda. Não podemos perder tempo a acompanhá-lo, integrá-lo e ensiná-lo. Na verdade, queremos alguém que tape um buraco e viva dentro dele até nos ser útil.

Basicamente, queremos um Ser mitológico com competências técnicas extraordinárias, características psicológicas excecionais, disponibilidade total, quatro pernas, a mesma quantidade de braços, alado, todo ouvidos, dono de uma paciência elástica, um olhar clínico, uma mentalidade vencedora, uma voz representativa, isenta de opiniões e sugestões, ativo, mas sem pretensões de casar e ter filhos, independente emocional, sem bexiga, sem intestino, com boa aparência e melhor apresentação, ambicioso, mas não muito, fluente em todos os idiomas e linguagens informáticas, gosto por comunicar e viajar.

Salário compatível com as funções de aprendiz.

Impossível, recursar!

quarta-feira, 24 de abril de 2024

O Desporto enquanto afluente

Amo ver desporto. Não me rendo a todas as modalidades, mas são muitas as modalidades às quais me rendo.
Desde muito nova que, cultivo este interesse e uma das minhas mágoas é não ter cultivado a prática de uma dessas modalidades, com a mesma intensidade e felicidade, com que as assisto e, poder dizer ao meu filho que, competi por uma equipa, um clube, uma nação.
Sempre fui coordenada, ágil, flexível e com resistência física.
O que impediu a minha progressão ou passagem para uma vertente competitiva?
Com o distanciamento da idade, percebo agora que faltou disciplina, dedicação e espírito competitivo. Para além disso, também sentia que havia excesso de protagonismo e vaidade da parte de algumas atletas, que me faziam sentir uma formiguinha desviada do seu carreiro.
A minha muralha emocional, naquele tempo, era muito baixa e frágil, bastava um risinho escarnoso para me remeter ao isolamento.
Sei que o desporto me poderia ter salvo de alguns contextos e me erguido nos seus ombros largos e fortes. Naquela época, teria sido reconfortante sentir-me acolhida e importante.
Em alternativa, desaguei na escrita e foi dessa forma que me libertei. De certa forma, quem me salvou foi a escrita, embora num modo lento e discreto.
Ultimamente, vingo-me a jogar raquetes de praia, no chão de areia húmida, juntinho ao mar e só paro, quando o adversário dá sinais claros de desistência. Venço-o pelo cansaço e socorro-me dos meus inúmeros recursos. Inclusive, já angariei alguns espectadores aleatórios e muito atentos.
A Vida não me fez desviar totalmente do desporto, ora como espectadora, ora como praticante, se bem que, com algumas intermitências. Continuo a manter-me próxima dele e a sentir que, nos seus ombros largos e fortes, me ergo de confiança.
 

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Escassez de "Nabeiros"

 

Estamos a caminhar a passos largos para uma escassez de “Nabeiros”.

É preciso ainda mais empreendedores, responsáveis de negócios, empresários, donos de indústrias produtivas e transformadoras, empregadores, visionários, homens e mulheres com iniciativa para criar e entregar valor, impulsionadores de ideias, o que lhe queiram chamar.

As conjunturas atuais vão sendo cada vez menos favoráveis à criação de empresas de uma certa dimensão e com um grau de responsabilidade elevado. A incerteza é o principal fator dissuasor.

Se dantes havia muito com que nos preocuparmos, atualmente, mais ainda. As guerras regressaram, com elas a escassez de produtos e recursos, o seu encarecimento, a fome, a alta taxa de mortalidade, a baixa taxa de natalidade, o envelhecimento populacional, a deflorestação, a contaminação, as pragas, os incêndios, as cheias, os novos vírus epidemiológicos, os golpes de estado, as quedas dos governos, a corrupção crescente, a dependência financeira, os lobbies, corrigir injustiças salariais, a obrigação de cumprir com as normas e políticas europeias, o pacto de estabilidade e crescimento, os critérios de convergência, a carga fiscal pesada, as oscilações das medidas governativas, a burocratização e centralização do poder, a crescente pressão tecnológica, a invasão da inteligência artificial, os ciberataques, a volatilidade dos mercados, as mentalidades emergentes e o seu impacto nos negócios e nas nossas vidas. Tudo conspira contra o sonho de criar algo nosso, com benefícios internos e externos.

É cada vez mais evidente o quanto isto é efémero e cresce a desmotivação de empreender algo duradouro e permanente.

Se houve algo que o ano 2020 nos ensinou é que imprevistos acontecem e temos de estar preparados.

 

Enquanto familiar direta de um empresário, desde cedo, senti na pele, o quanto custa manter e prosperar um negócio. Há muitos riscos e perdas envolvidas.
O empresário tem momentos de solidão e angústia que ninguém parece entender, a não ser os próprios.

A fibra do empresário deste século e dos séculos vindouros, não se pode revestir de excesso de confiança, excesso de trabalho, uma só palavra, vaidade desmedida e muita fé. As rezas e ações terão de ser outras.
O empresário vingador é aquele que humaniza a sua organização e descola-se da rigidez do seu papel de gestor de negócios.

Há cada vez mais fatores externos a ameaçar abalar o sistema empresarial vigente e a ditar desvios e tendências à velocidade da luz, o que quer dizer que, ou te adaptas e acumulas vantagens competitivas diferenciadoras, ou morres.

Nem todos podemos ser “Nabeiros”. Porém precisamos, urgentemente, de homens e mulheres com a vontade, a disponibilidade, a abnegação, a preparação e as capacidades certas, para lidar com os desafios e adversidades atuais, para dar continuidade aos negócios e fazê-los crescer.  

terça-feira, 16 de abril de 2024

Colonos do Algarve

Ainda sem idade para entrar no segundo ciclo e, meus pais, já arriscavam ir conosco para o Algarve. Recorde-se que, há quarenta e quatro anos atrás, não havia tantas auto estradas, nem trajetos fáceis, muito menos, trajetos rápidos e anti vómito. Muitas vezes, fomos sujeitos ao para arranca e sempre que éramos obrigados a parar, as sombras encolhiam diante do imenso astro quente. Corados de sol e transpirados de irritação, acusávamos impaciência ao cubo. Não havia sono que nos pegasse. Entretanto, meus pais tentavam não descarregar tudo em nós. Cada vez mais inquietos e endiabrados, vomitávamos estrada pelos olhos e os pedidos constantes para fazer xixi, era a forma de escaparmos aos encostos suados, porém, já tínhamos esgotado todas as vidas e, já sem margens de tolerância, minha mãe reage e distribui, em modo automático, safanões nas nossas pernas, apesar de, se o quisesse, estar capaz de alcançar as nossas orelhas. Seu braço, subitamente, parecia uma viga com propriedades elásticas e flexíveis extraordinárias. 
O remédio não foi santo, eu diria que, foi certeiro e nos pôs a dormir com um só knockout, o  resto do caminho. Quando acordássemos, nem saberíamos o que nos tinha acontecido.
Finalmente chegávamos, famintos, pegajosos, estremunhados e de sacas na mão, percorríamos o jardim do aldeamento, à procura de sinais de diversão, presenças amigáveis e simpáticas, que queiram brincar conosco e tornar as férias de verão memoráveis.
Nós agíamos como hóspedes convidados.
Nem as quedas de bicicleta tatuadas no corpo nos faziam abrandar. Da bicicleta, pulávamos para as raquetes de praia, das raquetes de praia, para os saltos e mergulhos para a piscina e nem os warnings do vigilante, que ameaçava interditar a nossa entrada no recinto, nos fez estremecer.
Os últimos a abandonar o recinto éramos nós, mirrados e cansados de felicidade.
Minha mãe bem tentou ler "A falha dos deuses" de Zenita Bladin, mas não passou do prefácio. Para ela nunca foram férias. 
Enquanto o nosso pai jazia na espreguiçadeira e demitia-se de todos os seus papéis. em compensação, a nossa mãe vivia em sobressalto, sem saber onde estávamos, o que estávamos a fazer, preocupada com a insolação, a indigestão, a alimentação, os banhos, as mudas de roupa, o sono, a bexiga cheia e a precisar esvaziar.
No ano seguinte e sem que nenhum de nós suspeitasse, voltavam a marcar férias nas praias do sul e a sujeitarem-se, novamente, às cargas do costume.
A minha mãe jurava que seria a última vez que iria de férias conosco para o Algarve e desfiava suas razões, enquanto nós, engolíamos a culpa, em silêncio.
Até o meu pai respeitava aquele momento, só dela.
Sabíamos que ia passar, só tínhamos que lhe dar tempo, até se recordar das nossas risadas à mesa, dos nossos mimos e abraços, do nosso cheirinho suave após o banho, das nossas piadas inocentes, dos colinhos de sono, das corridas na sua direção para mostrar todas as proezas que somos capazes de fazer, do nosso apetite voraz e do nosso despertar sem contrariações.
Com o tempo nossos pais foram ficando cada vez mais óbvios e mais importantes.

 


       
 

 

quarta-feira, 10 de abril de 2024

O que se seguirá?

Estou quase a chegar aos 50 anos e já se nota.

Todos os dias ganho um sintoma novo e não sei bem o que fazer com ele. Deixo que passe ou corro para as urgências, antes que seja tarde demais?

Agora entendo a minha mãe e seus acessos dramáticos, apesar de ter jurado para mim mesma, que ia ser uma pessoa muito diferente. A juventude deixa-nos convencidas e capazes de atrair os melhores atributos, aqueles que nos hão de levar mais longe e a lugares mais leves e animados.
Nem a frase que ela usou e fez aninhar os nossos ouvidos, mudou. Desta vez, sou eu a adotá-la e não me canso de repeti-la - " Um dia, quando eu não estiver cá, vocês vão dar-me valor e sentir minha falta. Só que, já será tarde".

Aos doze anos somos atacadas pelo monstro vermelho, obrigam-nos a usar soutien e a cruzar as pernas quando usamos saia, os pelos crescem livremente e povoam todas as zonas do nosso corpo, ganhamos ansiedade, irritabilidade e reagimos com agressividade.
Somos invadidas por uma avalanche de emoções e tudo assume dimensões gigantescas e catastróficas como, por exemplo, não ter sido convidada para a festa da amiga popular, que faz sensação sempre que chega à escola, na sua scooter pink, brilhante e berrante. Na verdade, um espelho seu.

Como se não bastasse tudo isto, ainda somos metralhadas pelas tias, avós e amigas da mãe, com a mesma pergunta indiscreta e pobre em criatividade, sobre se já temos namorado.
Nesta fase de mudança física brusca, não há namoros, nem sérios, nem duradouros, só sabemos que nascemos no género feminino e ele veio com dor. Uma dor muito incómoda, que se manifesta todos os meses e custa a passar. Não há lugar a partilhas sobre namorados. As amigas estão no topo das nossas preferências, bem como, as confidências que trocamos, que nos aproximam ainda mais e nos fazem sentir integradas.

À medida que crescemos e nos tornamos jovens mulheres, buscamos referências para criar o nosso look, o nosso perfil, trabalhar a nossa forma física e imagem, de forma cativante e sedutora. Uma nova pressão, a somar a todas as outras e que nos ocupa muito tempo. Esta é a fase do espelho meu, espelho meu, há alguém mais bonita do que eu. Na época, não havia ChatGPT e a pergunta, que carece de resposta, só poderia ser feita ao objeto mudo de cristal.

Há troca de olhares, há sorrisos tímidos, há interesses, há bilhetinhos, há piropos, há encontrões propositados, há escapatória às aulas, há beijos prolongados nos cantos escondidos e não vigiados da escola, há vivacidade, há juventude e vontade de nos expressarmos.
Esta fase seria das melhores, se durasse mais tempo, mas os rapazes são apressados e afirmam querer namorar conosco forever, para nos sentir um pouco mais. Acontece que, os amigos exercem uma forte influência e se ela exigir a sua atenção, eles vão reagir e puxá-lo para junto deles, alegando camaradagem masculina ou falta de um jogador para formar equipa.

Ela até quer mudar de apartado depois deste primeiro rompimento amoroso e só não o faz, porque as melhores amigas não deixam e sua mãe ameaça colocá-la num psicólogo.
Alguns fins de semana deslocada na terra do pai e as longas conversas com as amigas, fizeram-na esquecer do sapo moreno e cabelo à David Beckham. Seguiram-se outros sapos, novas histórias de amor passageiro e a vontade de acertar num, não tão sapo.

E a perseguição continua. Quando é que nos apresentas algo sério e com futuro?
Já estás em idade de casar e se deixas passar muito tempo, perdes a oportunidade de teres filhos. Estes e outros comentários mimosos são feitos por mulheres a mulheres, à queima roupa. As mulheres do meu tempo foram perseguidas e coagidas a repetir o padrão social vigente.

O casamento e os filhos contribuem para o avançar acelerado da idade e, inevitavelmente, para a queda do espelho e a vontade de o encarar. Priorizamos tudo, menos nós próprias. Constatamo-lo e verbalizamos alto esse desconforto, para que nos ouçam e nos poupem, mas continuamos a lutar por uma empreitada familiar equilibrada e feliz.

Quando tudo parece normalizar, eis que chega ela.

A crise suprema, a maior de todas, the greatest of all, aquela que tudo compromete, está a chegar. Os sintomas quintuplicam e os abalos internos são sísmicos e vibratórios. Quem estiver por perto, pode vir a ser atingido e estremecer de medo.
Nem é preciso colocar a tabuleta NÃO ME RECOMENDO, sente-se ao longe. 

O que se seguirá a tudo isto?

Quando é que as mulheres podem, finalmente, se sentir plenas.


 
   

segunda-feira, 25 de março de 2024

A Felicidade não é uma profissão

A Felicidade persegue-nos ou nós é que perseguimos a felicidade?

Agora, fiquei na dúvida.

O tema felicidade não é novo mas, subitamente, ganhou um mediatismo esquizofrénico e a pressão para sermos felizes é torrencial. Até parece que todos nascemos privilegiados e se cumprirmos determinados mandamentos, práticas e súplicas seremos verdadeiramente felizes.

No meu caso, sinto que a felicidade me persegue a todo o tempo e toda a hora. Os modelos de felicidade atuais massificaram-se e as montras virtuais exibem-nos de forma descarada e alucinada, fazendo-me acreditar na sua multiplicação e no seu foco de contágio.

O que me impede de acreditar nesses modelos purpurina é um ditado antigo e geracional que me intima a ver para crer. Só compro, se conseguir comprovar seus benefícios em mim.

Estes são os remédios infalíveis para ser feliz, prescritos por gurus encartados em felicidade.

Dormir bem,

Comer melhor,

Ingerir muita água,

Praticar exercício físico,

Meditar,

Agradecer,

Sorrir, 

Socializar com pessoas positivas e bem humoradas,

Caminhar na natureza,

Fazer novos amigos,

Respirar fundo....e tentar não ter um ataque de ansiedade.

A felicidade não é uma profissão, nem uma folha com limites e margens que não podem ser ultrapassadas.

Vejam o caso dos obsessivo compulsivos e supersticiosos, que precisam escovar os dentes durante trinta segundos, para não atrair azares. O que os movimenta é a rival antagonista da felicidade. Suas ações repetitivas funcionam como as orações orientadas para deus, ajudá-los a não desviar-se do caminho e orientá-los.

Sou feliz quando percorro as estradas de Portugal e visito de longe as casas arrumadas na paisagem, prescruto-as, sem invadir seus aposentos, decifro os seus gostos, invento detalhes escondidos, procuro sinais de vida e depois regresso à minha, plena de contentamento.

A felicidade não é o propósito. O propósito é viver! 





segunda-feira, 18 de março de 2024

AMANHÃ É DIA DO PAI

Amanhã é dia do Pai.
A propósito disso, lembrei-me de todos os pais repetentes, aqueles que têm mais do que um filho e se isso contribuiu para uma maior aprendizagem sobre como ser um bom pai.
Eu sou a filha mais velha, juntamente, com a minha irmã gémea e acredito que para os meus pais, não tenha sido fácil saber, no dia do parto, que afinal em vez de uma, seriam duas meninas. Minha mãe ainda não devia ter recuperado a consciência e meu pai, perdeu-a naquele instante. Nem houve tempo para assimilar a notícia. O choque deve ter sido tsunámico,
A forma como encararam a maternidade e paternidade demonstra-o bem. Para eles era uma obrigação assistencialista.
A partir de agora, estamos obrigados a cuidar da sua saúde, alimentação, educação e dentição.
Como se não bastasse tudo isso, ainda tiveram que bancar botas ortopédicas. Um par para cada uma de nós. Até na doença somos solidárias.
Cada ida nossa ao médico era um sangramento na sua carteira e um ar desesperado nos seus rostos.
O dinheiro era contado e o mínimo desvio implicava apertos sufocantes.    
A realidade não dá margem para amar melhor.
Ambos na casa dos vinte anos, inexperientes, desamparados, carentes de amor, com duas filhas no colo, deveria ter sido aterrador.
E agora?
Os recursos eram escassos, não tinham casa própria, não tinham o apoio dos pais, os direitos dos trabalhadores ainda não tinham sido fundamentados, nem consagrados na lei, o país tinha saído há muito pouco tempo de uma ditadura e o que se segue é um mundo novo e incerto. Na verdade, as circunstâncias não eram as melhores e ambos estavam a tentar sobreviver a tudo isso, competentemente.
Há prioridades que se agigantam e obrigam a endurecer nossas capacidades de resistência, face às dificuldades para criar uma vida familiar digna e, inevitavelmente, retira tempo para tudo o resto, que é tão ou mais importante, como estar, acompanhar, conviver, abraçar, mimar, afetos, cumplicidades, tolerâncias, empatias e colinho bom.
O jovem adulto recém casado e desprovido de recursos emocionais, não teve tempo para ser muito mais do que um pai assistencialista.
Do que há não falta nada! 




terça-feira, 5 de março de 2024

VIOLA DAVIS

Se há mulher que merece um epíteto é Viola Davis.

Viola a dominadora!

De facto, ela domina a sua arte e tudo o que ela faz é dominante e avassalador.

Não sei se a conhecem. Certamente, já ouviram falar dela e, muito provavelmente, assistiram a pelo menos um dos filmes, onde ela é protagonista. Se não, aconselho a visitarem seus trabalhos mais recentes. A sua entrega é total e avassaladora. Parece até que, permanece dependente do sonho para sair da miséria abjeta onde cresceu.

As suas personagens são carismáticas e intensas. 

É impressionante o seu estoicismo e garra para vencer as duras batalhas herdadas dos seus antepassados e escapar de um destino desastroso. Apesar de ter nascido condenada, não claudicou. Demarcou-se dessa condenação, procurou ativamente sair daquele beco sem saída e foi bem sucedida. Aliás, muito bem sucedida.

Um exemplo de superação!

Na entrevista intimista concedida a Oprah Winfrey confessou que, o sonho de ser atriz era a sua única saída, lado a lado, em termos de importância, da comida e higiene, num período de extrema escassez e carência.

A sua fibra é algo inato e Viola soube tirar aproveitamento dessa bênção. Diante de um enquadramento tão devastador, é muito difícil contrariar as evidências e construir um caminho novo de oportunidades com muita ilusão, como ela o fez. O normal seria acabar na indigência, com muitos traumas por resolver e num modo auto destrutivo.  

Viola contrariou todas as previsões e tornou-se um prodígio. 


sexta-feira, 1 de março de 2024

ANITA EM CAMPANHA ELEITORAL

Conhecem a Anita dos livros infantis?

Há 70 anos atrás, Anita já era uma menina politizada. Tudo indica que foi ela quem iniciou o movimento das campanhas eleitorais.

Não acreditam? 

Então, vejam só, se todas as histórias onde ela participou e foi protagonista não se passam na rua, em contato com pessoas, nos seus contextos profissionais e sociais.

Até lhe chamam a Anita das arruadas.

Anita no mercado

Anita no quartel dos bombeiros

Anita na rua

Anita no lar de idosos

Anita no posto da gnr

Anita na feira

Anita no campo

Anita na escola

O que faria Anita nestes lugares povoados de futuros votantes?

A sua aparição nestes contextos não era inocente, havia uma motivação por trás de tudo isso.

Agora sei disso, mas enganou-me bem.

O modus operandi da Anita é conhecido. 

Ganhar proximidade com as pessoas, mostrar afeto e conquistar sua confiança, para no dia de todas as decisões, elegerem-na como a favorita. 

Acho até que foi ela quem registou esse método de atuação e vigora até hoje.

Suspeito que, André Ventura, Luís Montenegro, e Pedro Nuno Santos se inspiraram nos seus livros e adotaram suas estratégias de abordagem política. 

Há uma Anita versão 7.0 em cada um deles.

Estejam atentos!







quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Elos Femininos

Quero mais Mulheres Unidas!

Este é um grito em forma de apelo/desejo para que isto mude e possamos afirmar-nos livremente, sem julgamentos, nem opressões.

Não precisamos aglomerarmo-nos em almoços e jantares, alusivos ao dia da mulher, para vingarmos a nossa condição feminina e demonstrarmos que podemos gozar da mesma liberdade dos homens.

Os homens ficam de fora, é certo, porém, os machistas continuam os mesmos e a militância machista não acaba com a celebração do dia da Mulher.

A celebração deste dia reafirma a necessidade de continuar a lutar pelos direitos das mulheres e no dia em que deixarmos de celebrá-lo, então, é caso para dizer que conseguimos fazer justiça e desviar a concentração do poder de decisão para as mulheres.
  
Os homens providos de inteligência emocional e bem resolvidos respeitam e reconhecem a importância das mulheres na sua vida. Reconhecem-nas, não pelo seu grau de utilidade relativamente a eles, mas pelo que entregam e acrescentam.
  
Seguramente, cresceram num ambiente onde há espaço para todos e as presenças femininas são poderosas e valorizadas, para além de serem uma inesgotável fonte de amor.

Está na hora de alguns homens despirem o fato velho e gasto dos privilégios, herança dos seus antepassados primitivos e machistas.

Unidas na defesa dos direitos das mulheres, no seu crescimento, no acesso às mesmas oportunidades, protegidas por uma ética de reconhecimento, que não distingue gêneros, no alívio das cargas que lhes colocam, só porque nasceram mulheres, na erradicação de escrutínios, objetificações, castas, comparações, validações e modelos ou padrões já vencidos, que visem as mulheres. É desta forma que seremos vingadas!

Para acabar com a onda de violência e injustiças cometidas sobre as mulheres e ganhar esperança num mundo justo, é preciso mudar mentalidades através da formação das comunidades jovens, seus tutores, pais, professores, orientadores, no sentido de criar bases de entendimento saudáveis, sustentadas por uma comunicação permanente e consciente da importância do outro.

Os desejos e vontades das mulheres não podem ser mais secundarizados e dominados pelos dos homens, com base num legado imposto, nunca proposto, a que perigosamente nos fomos habituando e resultou numa conivência com caráter de penitência.

Acordei o mundo

Najla tinha muita dificuldade em dormir. No seu entender, a vida podia acabar se se deixasse adormecer. Uma convicção implantada, desde a m...